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Análise: Sucker For Love: First Date (Switch): esta entidade cósmica não pode ser tão fofa

Faça rituais sinistros para se aproximar da sua amada.

Sucker For Love: First Date
é um jogo que brinca com o conceito de dating sim dentro de um contexto de terror, mas com um tom de humor. Como um rapaz que quer namorar uma entidade cósmica, cabe ao jogador satisfazer os desígnios de sua amada realizando rituais macabros de destruição mundial para poder conseguir um beijo.

Tudo por um beijo

Sucker for Love: First Date conta a história de um rapaz que sonha em ter um belo romance com uma garota, mas os seus gostos são um tanto peculiares. Em vez de desejar um contato mais íntimo com mulheres humanas, o rapaz quer uma paixão de outro mundo com uma entidade cósmica, como o famoso Cthulhu e outras divindades de sua mitologia.

Gastando rios de dinheiro para conseguir artefatos variados, o rapaz compra um livro especial de rituais para invocar uma divindade de outro plano que se manifestou em um de seus sonhos. Embora ele desconfie, a princípio, de que o produto seja genuíno devido a sua coloração rosa exageradamente pomposa e chamativa, ele logo decide testar a única magia que consegue ler.

Com isso, ele finalmente consegue encontrar L’neta, que promete ao rapaz um único desejo em troca de realizar os feitiços do livro que levarão ao fim da humanidade e do mundo tal como conhecemos. Nosso protagonista decide deixar toda a realidade para trás para ter um beijo dela. Posteriormente, o jogador também pode desbloquear duas outras histórias que introduzem divindades diferentes com as quais nosso personagem pode se envolver romanticamente.

Entre terrores e risos

O tom geral da obra tende ao estilo comédia romântica por conta dessa proposta e das atuações exageradas do rapaz e suas potenciais namoradas. Porém, ao mesmo tempo, o jogo não tem medo de deixar claro que os rituais são coisas bem mórbidas, como seria esperado de feitiços envolvendo entidades cósmicas. Vemos o protagonista ser desfigurado e realizar autoflagelação, invocar eventos sobrenaturais, entre outros atos que na prática são macabros e horripilantes.

Conseguir combinar esses dois estilos praticamente antagônicos em uma história coerente não é nada trivial, mas Sucker for Love: First Date tem êxito em fazer essa mistura. O jogo não tem medo de explorar o lado macabro, tendo elementos gráficos grotescos que reforçam a gravidade dos eventos e efeitos sonoros como ruídos que aumentam a tensão nos momentos mais pesados.

Há então um trabalho com o contraste desses elementos sombrios com a direção de comédia romântica. O visual geral da obra é fofo e ultracolorido, as personagens agem de formas exageradas que lembram um anime de comédia romântica despretensioso e até a trilha sonora inclui algumas músicas mais animadas. Em especial, a tela do menu inicial é como uma versão instrumental de uma abertura de uma comédia romântica dos anos 1990 em que você consegue até imaginar as personagens indo para a escola com uma torrada na boca.

O resultado é uma obra bem charmosa pelos dois aspectos e que acaba reforçando a comédia justamente pela forma como essa combinação é inusitada. As garotas são dubladas em inglês e os feitiços que o jogador tenta realizar também são cantados em r'lyehiano com um efeito ao fundo que confere a eles um tom “de outro mundo”, como se várias vozes se juntassem e distorcessem a realidade ao seu redor.

Feitiços

Um detalhe curioso sobre o jogo é que para conseguir o beijo o jogador precisa fazer feitiços para as garotas. De posse de livros mágicos, é necessário executar várias instruções como “colocar um roupão”, “manter o quarto totalmente escuro” ou “pegar uma faca de ritual”. Uma vez concluídas as etapas preliminares, o jogador precisa abrir o livro e falar o encantamento, o que é feito apertando o botão A no início da frase e movimentando o analógico até o seu final ou deslizando o dedo pela tela de toque.

Algumas regras específicas são aplicadas dependendo do capítulo da história. Em todos eles, o jogador não pode ser rápido demais ou o feitiço não será ativado. No segundo capítulo, esse erro de velocidade é fatal já que a garota dourada não aceita falhas. Já no terceiro, temos que lidar com uma série de situações que exigem que o jogador entenda o que está acontecendo e encontre o feitiço certo para lidar com o problema dentro de um certo tempo.

O sistema de feitiços é uma forma muito interessante de adicionar interatividade à obra e brincar com a proposta de relacionamento com entidades cósmicas. Sucker For Love: First Date também conta com múltiplos finais para cada capítulo e alguns segredos escondidos, sendo inclusive necessário encontrar três easter eggs para liberar a terceira história. Sem uma boa indicação do que fazer, desbloquear esse capítulo é um desafio desnecessariamente complicado.

Também vale destacar que a estrutura da segunda história envolve uma relação complexa com duas deusas, sendo possível realizar várias combinações de rituais que levam a finais diferentes. Apesar de o jogo contar com um fluxograma para facilitar a navegação pelos vários trechos da história, essa estrutura com muitas ramificações não é totalmente coberta pelo menu. Ou seja, o jogador acaba tendo menos opções de pontos para viajar do que o ideal e acaba precisando repetir alguns esforços para encontrar outros finais.

Comparando o jogo a visual novels e alguns outros jogos de foco textual, vale destacar que ele é muito pouco configurável. Só é possível desligar ou ligar as vozes e mudar o idioma entre inglês e chinês simplificado. Não há nem mesmo ajustes de volume ou velocidade textual. Também nota-se a ausência de elementos básicos de qualidade de vida como um log (registro) de falas anteriores e um modo de avançar automaticamente a história.

Curiosamente, o jogo inclusive para totalmente as vozes das personagens caso o jogador aperte o botão para que a caixa de diálogo apresente logo todo o texto. Como eu sempre uso a velocidade mais alta (“Instant”) em jogos que tenham essa funcionalidade, acabei perdendo um pouco da experiência do jogo com esse bug. Também encarei alguns fechamentos inesperados da aplicação (“crashes”) em momentos variados do jogo.

Um encontro com uma charmosa desconhecida

Sucker For Love: First Date é um simulador de romance com criaturas cósmicas que consegue explorar muito bem tanto o aspecto cômico, quanto as implicações nefastas de sua proposta. Embora tenha alguns detalhes de qualidade de vida que poderiam ser melhor executados, a sua trama e seu sistema curioso de realização de rituais sinistros em troca de um beijo fazem dele um título bem diferente do usual do mercado e que ao mesmo tempo é uma experiência competente de romance, comédia e terror, tudo junto.

Prós

  • Uma história que consegue trabalhar o humor e o terror macabro de uma forma bem convincente;
  • O sistema de invocação de rituais é uma forma inteligente de explorar a proposta de relacionamento com entidades cósmicas;
  • Visualmente charmoso com seu estilo colorido;
  • Bom uso de vozes, trilha e ruídos para reforçar os climas de “comédia romântica” e terror.

Contras

  • Ausência de log, auto e configurações;
  • Desbloquear a terceira história é um desafio convoluto;
  • O fluxograma da segunda história é muito pequeno para as várias combinações possíveis;
  • As vozes desaparecem se o jogador tentar acelerar a aparição do texto;
  • Crashes ocasionais.
Sucker For Love: First Date — Switch/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dread XP


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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