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Análise: Akai Ito HD Remaster & Aoi Shiro HD Remaster (Switch): duas visual novels que mereciam um tratamento melhor

A falta de cuidado com os textos destrói uma experiência mais do que importante no cenário de visual novels girls love.

Até então inéditas no Ocidente, Akai Ito e Aoi Shiro, visual novels da demografia girls love (GL) da Success, finalmente chegam ao Switch e ao PC (via Steam) em uma remasterização única, com direito a, inclusive, textos em inglês. No entanto, enquanto a parte audiovisual recebeu um tratamento caprichado, o mesmo não pode ser dito da qualidade textual, cuja falta de cuidado coloca em xeque uma das surpresas mais do que bem-vindas para entusiastas do gênero GL.

Duas histórias pautadas no folclore japonês

Em Akai Ito, acompanhamos Kei Hato, uma estudante colegial que, durante suas férias de verão, precisa viajar para o interior do Japão para conhecer a casa de seu falecido pai. No entanto, a protagonista acaba se envolvendo em situações inesperadas e descobre que é portadora do Nie no Chi, um sangue poderoso que garante a onis um poder inigualável.

Além disso, desde sua chegada ao interior, Kei tem tido sonhos estranhos que a garota não sabe distinguir se são realidade ou não. Ao lado de Sakuya Asama, uma conhecida de sua família, e da misteriosa Uzuki Senba, cabe à estudante fazer escolhas para quebrar a maldição ligada ao seu Nie no Chi.


Aoi Shiro, por sua vez, traz a (também) estudante colegial Shouko Osanai, capitã do clube de kendô de sua escola, que, durante uma excursão extracurricular ao sul do Japão, acaba encontrando uma garota amnésica desmaiada na praia. Junto a Yasumi Aizawa, a gerente do clube de kendô, Shouko acaba se envolvendo com lendas e mitos que assolam a aparentemente pacífica ilha, e tudo pode estar ligado à presença da misteriosa garota de cabelos prateados.

Embora Akai Ito e Aoi Shiro sejam histórias independentes entre si, elas compartilham de um elemento em comum: o folclore japonês. Dessa forma, as visual novels abordam a existência de seres místicos e sobrenaturais, como onis e youkais, bem como outras entidades importantes da mitologia nipônica, tornando-se um prato cheio para quem gosta desse tipo de narrativa.


No entanto, por mais que sejam histórias relativamente curtas — mesmo com suas dezenas de finais —, a leitura é bastante densa. Felizmente, ambas as visual novels trazem o sistema (opcional) de glossário, no qual o jogador pode entender os termos importantes sinalizados durante as tramas.

Para além da jogabilidade tradicional de visual novels

Apesar de seguirem o modelo de visual novels com vários finais — Akai Ito possui 32, enquanto Aoi Shiro, 56 —, os títulos da Success permitem que o jogador monte sua própria aventura ao fazer escolhas com frequência durante a história, que é dividida em capítulos. Para tal, as visual novels contam com um sistema de fluxograma, ajudando a visualizar o caminho que está sendo seguido.

No entanto, uma vez feita a escolha, o jogador não pode usar o fluxograma para voltar a um capítulo já passado, restando apenas carregar um salvamento prévio ou revisitando a trama para tomar uma decisão diferente. Felizmente, os múltiplos finais das visual novels são convidativos para a rejogabilidade, já que, à medida que alcança os finais, o jogador libera acontecimentos complementares, ampliando a história como um todo a cada jogatina.

Para facilitar ainda mais na revisitação das histórias, as visual novels contam com a função de pular o texto, que pode ser configurada da maneira que o jogador preferir (pular todo o texto, apenas porções já lidas, parar no momento de fazer uma decisão etc.). Akai Ito e Aoi Shiro possuem ainda outras opções textuais, como velocidade do texto e de aparição das palavras ou se o jogador quer ou não que termos importantes sejam sinalizados.


Além do glossário de termos, ambos os jogos contam com uma galeria extra na qual podem ser revistas as CGs obtidas durante a trama, bem como os finais e rotas adicionais já desbloqueados. Como são remasterizações, Akai Ito e Aoi Shiro estão com melhorias significativas na apresentação audiovisual, então a jogatina é prazerosa nesse sentido; contudo, os vídeos de abertura, que não passaram pelo mesmo tratamento, deixam evidente a idade das visual novels, mas nada prejudicial à experiência em si.

Para finalizar este tópico, quero apenas ressaltar que existem alguns inconvenientes de jogabilidade, como “engasgos” durante certas transições (de cenas ou diálogos) e a falta de suporte à tela de toque do Switch, mas a performance, no geral, é satisfatória tanto no modo TV quanto no portátil. Contudo, ao escolher a opção de voltar ao título, ambos os jogos travaram por completo em mais de uma ocasião, restando-me apenas reiniciar os aplicativos para dar continuidade à jogatina.

