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Análise: Bramble: The Mountain King (Switch) é uma bela e horripilante aventura nórdica

A combinação entre plataforma, terror e furtividade empolga e assusta ao mesmo tempo neste título de fantasia.

A região nórdica, que engloba os países do Norte da Europa (Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia), é mundialmente conhecida, entre outras coisas, por seu rico folclore recheado de criaturas mitológicas, com origens e histórias fascinantes enraizadas no imaginário popular.


Obras baseadas nessa temática nunca estiveram em falta, e os games fazem parte dessa oferta massiva, com Bramble: The Mountain King sendo um dos exemplares mais recentes. Desenvolvida pelo Dimfrost Studio e publicada pela Merge Games, esta aventura fantástica pinta um retrato magnífico de parte da cultura nórdica e mostra claras inspirações de game design em excelentes obras de terror.

Uma trollada que foi longe demais

Olle é um garoto que acorda assustado por conta de um pesadelo. Ao olhar pelo quarto, ele percebe a cama de sua irmã Lillemor vazia e a janela aberta. Apesar do medo de encarar a escuridão da floresta, Olle não quer ficar sem sua família, então decide ir atrás da moça, sem fazer ideia do que o espera.




Apesar de ser um lugar agradável durante o dia, à noite a floresta se torna perigosa, pois é à luz do luar que surgem criaturas como trolls gigantes, e é exatamente um desses que sequestra Lillemor, deixando seu irmão com a árdua responsabilidade de resgatá-la — uma tarefa nada fácil para uma criança indefesa que precisa viajar pelas terras de Bramble e enfrentar diversas ameaças tão mortíferas quanto trolls.

Para não dizer que Olle está completamente indefeso, ele tem à sua disposição uma misteriosa rocha brilhante que encontrou antes do sequestro de Lillemor. Com esta arma inusitada, ele poderá iluminar o caminho e combater a escuridão, incluindo suas malignas manifestações físicas.

Pela estrada afora, eu vou bem sozinho

A jornada de Olle é uma tradicional aventura em que um protagonista precisa, completamente contra sua vontade, passar por diversas provações muito além de suas capacidades para atingir um objetivo final. Ao longo do caminho, as adversidades vão tendo um peso no rapaz, que vai se distanciando cada vez mais da criança inocente que era antes de pular a janela do quarto para ir atrás da sua irmã.




Tão importante quanto o final, são o começo e o meio da jornada, e posso dizer sem qualquer receio que Bramble: The Mountain King vale muito a pena do primeiro ao último segundo — até porque a campanha do jogo é bem curta, levando em torno de quatro horinhas para ser concluída.

A pouca duração costuma ser um fator que espanta muitos jogadores, mas nesse caso ela é bem coerente. Não há qualquer necessidade de estender a história do jogo, e o tempo que passamos com Olle foi planejado na medida certa para deixar uma impressão positiva, sem esticar demais a trama e tornar a gameplay enjoativa, até porque não há uma quantidade expressiva de mecânicas diferentes a nosso dispor.

A jogabilidade é composta por trechos de plataforma e furtividade, resolução de puzzles e confrontos contra chefes, que priorizam a engenhosidade em favor da força física, já que Olle não possui quaisquer habilidades de combate além da bolinha de luz, que não serve contra qualquer inimigo.




Aliás, uma decisão de game design que eu amo de paixão, quando bem implementada, é exatamente a de não ir pelo caminho mais fácil e colocar nas mãos do jogador um protagonista que se limita a seguir em frente na base da porrada. Em alguns casos, é bem mais satisfatório analisar a situação diante de mim e ver a minha estratégia sendo efetiva, ao invés de simplesmente macetar um ou dois botões repetidamente (o que também tem seus méritos às vezes, não me entendam mal).

Homenageando os profissionais do susto

É nos pilares de gameplay citados acima que entram duas das inspirações que eu pude identificar com mais clareza em Bramble: o terror esmagador, incapacitante, bizarro e urgente de Little Nightmares; e a engenhosidade (e os jumpscares) de Resident Evil.

