Discussão

Discussão: a nostalgia e o colecionismo dos jogos físicos

Colecionismo e nostalgia marcam a era dos jogos físicos da Nintendo, mas a ascensão do digital põe em xeque seu futuro.


No mundo dos videogames, a Nintendo se destaca como uma marca atemporal com seus consoles e jogos marcando gerações, firmando laços afetivos entre jogadores e personagens que transcendem a tela. Uma das características mais marcantes dessa trajetória foi a onipresença dos jogos em cartuchos e CDs que acompanharam a infância e adolescência de muitos. No entanto, nos últimos anos, a indústria de games tem observado um movimento curioso: a ascensão dos jogos digitais em detrimento das mídias físicas. Essa mudança levanta questionamentos sobre o futuro dos jogos físicos em toda a indústria, e o impacto que isso terá na experiência dos jogadores e no mercado como um todo.


A nostalgia

Na era do Nintendo Entertainment System (NES), a magia das mídias físicas da Nintendo teve seu início. Os cartuchos, robustos e adornados com rótulos vibrantes, representavam mais do que meras mídias de armazenamento: eram objetos de desejo, colecionáveis que transcendiam a simples jogabilidade e cada lançamento era um acontecimento especial.

Eram como chaves para um mundo de fantasia e aventura que estava em nossas mãos. As mídias acompanhavam conteúdos como as regras do jogo em um livreto com o manual de controles, explicações da história do mundo e personagens, e às vezes um conteúdo bônus como pôster, no final a gente recebia muito conteúdo além do jogo.

Essa magia que os cartuchos traziam se manteve por muitos consoles da gigante vermelha japonesa. Após a geração do NES, tivemos o Super Nintendo Entertainment System (SNES) e Nintendo 64, além de portáteis, que tinham esses lindos pedaços de plástico com artes incrivelmente detalhadas e uma tecnologia incrível dentro deles. 


A experiência sensorial de segurar um cartucho pela primeira vez é memorável, consigo lembrar quando ganhei o cartucho do Pokémon Black e o segurei pela primeira vez e todos os sentimentos que tive ao sentir o cheiro e textura, tanto da embalagem quanto da própria fita. 

Mais do que meras plataformas de jogos, os consoles da Nintendo se tornaram centros de convívio e união, quando amigos e familiares se reuniam para compartilhar risadas, frustrações e conquistas. Os cartuchos se tornaram símbolos de uma época e de memórias afetivas inapagáveis. Eles representam o que para muitos é a era de ouro dos videogames, uma época em que a simplicidade e a criatividade proporcionavam experiências únicas e inesquecíveis para milhões de jogadores ao redor do mundo.

Com o passar das gerações, avanços tecnológicos aconteciam e a era dos cartuchos teve um desvio interessante com o GameCube. Em vez dos cartuchos robustos e familiares, o GameCube apostou em minidiscos ópticos, inaugurando uma nova era de armazenamento e inovação. Abrir a caixa do minidisco era uma experiência muito próxima à de abrir um cartucho. 


Retirar o disco da embalagem, segurá-lo entre os dedos e admirar sua superfície brilhante era como ter acesso a um universo de possibilidades. A sensação de inserir o disco no console e ouvir o som do leitor de discos, os encartes com artes vibrantes e informações detalhadas sobre os jogos aguçavam a curiosidade e convidavam a uma imersão profunda nos universos criados. Manuais de instruções recheados de dicas e segredos transformavam-se em guias preciosos para desvendar os mistérios dos jogos; eram coisas que se mantiveram assim até o Wii U.

Ao longo dessa jornada, as mídias físicas proporcionaram aos jogadores experiências sensoriais únicas e inesquecíveis. Desde a emoção de abrir as caixas e manusear os discos e cartuchos até a imersão nos mundos dos jogos, esses objetos transcendiam a mera funcionalidade e se tornavam símbolos de nostalgia, afeto e paixão pelo universo dos videogames. 

A coleção como paixão

Ao longo dos anos, a tradição da coleta de jogos físicos da Nintendo se consolidou como uma paixão vibrante, impulsionada por diversos fatores. Para os jogadores veteranos, a coleção pode representar qualquer coisa, como a preservação de memórias afetivas, oportunidade de revisitar clássicos, a valorização estética ou o investimento. Já para as novas gerações, surge a chance de explorar a rica história dos videogames e se conectar com títulos que moldaram a indústria do entretenimento. Em suas diversas formas, é uma prática que remonta à antiguidade. 

O colecionismo se transforma em uma paixão que transcende o mero acúmulo de objetos, a coleção de jogos físicos oferece aos seus entusiastas uma oportunidade única de construir uma biblioteca personalizada, moldada por seus interesses e experiências. Desde os clássicos cartuchos do NES até os discos mais recentes do Wii U, cada item colecionado representa um capítulo na história dos videogames e na trajetória da Nintendo. 

