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Análise: Splatoon 3: Side Order (Switch) prova que a franquia pode se arriscar em outros gêneros com sucesso

A primeira investida da série no roguelike traz uma jogabilidade instigante, embora curta e cansativa para quem já tem suas preferências no game.


A franquia Splatoon não é nem um pouco tímida quando se trata de campanhas single-player. Embora não sejam o foco em meio às disputas online, os modos de história da série sempre são bem construídos, misturando desafios que dão um respiro às Turf Wars com narrativas que aprofundam seu universo.


Mais uma vez, isso se repete com Splatoon 3: Side Order, a segunda parte do Pacote de Expansão para Splatoon 3, lançada em fevereiro. O DLC ousa ao trazer algo inédito à franquia: uma experiência roguelike, desenhada para ser jogada múltiplas vezes.

Por meio de um loop de gameplay muito bem desenvolvido, o conteúdo adicional cumpre esse objetivo e entrega um modo instigante, desafiador e que se encaixa muito bem com a jogabilidade base do título. Por outro lado, a natureza de seu design pode torná-lo leve em narrativa e longevidade para algumas pessoas.

Ordem em Inkopolis Square!

Em um game caracterizado por suas explosões de tintas multicoloridas, o que salta aos olhos em Side Order é como tudo é monocromático, branco, cinza e quase asséptico. Esses visuais não só se amarram ao enredo do modo, como também trazem escolhas de ambientação bem interessantes.

O resultado do último Splatfest de Splatoon 2 (Switch) tem direta relação com a trama do DLC. À época do evento que colocou Ordem contra Caos, o Caos levou a melhor e é o que dita a cultura de Splatsville: uma bem-vinda mistura caótica de culturas e referências.

Por outro lado, em Inkopolis Square, a Ordem tomou conta. Uma entidade que busca criar um mundo perfeito, sem mudanças, desejos ou conflitos, se instaurou no topo da Deca Tower, a principal torre local, transformando-a na Spire of Order. A cidade também perdeu suas cores e seus habitantes, seguindo as vontades de estabilidade desse ser.



Porém, para um mundo desolado, ele também é estranhamente tecnológico. A Ordem não é uma lula, um polvo, ou qualquer animal marinho, mas sim uma criatura que remete a softwares corrompidos. Cenários surgem como se fossem linhas digitais. Enquanto isso, um drone diz ser Pearl, da dupla Off The Hook.

Esse ambiente que une o monotônico e o moderno cria um forte contraste com os cenários urbanos e cheios de vida de Splatoon. No entanto, ele promove iconografias bastante impactantes, que combinam com a sensação sinistra do modo. É algo como Blade Runner 2049, mas em uma releitura específica da franquia.
As fases misturam elementos robóticos com objetos do dia a dia, o que reforça a estranheza desse mundo


O eterno retorno à Spire of Order

É nesse mundo sem cor que o Octoling Agent 8, na companhia do Drone Pearl, deve encarar a Ordem. Para isso, o protagonista precisa chegar ao topo da Spire of Order, superando os desafios de cada um dos 30 andares da torre.

No entanto, diferentemente de outras campanhas single-player de Splatoon, essa jornada não é tão previsível assim. Como um bom roguelike que se preze, a estrutura de níveis de Side Order é aleatória. Cabe ao jogador decidir qual desafio – e qual dificuldade – enfrentar a cada andar.

As fases são compostas, em sua maioria, por missões curtas, que levam poucos minutos para serem concluídas. São cinco tipos de objetivos: conduzir uma bola a uma base, proteger uma área do mapa com sua tinta, destruir bases das quais inimigos surgem, derrotar adversários que fogem em alta velocidade e escoltar uma torre de turbina.

O que varia entre os níveis, além do layout dos cenários, são os ataques dos Jelletons, criaturas marinhas esqueléticas que possuem diferentes formas de investida. Dependendo da dificuldade, as hordas desses seres tornam-se mais agressivas, similares às do modo cooperativo online Salmon Run. Assim, as batalhas podem ser bastante intensas.
Destaque para a performance do Switch, que mantém o game rodando sem quedas, mesmo com hordas enormes de inimigos na tela


Mas há um detalhe: de início, Agent 8 encontra-se vastamente em desvantagem em relação aos perigos da Spire of Order. A derrota é certa e ela também significa voltar ao térreo e tentar tudo novamente. É aqui que o loop de jogabilidade e o design de risco e recompensa do DLC entra e brilha.

O ciclo de ganhar e perder é tratado como um sistema de evolução para o Octoling. O primeiro elemento que torna isso possível são os Color Chips, cartões coloridos que, ao serem inseridos na Pallete do protagonista, fornecem diferentes habilidades, como tiros mais fortes, mobilidade aprimorada ou itens a serem usados pelo Drone Pearl.

Ao escolher os níveis, é possível ver qual chip será obtido caso os desafios sejam completados. Aqui começa a estratégia, pois, muitas vezes, a habilidade desejada está atrelada a uma fase difícil. É melhor arriscar voltar à estaca zero só para ganhar o chip, ou é mais racional escolher o desafio mais fácil e continuar no jogo? São decisões como essas que deixam o jogador investido e entretido a cada andar.



A segunda parte são os Membux, moeda in-game também coletada por meio dos desafios. De início, ela pode ser usada em Vending Machines para comprar vidas, Color Chips ou itens secundários diferentes. À primeira vista, pode parecer interessante gastar todo esse dinheiro em aprimoramentos, mas, por mais irônico que pareça, acumulá-lo e perder pode ser a melhor opção.