A culpa é do texto

Como mencionado, as visual novels fazem grande referência ao folclore e mitologia japoneses e trazem uma narrativa pautada em mistério, suspense e drama, além do romance. Por se tratarem de jogos da primeira década dos anos 2000, é fácil perceber diversos clichês e tropos midiáticos da época, mas eles não deixam as histórias menos divertidas e envolventes por causa disso. Além disso, todos os personagens trazem uma excelente dublagem em japonês, ajudando ainda mais na imersão e na transmissão de sentimentos por parte deles.

Infelizmente, a qualidade textual coloca toda a experiência a perder, já que há vários tropeços na tradução para o inglês, prejudicando o entendimento em diversas passagens. Além disso, existem vários problemas com a formatação textual dentro das caixas de diálogo, afetando também o log; ou seja, uma ferramenta que deveria ajudar o jogador a se situar no contexto acaba por atrapalhar, dadas as péssimas escolhas de formatação por parte da Success.


Há ainda escolhas inconsistentes nos vocábulos, como apresentar um elemento em japonês e sua respectiva explicação entre parênteses logo em seguida, atrapalhando no fluxo da leitura em si. O mesmo se aplica às inúmeras explicações sobre a leitura dos kanjis dos nomes dos personagens, algo que, por mais que faça sentido em japonês, pode deixar confuso o jogador ocidental que não conhece a língua. Inclusive, até agora não entendi por que decidiram grafar o nome da protagonista de Aoi Shiro como Syouko em vez de Shouko, tal qual sua pronúncia. 

Outro fator que pode causar estranheza do lado de cá é a escolha da Success em manter a ordem de nomes japonesa, ou seja, sobrenome seguido de nome, em vez da ordem com a qual estamos acostumados no Ocidente (nome + sobrenome). Embora existam diversos debates em aberto — e nenhuma conclusão concreta — quanto a manter ou não os padrões orientais em se tratando de traduções e localizações, é bom o jogador ter em mente que Akai Ito e Aoi Shiro priorizam os costumes de seu país de origem.

Duas joias que mereciam melhor polimento

Akai Ito e Aoi Shiro são duas visual novels com um valor histórico-cultural inimaginável na demografia girls love. As histórias, além de trazerem uma rica bagagem sobre o folclore e a mitologia japoneses, contam com suspense, ação, romance e drama na medida certa. Acima de tudo, são de classificação etária livre, sem a constante sexualização presente no gênero, principalmente se levarmos em consideração a época em que os jogos foram lançados originalmente.

Contudo, mesmo que a remasterização tenha melhorado (e muito) a apresentação audiovisual dos jogos, deixando-os condizentes com os padrões atuais, o mesmo não pode ser dito do texto, que apresenta inconsistências não apenas na tradução para o inglês, como também na escolha de vocábulos e explicações. Infelizmente, essa falta de cuidado no âmbito textual deixa as histórias com difícil entendimento, podendo desapontar jogadores que estavam ansiosos para o lançamento das visual novels.

De modo geral, mesmo com esses tropeços, Akai Ito e Aoi Shiro ainda valem a pena para entusiastas de visual novels, especialmente aqueles que curtem mergulhar na cultura da Terra do Sol Nascente.

Prós

  • Excelente apresentação audiovisual;
  • Todos os diálogos são dublados em japonês;
  • Alto fator de rejogabilidade graças aos diversos finais;
  • Excelentes histórias pautadas na cultura japonesa, com ação, suspense, romance e drama na medida certa;
  • Presença de glossário para a explicação de termos importantes das tramas;
  • Galeria extra na qual podem ser conferidas CGs, finais e rotas extras desbloqueadas durante a campanha;
  • Os jogos são vendidos separadamente;
  • Disposição dos capítulos em fluxograma ajuda o jogador a se situar na trama;
  • Classificação etária livre.

Contras

  • Não compatível com a tela de toque do Switch;
  • Sérios problemas textuais, tanto de tradução quanto de disposição nas caixas de diálogo, prejudicam a leitura e o aproveitamento dos jogos como um todo;
  • Pequenos “engasgos” durante certas transições de texto e cenas;
  • Por diversas vezes, a opção de voltar ao título causou o travamento dos jogos, obrigando-me a reiniciá-los.
Akai Ito HD Remaster & Aoi Shiro HD Remaster — PC/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Capa: Thais Santos
Análise produzida com cópias digitais cedidas pela Success

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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