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Análise: Metal Gear Solid: Master Collection Vol.1 (Switch) resgata do limbo uma das franquias mais icônicas dos games

A coletânea da Konami desaponta em aspectos técnicos, mas compensa por reunir alguns dos maiores clássicos da indústria.

Poucas franquias de renome foram tão maltratadas ao longo dos anos como Metal Gear. Analisando de forma crítica, chega a ser surpreendente como uma das séries mais importantes dos anos 1990 e 2000 (e um dos principais motivos para se comprar um PlayStation ao invés de um Nintendo 64) terminou no limbo, sem grandes lançamentos desde o seu quinto capítulo, lá em 2015.



Apresentando os títulos originais e o início oficial da série, Metal Gear Solid: Master Collection Vol.1 chega para reverter esse quadro, reunindo alguns dos maiores clássicos da indústria em um pacote repleto de bônus consideráveis. Apesar de alguns problemas, o resultado beira o satisfatório e a versão para o Switch consegue divertir. Confira a seguir a nossa análise!

Uma obra-prima desde a sua concepção

Caso você não possua muita familiaridade com a franquia Metal Gear ou até mesmo nunca tenha ouvido falar dela, aqui vai uma rápida explicação: desenvolvida e publicada pela gigante japonesa Konami, a série é uma das principais responsáveis pela popularização do gênero stealth, cuja principal característica é o emprego da furtividade como uma mecânica de jogo.

Encabeçado pelo lendário desenvolvedor Hideo Kojima, o primeiro Metal Gear foi lançado em 1987 para os microcomputadores MSX-2 e apresentou o soldado Solid Snake, que, auxiliado pelo comandante Big Boss, é enviado em missão para investigar uma possível arma de destruição em massa nas mãos erradas.

Reviravoltas narrativas à parte, a obra foi um sucesso de crítica e público, figurando entre os games mais vendidos do MSX-2 nas semanas subsequentes ao lançamento. O bom desempenho comercial fez com que a Konami logo encomendasse uma controversa versão para o Nintendo Entertainment System — que não contou com o apoio da equipe original — e aprovasse a produção das sequências Snake’s Revenge (1990, NES) e Metal Gear 2: Solid Snake (1990, MSX-2), mesmo que só a segunda contasse com o envolvimento de seu criador Kojima.

Ainda assim, foi somente em 1998, com a chegada de Metal Gear Solid para o PlayStation 1, que a franquia subiu de patamar. Com mais de seis milhões de cópias vendidas, a primeira aventura tridimensional de Solid Snake estabeleceu padrões para o gênero, caiu nas graças dos jogadores e alçou a saga (e o seu criador) ao status de fenômeno cultural. 

A meteórica trajetória só seria interrompida com a conturbada saída de Hideo Kojima da Konami em outubro de 2015, após o lançamento de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. De lá para cá, tivemos o lançamento do sofrível Metal Gear Survive, e, cameos em Smash Bros. e máquinas de pachinko à parte, um longo hiato de lançamentos para os fãs que finalmente se encerra com esta coletânea. 

Uma coleção para ninguém botar defeito (ou quase isso)

Como o “Volume 1” no título entrega, nem toda a saga está presente neste lançamento, mas ainda assim há bastante material para os fãs e interessados aproveitarem nesta Master Collection. Por ordem de estreia, estão presentes aqui:
  • Metal Gear (1987, MSX-2)
  • Metal Gear 2: Solid Snake (1990, MSX-2)
  • Metal Gear Solid (1998, PS1)
  • Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty (2001, PS2)
  • Metal Gear Solid 3: Snake Eater (2004, PS2)
Além desses cinco títulos, a Master Collection também inclui a versão de NES de Metal Gear, sua sequência Snake’s Revenge e uma série de bônus, como os relançamentos Metal Gear Solid: Integral — considerada por muitos a versão definitiva do clássico do PS1 — quadrinhos e os manuais de cada jogo.

Se por um lado todos os sinais indicam que Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots e Metal Gear Solid V, dentre outros, estão sendo guardados para um possível volume 2, por outro é inegável a quantidade de conteúdo de qualidade reunida nesta Master Collection, que é complementada com belos menus temáticos para cada jogo. Logo, é uma pena que a emulação propriamente dita não corresponda às expectativas, pelo menos nos títulos mais recentes.

