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Análise: Even if Tempest: Dawning Connections (Switch): um mergulho mais profundo nos relacionamentos de uma fantasia medieval cativante

Fandisk da visual novel otome expande a narrativa, resolvendo pontas soltas e dando um gostinho de tempo adicional com os personagens.

Em 2022, a Voltage lançou a visual novel Even if Tempest de forma simultânea no mundo todo, um caso raro dentro do gênero, que geralmente demanda tempo para sua localização ocidental. A obra teve um bom sucesso e a equipe conseguiu anunciar uma sequência no formato fandisk (uma “expansão narrativa” vendida separadamente) intitulada Even if Tempest: Dawning Connections.

Nas obras, acompanhamos a história da jovem aristocrata Anastasia Lynzel, que acaba se envolvendo com poderes sobrenaturais para poder refazer a sua vida. Mesmo tentando várias vezes, encontrar um final feliz leva a personagem a mergulhar em resultados desesperadores e trágicos, o foco do jogo original.

Em Dawning Connections, a garota e seus múltiplos pares românticos em potencial têm finalmente a chance de respirar e aproveitar a vida. O título então usa a deixa para lidar com as pontas soltas e dar destaque a interações mais mundanas dos personagens.

Além do ciclo vicioso

Após os eventos do jogo original, Anastasia conseguiu finalmente se livrar do ciclo de tragédias no qual vivia. Agora ela tem a chance de viver uma vida mais tranquila e um pouco de romance com um dos seus quatro interesses românticos (Crius, Tyril, Zenn e Lucien). O jogo inicia com um breve prólogo que serve apenas como recontextualização curta e logo em seguida libera as histórias dos romances de Anastasia.

Apesar do conceito geral ser bem mais leve desta vez, os personagens ainda enfrentam vários conflitos. A resolução da narrativa original não foi o suficiente para acabar com problemas graves do contexto de fantasia, como a disputa pelo trono ou as tramas sórdidas que se escondem nas sombras do reino.

Como um todo, temos aqui elementos de fantasia bem-executados, com um mundo cheio de detalhes interessantes para entender mais a fundo. Cada história, incluindo também narrativas adicionais focadas nos personagens secundários, ajuda a dar mais informações sobre esse mundo e resolver algumas pontas soltas da trama original. Porém, o que realmente chama mais a atenção em Dawning Connections é o foco nos personagens.

Quando avaliei Even if Tempest, um dos pontos que critiquei era que a trama tinha um desenvolvimento muito rápido. Agora, com o conflito central resolvido, Dawning Connections tem um ritmo mais lento e que dá aos personagens tempo para demonstrarem suas qualidades.

Com esse tempo adicional, o fandisk trabalha com delicadeza os relacionamentos humanos dos personagens. Para quem já tinha aproveitado bastante o jogo anterior, essa escolha é profundamente recompensadora. Temos aqui personagens bem-desenvolvidos em suas fragilidades e ambições, formando uma trama que já vale a leitura só pela escrita convincente desse elemento mais cotidiano e pelas boas sacadas em relação a como os personagens agiriam.

Anastasia Lynzel continua sendo uma protagonista de alta qualidade, cuja personalidade transparece nas decisões, atitudes e pensamentos específicos que reforçam seus traumas e anseios. A sua determinação e a forma como ela é profundamente honesta com os seus parceiros mantém a personagem como um indivíduo de alto carisma e personalidade forte.

Repetindo a dose

Fora a mudança no foco da escrita, Even if Tempest: Dawning Connections repete a dose em seus aspectos técnicos. Visualmente, o jogo deixa um pouco a desejar em termos de produção, tendo animações e efeitos especiais bastante simplórios. Porém, as ilustrações de personagens e ambientes são bem agradáveis.

Como um jogo de ambientação medieval, as artes de Norita são elegantes e apresentam um figurino bem adequado. As expressões faciais também são detalhadas e chamam a atenção, especialmente em momentos de exageros em que personagens revelam traços distorcidos de suas personalidades. No novo jogo, temos também grande esforço em mostrar as reações mais fofas dos interesses românticos.

De forma geral, há bastante reuso de elementos do original, como é geralmente esperado de um fandisk. Além de algumas ilustrações inéditas com especial foco aos poucos momentos mais picantes de relacionamento, há algumas novas artes voltadas a mostrar um pouco mais da intimidade dos personagens, como as roupas que gostam de usar em seus momentos de relaxamento.

Tudo isso é acompanhado por um belo trabalho de atuação vocal. Como de costume, as vozes da visual novel só estão disponíveis em japonês e todos os atores são profundamente competentes em oferecer a emoção adequada para cada situação da trama.

Por fim, gostaria apenas de destacar que o jogo conta com alguns errinhos de digitação e escrita em inglês. A leitura geralmente flui bem e faz boas escolhas de tradução, mas ainda é fácil notar esses problemas.

Conexões emocionais

Even if Tempest: Dawning Connections
é uma visual novel que consegue reforçar a alta qualidade de seu antecessor, dando aos fãs mais tempo para aproveitar as relações entre os personagens. Embora seja um título que vale a pena apenas para quem já aproveitou o original, a qualidade da escrita de personagens o mantém como uma excelente indicação para fãs do gênero.

Prós

  • Relacionamentos interessantes e convincentes que trabalham a humanidade dos personagens;
  • Trama com elementos de fantasia bem-executados;
  • Novas ilustrações adicionais ajudam a mostrar os rapazes em momentos mais íntimos de descanso;
  • Bom trabalho de atuação vocal japonesa.

Contras

  • Necessário jogar o original para aproveitar de fato a obra;
  • Em termos de produção, os elementos visuais do jogo são geralmente mais simples do que a média do mercado no Switch;
  • Pequenos erros de escrita em inglês.
Even if Tempest: Dawning Connections – Switch – Nota: 8.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Voltage

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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