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Análise: The Pale Beyond (Switch) simula o esforço brutal para sobreviver no continente inóspito da Antártica

Simulador de expedição na Antártica é uma experiência desafiadora de gerenciamento de recursos e pessoas.

Desenvolvido pela Bellular Studios e publicado pela Fellow Traveller, The Pale Beyond é uma experiência narrativa peculiar. O jogo simula uma expedição à Antártica que em pouco tempo se mostra bastante complicada. Com recursos limitados, sobreviver e tentar completar sua missão será uma tarefa árdua, mas que pode ser muito recompensadora.

Uma expedição envolta em mistérios

The Pale Beyond conta a história da tripulação do navio Temperance que, a mando de um misterioso contratante, parte em uma expedição em busca dos restos de um navio irmão chamado Viscount. Para a missão, será necessário ir à Antártica, um continente tão gelado e inóspito que será necessário um excelente planejamento para sobreviver.

Pouco tempo após chegarem lá, as coisas começam a dar muito errado. A Temperance encalha no gelo, o capitão some e a tripulação fica sem saber o que deve fazer agora. Com isso, o jogador assume as rédeas na pele do primeiro imediato do navio, e caberá agora a ele gerenciar os suprimentos limitados e a organização dos indivíduos para sobreviver às hostilidades dessa fronteira até então inexplorada pelo homem.
Em termos gerais, a narrativa é bem escrita, reforçando o tom realista dos eventos e até mesmo uma sensação de época por conta dos vocábulos usados pelos personagens. A trama tende a ser pesada e as personalidades individuais vão sendo ressaltadas em vários momentos de tensão ao longo da jornada. Como capitão temporário, o jogador deve entender os gostos desses indivíduos, tentando preferencialmente agradá-los, aumentando a sua barra de lealdade, mas também tendo que lidar com algumas decisões cuja seriedade pode levar a desentendimentos entre membros da equipe.

As escolhas do jogador impactam significativamente a experiência como em um RPG narrativo ou uma visual novel. Personagens podem querer desertar ou fazer motins, brigas podem surgir por desentendimentos internos e grandes perigos podem ser ainda mais fatais se o jogador não tiver cuidado.

Mais do que simplesmente recursos, estamos lidando com indivíduos, pessoas que possuem suas próprias vidas. Em cada nova semana de gerenciamento, vemos também os dramas humanos desses indivíduos, tendo tanto momentos especialmente tocantes e singelos quanto alguns eventos mais descontraídos que brincam com os trejeitos de cada um. Embora haja uma distinção notável entre os personagens mais relevantes e os que estão ali apenas para serem mandados, pessoalmente me importei com as histórias de todos os membros sem exceção.

Um mundo de recursos limitados

Quando se fala de The Pale Beyond, temos que pensar na hostilidade do mundo em que estamos inseridos. O principal desafio do jogo gira em torno do gerenciamento dos recursos limitados da Temperance. Além da alocação de pessoal para tarefas variadas, toda semana in-game implica em gastos de comida e combustível para manter uma espécie de fornalha funcionando.

Esses gastos são controlados pelo próprio jogador, que pode economizar totalmente ou gastar uma quantidade maior de um recurso em uma semana. Cada semana oferece valores ideais de consumo para o jogador, penalizando-o com efeitos como congelamento ou desnutrição de alguns indivíduos caso contrário.
Inicialmente, ainda na Temperance, temos latas de alimentos e pilhas de carvão que podemos usar para aumentar os níveis de comida e combustível. Porém, as circunstâncias vão mudando ao longo do jogo para vários acampamentos, forçando os personagens a desbravar a geleira em busca de animais como focas e pinguins para matar e usar como alimento ou combustível.

Para lidar com o congelamento e a desnutrição causados pela economia, o jogador pode usar alguns serviços da tripulação. Temos um médico a bordo capaz de tratar todo tipo de enfermidade, podemos pedir aos engenheiros para curar os aliados congelados e alguns alimentos encontrados no navio podem curar o escorbuto. Ficar sem tratar os problemas faz com que eles se agravem na próxima semana, podendo levar ao óbito de integrantes da tripulação.

A economia excessiva de recursos também pode reduzir a moral da tripulação e chegar a 0 é uma das formas de game over, embora o jogo permita também eliminar essa restrição no menu principal. Porém, mesmo com essa comodidade opcional, temos um jogo no qual é muito importante ter cautela e usar o seu tempo de forma inteligente para avançar. A dificuldade de sobrevivência é palpável e sempre presente.

Quesitos técnicos

Em termos gerais, The Pale Beyond roda de forma razoável no Switch, embora alguns jogadores possam preferir usá-lo na dock devido ao tamanho reduzido de vários elementos da tela. É possível fazer zoom in para melhorar a visibilidade ao custo de não ter mais todas as opções simultaneamente apresentadas de forma nítida. Com o jogo aberto por muito tempo, o texto também pode dar pequenos engasgos e não há opções de ajuste da velocidade dele, sendo necessário apertar B para avançar mais rápido.

Quando falamos de elementos audiovisuais, vale destacar que o jogo tende a uma proposta mais realista e minimalista. Muitos momentos são focados puramente em sons ambientes. Infelizmente, embora seja uma virtude para imersão em alguns momentos, isso também significa que há pontos de completo silêncio que acabam ficando apenas tediosos e poderiam pelo menos contar com algum efeito sonoro ambiente.
O jogo conta com algumas limitações técnicas, como a ausência de suporte à tela de toque, que seria muito útil para interagir melhor com os elementos em tela. Isso seria especialmente bem-vindo nesse caso porque nem sempre o direcionamento via analógico fica claro quando há muitos pontos dispersos no mapa. Também não temos um log de diálogos, apenas um registro bem geral de eventos no quarto do capitão. Como se trata de um jogo com foco no enredo, esse é um tipo de conforto que poderia ser muito útil para o jogador que acaba passando sem querer uma fala muito rapidamente.

Por fim, gostaria de destacar que, pela natureza do jogo, um ponto bem importante é que rejogar pode render resultados bem diferentes. Para explorar isso, é possível usar um sistema de “árvore de eventos”, em que é possível recarregar o jogo a partir de qualquer semana já concluída. O resultado é que conseguimos refazer a história e traçar um novo caminho a partir desse ponto, mas isso também significa que não temos saves alternativos, precisando seguir a história a partir daquela nova ramificação escolhida. O resultado acaba sendo menos confortável do que um sistema padrão de saves manuais.

Sobrevivendo a todo custo

The Pale Beyond
é uma experiência imersiva de esforço pela sobrevivência de uma tripulação no gelo. Com uma narrativa instigante e uma gameplay que constantemente coloca em teste as habilidades do jogador, trata-se de uma excelente pedida para quem quer uma obra séria de gerenciamento de recursos limitados e ao mesmo tempo uma experiência tocante sobre pessoas.

Prós

  • Gerenciamento de recursos que exige bastante cautela e inteligência;
  • Narrativa bem escrita que consegue explorar os dramas humanos envolvidos nessa aventura de risco;
  • As decisões do jogador possuem impactos significativos no desenrolar dos eventos;
  • O sistema de árvore de progresso permite voltar a momentos específicos e refazê-los com relativa facilidade.

Contras

  • Ausência de log;
  • Não possui opção de usar a tela de toque;
  • Alguns momentos de total silêncio no jogo mereciam pelo menos alguns efeitos ambientes;
  • Inexistência de slots de saves dificulta a exploração de possibilidades alternativas.
The Pale Beyond — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fellow Traveller

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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