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Análise: Dragon Quest Monsters: The Dark Prince (Switch) é o jogo mais consistente da subsérie e um dos melhores do gênero

Acompanhe a jornada de Psaro, um indivíduo amaldiçoado a não conseguir machucar monstros.

Após estabelecer sua presença em todos os principais consoles portáteis da Nintendo, a subsérie Monsters da franquia idealizada por Yuji Horii finalmente aterrissa no Switch com Dragon Quest Monsters: The Dark Prince, conhecido no Japão como Dragon Quest Monsters 3.

O mais recente título de batalha de monstrinhos da Square Enix não apenas incorpora as mecânicas fundamentais que evoluíram ao longo dos 25 anos dessa saga, mas também ostenta notáveis melhorias em um aspecto no qual seus predecessores muitas vezes enfrentavam dificuldades: uma trama genuinamente envolvente e alinhada com a grandiosidade da série principal.

O surgimento de uma lenda

Em The Dark Prince, acompanhamos a história de Psaro, um ser híbrido de humano e demônio. Após ter um apelo desesperado por ajuda rejeitado por seu pai Randolfo, o soberano do reino demoníaco, e responder brandindo sua arma, ele é amaldiçoado com a incapacidade de ferir monstros.

Movido por um desejo incontrolável de vingança, nosso protagonista descobre uma saída para contornar a maldição e enfrentar seu genitor: tornar-se um domador de criaturas. Assim, Psaro embarca em uma jornada para reunir um exército composto por seres poderosos e alcançar a tão ansiada revanche.

Durante esse percurso, nosso herói conhece e conquista diversos aliados, com o grande destaque ficando com Rose, uma elfa encantadora que derrama lágrimas de rubi, característica que a torna alvo frequente de humanos ambiciosos.

Vale ressaltar que Psaro tem origem como antagonista em Dragon Quest IV. Embora o conhecimento prévio não seja imperativo para apreciar The Dark Prince, uma vez que a trama é autossuficiente, o título está intrinsecamente conectado ao quarto capítulo da série principal, rendendo momentos mais impactantes aos que já se aventuraram nessa obra.

Um Dragon Quest no sentido mais puro

A franquia Dragon Quest tradicionalmente proporciona a sensação de estarmos em uma grande aventura em seus títulos principais. Assim, não é surpresa encontrar elementos característicos nesses produtos, como um elenco carismático de personagens; uma narrativa simples, mas bem elaborada; um humor equilibrado; e o sempre presente maravilhoso design dos personagens criado pelo lendário Akira Toriyama.

Contudo, na subsérie Monsters, essa atmosfera muitas vezes não é tão evidente. Embora a história não fosse um ponto negativo nos jogos anteriores, ela frequentemente ficou em segundo plano diante da excelente jogabilidade. Em The Dark Prince, no entanto, esses dois elementos alcançam um equilíbrio harmonioso.

A escolha de explorar o pano de fundo de um dos títulos mais significativos da franquia revela-se acertada, já que Psaro é um personagem cativante, tornando a compreensão de seu passado e o conhecimento dos eventos que o levaram a se voltar contra a humanidade numa jornada envolvente.

No entanto, os méritos não se restringem à qualidade da narrativa, estendendo-se à forma como ela se entrelaça com a jogabilidade. Enquanto nos jogos anteriores os motivos para explorar as regiões eram frequentemente básicos e, por vezes, infantis, em The Dark Prince, temos uma razão mais concreta e coesa com o enredo.

Como mencionado, Psaro não pode ferir monstros, o que impulsiona o uso dessas criaturas nos combates. Seu objetivo é formar um exército para confrontar seu pai, levando-o a aventurar-se pelas regiões de Nadiria, o reino dos demônios, para recrutar novos aliados.

Não há uma razão inicial para que os bichos se aliem ao protagonista, mas isso se transforma à medida que ele ganha respeito. Em cada região desse mundo, o jogador se depara com situações em que o herói auxilia os indivíduos locais, frequentemente envolvendo a derrota de seres que prejudicam os habitantes daquela área.