Isso porque, na derrota, todos os Color Chips e Membux são convertidos em outra moeda: as Prlz. Com elas, é possível adquirir buffs permanentes, como mais vidas, redução de dano e até continues.

Assim, o loop é fechado de maneira estimulante, pois cada subida pela Spire of Order traz um equilíbrio fino entre sobrevivência e fracasso, sendo que ambos têm suas vantagens na luta contra a Ordem. Perder em um andar alto traz bastante frustração, mas ela é imediatamente substituída por empolgação, já que, na próxima rodada, Agent 8 estará mais forte. Dessa forma, o fator replay se mantém sólido para quem gosta de roguelikes.

Cansativo para alguns

Reforço "para quem gosta de roguelikes", pois quem não é muito fã do gênero pode se decepcionar após completar a torre pela primeira vez, algo que não demora muito para acontecer.

Em meu tempo com o DLC, precisei de apenas sete rodadas para derrotar o chefe final, com alguns aprimoramentos permanentes adquiridos. Não se engane: a jornada é bastante desafiadora. Mas, com os upgrades fixos certos e a arma de preferência de cada jogador, leva-se somente algumas horas para completar o modo, o que pode ser frustrante para quem esperava por uma aventura principal mais longa.

Side Order estende sua duração com desbloqueáveis, como novos conjuntos de armas, itens cosméticos e textos que aprofundam a narrativa do modo. Para destravar esses conteúdos, é necessário subir a torre com armamentos diferentes e derrotar chefões. Cada arma libera até três desbloqueáveis, dependendo da altura alcançada na Spire of Order.
Cada arma possui uma Pallete diferente para inserir as Color Chips


Assim, aproveitar esse recurso depende muito do quão disposto o jogador está em usar setups dos quais pode nem gostar. No meu caso, por exemplo, lido muito melhor com shooters de curto/médio alcance do que com rollers ou chargers. Porém, para me inteirar da história completa ou para destravar armas com as quais me dou bem, preciso obrigatoriamente usá-los, algo que, honestamente, não me engaja.

Esse sistema até faz sentido dentro da proposta de repetição do modo. Trazer variedade de gameplay a cada rodada por meio de armas diferentes é o caminho mais racional a se tomar. Mas, para quem já tem um main weapon, esse desafio pode se tornar maçante.

Vale destacar também que, após algumas horas, a repetição dos mesmos tipos de desafios nos andares passa a ser um pouco sensível. Não é nada que estrague a ascensão pela Spire of Order, mas que faz desejar um pouco mais de diversidade nas missões.

Localização e acessibilidade

Em termos de localização, já era de se esperar que Side Order não chegasse em português brasileiro. Afinal, o título base também não está em nosso idioma. Isso é uma pena, pois, além da narrativa desbloqueável em texto, o DLC é repleto de conversas descontraídas entre os personagens que ajudam a dar mais contexto à campanha. Não tê-las em PT-BR tira um pouco do aproveitamento geral da experiência.

Enquanto isso, como já é de praxe na maioria dos games da Nintendo, o modo não possui remapeamento de botões nativo. As opções de controle se limitam às que já existem no game, como ativar ou desativar os controles de movimento.

Já quanto ao contraste de cores para pessoas com daltonismo, os desenvolvedores mantiveram a coloração das tintas dos inimigos fixada em preto. Só a cor do Agent 8 muda, dependendo de suas Color Chips. Assim, o título garante uma diferenciação visual para as pessoas que precisam.

Tudo dentro da ordem

Side Order finalmente dá uma razão concreta para adquirir o Pacote de Expansão de Splatoon 3. Se a primeira parte do DLC se limitou a um hub simpático, mas sem novidades significativas, essa segunda adição traz conteúdos e jogabilidade que empolgam.

Em sua primeira imersão pelo gênero roguelike, o título consegue estabelecer uma gameplay divertida, com riscos e recompensas claros, missões desafiadoras e um loop que traz aquela sensação de "só mais uma rodada".

Infelizmente, quem não gosta de jogos do tipo encontrará uma aventura muito curta e com conteúdo bloqueado atrás de bastante repetição com armas que podem não estar entre as favoritas dos jogadores.

Mesmo assim, esse é um exemplo de como a franquia Splatoon consegue se aventurar por outros estilos com sucesso. Se os próximos modos single player da série seguirem por esse caminho de ousadia, o futuro será colorido como as tintas do Agent 8.

Prós

  • Ambientação monocromática, desoladora e tecnológica cria um clima de mistério que se encaixa bem com a proposta do DLC;
  • Ótimo loop de gameplay, com design focado em riscos e consequências que engajam jogadores;
  • Níveis desafiadores, com hordas de inimigos que devem ser derrotados ao mesmo tempo;
  • Boa performance, com taxa de quadros por segundo estável mesmo em cenários carregados de elementos.

Contras

  • Primeira tentativa bem sucedida de concluir o modo pode acontecer muito rapidamente;
  • Processo de desbloquear novos conteúdos pode ser maçante para quem não gosta de todas as armas do game;
  • Missões de cada nível deixam de surpreender com o tempo;
  • Falta de localização em português brasileiro e de opções de acessibilidade que vão além do jogo base.
Splatoon 3: Side Order – Switch – Nota: 8.0

 Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo


Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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