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Análise: Snufkin: Melody of Moominvalley (Switch): uma história sobre meio ambiente e amizade

Mesmo com uma performance não muito boa no Switch, o jogo vale a pena ser conferido pela mensagem que transmite.


Uma história não precisa ser extremamente longa ou complexa para atingir as pessoas com sua mensagem principal. Essa premissa também pode ser aplicada aos jogos, sendo Snufkin: Melody of Moominvalley (ou Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins, como foi localizado para o português) um bom exemplo disso.


Livremente inspirado na série A Família Moomin, criada pela escritora finlandesa Tove Jansson, o título produzido por Raw Fury traduz todo o universo e a simplicidade do Vale dos Moomins em uma campanha curta e sem muitos desafios, mas que traz uma importante lição sobre a importância de preservar o meio ambiente e cultivar amizades.

Depois do inverno…

O jogo começa com Snufkin, um andarilho, despedindo-se de seu melhor amigo, Moomintroll. É fim de outono e o inverno bate à porta, época em que os Moomins hibernarão até a próxima primavera. É uma partida com promessa de retorno: como em todos os anos, Snufkin voltará ao Vale dos Moomins para passar mais três estações com Moomintroll.

Depois dessa inóspita estação, o branco da neve começa a derreter, dando mais uma vez espaço para o desabrochar de flores e o retorno dos animais. No entanto, quando Snufkin volta ao Vale dos Moomins, algo está diferente: bichinhos correndo da floresta, áreas desmatadas e o rio seco.


Quando o protagonista finalmente chega à ponte em que prometeu se encontrar com Moomintroll, ele descobre que seu amigo está desaparecido, fazendo com que Snufkin parta em uma missão para encontrá-lo. E para a (desagradável) surpresa do andarilho, logo a verdade vem à tona: um ambicioso Hemulen intitulado Guarda-Florestal quer transformar o Vale dos Moomins em parques e em uma represa.

Para isso, o Guarda-Florestal passou a colocar várias placas e regras por todo o Vale, com direito a policiais vigiando lugares estratégicos para garantir que ninguém faça nada proibido. Enfurecido com a situação, Snufkin se alia a outros personagens icônicos da série Moomin, como Moomin Papa, Moomin Mama, Pequena Mi, Tutiki e outros para colocar um fim nos planos do antagonista — e também encontrar Moomintroll.

Jogabilidade para todas as idades

Como comentado, Melodia do Vale dos Moomins não é um jogo complexo, apoiando-se na simplicidade da obra literária de Jansson para compor a aventura de Snufkin na busca por Moomintroll. Basicamente, a campanha se dá por forma de missões principais lineares, mas algumas secundárias também estão disponíveis, aumentando um pouco o tempo de jogo — em aproximadamente cinco horas é possível completar todo o conteúdo.

Para isso, controlamos o andarilho pelo Vale, empurrando e puxando objetos no caminho e empilhando pedras para criar caminhos em rios. No entanto, a principal “arma” de Snufkin é a música, com a qual ele pode interagir com a flora e a fauna para abrir passagem.


Por exemplo, a gaita, instrumento ao qual temos acesso de início, é útil para atrair animais, fazendo-os seguir o protagonista até o local desejado. Ao longo da história, recebemos a flauta, cuja melodia adormece algumas criaturas, e o tambor, com o qual Snufkin é capaz de desmoronar pilhas de areia para abrir caminho. Esses são só alguns exemplos mais práticos, porém o jogo é bastante intuitivo em tutoriais e sinalizações.

No entanto, as interações musicais necessitam de nível de inspiração, que varia de 1 a 8, para serem realizadas. A melhor forma de obter “experiência” mais rapidamente é completando as supracitadas missões secundárias e removendo as placas colocadas no Vale pelo Guarda-Florestal, mas caminhar entre arbustos também pode garantir a Snufkin alguns pontinhos de inspiração. De todo modo, esse sistema é bem generoso, sendo difícil não alcançar o nível máximo até o fim da campanha, mesmo se seguirmos apenas a história linear.


A única parte de ação de Vale dos Moomins está nas porções de furtividade nos parques construídos pelo Guarda-Florestal, nas quais precisamos guiar o protagonista por caminhos relativamente simples, porém com alguns quebra-cabeças, para remover as placas enquanto evitamos o campo de visão dos policiais contratados pelo antagonista. É interessante ver que existe certa dose de desafio a partir do momento em que conseguimos mais instrumentos, já que alguns obstáculos nos parques dependem da intervenção musical para facilitar a jornada de Snufkin — por exemplo, usar o tambor para fazer o som ecoar em um sistema de canos e distrair os policiais por alguns segundos.

A única ressalva com relação à progressão do jogo em si está na primeira parte da aventura (de Snufkin chegando ao Vale até completar a Ilha dos Amperinos) já que, por se tratar de um longo tutorial de movimentação e utilização dos instrumentos musicais a nosso favor, pode parecer um pouco arrastada. Depois disso, a campanha flui relativamente bem e de modo bastante orgânico, a ponto de nem percebermos que o tempo está passando.