Embora The Dark Prince não aborde aspectos muito profundos ou reflexivos, ele entrega o que se espera de um Dragon Quest: um grupo de personagens carismáticos viajando por paisagens magníficas, auxiliando indivíduos igualmente atrativos pelo caminho e enfrentando um grande vilão no desfecho. Infelizmente, esse é mais um capítulo da série sem a opção de legendas em português, o que naturalmente prejudica o aproveitamento por parte dos que não dominam outros idiomas além do nosso.

Nadiria e suas diversas regiões

O mundo de Nadiria é fragmentado em regiões chamadas de círculos, cada uma apresentando uma vasta área explorável em uma perspectiva 3D em terceira pessoa. Esses territórios não apenas diferem visualmente, mas também geograficamente, abrigando estruturas como castelos, masmorras e fortalezas onde residem poderosos chefes.

A diversidade desses cenários é ampliada pela mecânica de mudança periódica das estações; assim, um local pode transformar-se totalmente quando a primavera cede lugar ao verão, revelando zonas anteriormente inacessíveis.

É crucial enfatizar que o design das regiões de Nadiria é impressionante em vários momentos. Ao contrário do mundo aberto genérico e insípido que a franquia mais famosa do gênero nos trouxe no final do ano passado, aqui temos diversas áreas meticulosamente elaboradas.

Cada círculo de Nadiria é dividido em três partes, que são desbloqueadas gradativamente. Essas subdivisões do mesmo território também são substancialmente diferentes entre si, apresentando não apenas desafios crescentes em relação aos inimigos encontrados, mas também variações nos obstáculos, com as áreas inferiores sendo mais simples e diretas enquanto as superiores são repletas de mecanismos e quebra-cabeças desafiadores.

Outro ponto a ser destacado é a presença de elementos valiosos escondidos pelo mundo. Dois desses destaques são as tradicionais mini medals, itens frequentes na franquia e que podem ser trocados por prêmios; e ovos de monstros, que, ao serem encontrados pelo jogador, dão origem a novas criaturas, algumas exclusivas desse método.

Assim, as regiões exploráveis não servem apenas como habitat para diferentes bestas, mas são áreas meticulosamente planejadas para oferecer verdadeiros desafios na campanha e recompensar os exploradores e curiosos.

Monstros para todos os gostos

Durante as expedições, os bichos são visíveis no cenário, e as batalhas se iniciam ao nos aproximarmos deles. Elas seguem o tradicional modelo de turnos, e permitem ao jogador escolher especificamente as ações de seus aliados ou definir comportamentos automatizados.

Um aspecto encantador em relação aos monstrinhos é a presença de hábitos hilariantes enquanto vagam pelo mundo. Em uma área composta por doces, por exemplo, é possível testemunhar criaturas lambendo com fervor estruturas feitas de picolé; já em algumas fortalezas, observamos bestas maiores desempenhando o papel de treinadores, orientando e instruindo seus companheiros menores. 

Os campeonatos de domadores de monstros, característicos dessa subsérie, também estão presentes em The Dark Prince, divididos em rankings diferentes e requerendo que os monstrengos sigam apenas comandos gerais, sem a intervenção de Psaro com itens ou instruções detalhadas.

Os combates sempre foram um destaque muito positivo em Dragon Quest Monsters, e essa nova entrada não é exceção, oferecendo uma enorme variedade de habilidades, desde ataques físicos e elementares a buffs, debuffs, curas e talentos passivos. Assim como nos últimos lançamentos desta saga, a equipe é composta por quatro bichinhos titulares e quatro reservas.

A obtenção de novas bestas é possível através da função denominada Scout, na qual os membros do time demonstram suas forças ao adversário. Se eles conseguirem impressionar, o oponente se junta à equipe. É importante destacar que um indivíduo poderoso dificilmente vai se comover com seres mais fracos; contudo, torna-se mais fácil recrutar os bichos após derrotar o chefe da área e aumentar a reputação de Psaro (lembra da coesão?).

