Analógico

Pokémon Scarlet/Violet (Switch): A queda dos professores Pokémon Sada e Turo

Pela primeira vez na franquia vemos a queda de um professor Pokémon à vilania.


[Alerta: Este texto contém spoilers do modo história dos jogos]

A nona geração de Pokémon tem sido, e continua sendo, tanto polêmica, quanto um divisor de águas para a franquia. Entre todas as características do jogo, seus personagens e sua narrativa são, sem sombra de dúvidas, alguns dos pontos mais destacados de toda a franquia. Scarlet e Violet são jogos que rompem com diversas tradições da franquia, seja pela introdução de um mundo aberto, pela mudança de tipos graças ao "fenômeno terastal" ou — pasmem — pela transformação dos tão amados professores Pokémon da região em principais antagonistas. Sim, você não leu errado.

Quem é esse professor?

Os renomados pesquisadores e professores Pokémon de Paldea são Sada e Turo, personagens exclusivos de versões, cujos nomes fazem alusão aos seus temas principais, passado, ou melhor dizendo, pa(Sada) e fu(Turo), levando em conta a influência latina/espanhola nesta geração.

Diferentemente do convencional da franquia até então, os professores Pokémon de Paldea não se apresentam pessoalmente aos protagonistas. Pelo contrário, durante praticamente toda a jornada, eles mantêm contato por telas e pelo Rotom Phone.

Sada/Turo tiveram contato com o misterioso livro escarlate/violeta que continha relatos de exploradores sobre as maravilhas e segredos da Grande Cratera de Paldea, incluindo, é claro, Pokémon que não poderiam ser encontrados em nenhum outro lugar, o que os fascinou.

Eles não foram apenas estudantes de destaque em suas respectivas academias, mas também treinadores prestigiados, tendo conquistado todas as insígnias de líderes e se tornado campeões, obtendo assim as insígnias do Hall da Fama. 


Eventualmente, Sada/Turo se tornaram grandes cientistas e voltaram-se para explorar e estudar o local mais inóspito e perigoso da região, empreendendo uma grande pesquisa sobre os Pokémon Paradoxo. Essa pesquisa acabou se tornando uma obsessão que os levou por caminhos sombrios e, por fim, foi a ruína de sua família e deles mesmos.

Esses misteriosos professores acabam nos incumbindo de cuidar de Koraidon ou Miraidon e ajudá-los a concluir sua pesquisa; no entanto, essas não são suas verdadeiras intenções.

O drama familiar

Seguindo a linha narrativa de Arven em "Path of the Legends", acabamos descobrindo que Sara/Turo são os pais do personagem e que nunca foram um grande exemplo de parentalidade, focando mais em sua pesquisa do que no cuidado de seu filho, que acaba tendo como ente mais próximo seu Pokémon Masboutiff.
 

Ao ler os diários dos professores espalhados pela Área Zero, aprendemos que os problemas familiares começaram cedo. O cônjuge do professor, dependendo da versão, acaba abandonando a família, sendo incapaz de suportar a ausência do companheiro devido à sua obsessão pela pesquisa. Como consequência, a criança Arven acaba sendo negligenciada por ambos os pais, tendo como sua maior companhia de vida até então seu cão Pokémon. Ainda assim, Sara/Turo continuam mantendo contato com o filho, pelo menos até que a tragédia acontece...

Uma obsessão fatal

Desde a comunicação sempre à distância por meio de aparelhos, os fragmentos de informações dados pelos professores, até os laboratórios abandonados e destruídos, tudo isso faz com que Sara/Turo sejam personagens muito enigmáticos, principalmente para a função de Professor Pokémon. As razões para seu "desaparecimento" e seu jeito esquivo com o qual contactam e falam com os personagens só são reveladas bem ao final do jogo base, mas com pistas aqui e ali durante o game.

Sara/Turo desenvolveram um sonho a partir de sua admiração e amor pelos Pokémon Paradoxo. Com acesso total à grande cratera e à Área Zero, os professores puderam mergulhar ainda mais em suas ambições de forma virtualmente ilimitada. O sonho cresceu e se tornou uma obsessão, e a falta de limites provavelmente os levou ao patamar de outros famosos cientistas malucos.

Para levar a cabo seus objetivos e provavelmente ter a menor interferência possível de outros indivíduos, Sada/Turo desenvolveram cópias robóticas idênticas a eles, alimentadas com todas as suas memórias e conhecimentos, para ajudá-los em seus objetivos: criar uma máquina do tempo e trazer ainda mais Pokémon de diversos períodos da história para o momento atual.


