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Análise: Story of Seasons: A Wonderful Life (Switch) revitaliza um dos simuladores de fazenda mais únicos e emocionantes

O clássico de GameCube chega ao Switch com um remake que apresenta melhorias significativas.

Hoje em dia, é muito difícil falar sobre simuladores de fazenda e não lembrar de Stardew Valley, um título não tão recente, mas que ainda faz um enorme sucesso dentro do seu nicho. Porém, muito antes desse ótimo jogo sonhar em existir, a série Story of Seasons (antiga Harvest Moon, que teve o nome alterado devido a questões de direitos autorais) erguia os principais alicerces do gênero.

Dentre os diversos títulos dessa franquia, um em especial, lançado em 2003 para GameCube, chamou a atenção por ser um dos primeiros a migrar totalmente para o 3D e apresentar um ciclo de vida que simulava a realidade. Felizmente, essa obra não ficou presa no passado e no próximo dia 27 os detentores de Switch poderão relembrar ou conhecer Story of Seasons: A Wonderful Life por meio de um excelente remake.

Chegando em Forgotten Valley

A premissa da trama de A Wonderful Life segue o padrão do gênero de nos colocar na pele de alguém que herdou uma propriedade. Dessa vez, o nosso protagonista se muda para uma pequena fazenda em Forgotten Valley que lhe é deixada pelo seu falecido pai. No local, ele recebe a ajuda de Takakura, o melhor amigo do seu genitor.

O foco da história é o nosso herói e os relacionamentos que ele desenvolve com os moradores do vale; no entanto, além de um auxiliador, Takakura também é apresentado como uma espécie de narrador, sempre transmitindo o seu ponto de vida em uma conversa mental e emocional com o seu velho amigo.


Um bom fazendeiro precisa se planejar

De início, a primeira grande mudança que essa nova versão de Wonderful Life apresenta é a possibilidade de personalizarmos o protagonista, modificando aspectos visuais como cabelo, tom de pele e cor dos olhos. Além disso, podemos escolher o pronome pelo qual seremos chamados e casar com qualquer um dos quatro garotos ou quatro garotas disponíveis, mesmo que seja alguém do mesmo sexo que o nosso.

A base dos jogos de fazenda está toda aqui: podemos plantar, regar e colher diversos tipos de vegetais; cuidar de algumas espécies de animais e coletar os seus frutos, como leite das vacas e ovos das galinhas; interagir com os moradores locais e presenteá-los com os itens de que gostam; e se casar com algum dos candidatos a romance e ter um filho com essa pessoa.

Precisamos de pouco tempo para nos familiarizarmos com o pequeno vale e imergirmos em um viciante ciclo de execução diária das atividades do rancho e de socialização com os vizinhos. Nesse sentido, é preciso ter um bom planejamento para impedir que as tarefas agrícolas se sobreponham às sociais e vice-versa.

Embora a necessidade de preparação seja comum nesse gênero, em Wonderful Life ela possui um peso maior em razão de como as temporadas se apresentam. Aqui, o ano possui as tradicionais quatro estações; no entanto, cada uma delas dura apenas dez dias, fazendo com que um ano tenha somente 40 dias.

Além disso, a maioria das plantações leva um período relativamente longo para ficar pronta, fazendo com que qualquer erro de cálculo coloque os vegetais em risco, já que cada hortaliça cresce em estações próprias. E não para por aí: o jogador contará inicialmente com apenas dois espaços pequenos e pouco férteis para cultivar.

Em um primeiro momento, pode até parecer que as opções de plantações são poucas e que isso facilitaria tudo, mas não se engane: a partir do segundo ano, as alternativas aumentam absurdamente por conta de um sistema que permite combinar duas sementes para criar uma nova espécie.

Uma cidade pequena, mas muito aconchegante

Forgotten Valley é um mundo pequeno e sem tantos ambientes com afazeres disponíveis. Apesar disso, as atividades mais simples, como andar, coletar flores ou pescar, entregam uma sensação muito prazerosa por conta de uma boa ambientação e de uma trilha sonora alegre e relaxante.

Para vender os nossos produtos, além da costumeira caixa de expedições, também podemos montar uma lojinha no centro da cidade e negociar diretamente com os NPCs. Além disso, há também um vendedor específico que vem ao vale duas vezes por estação, sendo ele o responsável por comercializar melhorias de ferramentas e alguns outros recursos importantes.

