Jogamos

Análise: Summum Aeterna (Switch) une metroidvania e mecânicas roguelite com devoção, mas peca em pontos cruciais

O título da Aeternum Game Studios diverte, mas sofre com problemas na versão nintendista.

em 13/09/2023
Lançado inicialmente em 2022 via acesso antecipado no Steam, Summum Aeterna é um híbrido de roguelite e metroidvania que se passa no universo de Aeterna Noctis (Switch), um dos clássicos modernos do gênero há muito estabelecido pelas franquias da Nintendo e Konami.


Com algumas boas ideias — e outras nem tanto assim — em sua composição, este é um título interessante que sofre com alguns problemas consideráveis em sua aguardada apresentação no Switch, infelizmente impedindo uma recomendação mais ampla.

O retorno do rei

Em Summum Aeterna, assumimos o controle do Rei das Trevas, um monarca amaldiçoado com a imortalidade e condenado pelo deus supremo, Caos, a uma guerra eterna contra a Rainha da Luz. 

Após um grande confronto com muitas baixas, o monarca precisa se preparar para defender o trono antes que sua arqui-inimiga retorne. Na prática, isso envolve viajar por diversos cenários conhecendo seus segredos e aprimorando suas habilidades.

Sendo Summum Aeterna na verdade um prólogo de Aeterna Noctis, é possível esperar diversas tiradas e referências que agradarão aos fãs do primeiro jogo do estúdio. No entanto, se é o seu primeiro contato com este universo (a terceira entrada, Aeterna Lucis, já está em produção, com lançamento previsto para 2024), não há com que se preocupar. 

De fato, uma das primeiras críticas que tenho a Summum Aeterna é que a sua história nunca se desenvolve o bastante ou se prova envolvente; alguns diálogos, inclusive, beiram o constrangedor, com o Rei das Trevas se posicionando constantemente como um ser superior aos demais. Pelo menos há outros pontos positivos para compensar essas cenas.

Semente, de que árvore você nasceu?

Como dito, Summum Aeterna é, em sua essência, um híbrido de metroidvania e roguelite, o que significa que aqui o jogador deve percorrer diversas salas aleatórias interconectadas, sempre se deparando com surpresas no meio do caminho.

Um detalhe bem interessante é que o título da Aeternum Game Studios não segue uma rota fixa em seus cenários, como a imensa maioria dos roguelikes disponíveis no mercado. Pense em algo como Hades (Switch) e Enter the Gungeon (Switch), por exemplo, e você certamente se lembrará dos labirintos iniciais de sua jornada nesses títulos — estou errado?

Aqui, porém, a sua localização inicial pode ser livremente escolhida através das Sementes de Mundo. Obtidas naturalmente durante as campanhas, elas variam em suas características, provendo diferentes bônus e prejuízos a cada nova partida.

O sistema de sementes é interessante por diversos motivos, dentre eles o fato de sua simples existência já reduzir a costumeira aleatoriedade dos roguelikes. Se você prefere começar em um cenário específico dos vários disponíveis, Summum Aeterna oferece essa liberdade desde muito cedo.

Vale mencionar que, quanto mais rara uma semente, maiores serão os seus prêmios e desafios. A partir de certo ponto e com os recursos certos, também é possível destruir, fundir e criar sementes para configurar a partida “ideal”, adicionando uma boa camada de personalização e longevidade à aventura que provavelmente agradará aos fãs do gênero.

A arte da guerra

Outro ponto muito positivo de Summum Aeterna é a sua jogabilidade. Tanto em combate quanto nas seções de plataforma, controlar o Rei das Trevas e derrotar as hordas de inimigos que se apresentam sala após sala é prazeroso e viciante. 

Graças à esquiva generosa (que também funciona como impulso), com um pouco de prática, é possível realizar sequências de ações verdadeiramente acrobáticas e mortfíferas com as armas e os inúmeros upgrades que podem ser encontrados aleatoriamente.

Falando das armas à disposição do monarca, são três: a espada, a foice e as pistolas. Embora todas possuam somente dois golpes (um simples e outro especial), as três conseguem ser distintas o suficiente para acomodar diferentes estilos de jogo.

A espada, por exemplo, é bastante efetiva a curta distância e pode ser arremessada; já as pistolas recompensarão quem souber manter uma distância segura dos alvos e usar os recursos como o pulo duplo e os frames de invencibilidade da esquiva para se locomover pelo cenário. 

Confesso que gostei de jogar com todas as três armas — um testemunho à qualidade do design nesse quesito —, mas a minha favorita, sem dúvidas, foi a foice, por sua eficiência e agilidade. 

Conforme se avança em uma partida, é possível comprar versões melhoradas da arma inicial ou acoplar diferentes bônus aos equipamentos, como congelamento ou envenenamento. Com tudo sendo gerado aleatoriamente, há muito o que se ver e descobrir até que o Rei das Trevas assuma uma forma de fato tão letal quanto a das lendas ao seu respeito. A jornada até lá, protagonizada pelo jogador, vale a pena.