Um charme singular

Em termos de visuais, Melodia do Vale dos Moomins simula a arte original de Jansson, transformando o jogo em uma grande aquarela. Todos os personagens e cenários são belamente ilustrados e coloridos, às vezes lembrando ilustrações feitas à mão.

Essa sensação de aconchego, conforto e acolhimento é reforçada pelas belíssimas cutscenes animadas que aparecem em certos pontos da aventura. Temos também vários diálogos de NPCs que são exibidos em balões de fala, dando a sensação de que todos os habitantes do Vale dos Moomins estão vivos e acompanhando a jornada de Snufkin, embora as mensagens importantes sejam mostradas em caixas de diálogos.


Ainda dentro do âmbito visual-textual, o jogo conta com uma excelente localização para o português brasileiro, com uma linguagem de fácil acesso a todas as idades. Além disso, nas configurações, temos importantes opções de acessibilidade, especialmente o contraste de cores pensado para pessoas daltônicas e adaptação de texto para as que sofrem com dislexia.

Já a respeito da trilha sonora, a jornada do andarilho em busca do seu amigo troll é embalada por gostosas melodias que casam muito bem com a proposta do jogo; além disso, em alguns cenários específicos, podemos apreciar a paisagem como se fôssemos Snufkin, seja pescando ou admirando a copa das árvores ao som da banda Sigur Rós. Por diversas vezes, a vontade que tive era de simplesmente deixar o jogo aberto para apenas ouvir as músicas.


Dada toda a beleza audiovisual, é realmente uma pena que a versão para Switch não conte com a opção de DLC do artbook e da trilha sonora, ao contrário do Steam, plataforma em que é disponibilizada a versão para PC do jogo. A falta de uma galeria in-game também pode deixar algumas pessoas desapontadas, porém acredito que essa tenha sido uma decisão baseada em termos e mais termos de uso relacionados ao licenciamento da marca Moomin.

Infelizmente, não posso deixar de mencionar que Melodia do Vale dos Moomins possui alguns pequenos inconvenientes que podem minar a jogabilidade como um todo. Com exceção do indicador de direção (simbolizado por uma mão no canto inferior direito da tela), que mais confunde que ajuda as pessoas, acredito que os eventuais engasgos e atrasos em alguns comandos e mensagens estejam relacionados a uma má otimização do jogo para o hardware do Switch.

Esses contratempos também acometem as cutscenes, fazendo com que elas pareçam ter sido projetadas em slow motion; de todo modo, apesar de serem incômodos, esses defeitos não comprometem a experiência como um todo e, no fim do dia, o jogo ainda pode ser bem aproveitado no console híbrido.

A primavera sempre volta

Snufkin: Melody of Moominvalley é um belíssimo jogo pensado para transmitir uma importante mensagem sobre amizade e, acima de tudo, a preservação ambiental e a ecossustentabilidade. Para isso, a Raw Fury buscou inspiração na carismática obra de Tove Jansson, emulando todo o charme e aconchego da série Moomin.

Mesmo com os eventuais contratempos relacionados a uma baixa performance no Switch, a aventura é agradável e acessível a todas as idades. Afinal, como eu disse na abertura da análise, o importante não é a duração de uma obra, mas sim alcançar seu objetivo.

Prós

  • Apresentação audiovisual belíssima e impecável, com estilo artístico que simula a arte de Tove Jansson e algumas músicas assinadas pela banda Sigur Rós;
  • As cutscenes e a construção da atmosfera, incluindo a presença de personagens carismáticos da série Moomin, trazem mais vida para a aventura de Snufkin;
  • Jogabilidade simples e intuitiva, capaz de entreter pessoas de qualquer idade;
  • O uso de instrumentos musicais para resolver alguns puzzles e abrir caminho é uma ótima escolha para deixar o jogo mais interativo;
  • As seções de furtividade apresentam um desafio justo;
  • Opções de acessibilidade significativas, em especial as voltadas para pessoas com daltonismo ou dislexia;
  • Ótima localização para o português brasileiro, mantendo uma linguagem de fácil entendimento;
  • O jogo passa uma importante mensagem sobre a importância de cuidar do meio ambiente e das amizades.

Contras

  • Alguns engasgos e atrasos em comandos e mensagens, provavelmente decorrentes de uma má otimização para o Switch;
  • O indicador de direções mais atrapalha que ajuda na navegação pelos cenários;
  • Sem galeria in-game para rever cutscenes e ouvir as músicas do jogo;
  • Não existe a opção de comprar a trilha sonora e o artbook como conteúdos opcionais na eShop, diferentemente do Steam.

Snufkin: Melody of Moominvalley — PC/Switch — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Raw Fury

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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