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Análise: STAR WARS: Battlefront Classic Collection (Switch) oferece nostalgia e praticamente nada mais

Esta coletânea com dois shooters espaciais que marcaram época traz pouquíssimo conteúdo novo e ainda piora muito do que já existia.



Dentre os muitos spin-offs de games da franquia Star Wars lançados ao longo dos anos, a minha favorita é, sem dúvida, a série de shooters Battlefront, que teve a sacada de tirar o foco das jornadas épicas dos protagonistas e pôr os holofotes nas grandes batalhas entre exércitos em diferentes épocas.


Seus dois principais títulos, lançados em 2004 e 2005 (e que foram os únicos que eu experimentei), foram excelentes exemplares do gênero e, na época recheada de remakes, remasters e reboots em que vivemos, nada mais justo que relançá-los para os consoles atuais, certo? Eis que surge STAR WARS: Battlefront Classic Collection.

Porém, contudo, entretanto, todavia, a já extensa trajetória da indústria de games com ports nos ensina, entre outras lições, que não basta simplesmente pegar jogos de décadas passadas e jogá-los em plataformas modernas sem um mínimo de cuidado com o teste do tempo. Infelizmente, fica evidente que a Aspyr, desenvolvedora da coletânea, não teve um amigo para dar essa dica.

Aprendendo a arte da guerra espacial

Ambos os Battlefronts apresentam premissas simples, mas divertidas: no controle de simples soldados pertencentes a exércitos de um dos lados das diferentes guerras na franquia Star Wars, participamos das batalhas travadas ao longo dos seis primeiros filmes. Via de regra, a vitória vem por meio da eliminação absoluta das tropas inimigas ou da captura de todos os postos de comando distribuídos pelos mapas, que retratam cenários dos muitos planetas espalhados pela galáxia.




Além do bom e velho multiplayer em tela dividida, os dois títulos contêm campanhas single-player. O primeiro narra as sagas das Guerras Clônicas (Episódios 1 a 3) e a Guerra Civil Galáctica (Episódios 4 a 6) por meio de confrontos famosos dentro destes períodos históricos.

Por sua vez, Battlefront II traz uma única jornada para um jogador: o modo Rise of the Empire (A Ascensão do Império), que mostra, do ponto de vista dos soldados da 501ª Legião, a trajetória do Império Galáctico rumo ao poder, também dentro da cronologia das duas primeiras trilogias. Aqui, a vitória não vem pelos dois métodos citados previamente, mas apenas com o cumprimento de objetivos específicos de cada estágio.

Outro modo individual em comum é a Conquista Galáctica (Galactic Conquest), uma espécie de duelo estratégico cujo objetivo é conquistar todos os planetas da galáxia em uma série de batalhas contra a facção rival. Alguns bônus de batalha podem ser obtidos de diferentes maneiras, dependendo do Battlefront em que você estiver jogando.




Fechando os modos, temos em Battlefront II o Hero Assault, que pode ser jogado tanto individualmente quanto no multiplayer. Nele, as condições de vitória permanecem as mesmas, mas a ação é protagonizada apenas pelos heróis e vilões. Uma variação bacana em relação à guerra em larga escala entre exércitos.

Diversos elementos tradicionais e icônicos da franquia estão presentes: veículos, armas, personagens, criaturas e ambientes característicos do universo Star Wars ajudam na caracterização dos títulos, que conseguem evocar a identidade própria da obra de George Lucas, passando longe de serem shooters genéricos e sem personalidade. Quem vivenciou Star Wars Battlefront na época dos lançamentos originais certamente vai sentir a nostalgia tomando conta.

Deu pane no sistema, alguém desconfigurou as tropas

Para quem não abre mão de ver Luke Skywalker, Darth Vader, Boba Fett e grande elenco em ação, os grandes nomes dão as caras, mas só podemos controlá-los no segundo título, sob a forma de Heróis; no primeiro Battlefront, eles são de uso exclusivo da IA. Um pouco decepcionante, mas acaba sendo um detalhe menor dentro da proposta principal da série.




Uma crítica que eu preciso fazer a respeito dos Heróis no primeiro Battlefront é o quanto as missões em que eles aparecem se tornam quase que inteiramente protocolares. Não precisamos fazer praticamente nada, basta deixar que o Luke ou Vader controlados pela inteligência artificial saiam pelo mapa tocando o terror.

