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Análise: Radiant Tale (Switch): bem-vindos ao espetáculo de fantasia

Em um mundo de fantasia com problemas sociais, cabe a um grupo circense espalhar alegria.

Radiant Tale
é o mais recente otome game da Aksys Games a chegar ao Switch, tendo o lançamento previsto para 27 de julho. Escrito por Nao Kojima, Sachi Arino e Shiho Kitayumi, o título brinca com uma temática circense em um mundo de fantasia com uma leve discussão de elementos políticos e sociais.

Um reino de humanos e espíritos

Radiant Tale conta a história da jovem Tifalia, uma garota que perdeu os pais e agora vive junto com sua tia Spirea em Artheir, grande capital do reino de Escholtia. Embora nutra uma grande curiosidade pelo mundo ao seu redor, o trauma de ter perdido suas referências de família mantém a garota muito apegada a seu trabalho de ajudante no restaurante da tia.

Um dia, um rapaz que diz ser um dragão cai do céu em cima de Tifalia. Esse encontro fortuito dá início a uma série de reviravoltas na vida da protagonista, que logo se vê tendo a oportunidade de viajar pelo país junto com uma trupe circense que terá que fazer espetáculos nas cinco maiores cidades de Escholtia.
Conhecidos coletivamente como CIRCUS, os personagens principais têm uma missão: aprender a fazer grandes espetáculos que comovem as pessoas. A emoção genuína é a única forma de fazer flores mágicas desabrocharem e o néctar extraído delas é um medicamento capaz de curar o príncipe, que infelizmente acabou tendo o seu coração congelado em um incidente quando ainda era criança.

Como enviados da realeza, o grupo circense precisará realizar grandes espetáculos, mas não será fácil conquistar as pessoas. Além de alguma dificuldade inicial em trabalhar como equipe e planejar os espetáculos, os personagens logo descobrem que cada região do reino tem problemas específicos que impedem a florada.

Com isso, os shows são uma forma de resgatar o espírito dessas comunidades e lidar com problemas sociais e políticos que surgiram com o tempo. Embora em alguns momentos a discussão possa soar clichê por faltar desenvolvimento e nuance, a discussão é bastante interessante por pensar nas consequências de estruturas fantásticas na realidade e na natureza humana tanto em seus aspectos mais positivos quanto negativos.

Personagens de origens diversas

Radiant Tale é uma visual novel que segue o formato de otome game, o que significa que temos uma protagonista feminina e vários rapazes com os quais ela pode se tornar mais íntima. São ao todo cinco opções: Radie, Zafora, Paschalia, Ion e Vilio, com o último sendo desbloqueado como opção romântica apenas após terminar as rotas dos anteriores.
Radie é um rapaz que tem a aparência de uma mascote fofinha e foi fundamental para que Tifalia se reerguesse após a morte dos pais. Como um tipo de criatura mágica chamada Fey, ele curiosamente afirma não conseguir se transformar em sua forma humana. Vilio também é uma espécie de Fey, mas é da lendária raça dos dragões. Ambos são bem animados e mantêm o astral da equipe no alto, mas Vilio é mais inconsequente em suas atitudes impulsivas.

Zafora pode ser o palhaço das apresentações, mas é o personagem mais mal-humorado e cauteloso da equipe. Ele costuma usar muito sarcasmo e tratar as outras pessoas com aparente desdém, mas não demora muito para demonstrar que tem um coração bom e se preocupa com a ingenuidade dos outros. Ele é o tipo de pessoa que parece achar que os fins justificam os meios, mas nem por isso perde a clareza do que é justo e bom.
Por outro lado, Paschalia é um rapaz gentil que consegue usar o poder dos espíritos da água, mas tende a ser menos prestativo do que os outros quando o assunto é trabalho, especialmente braçal. Por fim, Ion pode parecer intimidador a princípio, mas é um rapaz simples que só queria uma vida tranquila, mas teve isso negado devido a vários eventos do seu passado.

Além de todos esses garotos, a protagonista Tifalia é uma personagem que chama a atenção. Embora seja simples, suas atitudes são bem factíveis e demonstram com clareza os traços de sua personalidade como uma garota que é determinada, mas às vezes coloca seus amigos e família acima de si mesma nas prioridades.

Vivenciando um mundo charmoso


De forma geral, a história de Radiant Tale é envolvente e também o seu ponto central de atração, embora haja algumas inconsistências pontuais de roteiro. Em particular, a tradução está entre as melhores da Aksys até o momento, oferecendo uma leitura bem fluida e poucos erros de digitação.

Alguns aspectos adjacentes à trama também são bem importantes para fazer de Radiant Tale uma experiência bem cativante. Primeiramente, vale destacar que os personagens tiveram seus designs concebidos por Kagero Usuba (Variable Barricade) e ilustrados por Shuki, com miko (Code:Realize) sendo responsável pelos secundários.
De forma geral, o visual do jogo é bem colorido e os personagens são bastante detalhados com figurinos e traços físicos que ajudam a dar destaque às suas individualidades. Em algumas cenas são utilizadas ilustrações chibi (versões dos personagens com cabeção) para reforçar o ar mais cômico ou fofo de um momento, uma escolha típica, mas que nem sempre parece adequada. Um problema maior é que é possível notar um pouco de aliasing (bordas pixeladas muito nítidas) em algumas imagens, dando uma sensação de que a qualidade poderia ser melhor.

A interface também chama a atenção, utilizando ornamentos que remetem a iluminuras, mas com um toque floral. Os menus e imagens de transição também brincam com o conceito de performance com cortinas, afrescos e recortes dos personagens. O resultado é uma experiência consistentemente estilosa em seus excessos performáticos de interface.
Gostaria de também destacar que a trilha sonora composta por GENIC PALLET é muito bem selecionada. Cada música ajuda a construir a sensação bem distinta das cidades, assim como dos personagens principais e antagonistas, dentro de uma perspectiva medieval fantástica. O estilo lembra músicas de vários JRPGs, mas com toques mais leves.

Outro detalhe que talvez possa passar batido por alguns jogadores, justamente por serem até comuns para obras da Otomate, é a alta qualidade de vida do título graças às suas opções de navegação textual. Além do log, skip e auto tradicionais, o jogo conta com um sistema de capítulos que permite ir diretamente a um ponto da história ou o “pular para a próxima escolha”, que facilita muito rejogar e evitar cenas repetidas.

Uma visual novel envolvente para o respeitável público

Radiant Tale
é uma visual novel de fantasia bastante envolvente e que vale a pena conhecer. Com uma protagonista com a qual é fácil empatizar, personagens carismáticos e um bom trabalho audiovisual de forma geral, é uma recomendação certeira do gênero.

Prós

  • Ambientação de fantasia interessante com elementos sociais em discussão;
  • Personagens principais carismáticos;
  • O texto em inglês é bastante fluido, oferecendo uma leitura agradável;
  • A Tifalia é uma boa protagonista cujas atitudes são bastante factíveis;
  • Interface bela e colorida que remete ao tom circense;
  • Ilustrações de personagens charmosas e detalhadas;
  • Trilha sonora envolvente com toques que remetem ao medievo fantástico
  • Rico em opções de navegação, incluindo a possibilidade de pular rapidamente para a próxima escolha e um sistema de capítulos.

Contras

  • Algumas inconsistências de roteiro;
  • Discussões sociais podem soar clichê em algumas ocasiões;
  • Há um pouco de aliasing em algumas imagens.
Radiant Tale — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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