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Análise: My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom! -Pirates of the Disturbance- (Switch): romance em alto-mar

Visual novel otome baseada na franquia de light novel mostra um cenário alternativo em que Catarina precisa lidar com novos desafios.

My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom! -Pirates of the Disturbance-
é uma visual novel otome desenvolvida pela Idea Factory. A obra é baseada em uma série de light novels, mangá e anime chamada "Otome Game No Hametsu Flag Shika Nai Akuyaku Reijou Ni Tensei Shiteshimatta.", um isekai voltado para o público feminino no qual uma jovem acaba reencarnando no mundo de seu jogo favorito, Fortune Lover, mas em vez de se tornar a heroína da história, acaba se tornando uma vilã.

Para piorar a situação da coitada, a sua nova vida é cercada por condições que podem levá-la a finais horríveis, que vão do exílio à morte. Com isso, a garota, que agora encarna o papel de Catarina Claes, tem a árdua missão de se esforçar para se manter viva, aproveitando-se dos conhecimentos que guarda das várias rotas da história.

Pirates of the Disturbance se passa após Catarina conseguir passar pela cerimônia de graduação que marca o fim de Fortune Lover. Aliviada por ter sobrevivido e mantido as suas fortes amizades, a personagem e o seu irmão Keith participam da inauguração de um navio de luxo. O problema é que esse evento faz parte de um fandisk (uma expansão independente) que ela não chegou a ver, dando início a novos desafios nesta comédia romântica.

Um ataque de piratas

Tudo começa com Catarina e Keith recebendo o convite para participar da viagem inaugural do navio Vinculum. Essa embarcação de luxo foi criada como uma parceria entre o reino de Sorcier, em que os personagens vivem, e Quid, uma terra distante conhecida pela criatividade de seus inventores.

Após os eventos cobertos na primeira temporada do anime, Catarina acredita que esta é uma ótima oportunidade para relaxar. Lá, ela encontra todos os seus amigos do Conselho Estudantil, todos os quais adorariam passar da linha da amizade com a garota, embora ela não consiga notar os seus esforços.

Pouco tempo após o início da jornada, o Vinculum é atacado por piratas. Além da situação por si só já ser ruim, Catarina nota que eles se parecem com uma trama descartada de Fortune Lover que apareceu em um fanbook que ela viu em um sonho. Com isso, ela precisará novamente tomar cuidado com as suas decisões.

Em termos gerais, a trama é muito bem-conduzida, com elementos curiosos por trás do que realmente está acontecendo. Para entender a totalidade dos fatos, é fundamental jogar todas as rotas, já que a história de Catarina com cada rapaz enfatiza partes diferentes da trama, trazendo reviravoltas curiosas. 

Isso chama a atenção especialmente porque a escritora, Ririka Yoshimura, fez um bom trabalho em conectar as partes do enredo. Cada rota traz teasers de coisas que estão acontecendo no plano de fundo e que só serão reveladas de fato ao se aproximar mais de outro rapaz. Curiosamente, há até novos diálogos na Rota Comum após concluir alguns finais, recompensando o jogador que decide começar tudo novamente.

Além dos romances, temos finais baseados em não se aproximar o suficiente dos rapazes principais ou realizar escolhas ruins. Em alguns momentos, Catarina precisa pensar no que fazer e convoca uma espécie de conselho interno, com várias versões da personagem discutindo o que fazer, o que abre margem para desvios com finais negativos chamados de "Doom Endings".

Catarina e o seu charme

Como um otome game, o foco do jogo é no relacionamento entre a protagonista e seus vários interesses românticos do sexo masculino. Embora isso implique em mais tempo de desenvolvimento para eles na trama, é importante destacar que Pirates of the Disturbance faz um ótimo trabalho para desenvolver todos os personagens, incluindo os secundários.

Além dos rapazes, temos personagens femininas que também se apaixonaram por Catarina. Apesar de elas não terem rotas próprias bem-desenvolvidas de forma totalmente individual aqui, o jogo conseguiu dar-lhes vários momentos de destaque e, caso o jogador decida não focar em nenhum dos principais, é possível deixá-las ainda mais em evidência em uma extensão da Rota Comum.

