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Análise: World of Horror (Switch) é uma aterrorizante aventura lovecraftiana em estilo 1-bit

Horror retrô e deuses antigos em um jogo inspirado em Lovecraft, mergulhando os jogadores em pixels macabros.

Inspirado nos assombrosos contos de Lovecraft e Junji Ito, World of Horror chega ao Switch com a proposta de trazer pequenas histórias de terror no charmoso estilo de 1-bit, relembrando os antigos jogos de Macintosh. Seus gráficos são impressionantes, uma verdadeira exibição de arte em 1-bit, e exaltam como ainda é possível construir imagens detalhadas e impressionantes com apenas alguns truques e limitadas ferramentas.


As criaturas que ambientam World of Horror são de fato aterrorizantes, variando entre espíritos assombrados, humanos deformados, antigos deuses já há muito esquecidos e até mesmo um simpático corgi trabalhando como lojista de equipamentos. Suas propostas de contos também prendem inicialmente a atenção do leitor, entretanto, as tramas acabam sendo curtas e simplificadas demais para os padrões atuais.

A principal fraqueza de World of Horror é ser um jogo muito breve, mas isso não significa que ele não seja interessante: a obra pode ser jogada várias vezes em pequenas doses de 30 minutos a uma hora, devido ao seu sistema de criação de cenários aleatórios, misturando combinações de casos macabros e diferentes deuses.

Terror em 1-bit

World of Horror possui um ciclo de gameplay bem-definido de um típico jogo de aventura com eventos gerados aleatoriamente. Ao iniciar uma nova campanha, um antigo deus é definido para influenciar com efeitos negativos durante toda a partida. Esses reveses podem, por exemplo, impedir que o jogador recupere sua vida e sanidade repousando em casa, remover a loja principal de itens ou aumentar o medidor de ruína, entre outros debuffs.

Nosso objetivo é desvendar cinco mistérios que estão ocorrendo no vilarejo para depois subir ao topo do agourento farol da cidade. Para isso, devemos investigar diversos locais, estando à mercê de acontecimentos que podem diminuir nossos status, tirar parte de nossa vida, nos colocar em combate ou infligir maldições e doenças.

No jogo, similar a uma partida de RPG de mesa, o sucesso é definido por uma rolagem de números e suas habilidades. Não interagimos diretamente no cenário durante nossas buscas, somente fazemos pequenas escolhas quando acontecimentos estranhos ocorrem, como ler cartas misteriosas ou deixá-las para depois, nos aproximar ou não de pessoas suspeitas e coisas do tipo.

O medidor de ruína (ou DOOM, como é chamado na obra), dita quão perigosos e frequentes serão os eventos que ocorrem. À medida que o tempo passa, sua contagem aumenta, tornando-se cada vez mais arriscado e difícil de finalizar a partida.


Existem entre dois e três finais para cada investigação, dependendo de como o caso foi resolvido. Admito que entender o que levava a cada final não foi tão claro em minha experiência, mas imagino que isso, apesar de um pouco frustrante, seja proposital para aumentar a rejogabilidade de World of Horror.

O combate é feito em turnos e temos que descobrir formas de enfrentar criaturas incorpóreas e corpóreas, seja utilizando diferentes armas, realizando rituais na esperança de acalmar os espíritos ou comandando nossos aliados a distrair o oponente. Descrevendo assim, as coisas parecem um pouco complicadas, mas, na verdade, é um sistema bem simples.

Temos um determinado número disponível para realizar ações, sendo que cada uma possui um contador fixo. Por exemplo, procurar uma arma improvisada gasta quase toda nossa barra de ação, enquanto golpear com equipamento permite repetir a ação até quatro vezes, como é demonstrado na screenshot acima. Depois de selecionarmos nossos movimentos, realizamos todos eles de uma vez; não há grande estratégia nem nada similar, muitas vezes apenas repetimos o mesmo comando de ataque para todos os inimigos.