Fora as atividades do campo, o jogador também pode escavar em uma espécie de sítio arqueológico, onde diversos tipos de itens podem ser encontrados. Nesse local, o personagem responsável deseja apenas um objeto em particular, deixando todo o restante ficar conosco. 

Esse remake também trouxe a novidade de um painel de solicitações, no qual os NPCs pedem um item específico e nos recompensam com alguma outra unidade. Esses pedidos podem ser simples, como um ovo, ou mais complexos, como um prato feito com frutas híbridas de estações diferentes.

O tempo passa para todos

É verdade que grande parte dos simuladores de fazenda costuma ter NPCs interessantes com vidas atarefadas, além de geralmente possibilitar que o personagem principal se case e tenha filhos. No entanto, Wonderful Life possui mais uma particularidade que o diferencia da maioria: o tempo.

Nesse tipo de jogo, a passagem de um ano costuma significar um novo início, no qual o jogador poderá continuar todas as suas atividades de onde parou sem que haja uma pressão para completá-las rapidamente. No entanto, o tempo aqui simula a realidade, ocasionando o envelhecimento do protagonista e de todos à sua volta.

A progressão nessa entrada de Story of Seasons acontece por meio de capítulos. Nesse sentido, alguns anos se passam ao término de cada arco, ocasionando o crescimento das crianças e o envelhecimento dos adultos. Dessa forma, não temos um período ilimitado para concluir tudo que nos é oferecido, pois a campanha possui um inevitável (e emocionante) final.

Com o passar do tempo, os personagens não mudam apenas visualmente, mas também internamente, com algumas pessoas possuindo notáveis alterações de comportamento e humor em decorrência de certos acontecimentos. Somado a isso, cada morador é muito carismático e fácil de se apegar.

Uma vez imerso nesse mundo, é muito comovente ver o desenrolar da existência de todos os personagens, observando como cada um lida com as situações inevitáveis da vida. Para tornar tudo ainda mais mágico, essa versão atualizada do game apresenta dezenas de novas cutscenes que atribuem mais peso aos indivíduos.

Construindo uma família e influenciando o filho

A Wonderful Life estimula (leia-se “obriga”) o jogador a se casar ainda no primeiro capítulo. Seguindo essa orientação, o segundo arco inicia com a introdução de um filho pequeno que já sabe andar e está desenvolvendo a fala (com o seu sexo tambem podendo ser escolhido). Assim como ocorre com os demais personagens, ele também cresce e envelhece conforme progredimos na campanha. 

Uma mecânica bastante curiosa é a de podermos influenciar os gostos e habilidades da criança, com essas características se desenvolvendo até que se tornem o motivo da escolha da sua futura profissão. Uma das formas de fazer isso é lhe dando alguns brinquedos, como uma bola ou um livro de colorir, que servem para aprimorar os seus talentos atléticos e artísticos, respectivamente. 

Apesar da criança herdar alguns traços de comportamento do cônjuge, além dos visuais, podemos instigá-la durante as várias fases de sua vida e de diversas formas diferentes, sendo esse um sistema bem satisfatório de se descobrir como funciona por completo. Também vale mencionar que o nosso companheiro nos ajuda de vez em quando com algumas das tarefas do campo.

Nesse sentido, os aspectos rurais em Forgotten Valley empolgam e são viciantes; no entanto, é na simulação social que a experiência verdadeiramente brilha, pois, além de conviver com um carismático elenco de personagens, ver o nosso filho se desenvolver é uma das experiências mais distintas entre os jogos da franquia Story of Seasons e do próprio gênero. 

Um remake com melhorias significativas

Além das novidades já mencionadas, Wonderful Life também recebeu uma otimização na maioria das suas mecânicas, tornando os atos de plantio, culinária, coleta e principalmente locomoção bem mais dinâmicos e confortáveis. Quem jogou a versão original deve se lembrar de como demorava uma eternidade para o personagem ir da sua casa até a cidade.

Todos os menus foram igualmente aperfeiçoados, apresentando informações que antes estavam ocultas. Dentre elas, merecem destaque uma aba específica para visualizar o progresso dos relacionamentos; a possibilidade de verificar a fome e o cansaço do protagonista; um mapa que mostra as localizações atuais dos NPCs; e uma enciclopédia preenchida com tudo o que já foi adquirido.