Mais do que um simples hobby, colecionar se transforma em uma celebração da história dos videogames e da paixão pela marca. Através da organização cuidadosa de seus itens, os colecionadores preservam a memória de uma época e celebram a criatividade e a inovação que impulsionaram a indústria do entretenimento.


A coleção também serve como um ponto de encontro para entusiastas e fãs de games, proporcionando um espaço para a troca de experiências, a discussão sobre jogos e a construção de uma comunidade vibrante e apaixonada. Através da coleção, os jogadores se conectam com a história e com o universo dos videogames, fortalecendo laços de amizade e compartilhando a paixão por um hobby que transcende gerações.

A magia das edições limitadas

As edições limitadas representam o ápice do colecionismo, combinando exclusividade com itens extras e embalagens diferenciadas que encantam os fãs. Estas edições especiais, muitas vezes com tiragem numerada, celebram grandes lançamentos, franquias queridas ou momentos marcantes da história dos games.

A exclusividade e os itens raros dão a essas edições um valor especial que agregam um valor muito maior na coleção, acompanham itens extremamente limitados ou até mesmo exclusivos. Algumas edições podem incluir bonecos de ação exclusivos, pins, disco com a trilha sonora ou capas de alumínio (steel case), transformando-as em verdadeiros tesouros.

Além do grande valor, as edições limitadas também são usadas como investimentos, já que, com o tempo, a procura por esses itens raros tende a aumentar, elevando ainda mais seu preço e tornando-os peças cobiçadas por colecionadores do mundo todo. Edições como o cartucho dourado do The Legend of Zelda são extremamente procurados — um cartucho fora da caixa pode chegar a R$ 400,00; um exemplar usado completo, incluindo mapa e manual, por R$ 1.200,00.


O declínio dos jogos físicos

Com o passar dos anos, em 2011, com o lançamento do 3DS e em 2012, com o lançamento do 3DS, os downloads de jogos digitais para console marcou um declínio na popularidade dos jogos físicos nas plataformas da Nintendo. A comodidade e praticidade de baixar jogos diretamente para a plataforma, sem a necessidade de mídias, conquistou muitos jogadores. Essa mudança, impulsionada pela internet de alta velocidade e pela eShop, facilitou o acesso a uma vasta biblioteca de jogos sem precisar sair de casa. 

Por mais que a Nintendo e outras empresas tenham a suas lojas online desde a segunda metade dos anos 2000, a compra de jogos digitais ainda era vista com receio por muitos consumidores, especialmente aqueles menos familiarizados com a internet ou com histórico de experiências negativas em compras online. Com o fácil acesso à tecnologia que tivemos por volta dos anos de 2010, quando pessoas menos experientes tinham lojas de aplicativos em seus celulares, esse receio foi se dissolvendo até que nos tempos de hoje a cultura de comprar online já está enraizada na maioria da população

No entanto, a desmaterialização dos jogos trouxe consigo a perda de uma experiência única e nostálgica. O ato de ir à loja, escolher um jogo físico, levar para casa e desembalar, toda aquela experiência sensorial de abrir a mídia foi perdida. A arte da capa, o manual de instruções e o disco em si representavam elementos tangíveis de um hobby que se tornava cada vez mais digital.


Para os colecionadores, o declínio dos jogos físicos representa a perda de um item crucial em suas coleções. A experiência de ter um jogo físico em mãos, com sua capa, manual e outros itens, é algo que não pode ser replicado no mundo digital, e isso tem trazido alguns problemas novos para os jogadores, como por exemplo as lojas online se fechando e impossibilitando o acesso aos jogos digitais, empresas fechando o servidor de alguns jogos e removendo-os das bibliotecas online dos jogadores.

O futuro incerto

Com o crescente domínio das plataformas digitais, o futuro dos jogos físicos na Nintendo se torna incerto. A empresa, conhecida por sua tradição em lançar jogos em mídia física, vem gradualmente se adaptando à era digital, expandindo sua oferta de jogos online e serviços de assinatura.

Para os jogadores e colecionadores, essa mudança gera questionamentos sobre o futuro da mídia física. Será que a Nintendo abandonará completamente os jogos físicos em favor do digital? Ou encontrará um equilíbrio entre os dois formatos, atendendo às diferentes necessidades e preferências dos jogadores da forma que é hoje em dia? 

Somente o tempo dirá qual será o destino dos jogos físicos na Nintendo. No entanto, a paixão dos colecionadores e a nostalgia dos jogadores por essa mídia tradicional garantem que a discussão sobre o futuro dos jogos físicos continue acesa por muito tempo.

Revisão: Vitor Tibério


Gamer desde a infância, sempre me fascinei pelo processo criativo e técnico por trás dos games. Hoje, como estudante de jogos digitais, desvendo os segredos da criação de games, desde a parte visual até as trilhas sonoras. Adoro jogos de tabuleiro e escrever histórias que podem se transformar em jogos ou aventuras de RPG. Compartilhar minha visão sobre esse universo incrível me motiva e me deixa muito feliz!
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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