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Análise: 30XX (Switch) é um roguelike que homenageia os títulos de plataforma do passado

Com clara inspiração na série Megaman X, o título une a versatilidade do roguelike com a jogabilidade tradicional do robô azul.


Lançado em 2017 (2018 no Switch), 20XX surgiu a partir da sensação de que a Capcom já não produzia muitos jogos do seu garoto propaganda, Mega Man. Querendo suprir o vácuo deixado pelos plataformas de ação estrelados pelo robozinho azul, principalmente a jogabilidade fluida da série X, o desenvolvedor Chris King apostou suas fichas em título que unia essa familiaridade da franquia da Capcom com elementos de roguelike e suporte total ao modo cooperativo local e online.

Disponível em acesso antecipado no Steam desde 2021, a sequência direta de 20XX, 30XX, chega agora ao Nintendo Switch em seu lançamento oficial para consoles. Com novos gráficos, modos, itens e uma grande quantidade de conteúdo, a continuação chega não só como um jogo à altura do original, mas também como um lançamento imperdível para os fãs de plataforma 2D no console híbrido.

Dois xis, mas o 20 virou 30

Quem jogou 20XX no passado, assim como eu, já sabe mais ou menos o que esperar desta nova versão. É impossível não pensar em Mega Man X assim que você se depara com 30XX e o jeito mais fácil de vender a ideia desse lançamento é classificá-lo como um “Megaman X” indie e roguelike. Argumentar que a primeira versão consegue ser muito mais do que apenas esta premissa não é fácil, no entanto, no caso de 30XX, fico feliz de dizer que encontrar a identidade própria da série já não é uma tarefa assim tão complicada. 


20XX exalava um nível de falta de polidez em geral e felizmente tudo melhorou desde então. A minha impressão inicial do primeiro título é que as ideias eram boas e o co-op em especial era maravilhoso, porém a aventura parecia um tanto curta, rasa e não muito desafiadora. Os gráficos pediam mais charme e os itens precisavam de mais variedade, assim como os estágios. Era óbvio que havia muito potencial ali, mas o espaço para melhorias era expressivo. 

O impacto inicial já é a própria aparência. 30XX conta com o design de personagens de Glauber Kotaki, artista brasileiro que trabalhou em clássicos indie como Rogue Legacy 1 e 2, Full Metal Furies e até Vampire Survivors. A diferença do visual é gritante. A arte e animação, bastante similares às de Mega Man Zero e ZX, são fluidas e agradáveis da forma ideal, casando muito bem com a ação frenética que toma conta da tela. Essa simples repaginada de look por si só já eleva bastante o nível de 30XX em comparação ao seu antecessor. 


Outro novidade que se destaca é a separação do jogo em três modos distintos: Standard, Mega Mode e Community.

O Community reúne os vários estágios desenvolvidos pelos próprios jogadores no modo de criação dedicado. É possível selecionar um estágio específico de uma grande lista de criações disponíveis, acessar um desafio apenas com fases customizadas e até mesmo “zerar” o jogo trocando as fases regulares por estágios criados por jogadores, mas o Stage Builder em si só está disponível na versão do Steam para PC.

As customizações trazem uma variedade bem interessante para as possibilidades dos estágios, aumentando o desafio de movimentação na maioria dos casos e potencialmente tornando o jogo ainda mais infinito. No entanto, é uma pena que jogadores do Switch não tenham nenhum acesso ao recurso de criação, ainda mais com a possibilidade do uso da tela de toque para a função.


O Mega Mode realmente não tenta esconder sua fonte de inspiração, já deixando bem claro sua inspiração apenas pelo nome. Este aqui é o “modo Mega Man” que faltava em 20XX para que não gosta de roguelikes, ou, mais especificamente, do elemento da morte permanente (permadeath).

Neste modo, você completa os oito estágios na ordem que você quiser e a morte apenas leva você de volta para o HUB principal, exatamente como em jogos do robô azul. Trata-se de uma ótima adição para quem gosta da jogabilidade e não quer ou ainda não está pronto para o desafio mais frenético do modo tradicional. 


O Standard Mode, por sua vez, segue a mesma fórmula de 20XX e de diversos indies roguelikes que você provavelmente já jogou no Switch. São oito estágios pré-determinados com chefes e minichefes que sempre se repetem, mas os cenários são ligeiramente diferentes graças ao tradicional algoritmo da geração procedural aleatória.

Morrer em uma dessas fases faz com que você tenha que começar do zero, só que é possível coletar “Memoria” durante os estágios para realizar melhorias permanentes, como aumentar a vida e a energia total ou habilitar mais opções de itens em lojas, entre outras várias pequenas vantagens disponíveis.

Mega Nina X


Para quem conhece, saiba que os protagonistas de 30XX, Nina e Ace, tomam exatamente o mesmo lugar de Mega e Zero em Mega Man X, funcionando de forma extremamente similar em relação à jogabilidade. Nina é um atiradora de longa distância e pode carregar uma poderosa bola de energia ou soltar pequenas bolinhas rápidas; já Ace é um atacante de curta distância que possui uma espada de energia, um golpe carregado e um ataque especial de longa distância.