Entretanto, seu amor pelos Pokémon Paradoxo e seu sonho de tê-los convivendo com os Pokémon do presente se mostrou um erro. Os Pokémon Paradoxo eram diferentes e mais poderosos que os Pokémon atuais, mais violentos e muito menos dóceis. Com sua máquina do tempo, os professores conseguiram trazer dois indivíduos de uma mesma espécie que seriam o centro da nona geração e a causa da fatalidade no laboratório quatro, na grande cratera: Koraidon/Miraidon. 

Embora o incidente não tenha sido explicado em detalhes, é revelado que Sara/Turo se jogaram na frente do lendário que nos acompanha desde o início, evitando que ele receba danos fatais; no entanto, acabam morrendo no processo. Pelo contexto, podemos inferir, até certo ponto, que o incidente foi uma das batalhas territoriais que esses Pokémon travaram. E isso tudo ocorre antes dos acontecimentos dos jogos.

Quando uma IA se torna mais Humanizada do que um humano


Com o tempo, as versões robóticas dos professores percebem o problema que os objetivos dos professores originais poderiam causar e, buscando evitar uma catástrofe ecológica na região (e provavelmente em todo o mundo Pokémon), Sada/Turo IA passam a buscar por um treinador que tivesse a força necessária para ajudá-los a parar a máquina do tempo, que continuava a trazer Pokémon Paradoxo ao presente, criaturas estas que já estavam conseguindo escapar da Área Zero e causar problemas em Paldea.

Curiosamente, a dualidade entre os professores originais e suas cópias robóticas está justamente em sua racionalidade e humanidade. Sada/Turo, mesmo sendo provavelmente os personagens mais inteligentes e com os maiores feitos científicos da franquia (eles criaram uma máquina do tempo!), desceram em uma espiral de loucura que estava tomando sua humanidade, visto que estavam dispostos a sacrificar tudo, inclusive Paldea, para alcançar seu sonho. Enquanto é necessário que sua IA racionalize e opte por negar o sonho programado em si para salvar toda a região e seus habitantes humanos e Pokémon.

No fim das contas, ocorre que o professor com quem tivemos contato durante todo o jogo base de Scarlet e Violet é a versão IA dos professores, desesperados para cessar a loucura de seus originais.

A emocional batalha contra os professores

Na batalha final enfrentamos a versão IA dos professores, que nos trouxeram até aqui, perdendo a consciência para a programação feita pelos professores originais, afinal, eles foram feitos para proteger o sonho de Sada/Turo de construir um paraíso para Pokémon de todos os tempos e, consequentemente, a máquina do tempo, para só assim ter a chance de parar o caos que os Paradoxo representam. A batalha é emocionante, pois além de tudo, estamos lutando não contra os professores que nos guiaram até ali, mas sim contra o ideal dos professores originais programado neles.


É justamente nessa batalha final que se observa o quão longe Sada/Turo estavam dispostos a ir por seu sonho. Mesmo com o suporte dos protagonistas, a máquina do tempo não poderia ser parada, nem mesmo com a identificação dos professores originais (na figura dos livros escarlate/violeta) e a derrota dos protocolos de segurança. Isso fez com que Sada/Turo IA tivessem que abandonar o presente para que a máquina fosse então silenciada. Os professores originais estavam dispostos a sacrificar o presente de todos para realizar seus sonhos; as IAs sacrificaram o seu presente para salvar o de todos os outros.

Paradoxos


Ainda que durante toda a campanha principal de Pokémon Scarlet/Violet nunca tenhamos contato com as versões reais, ao final da segunda parte dos DLCs, em que, graças a uma estranha reação de Terapagos com a Crystal Pool em Kitakami, temos contato com uma versão mais jovem dos professores originais, que ainda não tinham criado a máquina do tempo. Isso cria uma espécie de paradoxo, pois pode ficar implícito que parte da capacidade de criar uma máquina do tempo tenha vindo exatamente desse contato com nossos personagens, o que talvez nos faria ter parte da culpa na loucura dos professores. Mas para entender esse evento, vocês precisarão jogar e ver por si sós!

Revisão: Vitor Tibério


Fernando Paixão Rosa, normalmente referenciado por Lorde, nascido na Zona Leste de SP, mas sempre por aí a fora. É formado Bacharel em Letras, redator na web há mais de dez anos e escritor com alguns livros publicados. Escutando música 24h/dia, é fã de cultura pop em suas muitas manifestações e mais fã ainda das IP's da Nintendo. Ocasionalmente faz lives na twitch: @lordeverso
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