Histórias curtas, mas assustadoras

Como dito anteriormente, é um pouco triste que o jogo seja tão curto e dependente de eventos aleatórios, pois, com sua fantástica ambientação, minha expectativa estava bem alta. Não que a aventura seja desinteressante, porém ela tinha um potencial para ser muito mais aprofundada caso não se limitasse a pequenas descrições de eventos, praticamente sem falas dos personagens. 

Por exemplo, em um dos casos, recebemos uma carta informando sobre a morte do tio-avô da protagonista. É explicado que, a pedido do falecido, uma vigília noturna antecederá o enterro e você é convidado a comparecer ao evento junto com outras pessoas que não reconhece. Num clima estranho, lentamente pequenos acontecimentos vão se desenrolando para, no final, culminar em um pacto com uma terrível criatura. 

O problema é que as descrições e falas muitas vezes não passam de poucas frases, talvez completando um pequeno parágrafo quando unidas. A própria descrição inicial do caso acaba por ser a maior parte do texto que iremos presenciar durante todo o mistério. 

Personagens secundários, quando existem, em minha experiência, não tiveram mais de três linhas de diálogo durante o episódio inteiro. Entendo que a obra queira focar mais nas imagens em vez de descrever eventos, porém há um limite do quanto podemos mostrar sem ser uma animação ou texto um pouco mais encorpado.

Entretanto, considerando sua inspiração em Lovecraft, talvez isso tenha sido feito de forma proposital, já que World of Horror parece ter se inspirado nas obras do escritor norte-americano, cujos contos muitas vezes acabavam de forma repentina, com poucas falas e personagens, focando apenas majoritariamente em sua atmosfera intensa, sombria e misteriosa.

Não há muito mais o que dizer sobre a obra, ela é uma fantástica obra de arte em 1 ou 2-bits (dependendo da escolha do jogador), com várias paletas de cores para se deliciar com grotescas criaturas. O estilo de arte é o principal fator que remete às obras de Junji Ito, com um realismo grotesco e bizarro.

Um jogo breve porém interessante

World of Horror consegue replicar o mesmo efeito das obras de Lovecraft, de seu próprio jeitinho, mesmo que fazer isso nem sempre traga o resultado que desejamos. Porém, fora sua ambientação e escolha artística, o jogo, em relação à sua trama e ao sistema de combate, acaba passando a impressão de que seria mais impressionante caso fosse mais complexo.

Isso não significa que eu não recomende o jogo, mas é importante lembrar que se trata de  um produto relativamente simples, pensado como um passatempo casual em vez de uma história linear mais complexa e com grandes investigações.

Prós

  • Belos gráficos em 1-bit reminiscentes dos primeiros jogos no Macintosh;
  • Variedade rica de criaturas aterrorizantes inspiradas em Lovecraft e Junji Ito;
  • Possibilidade de múltiplos finais para cada caso;
  • Dinâmica de jogo rápida, que coloca o jogador logo em ação;
  • Possibilidade de escolher diversas cores para a tela;
  • Eventos aleatórios e debuffs variados, aumentando a rejogabilidade;
  • Contos com cenários diversamente macabros.

Contras

  • Descrições e diálogos são especialmente curtos e sem aprofundamento;
  • Combate simples e repetitivo, que não exige muita estratégia;
  • Em grande parte da campanha, não é possível realmente investigar os cenários, apenas há uma representação visual da procura;
  • Alguns casos não possuem indicação clara de como obter um final diferente;
  • O jogo tem uma duração muito pequena, dependendo bastante de repetições para se sustentar;
  • Sensação de ser mais uma obra de arte do que um jogo propriamente dito;
  • Muitas vezes, quando o clímax da história começa, a aventura logo termina.
World of Horror — Switch/PS4/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ysbryd Games

Fascinada pela cultura japonesa dos anos '80, '90 e '00. Ama livros, mangás, sua gata maluca, mahou shoujo e jogos. Em especial Dragon Quest, Fire Emblem, Famicom Detective Club, Okami, JRPGs, retrô, Bishoujo & Otome games. Sempre em busca de jogos estranhos ou com propostas inusitadas. Estuda japonês nas horas vagas para conhecer mais obras do tipo.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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