O que já está morto não pode morrer

Em todo bom roguelite, morrer significa perder seus equipamentos melhorados e retornar ao ponto inicial, mas Summum Aeterna emprega diversos artifícios para fazer com que cada partida represente uma oportunidade de progressão para o jogador, ainda que pequena.

Por exemplo, há uma série de benefícios permanentes adquiríveis para o seu personagem, como aumento do dano básico, da vida ou da chance de crítico. Além disso, cada uma das três armas possui uma árvore própria de habilidades, recompensando aqueles que realmente investirem tempo em uma delas.

Quanto mais tempo você passar em uma partida ou mais longe for, maiores serão as chances de encontrar sementes melhores, chefes e minichefes. Tudo isso também provoca alterações na Vila Faminta (o vilarejo que funciona como hub) e nas próprias fases, o que, junto com a jogabilidade prazerosa, motiva o jogador a continuar se envolvendo mais e mais.

Minha única consideração nesse quesito é que Summum Aeterna demora um pouco a se revelar completamente. Há diversos NPCs e mecânicas que começam a ser apresentadas somente após a quinta hora de jogo, e muitos benefícios permanentes estão atrelados ao controverso grinding. Caso decida se aventurar por aqui (algo que vale a pena), esteja ciente de que será preciso um pouco de paciência para conhecer tudo que o título oferece.

Não vi o que me acertou…

Feitos os elogios, preciso citar alguns pontos que me incomodaram bastante em Summum Aeterna. O primeiro (e mais grave, na minha opinião) diz respeito ao visual sofrível no modo portátil do Switch, algo a se levar em conta se você possui o modelo Lite do console.

Em minhas análises, procuro ser compreensivo quanto às questões de performance, sempre ponderando questões como o que está sendo renderizado na tela, o poder do hardware à disposição e o tempo de desenvolvimento do produto. Justamente por isso, fiquei bem decepcionado com o resultado apresentado.

Se fosse somente pela questão estética, até daria para relevar, mas o problema é que, assim como Aeterna Noctis, Summum Aeterna utiliza animações desenhadas à mão. Quando apresentadas em baixa resolução (como é o caso aqui), essas animações acabam sendo difíceis de distinguir umas das outras. Não foram poucas as vezes em que sofri dano e até mesmo perdi a partida por não enxergar os inimigos ou elementos do cenário devido à baixa fidelidade dos elementos visuais.

Há, nas opções, a possibilidade de travar a renderização em 30 quadros por segundo, ao invés dos usuais 60. De início, achei que essa fosse a melhor opção para aumentar a qualidade da apresentação, mas qual não foi a minha surpresa ao ativá-la e não notar quaisquer mudanças no visual, indicando um possível bug relacionado à resolução dinâmica.

Por falar em bugs, também devo mencionar que mais de uma vez a língua do jogo, que conta com legendas em português brasileiro, se alterou sozinha. Não duvido que um personagem imponente como o Rei das Trevas seja poliglota, mas confesso que foi estranho quando ele começou a dialogar em russo e espanhol com seus companheiros de universo, especialmente quando as falas anteriores estavam em português.

Além disso, também devo mencionar que, com tanta ênfase na personalização das partidas, a ausência de níveis de dificuldade em Summum Aeterna acabou me decepcionando. Há muito a que se ver e fazer aqui, fato, mas com o elevado nível de desafio e a progressão mais lenta que o esperado, temo que muitos jogadores desistirão antes de ver todos os confrontos. Fica a esperança de que alguma atualização futura aborde essas questões e resolva esses pontos para que Summum Aeterna realize seu potencial.

Invocação bem-sucedida, com ressalvas

Summum Aeterna é mais uma prova que a mescla de metroidvania e mecânicas roguelite funciona quando bem realizada. Suas diversas surpresas e seu sistema de combate ágil e viciante divertem e compensam os deslizes na história e na ausência de opções de dificuldade (quase uma ironia, considerando a ênfase na personalização das partidas).

Tendo em vista o seu potencial, é uma pena que o título não esteja em sua melhor versão no Switch e, de quebra, ainda apresente bugs bizarros como o da alteração do idioma. Fica a esperança que patches futuros corrijam esses pontos, então. Quem sabe assim o Rei das Trevas poderá pleitear de fato um reinado entre os seus colegas de gênero no console da Nintendo.

Prós

  • Deverá agradar tanto aos entusiastas de metroidvanias quanto aos de roguelites;
  • Sistema de combate ágil, responsivo e viciante;
  • Diversos segredos a ser descobertos;
  • Os benefícios permanentes concedem a importante sensação de progressão entre partidas;
  • O sistema de Sementes do Mundo aumenta consideravelmente a longevidade do título.

Contras

  • A necessidade de grinding para obter os benefícios permanentes se prova um pouco excessiva;
  • A progressão pode ser mais lenta que o esperado;
  • A ausência de níveis de dificuldade afastará os jogadores casuais;
  • A baixa qualidade de imagem no modo portátil do Switch prejudica a experiência;
  • A presença de bugs significativos indica a necessidade urgente de patches de correção.
Summum Aeterna — PC/PS5/PS4/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aeternum Game Studios

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.