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Análise: Fashion Dreamer (Switch): uma passarela virtual como uma tela em branco

Novo jogo da Syn Sophia brinca com o conceito de influenciador virtual de moda, mas se mostra limitado em foco.

A Syn Sophia é uma empresa japonesa que é mais conhecida por seu trabalho na franquia Style Savvy em parceria com a Nintendo. Nessa série, temos a oportunidade de gerenciar uma loja de moda e fazer várias outras atividades relacionadas ao ramo. Com essa expertise em mãos, a desenvolvedora decidiu criar Fashion Dreamer, outra obra com temática similar em parceria com a Marvelous.
 
Em vez de gerenciar uma loja, temos aqui um mundo virtual para explorar, conhecer pessoas e tentar ditar as tendências de moda. A proposta é mais aberta dentro do aspecto de simulação, mas logo é possível ver as limitações de sua perspectiva.

Em busca do glamour

Fashion Dreamer coloca o jogador no controle de musas, que são avatares virtuais que podem ser utilizados para explorar o mundo do jogo, Eve. Neste ambiente virtual, temos como escolher entre corpos masculinos ou femininos, sendo ao todo até quatro musas simultâneas. No controle delas, nosso papel é o de influenciador digital, explorando o nosso senso de moda e compartilhando-o com as outras pessoas.
 
O jogo é dividido em dois modos, Solo-Play e Online, com o primeiro sendo focado em interação com NPCs e o segundo abrindo várias possibilidades para interação com pessoas de diversos locais do mundo. Com o Online, é possível ter acesso a muito mais opções de roupas de alto nível rapidamente e também é uma forma bem interessante de ver os estilos de outras pessoas, porém, como acontece em jogos de console, é necessário ter uma conta do Switch Online para aproveitar esse modo.
Independentemente do modo, a gameplay segue a mesma lógica. Andamos de um lado para outro em áreas conhecidas como Cocoons (casulos, em inglês) em busca de personagens para interagir. Podemos então usar as vestimentas que temos em mãos para montar um modelito para esses indivíduos de acordo com suas preferências.
 
No modo Solo, um NPC normalmente pede algo específico como “uma camisa roxa” ou “uma calça azul” e você deve vasculhar entre as suas opções por uma roupa adequada a essa proposta. Porém, sempre devemos garantir que o indivíduo estará completamente vestido em vez de poder só escolher uma peça para alterar o look atual dela.

Já no modo Online, temos quatro diretrizes: cor, padrão visual (“Print”), tipo de item desejado e estilo. O ideal é tentar acertar todas as opções que estiverem preenchidas (algumas podem estar com “qualquer coisa”) para ser melhor avaliado. Cada pessoa pode definir esses valores para si, facilitando assim pedir por tipos específicos de itens que o jogador gostaria de obter para expandir o seu repertório. As combinações de roupas são enviadas ao outro jogador, que pode então curti-la para adicionar os itens à sua lista.

Curtidas

Além da questão da coordenação de roupas, quando interagimos com um personagem, podemos “roubar o seu look” de duas formas. Primeiramente, é possível curtir as roupas utilizadas, recebendo-as para a sua coleção. Caso haja roupas exclusivamente montadas para o tipo de corpo oposto ao seu (A para feminino e B para masculino), uma mensagem de sistema avisa que elas não poderão ser usadas pela musa atual. Esse problema só é indicado uma vez em cada sessão de jogo.
 
Podemos também copiar traços da customização daquele personagem, como cor e formato de olhos, formato da boca e do nariz, cabelo, barba e bigode. Curiosamente, o jogo tem uma combinação exótica e um tanto inconsistente na forma de pensar seus modelos, já que ele tenta limitar boa parte das roupas, mas permite barba no tipo mais feminino de corpo. Seria mais interessante tirar a limitação das roupas por completo para dar mais liberdade na criação dos looks.
O sistema de curtidas também se aplica às vitrines virtuais. Nelas, podemos encontrar roupas variadas que são sorteadas de acordo com vários fatores. No modo Solo, temos acesso apenas a roupas do sistema da Eve, mas no Online é possível encontrar criações de outros jogadores, ampliando dramaticamente as possibilidades de combinação.
 
Também podemos criar um Showroom, que é uma sala onde colocamos à mostra roupas de acordo com nosso senso de decoração. É possível fazer áreas bem expressivas com o apoio dos objetos, papel de parede e manequins. Conforme as outras pessoas interagem com o seu personagem no mundo deles, você receberá pontos se a pessoa decidir visitá-lo e curtir suas peças.
A criação de vestimentas segue um modelo de blueprints e um esquema simples de escolha de cores. Com isso, somos limitados a escolher um esquema já montado de roupas, como uma jaqueta com capuz, um sapato feminino com laço, entre outras opções em que não é possível alterar a forma da roupa. A liberdade do jogador é única e exclusivamente na definição de cores, podendo escolher de que forma gostaria de colorir cada parte daquele item. O resultado é eficiente e fácil de usar, apesar de limitado em criatividade.
 