Ambos conseguem adquirir habilidades novas derrotando os chefões de cada estágio, no entanto os personagens tratam desses upgrades de formas diferentes: Nina, que em seu estado normal não possui nenhum ataque que utiliza a barra de energia, consegue combinar duas dessas habilidades especiais adquiridas em batalhas de chefe para criar uma nova à vontade. As funções são bastante variadas e é possível alterar no menu a qualquer hora essas combinações de forma fácil e rápida; desse modo, uma boa parte do gameplay da personagem consiste em testar novos combos e encontrar as melhores habilidades para cada momento.

Ace, por sua vez, quando derrota um chefão no final do estágio, recebe uma nova habilidade especial além da que já está disponível desde o começo, mas não consegue combiná-la com outras. Com foco em combate corpo a corpo, as skills do personagem se assemelham quase a combos de um jogo de luta.


Honestamente, me pareceu muito mais difícil achar utilidade para essas habilidades de combate de curta distância de Ace do que para as fusões de Nina. As habilidades da robô azul são muito mais intuitivas e acessíveis em suas utilizações e é fácil focar quase que exclusivamente no ataque básico jogando com Ace. Tirando essas diferenças básicas, os dois robôs possuem a mesma movimentação clássica bastante similar a Mega Man X e as mesmas possibilidades de desenvolvimento e melhorias de personagem que já são esperadas em um roguelike. 

A movimentação rápida para frente — mais conhecida como dash — está implementada com precisão e saltar em alta velocidade pelos estágios com um bom e velho dash jump é tão agradável quanto em qualquer outro jogo estrelando robôs humanóides. É importante ressaltar como 30XX acerta no aspecto da fluidez do personagem: Nina e Ace se movem sempre a 60 FPS, sem nenhum problema de performance, e cabe apenas a você levá-los para os lugares certos na hora certa, como um bom platformer deve ser.


A ação também não desaponta. Distintos inimigos com uma boa variedades de comportamentos, ataques e movimentos permeiam os diferentes estágios. Além disso, cada uma dessas fases possui uma temática clara e concisa (como água, vento e fogo), batalhas de chefe desafiadoras na intensidade certa e ainda algumas variações – já que, dependendo de quando você decide enfrentar cada estágio, a dificuldade do cenário altera de forma considerável.

Para lidar com essa dificuldade, que pode ser bem alta em alguns momentos, 30XX consegue desenvolver um ótimo senso de progresso, típico dos jogos do gênero roguelike. Com auxílio de upgrades conhecidos como Augs, que podem ser adquiridos em baús secretos, desafios específicos ou em lojas, é fácil sentir que seu personagem está realmente ficando mais poderoso de forma gradual. Mesmo que tudo ainda seja ditado pela aleatoriedade, é perfeitamente possível pensar e criar builds específicas para as suas campanhas.


30XX é uma joia rara para fãs do gênero, mas não é o jogo perfeito. A dificuldade é bastante alta e pode certamente afastar alguns jogadores mais casuais. Como todo roguelike, também não é difícil que todo o processo pareça repetitivo às vezes. Ainda que tudo mude um pouco a cada vez que você joga, para algumas pessoas essas pequenas mudanças podem não fazer muita diferença na experiência geral. 

Sem dúvidas, este é o tipo de jogo para quem quer se desafiar constantemente em uma competição pessoal de mecânicas, reflexos rápidos e certas escolhas pontuais durante os estágios. A história é quase irrelevante e praticamente se esconde em fragmentos muito específicos do gameplay, e até o Mega Mode ainda é muito mais focado na ação frenética do que em qualquer tipo de narrativa. 


Falando dos poucos pontos negativos, vale ressaltar que passei por alguns glitches visuais inesperados em alguns momentos. Um bug inofensivo em que o personagem virava um quadrado colorido para sempre aconteceu algumas vezes, porém, em um momento específico, o cenário inteiro chegou a ficar escuro e com problemas visuais durante uma campanha. 

A gama de possíveis apreciadores do título é bastante grande: de amantes de plataformas 2D ou de jogos de ação, fãs de Mega Man (tradicional, X, Zero ou ZX), aficionados do roguelike, apreciadores de jogos com uma pegada de jogabilidade retrô (ou apenas de um bom visual retrô) — com direito a uma ótima trilha sonora eletrônica frenética e efeitos sonoros, gráficos e animações de primeira linha — a até mesmo simplesmente jogadores que gostam de um bom desafio.

Assim como a extremamente famosa e popular franquia Mega Man, é difícil não se divertir com 30XX e suas possibilidades, ainda mais quando a Capcom quase nunca traz lançamentos expressivos do Blue Bomber para os fãs sedentos por conteúdo.

Uma recomendação fácil no Switch


30XX consegue melhorar todos os aspectos do seu promissor antecessor e superar as expectivativas. Muitos elementos do jogo simplesmente funcionam, de uma saudável quantidade de conteúdo ao alto nível de desafio, lindos gráficos, sons competentes, animações primorosas e uma jogabilidade lisa e precisa como todo jogo deveria ter. Como resultado, o público-alvo é grande para a fórmula do título, sendo muito fácil recomendar 30XX para qualquer tipo de jogador.

Prós

  • Gráficos, animações, trilha e efeitos sonoros impecáveis;
  • Grande quantidade de conteúdo disponível;
  • Jogabilidade fluida e precisa;
  • Performance primorosa.

Contras

  • Dificuldade bastante elevada deve assustar alguns;
  • Fórmula naturalmente repetitiva pode se mostrar desgastada;
  • Alguns glitches visuais ocorrem às vezes;
  • Falta do modo de criação de fases no Switch.
30XX - Switch/PC - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Batterystaple Games

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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