Claro que, por estarmos falando de um remake, todo o aspecto gráfico também foi aprimorado, com os antigos tons escuros dando espaço a cores mais vivas e vibrantes. Nesse sentido, o visual atual continua bem simples, mas bastante agradável e condizente com a proposta. Além disso, alguns personagens foram totalmente repaginados, com as maiores mudanças ocorrendo nos garotos com os quais podemos casar.

Em suma, Wonderful Life se apresenta como um excelente remake que mantém toda a essência do jogo original e atualiza os aspectos visuais e a maioria dos sistemas de gameplay, resgatando por completo a antiga experiência e tornando-a prazerosa para os dias atuais.

Há também alguns problemas e limitações

Mesmo que seja um título muito bom, por conservar boa parte da estrutura antiga, este remake apresenta algumas limitações se o compararmos às produções mais recentes, como a impossibilidade de decorar a casa e de modificar a posição das ferramentas e estruturas da fazenda.

Também não há um sistema de construção e não precisamos fazer nada além de progredir na campanha para que a nossa moradia aumente de tamanho. Além disso, há alguns aspectos que parecem não ter recebido uma otimização adequada, como em alguns momentos nos quais fica difícil interagir com um elemento porque há um personagem relativamente próximo. 

Para exemplificar, em algumas ocasiões não conseguimos cavar em uma área da mina porque um NPC está andando por perto, mesmo que haja espaço suficiente para caber uma vaca ali. A mesma situação acontece em uma casa pequena, da qual é extremamente difícil sair porque os moradores ficam próximos à porta.

Esse problema também ocorre com o local de alimentação dos animais, pois os comedouros são baixos e os bichos podem subir em cima deles, nos obrigando a empurrá-los ou colocá-los no pasto para podermos preencher o recipiente com ração.

A compra de produtos também deixa a desejar pelo fato de não apresentar um sistema de carrinho. Dessa forma, caso o jogador queira adquirir diversas espécies diferentes de sementes, deverá comprar uma de cada vez, tornando o processo bastante lento. Para finalizar, não temos a opção de aproveitar nada disso com legendas em português, que está ausente das opções de idioma.

Um bom presente para os veteranos e uma oportunidade para os novatos

Mesmo possuindo alguns problemas e limitações, Story of Seasons: A Wonderful Life é um incrível e merecido resgate de uma das obras mais raras de simulação de fazenda. Com a essência do produto original integralmente mantida, trata-se de um jogo recheado de nostalgia e que certamente agradará os veteranos das versões de GameCube e PS2. 

Para os jogadores que não tiveram acesso ao antigo título, mas gostam do gênero, vale muito a pena conferir essa nova versão, desde que haja ciência de que o seu maior mérito está na forma em como lida com o tempo e com o desenvolvimento dos relacionamentos, especialmente o familiar. Do mesmo modo, também é preciso considerar que existem limitações de customização se compararmos com os jogos mais atuais e, principalmente, com Stardew Valley.

Prós:

  • Visual agradável e repaginado para os dias atuais;
  • A mecânica de passagem do tempo e envelhecimento dos personagens faz com que a experiência seja única e com que mais novidades sejam apresentadas a cada capítulo;
  • A ambientação é bem construída e beneficiada por uma trilha sonora relaxante;
  • O jogador possui liberdade para personalizar o protagonista e se casar com quem preferir, sem que haja uma limitação de gênero;
  • Os NPCs são carismáticos e fáceis de se apegar;
  • A possibilidade de combinar sementes cria inúmeras opções de plantações;
  • O sistema de influenciar os gostos e habilidades da nossa criança é amplo e curioso;
  • Todos os menus foram aprimorados, com destaque para as adições do mapa e das abas específicas para visualizar os relacionamentos e os status do protagonista;
  • A maioria das funções de gameplay foram otimizadas, tornando as atividades diárias bem mais práticas e dinâmicas;
  • A essência do jogo foi totalmente mantida, sendo um ótimo resgate para os jogadores antigos e uma grande oportunidade para novatos.

Contras: 

  • Não é possível decorar efetivamente a casa e nem a fazenda;
  • Não há elementos de construção, comuns no gênero e na própria franquia;
  • Alguns ambientes parecem não ter sido devidamente otimizados, sendo um verdadeiro problema interagir com certos elementos;
  • O sistema de compras é lento por não apresentar o famoso carrinho;
  • Ausência de legendas em português.
Story of Seasons: A Wonderful Life — PC/PS5/XBX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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