Ainda no assunto IA, uma das grandes reclamações a respeito de Battlefront diz respeito à passividade das tropas controladas pelo jogo. A movimentação das unidades inimigas é limitadíssima, o que muitas vezes tira boa parte da dificuldade, já que não tem graça atirar em alvos estáticos.

Graças a esses bots mal-programados, frequentemente só existe um nível de desafio minimamente interessante em terrenos abertos, nos quais vários soldados estão mirando em você ao mesmo tempo; em espaços mais fechados, não há muita satisfação em fuzilar os poucos adversários que não saem do lugar.

Faça um bom port ou não faça, tentativa não há

Como sempre acontece, o interesse em relançamentos se divide em duas partes: quem já conhece os jogos busca a nostalgia de rejogar títulos com os quais não tem contato há muito tempo; e quem ainda não conhecia e/ou não teve a oportunidade de experimentá-los agora poderá conhecer um pequeno pedaço da história dos games.




Seja como for, eu diria que a nostalgia, por si só, normalmente não é o suficiente para justificar um port — ou pelo menos não deveria ser, considerando que jogos assim são lançados com preços semelhantes aos dos atuais. Junto ao apelo de revisitar os bons momentos vividos em jogatinas do passado, sou da opinião de que duas coisas devem vir junto: um cuidado com a qualidade do material ofertado e novos conteúdos para dar uma sobrevida além do que já existe há anos.

Star Wars Battlefront Classic Collection consegue ser um fracasso retumbante em ambos os quesitos. Não só os dois jogos foram lançados cheios de problemas de desempenho e bugs (alguns dos quais não existiam nem nas versões originais), como também a quantidade de conteúdo é baixíssima e pouco relevante. Nada além de alguns míseros mapas e Heróis novos, que passam longe de acrescentar um tempo de jogatina considerável.

O modo online, restaurado e aprimorado para suportar até 64 jogadores em uma sala, é outra decepção. Esqueça qualquer tentativa de uma disputa minimamente competitiva e prepare-se para um lag que faz com que a gameplay beire o insustentável. Só é possível se divertir nesse modo caso você se contente com sair andando pelo mapa tentando acertar as tropas inimigas com tiros completamente imprecisos — Isso, claro, se você conseguir achar partidas.




Pelo menos nem tudo está perdido, já que algumas melhorias de acessibilidade foram implementadas, como os textos dos jogos, que foram retrabalhados e agora estão mais fáceis de ler e menos agressivos aos olhos; e as opções de imagem para diferentes tipos de daltonismo. Recursos assim sempre estabelecem bons exemplos para o resto da indústria, mas é uma pena que, nesse caso, o resto do conteúdo não acompanhe o padrão de qualidade.

O império das coletâneas ruins contra-ataca

Me dói dizer isso, já que sempre guardei os dois primeiros Battlefronts com carinho na minha memória afetiva, mas STAR WARS: Battlefront Classic Collection pouco se esforça para ir além de um péssimo trabalho de relançamento de uma dupla de excelentes jogos, sobretudo para sua época, mas que definitivamente não conseguem se sustentar nos dias de hoje baseados apenas em nostalgia.

A escassa quantidade de conteúdo novo, os bugs de gameplay e o desempenho sofrível tanto na jogatina local quanto no modo online são alguns dos duros golpes aplicados aos bravos membros da resistência que seguem acreditando em um mundo no qual bons ports sejam a regra, não a exceção.

Prós:

  • Não há como negar o fator nostalgia para quem desfrutou dos jogos na época dos lançamentos originais;
  • A subversão do protagonismo dos personagens famosos da franquia em favor do foco nas batalhas entre exércitos é uma ideia criativa, ainda mais para a época;
  • Bons recursos de acessibilidade, como textos com fontes aprimoradas e opções para diferentes tipos de daltonismo.

Contras:

  • Péssimo trabalho de port, com diversos bugs e problemas de desempenho, além de pouquíssimos conteúdos inéditos;
  • As missões com Heróis controlados pela IA no primeiro Battlefront perdem completamente a graça de tão fáceis, já que basta deixar os protagonistas fazerem o trabalho;
  • A inteligência artificial, de modo geral, é passiva demais, resultando em soldados inimigos que não se movem nem quando estão sendo alvejados, o que tira boa parte da dificuldade em alguns momentos;
  • O modo online é praticamente insustentável devido ao lag absurdo e à dificuldade de encontrar partidas.
STAR WARS: Battlefront Classic Collection — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aspyr

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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