Jogamos

Análise: Wargroove 2 (Switch) é um pacote recheado para fãs de jogos estratégicos

A sequência do título de 2019 repete a dose de seu antecessor com muito conteúdo.

Wargroove 2
é um jogo de estratégia desenvolvido pela Chucklefish em parceria com a Robotality. Com inspiração clara na clássica franquia Famicom Wars/Advance Wars da Intelligent Systems, temos aqui uma sequência de um título que demonstrou muito claramente a sua competência ao chegar ao Switch em 2019. Repetindo a dose e reaproveitando vários elementos já presentes no seu predecessor, Wargroove 2 oferece uma experiência sólida e recheada de conteúdo.

No ritmo da guerra

Wargroove 2 coloca o jogador no controle de vários exércitos no continente de Aurânia. Há muito tempo, ele era dividido em duas poderosas nações, mas uma grande guerra levou à destruição de ambas. Nesse mesmo ambiente do jogo original, temos a chegada de um novo grupo: os Faahri.

Composta por indivíduos com aparência de ratos majoritariamente sedentos por mais informações sobre o mundo, essa tribo peregrina por vários lados do mundo e uma pequena tropa é enviada especificamente para Aurânia. Lá, eles encontram artefatos e segredos antigos que deveriam ter permanecido selados, dando início a novos conflitos.

Sem entrar em muitos detalhes para evitar spoilers, vale destacar que os diálogos tendem a ter um tom mais leve e agradável, combinando com o estilo 2D fofo e colorido. Apesar disso, a trama possui elementos sombrios consistentes por baixo disso, sendo isso já bem nítido no prólogo com a história da personagem Lytra, uma das novas comandantes. 

Ao longo da história, aprendemos mais sobre indivíduos pertencentes às diversas facções do jogo e vemos os seus lados profundamente humanos. Vale destacar que o jogo conta com tradução para o português do Brasil, o que torna a experiência ainda mais fácil de aproveitar. A qualidade textual do jogo é boa, utilizando elementos populares e pequenos desvios da norma culta que combinam com a ambientação e personalidade dos indivíduos.

Tropas, avançar!

Wargroove 2 é um jogo de estratégia em que o jogador deve controlar suas tropas em combates táticos. Cada fase possui uma tropa inicial pré-definida (que pode ter variações com escolhas narrativas específicas), mas é possível invocar novos aliados utilizando-se estruturas presentes em alguns mapas.

Todas as tropas podem ser divididas em várias unidades de tipos específicos, como infantarias, cavalarias, gigantes, criaturas aéreas e marítimas. Apesar das variações gráficas, elas têm os mesmos atributos, sendo apenas os comandantes capazes de utilizar uma habilidade especial chamada Groove, cujos efeitos são individuais, como curar aliados em uma área próxima, ajustar posicionamento de unidades e até transformar uma unidade em uma versão mais poderosa temporariamente.

Cada tipo de aliado possui vantagens e desvantagens específicas, com os comandantes sendo os mais poderosos, mas também essenciais para a vitória. Para extrair o máximo potencial da sua tropa, é fundamental entender como ela funciona, maximizando o seu dano e garantindo que os inimigos sejam destruídos rapidamente.

Dois elementos são especialmente importantes para pensar nisso: o HP e o fator crítico. Conforme as unidades perdem pontos de vida, elas reduzem o seu contingente de soldados e são enfraquecidas, passando a causar menos dano aos inimigos. Por conta disso, é necessário um bom gerenciamento dos ataques recebidos em vez de se preocupar apenas com manter todas as tropas vivas.

Também é possível garantir mais dano ativando um efeito crítico que varia de acordo com a unidade selecionada. Por exemplo, soldados com espada liberam o máximo do seu potencial quando estão na adjacência de um comandante; arqueiros devem permanecer parados para ativar os seus golpes críticos; e unidades aéreas, como os tengus de Cantoária, estão no ápice se estiverem no topo de montanhas. Com isso, o planejamento sagaz do posicionamento das suas tropas é ainda mais valorizado e pode ser a diferença entre uma derrota angustiante e uma vitória louvável.

Uma estrutura rica em estratégia

O funcionamento estratégico do jogo não se resume apenas à questão das tropas. Um elemento importante é o uso de terrenos e a forma como eles aumentam ou diminuem a defesa das unidades. Ao contrário de outros títulos estratégicos, como Yggdra Union, temos uma lista simples em que as vantagens são as mesmas para todos os grupos, apesar de algumas condições geográficas não aceitarem determinadas unidades.

Temos também mapas em que é possível interagir com elementos do cenário, conquistando estruturas que podem ser utilizadas para ganhar dinheiro e unidades a cada rodada. No Modo Campanha, há mapas que brincam com ativadores de eventos, barreiras e outros elementos interativos que ajudam a dar variedade aos conflitos. Com isso, temos um bom aprendizado do que pode ser feito com cada unidade e com os elementos específicos de cada mapa.