Em especial, chama a atenção que o jogo possui sequências opcionais chamadas Memory Scenarios. Esses são pequenos trechos de memórias dos personagens, apresentando momentos-chave em sua relação com Catarina ou até mesmo dando abertura para conhecermos mais a fundo as motivações dos vilões.

Apesar desses momentos serem uma ótima forma de explorar perspectivas alternativas, algo que também acontece em certos pontos da trama, ele é mal usado em algumas rotas. São casos raros, mas há momentos em que detalhes são apresentados de forma muito similar na memória e na trama de fato, fazendo com que a experiência da rota em sua totalidade fique repetitiva e mais fraca.

Quero destacar que eu não cheguei a acompanhar a obra original em nenhum formato. Considero que a experiência do jogo não depende disso, mas esta não é a forma ideal de aproveitá-la. A visual novel até evita dar spoilers de detalhes do original que não são pertinentes, mas, ainda assim, é uma pena que não haja nem um glossário ou algo do tipo para dar mais informações sobre os personagens e a trama original.

Selo Otomate de qualidade

Um ponto muito importante da experiência e que menciono recorrentemente quando avalio obras desenvolvidas sob o selo Otomate (como é o caso de Pirates of the Disturbance) é a qualidade de vida. Em geral, os títulos que usam essa marca da Idea Factory são notáveis por suas experiências de usuário de alto nível dentro do gênero.

No caso de Pirates of the Disturbance, temos os elementos já tradicionais do gênero como log, auto e skip, mas também a opção de pular rapidamente para a próxima escolha. No menu principal, podemos abrir um novo jogo, carregar um save, acessar o menu de extras (com ilustrações, músicas, vídeos, Memory Scenarios e lista de finais) e ajustar vários elementos da experiência (como a velocidade do texto e a aparição de elementos gráficos para indicar escolhas corretas).

Outro elemento muito útil e já bem comum nas obras da Otomate é a opção de acessar capítulos da trama. Ao selecionarmos um ponto específico que desejamos rever, podemos também ajustar os parâmetros de afinidade, maximizar ou minimizar os seus pontos para acessar rapidamente os finais bons e ruins associados a cada rapaz.

Apesar desses pontos, vale destacar que a tradução para o inglês possui alguns erros gramaticais e de digitação. Há um momento em que o texto também ultrapassa o tamanho da caixa de diálogo. Não é nada profundamente inconveniente em nenhum dos casos; o texto é geralmente agradável e proporciona uma leitura fácil.

Por fim, a trilha sonora é outro ponto fraco da obra, não se destacando em particular e tendo relativamente poucas variações. Quanto à dublagem dos personagens, porém, não há nenhuma queixa, sendo de altíssima qualidade. Todos os personagens, incluindo a heroína Catarina, possuem voz, e pessoalmente considero que isso faz uma enorme diferença para a caracterização de uma protagonista.

Um convite para o alto-mar

My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom! -Pirates of the Disturbance-
é um bom exemplar do seu gênero, trazendo personagens carismáticos e uma trama bem montada cujos detalhes são salpicados por meio das múltiplas rotas. A obra é mais convidativa para quem já conhece o material original e quer ter o gostinho de vivenciar um pouco mais das interações entre Catarina e os seus potenciais namorados, mas também pode ser facilmente aproveitada por quem ainda não conhece a franquia.

Prós

  • Personagens bastante carismáticos e bem desenvolvidos, com especial destaque para a própria Catarina;
  • Cada rota possui explicações mais detalhadas para uma parte do roteiro, formando uma trama bem montada na sua totalidade;
  • Boa variedade de finais, incluindo alguns "Doom Endings" nos quais o jogador faz uma escolha ruim e a opção de focar mais nas amigas de Catarina;
  • Bons elementos de qualidade de vida, incluindo log, auto, skip, pulo para a próxima escolha e um sistema de capítulos com opção de maximizar ou minimizar a afinidade com os rapazes;
  • Todos os personagens possuem boas dublagens, incluindo a protagonista.

Contras

  • Algumas rotas possuem momentos bem repetitivos;
  • Poderia ter seções de glossário para explicar melhor a trama da obra base e os personagens;
  • Infelizmente, a tradução para o inglês possui alguns erros de digitação e gramaticais;
  • A trilha sonora não chama a atenção.
My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom! -Pirates of the Disturbance- — Switch — Nota: 8.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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