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Análise: Cassette Beasts (Switch): colecionando monstrinhos em fitas-cassete

Para quem gosta de Pokémon e mundo aberto, este jogo tem muito a oferecer.

Atualmente, jogos que se inspiraram na série dos monstrinhos de bolso da Game Freak são abundantes. Enquanto alguns deles parecem simples cópias genéricas, outros tentam inovar em diferentes aspectos, como é o caso de Cassette Beasts. Com um curioso conceito de usar fitas-cassetes para se transformar em criaturas fantásticas, este jogo traz de tudo para atrair fãs de Pokémon e de aventuras em mundo aberto.

A chegada a New Wirral

A aventura se passa em New Wirral, um universo fantástico ao qual somos transportados sem precedentes. Nossa principal missão é achar um jeito de voltar para casa, mas, enquanto exploramos essa cidade à qual chegamos, percebemos que os demais habitantes locais também não fazem ideia de como chegaram lá: assim como nós, certo dia, eles simplesmente apareceram na costa de New Wirral e, aos poucos, foram se adaptando à vida no lugar, já que escapar da ilha não parecia uma opção viável.

No entanto, além dos humanos, há vários monstrinhos que coexistem — nem sempre em harmonia — em New Wirral. E por incrível que pareça, nós podemos nos transformar nessas criaturas graças a um toca-fitas especial que nos é dado por Kayleigh, a primeira companhia humana que fazemos no local. Assim que recebemos o objeto, podemos escolher um dos estilos que definirá nosso monstrinho inicial — no meu caso, eu ganhei uma ovelhinha gótica muito fofinha.

Uma vez completada a espécie de tutorial de Cassette Beasts, ganhamos acesso a diversas missões (principais e secundárias) que nos ajudarão a avançar em nossa aventura. Seguindo a tradição de jogo em mundo aberto, podemos explorar New Wirral como melhor preferirmos, porém alguns locais estão inacessíveis até que consigamos as habilidades necessárias para eles.


De início, podemos apenas correr e pular, mas já nos primeiros minutos de campanha ganhamos a possibilidade de planar. No entanto, é importante notar que nosso avatar tem uma barra de energia (stamina) que é consumida quando usamos essas habilidades especiais — mas por algum motivo que desconheço, pular não gasta energia.

É também no começo da campanha que temos noção do que podemos fazer pela ilha: existem os Rangers, os melhores treinadores de New Wirral e que funcionam como um paralelo aos líderes de ginásio da franquia Pokémon; há um grupo misterioso, que age como nossos arqui-inimigos; e os Archangels, criaturas de origem desconhecida e que podem ser a chave para nossa volta para casa.

Não vou entrar mais no mérito da história — muito promissora, por sinal — devido aos spoilers, mas vou deixar duas observações importantes aqui: Cassette Beasts tem um grande foco narrativo, então prepare-se para boas doses de leitura, e também é fortemente baseado em missões como motivação para o avanço na campanha. Falando por mim, esse segundo aspecto me deixou um pouco desanimada com a progressão no jogo como um todo, pois acredito que esse sistema acaba minando um pouco a potencial exploração que a própria história incita.

Customização de sobra

À primeira vista, Cassette Beasts chama a atenção pela grande variedade de customização, não só do nosso avatar, mas de outros elementos como um todo, como a dificuldade de jogo, o comportamento da IA e a possibilidade de ativar um medidor de tempo para quem gosta de fazer speedruns. No entanto, é com os monstrinhos que a customização realmente brilha, especialmente nas batalhas.

Diferentemente da série dos monstrinhos de bolso, Cassette Beasts possui um sistema de combate um pouquinho mais complexo. Com o uso dos chamados Stickers, podemos ensinar praticamente qualquer golpe aos monstrinhos que forem de maior agrado para nós, o que aumenta em bilhões de vezes as possibilidades de customização dos movesets e do time como um todo. 

Outro ponto a ser levado em consideração é o efeito de ação e reação causado pelos ataques dos bichinhos: usar um golpe de fogo em uma criaturinha de vento potencializa o dano desta última, por exemplo. Esse tipo de reação lembra um pouco o que é visto em Genshin Impact, em que é necessário estar atento tanto ao elemental dos próprios ataques quanto do tipo do inimigo para tirar melhor proveito de suas habilidades em combate.


