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Análise: Banhsen Knight (Switch) engata as marchas muito rápido como um Ford Sierra

Ajude Boulder a descobrir o que aconteceu com seu parceiro nessa visual novel interativa que começa bem, mas perde potência nos momentos finais.


O gênero Visual Novel ganhou certo destaque no Nintendo Switch por conta do modo portátil do console, que ajuda a criar uma imersão similar à de um livro. Diferente de quando jogamos títulos como The Legend of Zelda e Donkey Kong, que combinam de certa forma, porém, por vezes, alguns jogos “pedem” uma tela maior para podermos aproveitar todo o conteúdo.

Com as graphic/visual novels, isso não é necessariamente uma obrigação, porém, quando jogamos mais próximos à tela, a coisa muda de figura. Ainda mais se estamos jogando Bahnsen Knights.

Logo nos momentos iniciais de Bahnsen Knights, o terceiro da série de jogos “Pixel Pulps” do LCB Game Studio, um sentimento toma conta de nós, que só jogando para explicar.

A primeira vez que abri o título era tarde da noite e não podia fazer muito barulho para não acordar minha filha bebê. Desse modo, pluguei um fone de ouvido e testemunhei um jogo de cores gritantes em meu Switch OLED. O modo portátil entrega uma experiência muito superior em comparação à boa e velha TV. Boa leitura!!

O perigo vem de cima

A história de Bahnsen Knights começa apresentando o personagem Boulder, um agente do FBI que tem a difícil missão de se infiltrar na organização que leva o nome do jogo, a fim de descobrir o que aconteceu com seu parceiro, Cupra.

Para que seu disfarce se mantenha, Boulder cria uma história triste e que serve de pretexto para se juntar aos Bahnsen Knights, uma espécie de culto religioso liderado por Toni, um ex-vendedor de carros. Curiosamente, os membros da seita utilizam um Ford Sierra, esportivo de sucesso da marca nos anos 1980.

Inclusive, o visual do game remete muito a essa época, pois a iluminação do jogo e sua mais do que limitada paleta de quatro cores simulam os efeitos gráficos que teríamos hoje em dia. Enquanto jogava, me lembrei dos jogos de computador compartilhados via disquete nos anos 1990 (é, leitor, entreguei minha idade agora), e que divertiam todas as idades.


Cada elemento do cenário ajuda a construir uma ambientação bem vaga e que nos dá poucas respostas do que está acontecendo. A cada novo capítulo, mais e mais elementos são colocados à mostra para o jogador, e como o visual do game é todo pixelado, imaginamos como seria aquela localização no mundo real.

Isso vai totalmente de encontro com o que temos hoje, ou seja, gráficos ultrarrealistas e sem um televisor ou monitor adequado, não conseguimos aproveitar tudo o que o jogo pode entregar.


Cruz Vermelha

Durante nossa jornada, além dos diálogos, há certas interações que desbloqueiam novas falas ou que podem acabar com a história ali mesmo. É, o jogo te pune pela escolha errada, algo pouco visto em jogos desse gênero. Isso força o jogador a prestar a atenção e ficar preso à história na maior parte do tempo, que é bem escrita.

A trilha sonora também se destaca pelos efeitos rudimentares. No entanto, não pense que por ser antigo torna-se ruim; pelo contrário, a imersão criada pela trilha sonora — pelo menos para mim — me deixou tenso e suando, talvez por jogar à noite e de fone. Valeu a pena.


A cada cena, uma nova tomada de câmera e rostos enormes dos personagens exibem as expressões de insanidade dos Bahnsen Knights. Uma saída para manter os membros amigos de Boulder foi a criação de um sistema de afinidade, controlado por uma barrinha abaixo da foto de perfil dos personagens.

Conforme a história progride e com base em nossas ações em relação a esses personagens, a barrinha é preenchida, e indica quanto aquele membro desconfia de nós. Quanto mais vazia, melhor. Acredite.


Como nem tudo são flores, o jogo te prende bem na primeira hora, ou hora e meia. Depois, começa a acelerar tanto, e tudo o que foi construído parece perder o valor. Os quebra-cabeças ajudam a manter a história viva, porém, alguns deles são de certa forma previsíveis e estão ali apenas para sair da sequência de diálogos.

Outro ponto que deixa a desejar, para nós brasileiros, é a completa ausência de qualquer localização para o nosso idioma. Um jogo totalmente baseado em diálogos e sem narração acaba sendo quase inacessível para quem não domina o idioma totalmente.


Detalhes e escolhas presentes nas conversas são fundamentais para o entendimento dos eventos e, claro, para a tomada das decisões mais adequadas para a história. Em virtude disso, se você não possui familiaridade com uma língua estrangeira, me arrisco a dizer que 90% de sua experiência com o game será perdida.

Pulp Fiction

Bahnsen Knights carrega consigo a difícil missão de entreter um público que está acostumado com a modernidade. Leitor, se você ainda não sabia desse detalhe, a expressão Pulp Fiction é sinônimo de dinamismo narrativo, personagens bem delineados, heróis e vilões, ação e drama, aventura e exotismo. Temos tudo isso em Bahnsen Knights.


O game conta com um visual interessante e na contramão dos demais, trilha sonora extremamente cativante e uma história digna do gênero pulp. Ainda que não tenha localização em português brasileiro, o jogo pode se tornar a porta de entrada para aprendizagem, já que os diálogos são ricos em vocabulário.

Prós

  • História bem escrita;
  • Trilha sonora cativante;
  • Personagens intrigantes;
  • Ford Sierra;
  • Escolhas durante os diálogos evitam monotonia.

Contras

  • Não localizado para o português brasileiro;
  • Ainda que bem escrita, a história se perde no final.
Bahnsen Knights — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com a cópia digital cedida Chorus Worldwide

Fã de carteirinha da franquia Pokémon desde os oito anos de idade, teve seu primeiro contato com os monstrinhos de bolso no Game Boy Color e de lá para cá, são mais de 25 anos de alegria. Fanático por vídeo-games, gostaria de poder jogar mais tempo do que trabalha.
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