Jogamos

Análise: Cricket Through the Ages (Switch): diversão direto ao ponto e descompromissada, mas ligeiramente confusa

Esta reimaginação da trajetória de um dos tradicionais esportes bretões acerta no bom humor, mas peca na explicação de alguns de seus conceitos.

Criado no século XVI na Inglaterra, o críquete é o segundo esporte mais assistido no mundo. No Brasil, ele não é tão popular, mas a modalidade ganhou diversos países ao redor do globo, chegando a superar até mesmo o futebol na Índia, onde é a preferência nacional.

Felizmente, Cricket Through the Ages pode ser apreciado até mesmo por quem desconhece completamente as regras do críquete, como nós aqui em terras brasileiras. A Free Lives, desenvolvedora do jogo, conseguiu criar uma versão divertidamente simplificada e maluca das disputas com tacos, gravetos e arremesso de bolas, e o envolvimento da Devolver Digital como publisher é praticamente uma garantia de um humor bem escrachado.

Arremessos e rebatidas sem muitas complicações

Caso você não faça a menor ideia de como se joga críquete, as regras principais são bem fáceis de entender, e a Free Lives conseguiu afunilar muito bem as partes mais importantes e moldá-las a uma experiência casual, mas divertida. Basicamente, dois times de 11 jogadores disputam em um campo oval, chamado de “pitch", revezando entre as funções de arremessar e rebater as bolas, de maneira semelhante ao beisebol.

O time que está rebatendo entra com dois jogadores, um dos quais deve acertar a bola e trocar de posição com seu colega do outro lado do pitch, marcando um run, que equivale a um ponto. O rebatedor precisa ainda defender o wicket, uma pequena estrutura formada por gravetos de madeira, enquanto a equipe arremessadora, que povoa o campo com seus 11 integrantes, tentará acertá-lo como principal forma (de várias) de eliminar os batedores e evitar que eles pontuem.




É claro que as regras do críquete vão muito além dessa breve explicação, mas ela é praticamente tudo de que precisamos para compreender o formato adaptado de Cricket Through the Ages. Aqui, o pitch é reduzido a uma tela com dois adversários, cada um com seu wicket e se revezando entre as funções de arremessar e rebater.

Os comandos conseguem ser ainda mais simples, resumindo-se a um único botão que os jogadores pressionam para movimentar seus personagens e controlar o braço de arremessar/rebater. Pode parecer simples até demais, mas a fórmula funciona para proporcionar disputas curtas e hilárias entre amigos.

Ah sim, o críquete, conhecidíssimo salvador da humanidade

Ainda que não seja o foco da experiência, naturalmente focada no multiplayer, as campanhas individuais de Cricket Through the Ages servem como tutoriais criativos e cômicos para aprendermos a jogar esta versão do esporte. Tudo começa há 10 mil anos, quando a humanidade se encontra à beira da extinção, mas surge a invenção do críquete para salvá-la.




A partir daí, acompanhamos a evolução do jogo, que caminha em paralelo à nossa história como civilização. Passamos por diversos períodos em que o críquete desempenhou um papel fundamental, tornando-se a atividade favorita da sociedade para momentos de lazer e chegando até o espaço sideral, obviamente alcançando os confins do universo.

Ao longo de toda essa trajetória que claramente foi fielmente inspirada na história da humanidade como a conhecemos, vamos entendendo as mecânicas e a física desengonçada do jogo. Cada variante tem regras diferenciadas, como formatos de copas, olimpíadas e até uma intrusão do badminton, esporte semelhante ao tênis, mas a constante é a quantidade de pontos exigida para vencer, que é determinada no começo de cada partida.

Outra constante é a aleatoriedade, refletida na intercambialidade de praticamente todos os elementos de jogo. Em determinado momento, você está controlando um simples jogador de críquete, mas, no seguinte, você está na pele (?) de um tiranossauro rex correndo em direção a um suculento homem das cavernas segurando uma bola de boliche. Até caranguejos mutantes estão envolvidos na bagunça.

Quem fez esse manual de regras, o Loki?

Para uma versão tão simplificada do críquete, Cricket Through the Ages consegue ser um tanto confuso e pouco intuitivo no que diz respeito ao aprendizado de algumas regras e do controle dos personagens. Pelo menos para mim, não ficou tão claro quais jogadas rendem determinadas quantidades de pontos. Eventualmente, deu para captar como as coisas funcionam, mas foram vários os momentos em que eu fiquei sem entender por que ganhei x pontos e não y.




Outro problema é a inconstância na movimentação dos bonecos, pois muitas vezes a mesma sequência de comandos obteve resultados distintos. Eu entendo que isso faz parte da aleatoriedade que serve como um dos principais pontos de interesse do jogo, mas eu sou da opinião de que poderia haver um mínimo de coesão para que as partidas não se tornassem uma disputa de quem tem mais sorte de conseguir fazer seu boneco realizar os movimentos certos nas horas certas.

Uma última questão incômoda é quão vazia a jogatina single-player se mostra. Depois de fazer um tour individual por cada um dos modos de jogo, não há qualquer atrativo para jogar sozinho; afinal, sem amigos para rir das maluquices proporcionadas, a graça e a diversão rapidamente vão embora.

Diversão tão rápida que não dá tempo nem de se irritar

Cricket Through the Ages é uma experiência esportiva casual recheada de momentos tão aleatórios quanto engraçados, especialmente se você chamar as amizades para te acompanhar. Os problemas de falta de intuitividade e coesão de fato existem, mas a natureza rápida e descompromissada da gameplay deste título da Free Lives faz com que eles não cheguem a se tornar demasiadamente graves — antes disso, você já vai ter encerrado a jogatina pela última vez.

Prós:

  • A simplificação do críquete é excelente, tornando o jogo acessível até a quem não entende absolutamente nada do esporte;
  • A parte narrativa é um dos grandes destaques, graças ao bom humor com que a história do críquete é tratada;
  • As disputas com amigos rendem momentos hilários devido à aleatoriedade e à peculiaridade de algumas situações proporcionadas no campo.

Contras:

  • Apesar de simplificar o críquete com êxito, a explicação das poucas regras que sobraram e a movimentação dos personagens são confusas e pouco intuitivas;
  • Após o término de cada um dos modos de jogo de forma individual, o multiplayer é a única opção para se ter um mínimo de diversão.
Cricket Through the Ages — Switch/PC/iOS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google