As batalhas do jogo, quase sempre dois contra dois, também são interessantes, uma vez que podemos aproveitar da mecânica de fusão. Além de belas e divertidas combinações visuais resultantes do uso dessa feature, o jogo conta com aproximadamente 14 mil possibilidades de fusões possíveis, aumentando o leque de estratégias e garantindo customização e variedade suficientes para colecionador nenhum botar defeito.

Em suma, talvez o sistema de batalhas de Cassette Beats seja, ao mesmo tempo, seu ponto forte e fraco. Embora tanta variedade de monstros e reações possíveis em batalha seja uma característica única e marcante, é provável que esse tipo de sistema não seja agradável para todo tipo de jogador; aqui, é difícil não traçar paralelos com a franquia da Nintendo, que também possui um sistema de combates igualmente interessante, porém com uma curva de aprendizado bem menos íngreme, facilitando a entrada de novos jogadores a qualquer momento. 

Quero reforçar que, apesar de o jogo trazer certa complexidade em sua principal mecânica, todo novo conteúdo é introduzido com um vasto e didático tutorial. Dessa forma, é apenas questão de tempo adaptar-se ou não à aventura em New Wirral, já que, neste aspecto, não ficamos totalmente no escuro quanto às tipagens dos bichinhos e outros elementos da campanha.

Alguns probleminhas à parte

Cassette Beasts traz uma excelente história e uma grande variedade de customização, é verdade, mas nem tudo são flores no jogo. Durante minha experiência, em diversos pontos senti engasgos enquanto movimentava minha bonequinha pelos mapas, seja jogando no modo portátil ou com o Switch conectado à TV.

Além disso, achei as músicas particularmente enjoativas depois de ouvi-las repetidamente. Claro, existe a opção de desligar os vocais das trilhas cantadas, mas as batidas não me agradaram tanto quanto eu esperava. Isso não quer dizer que elas sejam ruins, apenas que podem não agradar a todos; acredito que, no meu caso, eu esperava algo mais próximo dos jogos dos monstrinhos de bolso mesmo.


Os gráficos são bonitos, mas, mais uma vez, acredito que caem na questão de gosto de cada jogador. Embora eu tenha gostado muito da estética pixelada das batalhas, não posso dizer o mesmo da exploração como um todo, pois não consegui sentir todo o apelo da pixel art — e, ao jogar na TV, existe o agravante de os elementos ficarem esticados, sem a possibilidade de ajustar a resolução de tela.

Por fim, Cassette Beasts conta com uma competente tradução para o português brasileiro, como apontado pelo meu colega Gustavo Souza em sua análise do jogo para o GameBlast.

Expandindo o conceito de Pokémon

Cassette Beasts, em sua essência, amplia as mecânicas da IP da Nintendo e dá ao jogador uma vasta gama de customização aliada ao conceito de mundo aberto que vários jogos oferecem atualmente. Embora a apresentação audiovisual possa não agradar a todas as pessoas, este RPG cativa com sua história bem-executada e diversos elementos que evocam a nostalgia dos anos 1980 e 1990.

É verdade que o port para Switch merecia mais polimento em aspectos técnicos, mas Cassette Beasts não decepciona ao expandir as mecânicas introduzidas por Pokémon. Decerto, o jogo é um acerto em cheio para quem gosta de colecionismo e várias criaturinhas divertidas e fofinhas.

Prós

  • Estética visual agradável, com bonitinhos sprites em pixel art;
  • Grande leque de customização, das características do jogo às mecânicas de batalha;
  • Todas as mecânicas introduzidas são explicadas por meio de tutoriais didáticos;
  • História e ambientação bem-construídas;
  • Exploração em mundo aberto, com trechos dependentes de puzzles e habilidades que são adquiridas ao longo da campanha;
  • Várias referências a elementos dos anos 1980 e 1990;
  • Localização para o português brasileiro.

Contras

  • As mecânicas de batalha podem ser exageradamente complexas para jogadores menos hardcore;
  • A apresentação audiovisual pode enjoar com o passar do tempo;
  • “Engasgos” na movimentação do avatar;
  • Sem possibilidade de redimensionar a tela para jogar no modo TV, resultando em pixels esticados;
  • Progressão na campanha atrelada a missões principais e secundárias;
  • O jogo traz mais momentos de leitura que de ação.
Cassette Beasts — PC/XBO/XBX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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