Mortal Kombat (SNES): 30 anos da chegada da franquia nos consoles da Nintendo

Port do arcade de sucesso mudou a indústria dos games.

em 26/09/2023
Qualquer texto que faça um retrospecto sobre jogos de luta inevitavelmente citará Mortal Kombat. A franquia é um marco na indústria de games como um todo e, desde o princípio, marcou presença nos consoles da Nintendo. Aproveitando o frisson pelo lançamento de Mortal Kombat 1 (Multi) e a data redonda de 30 anos da chegada da franquia nos lares dos gamers, vamos relembrar o início dessa história de sucesso.

Encontrando seu próprio caminho

A década de 1990 foi uma época inigualável para a indústria dos games. Sega e Nintendo disputavam a lendária console wars, os gráficos ainda eram contados em poucos bits e as máquinas de fliperama faziam muito sucesso.

Em 1991, Street Fighter II (Multi) dominava os arcades e ajudava a popularizar de vez os jogos de luta. A franquia da Capcom apostou em personagens caricatos que representavam estereótipos de diversas nacionalidades.

Por outro lado, John Tobias e Ed Boon desenvolveram para a Midway um jogo de luta com outra abordagem. A ideia era aproveitar a onda de sucesso desta vertente dos games, mas imprimindo uma personalidade própria.

Deixando de lado os gráficos em pixel art, a dupla utilizou a técnica de chroma key e capturou a performance de atores reais, posteriormente digitalizadas e transformadas em sprites. O resultado foi bastante realista e impressionante para a época.

Outro fator que diferenciou Mortal Kombat dos outros títulos do gênero foi o destaque dado à violência gráfica, com sangue jorrando e corpos sendo despedaçados. Aliado ao realismo dos personagens, a combinação desses fatores fez deste um jogo único, conquistando espaço nos fliperamas a partir de agosto de 1992.

Rota alternativa

Toda essa história poderia ter sido bem diferente se um famoso ator tivesse aceitado emprestar sua imagem para o projeto. Nos estágios iniciais de desenvolvimento, a equipe cogitou fazer um jogo licenciado de Jean-Claude Van Damme.

O co-criador Ed Boon revelou em 2015 que, quando estavam tentando fazer funcionar a ideia de utilizar imagens de atores reais, valeram-se de trechos da performance do ator belga no filme O Grande Dragão Branco, sucesso de 1988. A equipe montou uma demo para convencer Van Damme a autorizar o game licenciado, mas as negociações não avançaram.

Só a partir da negativa do astro que as características mais sanguinolentas do título foram introduzidas. O que nos leva a pensar que, em alguma realidade alternativa, um jogo de luta estrelado por Jean-Claude Van Damme foi lançado, mas, em compensação, a palavra “fatality” não faria parte da cultura gamer.

De todo modo, a presença do astro pode ser sentida no título, já que serviu de inspiração para o personagem Johnny Cage, uma estrela de cinema especializada em artes marciais. Três décadas depois, finalmente Van Damme é oficialmente Cage, através de uma skin em Mortal Kombat 1.

Inspirações cinematográficas

O cinema dos anos 1980 foi uma grande fonte de inspiração para Mortal Kombat. O Grande Dragão Branco, além de Van Damme, trazia como sinopse básica um torneio secreto de lutadores, base do mote do jogo.

Já o filme Os Aventureiros do Bairro Proibido, de John Carpenter (diretor do clássico Halloween), introduz elementos fantásticos a essa mistura ao apresentar uma batalha sobrenatural entre o bem e o mal. Além de contribuir com a história do game, a película também inspirou outros dois personagens.

Relâmpago, um vilão com chapéu de palha e poderes com raio, serviu de base para o mestre Raiden. Já o grande antagonista da produção, o antigo feiticeiro Lo Pan, foi a inspiração para Shang Tsung.

Propaganda é a alma do negócio

Com o sucesso nos arcades, a Acclaim entrou como distribuidora com a responsabilidade de levar o sangrento título de luta para os consoles caseiros. A empresa então traçou uma estratégia ousada de marketing para promover o jogo para o grande público.

Comerciais de TV e anúncios em revistas promoviam o Mortal Monday para o dia 13 de setembro de 1993. Naquela segunda-feira, Mortal Kombat foi lançado nos principais consoles da época: Mega Drive, Game Gear, Game Boy e Super Nintendo.

Cada versão caseira teve suas particularidades. Os portáteis, com suas limitações de hardware, tiveram cortes de cenários e de personagens. Nos consoles de mesa, a rivalidade Sega e Nintendo ficou ainda mais acirrada.

Fiel, mas nem tanto

A Big N tinha uma política de censura sobre os jogos que chegavam às suas plataformas, editando diversos títulos para retirar elementos de conteúdo explícito ou de temas sensíveis, como violência, bebida ou religiosidade. Em um game conhecido pela violência, a missão da empresa responsável pelo port para SNES, Sculptured Software, não era fácil.

Os visuais ficaram bem fiéis aos arcades, incluindo o tamanho dos personagens na tela, os detalhes dos cenários e a coloração. Porém, o sangue foi substituído por suor, e os fatalities foram modificados para diminuir a violência explícita.

Já a versão de Mega Drive foi desenvolvida pela Probe e contava com visuais e sons menos apurados, já que o hardware do console da Sega era inferior ao da concorrência. Em compensação, digitando o clássico código ABACABB, o conteúdo violento era completamente liberado.

A estratégia da casa do Sonic combinava com o posicionamento da empresa em se apresentar como jovem e radical, em contraposição ao tradicionalismo da Nintendo. As diferenças afetaram diretamente o resultado das vendas: Mortal Kombat vendeu 1 milhão de cópias no Super Nintendo, enquanto a versão sangrenta de Mega Drive chegou a 3 milhões de unidades comercializadas.

Um legado involuntário

O sucesso de jogos violentos e realistas como Mortal Kombat e Night Trap (Sega CD) chamou a atenção fora da bolha gamer. Conservadores argumentaram que produtos como esses poderiam corromper os jovens e a sociedade.

O assunto ganhou os jornais e chegou até a esfera política. O senado dos Estados Unidos convocou audiências para debater a alegação, que contaram inclusive com depoimentos e troca de acusações entre Sega e Nintendo.

As discussões se encerraram em 1994, com a criação da Entertainment Software Rating Board (ESRB). O órgão regulatório atua até hoje e tem a função de classificar as recomendações etárias dos lançamentos gamers na América do Norte.

Round 1, Fight!

O primeiro Mortal Kombat era tão diferente do que era produzido pela concorrência na época que era impossível não se destacar. O uso de atores reais para os personagens, os fatalities, o narrador e sua voz marcante, a jogabilidade que dava uma importância maior aos direcionais, os personagens secretos (Reptile, nesta estreia), um marketing agressivo, a visibilidade advinda da polêmica e até mesmo a censura da Nintendo fizeram deste um título único que entrou para a história da cultura gamer.

Revisão: Cristiane Amarante
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Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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