Junto com o Modo Campanha, temos também um Modo Conquista que oferece uma experiência menos focada na narrativa, com cenários mais compactos. O principal desafio aqui é lidar com recursos bem mais limitados do que vários mapas da campanha e os impactos permanentes das suas decisões, já que as tropas e a vida delas é mantida a cada nova área explorada.

Infelizmente, esse modo também conta com uma falha grave ao não apresentar nenhum menu que dê indicações de como a equipe está atualmente. Sem saber os valores precisos de vida (e, consequentemente, força) dos aliados, fica mais difícil tomar uma decisão informada ao escolher entre eventos mais seguros ou mais perigosos. Essa ausência não era um problema na Campanha, já que as unidades iniciais estão sempre no seu máximo, mas as regras diferentes fazem com que essa ausência impacte negativamente a gameplay.

Por fim, também é possível criar seus próprios mapas e campanhas com base nos elementos disponíveis no jogo. Esse conteúdo pode ser compartilhado online e jogado localmente com amigos. Vale destacar que o compartilhamento de conteúdo não é bloqueado para quem não tem Switch Online, só havendo restrição para de fato jogar remotamente com outras pessoas.

De forma geral, temos um jogo repleto de conteúdo graças a todos esses modos. O resultado é uma experiência robusta para fãs de jogos estratégicos, sendo Wargroove 2 bastante sagaz em explorar os elementos que estão em sua base.

Enriquecendo a experiência

Uma coisa que não pode deixar de ser falada sobre Wargroove 2 é a sua belíssima pixel art. O jogo é bastante colorido, cheio de carisma e riquíssimo em detalhes. Trata-se de um mundo que enche os olhos e dá vontade de conhecer mais. Felizmente, o título possui um “códice” que reúne várias informações sobre a ambientação, os personagens e até mesmo a gameplay.

Em especial, o que me chama mais atenção são os personagens, que parecem ter recebido ainda mais atenção considerando o nível de detalhamento de suas vestimentas e estilos. Há todo um esforço de consistência estética por trás da criação, com indivíduos bem fofinhos, como os ratos antropomórficos da nova tropa, ou os guerreiros-plantas floranos. Temos também elementos culturais bastante conhecidos, como vestimentas de piratas, soldados medievais e guerreiros que parecem ter uma inspiração japonesa.

Apesar da alta qualidade desse quesito, gostaria de destacar que em alguns momentos do combate as coisas podem ficar um pouco confusas. Alguns elementos de interface, como o grid de movimentação, podem acabar se misturando com o cenário por conta da combinação de cores específicas. O jogo até possui um auxílio para daltônicos em seu menu de configurações, mas mesmo para pessoas sem essa deficiência, é possível encontrar alguns momentos um pouco inconvenientes.

Outro fator que vale a pena comentar é que é possível ajustar a dificuldade em um sistema totalmente customizável. Assim como no jogo original, podemos ajustar o dano recebido, a renda e a quantidade de Groove acumulada. Desta vez, temos também a possibilidade de desfazer totalmente o último turno, sendo possível ajustar o número de vezes em que podemos usar essa opção.

Curiosamente, durante meu tempo com o jogo, as desenvolvedoras já fizeram atualizações significativas que corrigiram problemas que tive inicialmente. Por exemplo, presenciei bugs que movimentavam a tela para pontos estranhos do mapa em algumas passagens de turno e momentos sem tradução para o português. Boa parte dos problemas que vi já foram corrigidos, demonstrando o empenho da desenvolvedora em garantir a qualidade do seu jogo.

Mantendo-se uma referência do gênero

Wargroove 2
é um grande exemplar dos jogos estratégicos. Com uma base simples, bastante conteúdo e a opção de jogar em português, o título é uma fácil recomendação para fãs do gênero que querem mergulhar em uma nova jornada estratégica.

Prós

  • Enorme quantidade de conteúdo em seus múltiplos modos;
  • Os mapas do Modo Campanha são bem projetados e ajudam no aprendizado estratégico;
  • O modo Conquista é um jeito diferente de testar suas habilidades estratégicas e suas decisões têm peso;
  • Visual 2D colorido e rico em detalhes;
  • Possibilidade de criar seus próprios mapas e compartilhá-los online sem necessidade de assinatura do Nintendo Switch Online;
  • Sistema de dificuldade customizável;
  • Multiplayer local e online;
  • Tradução para o português sólida com expressões populares adequadas ao contexto.

Contras

  • Ausência de estatísticas importantes da equipe no Modo Conquista;
  • Em alguns momentos, a visibilidade dos elementos do cenário é prejudicada.
Wargroove 2 — Switch/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chucklefish

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google