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Análise: Outer Wilds (Switch) é uma maravilhosa odisseia difícil de colocar em palavras

Um dos indies mais incríveis já produzidos finalmente chega ao híbrido da Nintendo.

Desenvolvido pela Mobius Digital e publicado pela Annapurna Interactive, Outer Wilds é um jogo de aventura e exploração espacial que alcançou grande sucesso e recebeu inúmeros elogios desde seu lançamento inicial em 2019. Agora, esta maravilhosa obra também está disponível no Nintendo Switch, enriquecendo ainda mais a diversificada biblioteca de produções independentes do console.

Eternos 22 minutos 

É um tanto complicado explicar o que é Outer Wilds, pois grande parte de sua magia está atrelada à descoberta, o que me leva a omitir muitos detalhes incríveis sobre ele nesta análise para não comprometer a experiência de quem pretende embarcar nesta aventura pela primeira vez.

Nosso protagonista faz parte de uma raça carismática de criaturas humanoides com quatro olhos, que habitam um planeta chamado Recanto Lenhoso. Ele também é o mais recente membro do Outer Wilds Ventures, um programa espacial que explora o sistema planetário em que vivem.

Em pouco tempo, descobrimos que estamos presos em um looping temporal que retém apenas nossas memórias, enquanto os demais habitantes não têm ciência disso. Esse período dura 22 minutos e, ao seu término, a estrela local explode em uma supernova, engolindo todos os planetas que a orbitam.

A razão desse fenômeno é um grande mistério em Outer Wilds, mas existem muitos outros além dele. Para solucionar essas dúvidas, o jogador, com o auxílio de sua nave e de mais algumas poucas ferramentas, deve se aventurar em cada um dos corpos celestes desse sistema.

Tecnicamente impressionante

A jogabilidade em Outer Wilds ocorre em uma perspectiva 3D em primeira pessoa, com o protagonista sempre iniciando cada ciclo a poucos passos de seu veículo no Recanto Lenhoso, seja pelo término dos 22 minutos ou pela morte do personagem.

A transição de um astro para o outro acontece em tempo real e fica totalmente sob sua responsabilidade, com nosso aventureiro devendo pilotar sua nave durante todo o processo, de forma semelhante ao que ocorre em No Man's Sky.

Contudo, as similaridades com o título da Hello Games terminam por aí, pois o universo de Outer Wilds possui uma característica que a esmagadora maioria dos jogos de exploração espacial não têm: corpos celestes completamente diferentes uns dos outros.

Além das distinções visuais e geográficas, que já são impressionantes e fazem com que cada ambiente seja completamente único, cada globo que visitamos possui regras físicas próprias e apresenta um comportamento totalmente diferente dos demais.

O Profundezas do Gigante, por exemplo, é um planeta composto quase que inteiramente por água e que abriga violentos ciclones que, em alguns momentos, lançam suas poucas ilhas para fora de sua superfície, as quais permanecem um tempo no espaço antes de retornar ao mar; já o Vale Incerto é um mundo rochoso que contém um buraco negro como núcleo e é orbitado por um satélite natural vulcânico que o bombardeia regularmente com suas constantes erupções.

Essas características são apenas as mais básicas desses astros, pois ambos, assim como todos os demais, estão recheados de peculiaridades que o jogador precisa desvendar para utilizar suas regras a seu favor e alcançar segredos mais profundos.  

O trabalho feito pela Mobius na construção desse universo é realmente extraordinário. Além dos corpos celestes serem distintos entre si, alguns deles também se transformam completamente no decorrer dos 22 minutos, liberando ou bloqueando acesso a diferentes áreas.

O mais incrível é que tudo isso se passa em tempo real, com o carregamento acontecendo apenas entre um ciclo e outro. Assim, enquanto estamos em um planeta, os outros estão em pleno funcionamento, sofrendo alterações. Apenas visualizar esse sistema em atividade já seria suficiente para render eternos elogios a Outer Wilds; contudo, seus méritos vão muito além disso.

Separados por milhares de anos, mas unidos por um mesmo propósito

Um aspecto extremamente importante por trás de toda a trama de Outer Wilds se concentra em uma antiga civilização de criaturas com três olhos chamadas Nomai. Enquanto nos aventuramos por cada um dos astros, encontramos diversas evidências de que esse povo já viveu neste sistema solar há milhares de anos e que eles também eram fascinados por explorar o universo, tendo deixado para trás diversas construções com esse propósito.

É exatamente por meio das marcas deixadas pelos Nomai, sejam elas mecanismos, estruturas, assentamentos ou textos, que vamos entendendo aos poucos quem eles foram, o que desejavam, o que construíram e o que conseguiram descobrir e aprender sobre o cosmos.

Contudo, essas informações não são transmitidas por meio de textos expositivos criados especificamente para esse propósito. Em vez disso, elas são apresentadas em forma de diálogos naturais entre os indivíduos dessa misteriosa civilização, os quais foram gravados nas paredes de suas antigas construções.

Dessa forma, mesmo não vendo esses sujeitos, passamos a conhecê-los, alguns deles de forma bem profunda, inclusive. Não foram poucas as vezes em que cheguei a um novo local e, ao ver o nome de algum habitante sendo mencionado, sabia exatamente de quem estavam falando. Claro que explorar essa nuance fica ainda mais agradável pelo fato do jogo estar legendado em português.

Embora eu evite entrar em mais detalhes para não dar spoilers, posso assegurar que todo o enredo por trás da vida desse curioso povo de três olhos é intrigante, belo e emocionante. Enquanto as cenas finais são exibidas, é impossível não recordar desse grupo, considerar tudo pelo que eles passaram e reconhecer a contribuição significativa que tiveram para nos levar ao ponto em que estamos.