Performance e visuais

Longe de uma remasterização ou remake, aqui temos os títulos originais simplesmente adaptados para as plataformas mais recentes. Dado o salto geracional entre a maioria dos games desta coletânea, na prática, isso significa boas e más notícias.

Começando pelas boas: os jogos mais antigos — Metal Gear, Metal Gear 2 e Metal Gear Solid — transcorrem sem problemas de fluidez tanto no modo TV quanto no modo portátil do Switch. Inclusive, algo que achei bem legal foi a possibilidade de escolher entre diversas bordas temáticas e até a posição da tela do jogo, respeitando o aspect ratio original de 4:3. 

É uma solução bem melhor e mais flexível, por exemplo, que a da própria Nintendo com o Switch Online e seu péssimo fundo visual. Infelizmente, não há a possibilidade de esticar a imagem para aproveitar os televisores widescreen ou usar filtros extras (como o que simula uma TV CRT), mas o resultado é aceitável no fim das contas.

O problema de verdade começa quando avançamos para os títulos do PlayStation 2, que são, na verdade, uma adaptação da HD Collection lançada em 2011 para PlayStation 3 e Xbox 360 (é possível até ver o logo “HD Collection” nos menus, por exemplo).

Uma vez que esses jogos são apresentados em widescreen (16:9), não é possível selecionar as belas bordas temáticas aqui. Pra piorar, a resolução está travada em 720p (uma herança dos consoles da sétima geração) e ainda é possível presenciar quedas consideráveis na taxa de quadros em ambos os modos do Switch (TV e portátil).

Bizarramente, mesmo com as quedas, as versões de Switch miram os 30 quadros por segundo, apesar do PlayStation 3 e Xbox 360 — consoles consideravelmente mais fracos em termos de hardware — rodarem os mesmos jogos com o dobro disso. O impacto na fluidez é facilmente sentido e acaba passando uma impressão preguiçosa, contrastando com todo o restante da coleção. 

Considerando que Sons of Liberty e Snake Eater foram lançados há mais de quinze anos, é óbvio que o Switch tinha poder suficiente para entregar uma experiência melhor em termos técnicos, mas esse mesmo potencial não foi devidamente aproveitado. O pior é que o mesmo contratempo se aplica às versões de PS5, Xbox Series X e PC, cada qual com seus próprios problemas. É, Konami, difícil defender…

Enfim, vale a pena ou não?

Dito isso, é hora da pergunta de milhões: vale a pena ou não? Sendo muito sincero, dada a qualidade dos jogos aqui e os bônus presentes, é plenamente possível se divertir com esta coleção mesmo no estado atual; e ter grande parte da saga Metal Gear em um dispositivo híbrido como o Switch é um feito que não pode ser menosprezado. 

Em suma, é só uma pena que essas obras-primas não tenham sido tratadas com o devido carinho quando avançamos para os títulos mais recentes; uma coleção autointitulada "mestra" (Master) poderia ter ido além em suas opções técnicas (e o hardware de todas as plataformas, inclusive o Switch, indica margem para isso).

No mais, Metal Gear Solid: Master Collection Vol.1 é, sim, recomendável, mas com ressalvas. Caso você esteja em busca de reviver ou experimentar pela primeira vez clássicos seminais, precursores das aventuras cinematográficas que hoje são tão comuns na indústria de games, esta coletânea proporcionará isso. Porém, fica a expectativa que o eventual Volume 2 receba mais atenção; os novos e antigos fãs certamente agradecerão.

Prós

  • Reúne clássicos atemporais da indústria, alguns pela primeira vez em uma plataforma da Nintendo;
  • Possui uma série de bônus, incluindo as versões de NES;
  • Quadrinhos digitais, manuais e opções de escutar a trilha sonora enriquecem a coletânea e lembram a grandiosidade da franquia;
  • Ter a maioria da saga Metal Gear em um dispositivo híbrido é um feito que não pode ser menosprezado;
  • Mesmo com os problemas técnicos, consegue divertir (um testemunho à qualidade dos jogos).

Contras

  • Sons of Liberty e Snake Eater têm performance pior que a de consoles de sétima geração;
  • Carece de filtros de imagem e mais opções visuais;
  • Não é a remasterização que esses clássicos mereciam em plataformas modernas.
Metal Gear Solid: Master Collection Vol.1 — Switch/PS4/PS5/XSX/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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