Ainda há um sistema de fotografia in-game para que o jogador possa aproveitar os ambientes dos Cocoons e as combinações estilosas, seja na montagem de selfies ou fotos em grupo. É possível ajustar a posição da câmera, pedir para a musa fazer várias poses, adicionar filtros e ajustar o foco da câmera. Objetos como bebidas, sombrinhas, flores e outras coisas podem ser comprados para elaborar algo ainda mais específico para a foto.

Um mundo monótono

Apesar de tudo que mencionei acima, o principal problema de Fashion Dreamer é a total ausência de foco e o seu ritmo repetitivo. Somos jogados em Eve com apenas uma perspectiva: “fazer mais pontos e espalhar o seu estilo pelo mundo”. Temos até um rank de influencer que aumenta conforme interagimos com o mundo, liberando novos Cocoons e algumas pequenas recompensas, mas isso dá ao jogo uma perspectiva muito distante de objetivo. A verdade é que Fashion Dreamer é como um quadro em branco, um parque de diversões de moda mais do que um jogo de fato.
 
O loop do jogo se mantém o mesmo do início ao fim, com o jogador tentando liberar mais roupas com curtidas e interagindo com os personagens para fazer roupas que geram pontos para si. Fora isso, temos apenas os ajustes da sua própria musa e a liberação de mais itens de customização, como cores diferentes para os olhos ao aumentar a afinidade com alguns NPCs. Não há nem mesmo grandes distinções entre cada Cocoon fora a estética geral para as fotos, fazendo com que a gameplay fique muito repetitiva e compense mais aproveitar o jogo de forma bem casual.
Para quem busca entender melhor sobre moda, o título também está longe do que a franquia Style Savvy conseguia fazer. Não temos nenhuma possibilidade de falhar miseravelmente mesmo fazendo looks ridículos e mal coordenados. Há apenas um sistema de avaliação que rende mais recompensas se o jogador conseguir seguir melhor os critérios de coordenação de cor e atender ao pedido do personagem, mas podemos até ignorar o que ele queria para fazer o que der vontade e ainda assim receber pontos.
 
Também temos um menu muito simples de seleção de peças de roupa. Enquanto os Style Savvy tinham várias categorias, marcas que representavam estilos diferentes e até mesmo dicionários de termos para familiarizar o jogador sobre o universo da moda, em Fashion Dreamer temos apenas a escolha de “camada” (top, bottom, outerwear) e os acessórios. Com isso, alguns pedidos muito específicos podem ser especialmente confusos de lidar, afinal o que configura um calçado específico em detrimento de outro?

Com todos esses elementos, o jogo acaba oferecendo uma experiência mais solta e superficial. Enquanto os títulos anteriores da desenvolvedora conseguiam ser até mesmo didáticos sobre o tópico de moda, o que temos aqui é um título que parece apenas querer largar o sistema na mão dos jogadores como um brinquedo. Sem desafios, a experiência tende a manter-se monótona e restrita em atratividade apenas para quem já ama o universo da moda.

Sonhos merecem ir além

Fashion Dreamer
é um jogo de moda com muitas opções para customizar os personagens e roupas, mas cuja exploração acaba se tornando rapidamente repetitiva. Especialmente para quem já jogou as obras anteriores da desenvolvedora, não demora muito para desejar que o título tivesse outros conteúdos para quebrar a monotonia.

Prós

  • De forma geral, há uma boa variedade de roupas e customização de personagens;
  • O modo online é uma forma interessante de ver o estilo de outras pessoas de vários lugares do mundo;
  • Sistema de decoração permite criar um cantinho bem expressivo;
  • A criação de novas roupas segue um modelo simples e eficiente de escolha de cores;
  • Sistema de fotos simples de usar e rico em funcionalidades.

Contras

  • O loop de ações do jogo é muito repetitivo e simples;
  • A divisão de roupas em masculino e feminino é um limitador desagradável para a criação dos looks;
  • Os agrupadores e menus para vasculhar as opções de roupas são simples demais para as complexas escolhas que o jogador pode fazer;
  • Ausência total de um fator de falha, dando ao jogador recompensas independentemente das avaliações obtidas.
Fashion Dreamer — Switch — Nota: 7.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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