A verdadeira liberdade de exploração

Outer Wilds possui alguns finais diferentes, que são alcançados de formas muito curiosas. Contudo, podemos considerar que um deles é o mais "ideal" ou canônico, exigindo que os principais mistérios do universo sejam desvendados e dominados para que ele seja atingido.

Além dos segredos que rondam a espécie de criaturas de três olhos, existem muitas outras grandes dúvidas que só serão completamente sanadas depois que o jogador explorar diversos planetas e reunir diferentes informações, como uma lua misteriosa que some regularmente, um desconhecido sinal que parece ter se comunicado com os Nomai e a origem de um elemento invisível e mortal.

O intrigante em Outer Wilds é que não há os tradicionais indicativos de progressão de campanha ou de avanço; assim, o jogador tem total liberdade para criar seu próprio ritmo e se adaptar aos ciclos de 22 minutos, não havendo qualquer restrição quanto ao momento ou ao planeta para o qual ele deseja se dirigir.

Dentro da nave, há um quadro muito útil que armazena as principais informações que coletamos ao longo de cada curso, apresentando-se como uma espécie de mapa mental. Contudo, ele funciona mais como uma ferramenta para consultar ou relembrar o que já sabemos do que como um indicador do que devemos fazer.

Essa liberdade total funciona perfeitamente em Outer Wilds devido ao genial design implementado pelos desenvolvedores, distribuindo informações e gatilhos capazes de atiçar a nossa curiosidade e nos guiar a locais de interesse.

Assim, cada planeta oferece uma variedade de atividades envolventes, independentemente da ordem escolhida para explorá-los, pois cada localidade detém diversos mistérios e considerações que desempenham um papel fundamental na revelação dos enigmas mais amplos do universo.

As noções necessárias para acessar alguns dos locais mais escondidos e complicados do jogo seguem uma lógica de acordo com as leis físicas estabelecidas por ele, e os momentos em que as adquirimos são inesquecíveis. Isso ocorre porque esse conhecimento não apenas é coerente dentro do contexto deste cosmos, mas também ressalta toda a jornada que nosso protagonista e os que vieram antes dele percorreram para alcançar esses resultados.

Um jogo para verdadeiros curiosos

A liberdade concedida por Outer Wilds é uma de suas características mais impressionantes, mas também um fator que pode afastar aqueles que não se adaptem rapidamente à sua proposta.

Sem indicadores claros de progresso, os jogadores podem sentir a sensação de que não estão avançando se demorarem para encontrar algo que verdadeiramente os instigue sobre os segredos deste universo, especialmente se não prestarem atenção ao quadro de informações da nave e não visitarem o museu no Recanto Lenhoso.

Essa característica não é necessariamente um defeito no jogo, pois, como já mencionado, ele está repleto de mistérios incríveis espalhados por todos os cantos. No entanto, é provável que Outer Wilds se comunique melhor com indivíduos que possuam uma curiosidade mais afiada.

Esse risco pode ser agravado pelo fato de que a nave e os propulsores do traje não são tão fáceis de controlar, demandando prática para serem dominados completamente. Assim, alguns minutos de frustração com o veículo ocasionada por colisões com planetas ou com o próprio Sol, aliada à sensação de não estar saindo do lugar, pode se tornar um motivo potencial para que os jogadores desistam dessa jornada.

Por último, é válido ressaltar que, naturalmente, a experiência visual de Outer Wilds no Nintendo Switch é inferior em comparação com outras plataformas, e em determinados momentos acontece uma leve oscilação na taxa de quadros, o que pode ser um ponto de atenção para os mais exigentes. No entanto, essas questões não comprometem de forma significativa a imersão no jogo, especialmente para quem nunca o experimentou antes e possui o híbrido da Nintendo como console principal.

Uma Odisseia Inesquecível

Seja pelo mistério que envolve os Nomai, pelos segredos que permeiam o universo, pela diversidade de planetas únicos ou pela liberdade conferida ao jogador, o jogo da Mobius Digital é, sem sombra de dúvidas, extraordinário.

A ausência de indicadores claros de progresso e a necessidade de cultivar uma curiosidade ativa podem inicialmente representar desafios para alguns jogadores; no entanto, para aqueles dispostos a se envolver profundamente na trama e desvendar os segredos desse cosmos intrigante, Outer Wilds oferece uma experiência verdadeiramente inesquecível, revelando-se como uma obra imperdível para os exploradores autênticos e curiosos.

Prós:

  • Um universo extraordinariamente único, com corpos celestes distintos, cada um apresentando regras físicas próprias e comportamentos diferentes;
  • Os carregamentos ocorrem exclusivamente entre os loopings, e mesmo assim não há nenhum problema significativo de desempenho;
  • Verdadeira liberdade de exploração, permitindo que os jogadores decidam o ritmo e a ordem de suas expedições sem indicadores tradicionais de progresso;
  • A resolução dos desafios segue uma lógica consistente com as leis físicas estabelecidas por este universo, proporcionando momentos indescritíveis de descoberta;
  • A história, principalmente no que se refere à antiga civilização dos Nomai, é intrigante e emocionante, sendo apresentada inteligentemente por meio de diálogos espalhados por todo o sistema planetário;
  • Legendado em português.

Contras:

  • A ausência de indicadores evidentes de progresso pode representar um desafio para jogadores que não se adaptem prontamente a essa abordagem, especialmente os que levarem mais tempo para encontrar elementos que despertem sua curiosidade;
  • A nave e os propulsores do traje podem ser inicialmente difíceis de controlar, exigindo prática para dominá-los completamente;
  • A qualidade gráfica inferior no Nintendo Switch e ligeiras oscilações na taxa de quadros podem incomodar os mais exigentes.
Outer Wilds - PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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