Essa característica pode acabar desapontando jogadores que esperam uma experiência mais direta no sentido de sair capturando as criaturas; no entanto, essa dificuldade incentiva o uso da Synthesis, a principal mecânica relacionada ao fortalecimento de monstros.

É claro que conquistar um aliado poderoso não é uma tarefa simples, mas esse sistema nos permite alcançar os seres com as características desejadas. Com ele, dois bichinhos que estão em níveis acima do dez podem ser combinados, e o novo ser resultante consegue herdar até três conjuntos de habilidades de seus progenitores, proporcionando ao jogador controle total sobre quais talentos manter.

Com uma impressionante variedade de mais de 500 monstros disponíveis, cada um ostentando seus próprios conjuntos originais de habilidades, resistências, fraquezas,  talentos passivos, espécie, ranking, visual e tamanho, a diversidade no elenco de criaturas enriquece significativamente o sistema de combate. 

Essa extensa gama de opções não apenas proporciona um desafio estratégico envolvente, mas também incentiva os jogadores a explorar e experimentar diferentes combinações, promovendo uma abordagem personalizada e única na formação de suas equipes. Para quem gosta de se pôr à prova, o título ainda oferece um conteúdo pós-game interessante e muito difícil de se superar.

Problemas que precisam ser mencionados

Apesar dos elogios ao design das regiões de Nadiria, os momentos de exploração apresentam duas ressalvas. Primeiramente, as texturas de alguns elementos, como árvores e grama, não acompanham a qualidade do restante do jogo, deixando um pouco a desejar. Em segundo lugar, ocorrem quedas de quadros em algumas situações, principalmente quando há muitos monstros reunidos. 

Para concluir as observações críticas, vale mencionar a falta de opções online mais robustas. Nesse sentido, The Dark Prince apresenta três alternativas: batalhas ranqueadas; um torneio rápido de 30 confrontos com resultados imediatos; e um torneio com regras personalizáveis, acessível apenas por meio do compartilhamento do ID da sala.

Considerando o sistema de batalhas envolvente e a rica mecânica de criação de monstros, seria interessante a inclusão de modos online nos quais os jogadores pudessem unir forças para enfrentar criaturas poderosas ou participar de competições de forma mais simples. Contudo, esses são aspectos que não comprometem significativamente a imersão ou o valor final do produto.

Um dos melhores do gênero

Dragon Quest Monsters: The Dark Prince emerge como um triunfo na evolução da subsérie Monsters, celebrando seus 25 anos com uma proeza incrível. Ao fundir harmoniosamente uma trama envolvente com mecânicas de jogo divertidas, o título transcende as expectativas, posicionando-se não apenas como um destaque entre seus predecessores, mas como um dos melhores exemplares de criação e batalha de monstrinhos.

Prós:

  • A narrativa é envolvente e incorpora muitas das principais características dos títulos numerados, como personagens carismáticos e o bom humor frequente;
  • O mundo de Nadiria é cuidadosamente elaborado, proporcionando uma grande diversidade visual e geográfica por meio de suas várias regiões;
  • A transição de estações faz com que uma mesma área possua quatro formas com mudanças significativas;
  • Os combates mantêm o alto nível da subsérie, oferecendo uma ampla variedade de monstros e habilidades;
  • A possibilidade de combinar bichinhos para criar novos monstrengos é rica e altamente customizável;
  • Conteúdo pós-game interessante e desafiador;
  • Oferece momentos emocionantes para quem acompanha a série há mais tempo.

Contras:

  • A textura de alguns elementos possui uma qualidade inferior ao restante do jogo;
  • Quedas de quadros em regiões com muitos monstros;
  • O modo online poderia ter sido melhor explorado com mais alternativas de batalha;
  • Ausência de legendas em português.
Dragon Quest Monsters: The Dark Prince — Switch — Nota: 9.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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