Ao passar por momentos em que precisei me esconder ou correr desesperadamente para fugir de monstros grotescos, zumbis carniceiros e outras ameaças vigilantes, foi impossível não me lembrar dos infortúnios macabros de Six, a pequenina que veste uma capa de chuva amarela.




Quanto à aclamada franquia survival horror da Capcom, vi na resolução de puzzles uma versão (muito mais) simplificada dos desafios de lógica presentes em RE. A coleta e visualização de objetos (que, por algum motivo, não contam com um inventário para podermos vê-los novamente), alguns dos quais precisam ser examinados para descobrirmos novas informações, me fez pensar ainda no “quê” de point-and-click que tais jogos possuem, dado o pensamento criativo que precisamos ter nesses casos.

As frustrações ficam por conta das sessões de plataforma, que são bem básicas e não trazem tanto desafio ou diversão; e das limitadas possibilidades de exploração dos cenários, que, somadas à linearidade na progressão pela campanha, reduzem o aproveitamento das caminhadas pelas belíssimas paisagens da terra de Bramble.

Quando as lendas ganham vida

Deixando de lado a gameplay prática, o que torna Bramble: The Mountain King uma experiência mágica e deslumbrante é o supracitado uso do folclore nórdico como base para o desenvolvimento do seu enredo, ambiente e personagens.




O Dimfrost Studio soube como usar o vasto material disponível para criar suas versões de seres mitológicos como trolls, gnomos e gigantes. Seja um grupo de amigáveis gnominhos ou a imponente skosgrå, entidade feminina que habita as florestas, todos contribuem com o enriquecimento da saga de Olle.

Para dar profundidade a alguns desses personagens, nos deparamos com livretos ilustrados que contam as histórias de criaturas como o assustador näcken, que atrai suas vítimas para a morte com uma música hipnotizante. Descobrimos suas origens e motivações, que em alguns casos envolvem acontecimentos trágicos e injustos. Um toque sutil, mas poderoso de storytelling.

A beleza artística de Bramble também precisa ser elogiada, com um merecido destaque para a composição das paisagens, que frequentemente misturam o que está em primeiro plano com elementos de fundo para compor cenários inspiradíssimos — isso pra não ser bem direto e simplesmente dizer que eles são todos lindos, dos descampados verdes às claustrofóbicas cavernas, casas fracamente iluminadas, montanhas imponentes e muito mais.



Chegou, mostrou a que veio e partiu

Bramble: The Mountain King é uma aventura de terror que sabe muito bem o que faz. Sua construção de mundo baseada na cultura nórdica é impecável, apresentando histórias e personagens mitológicos a um público que muito provavelmente não conhecia ou tinha tanto contato com eles.

Balanceando um platforming medíocre com puzzles simples, uma exploração limitada, batalhas criativas e uma atmosfera que consegue com êxito ser assustadora e bela ao mesmo tempo, este curto joguinho não prolonga sua estada, sabendo parar enquanto ainda está por cima.

Prós:

  • Faz um uso magnífico do folclore nórdico como base para o desenvolvimento do seu enredo, ambiente e personagens;
  • A curta campanha do jogo é coerente, planejada na medida certa para deixar uma impressão positiva, sem esticar demais a trama e tornar a gameplay enjoativa;
  • Se inspira com qualidade no game design de excelentes obras de terror, como Little Nightmares e Resident Evil;
  • Se sai bem ao decidir não ir pelo caminho mais fácil e colocar nas mãos do jogador um protagonista que segue em frente na base da porrada, recorrendo, em vez disso, ao desenvolvimento de estratégias para triunfar nas batalhas;
  • Os livretos ilustrados que contam as histórias de alguns personagens são um ótimo recurso de storytelling.

Contras:

  • As sessões de plataforma são bem básicas e não trazem tanto desafio ou diversão;
  • Os objetos coletados não contam com um inventário para podermos vê-los novamente;
  • As limitadas possibilidades de exploração dos cenários são limitadas e, somadas à linearidade na progressão pela campanha, reduzem o aproveitamento das caminhadas pelas belíssimas paisagens do jogo.
Bramble: The Mountain King — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Merge Games

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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