Análise: Little Big Adventure - Twinsen’s Quest é um clássico revivido, mesmo com alguns problemas bem evidentes

Lute contra a tirania de Dr. FunFrock e resgate sua irmãzinha.

1994 foi um dos anos mais agraciados em termos de cultura. O Rei Leão, Godzilla vs. SpaceGodzilla, Forrest Gump, Final Fantasy VI, Darkstalkers, Donkey Kong Country, Super Metroid e tantos outros clássicos eternos. Entre eles, estava o simpático Little Big Adventure, um jogo isométrico lançado para PC que foi super bem recebido por sua história criativa, gráficos únicos e personagens charmosos.


20 anos depois, o jogo está sendo revivido como Twinsen’s Quest, com gráficos reformulados, trilha sonora remixada e traduzido para o português. Resta a dúvida, no entanto: é um clássico a ser revisitado? Me acompanhe nesta jornada por um mundo iluminado por dois sóis.

Tatooine, só que não

Bem-vindos a Twinsun, um mundo onde a noite não existe, pois ele se encontra na órbita de duas estrelas. Este belo planeta vivia em paz até a chegada do maligno Dr. FunFrock, dominando o mundo e obrigando seus habitantes a se isolarem no hemisfério sul. Seria mais um dia normal para Twinsen, sua namorada Zoe e sua irmã mais nova, Luna, com o jovem rapaz jogando um pouco de Boingball, uma variação de basquete.

Tanto Zoe quanto Luna estão bastante insatisfeitas com a opressão de FunFrock, enquanto Twinsen tenta ver o lado positivo. Sempre rebelde, Luna arranja encrenca com a polícia local, composta por clones do tirano, e é salva por Twinsen, que acaba sendo mandado para um asilo por causa do ato rebelde e de seus sonhos proféticos detalhando o fim do mundo. Cabe a Twinsen se reunir com as pessoas que ama, desvendar o mistério de seus sonhos e derrotar o déspota maligno, aliando-se às forças rebeldes.

Oh Sol, vê se não me esquece

Vocês sabem o que significa o termo “Pata de macaco”? É quando desejamos algo e o pedido é realizado… mas com uma reviravolta irônica. Exemplo: eu desejo por paz mundial, e acontece!... só que alienígenas invadem e somos escravizados por sermos um povo pacífico. Twinsen’s Quest deve ser uma das maiores patas de macaco que eu vi nos últimos tempos.

Antes de começarmos com a parte irônica, o jogo contém seus pontos positivos. Enquanto o original deu um passo revolucionário na imersão isométrica com gráficos chamativos e relativamente bem feitos, o remake tem visuais belíssimos. Enfeitado por um mundo poligonal e colorido, ele mantém o legado de seu lançamento original como uma narrativa que apresenta visuais belos e singulares.

Além disso, seus personagens conseguem ser bastante carismáticos e emanando uma energia simpática que somente títulos antigos da década de 90, como os clássicos de PC Sam & Max ou Curse of Monkey Island, conseguem emanar. Um charme inocente, mas que continua atual aos dias modernos — inclusive com a adição de Luna, exclusiva para o remake e tomando o papel de Zoe como objetivo de resgate.

Twinsen’s Quest oferece também a adição de dublagem em inglês e francês, emanando a energia dos personagens com delicadeza e sinceridade, além de contar com músicas remixadas e novas, todas bem cativantes. Por fim, o jogo tem opção de legendas em português, bem-traduzidas e com poucos erros de gramática.

Eclipse duplo

Agora o dedo do macaco entorta. Em seu lançamento original, LBA revolucionou pelas múltiplas formas com que Twinsen poderia ser controlado, graças à mecânica de humor, podendo deixá-lo mais forte, mais esquivo, mais ágil, dependendo da escolha. Alie isso ao modo de controle tank e era um jogo obrigatório para PC, mas que hoje em dia envelheceu bem mal.

Twinsen’s Quest retira o controle tank e a mecânica de humor. Isso não corrige os problemas de jogabilidade; na verdade, os torna piores. A animação de movimento de Twinsen é muito boa (exceto quando ele para de andar, ficando estático abruptamente), mas a precisão de seus comandos é péssima, com ataques conectando tardiamente, e o lançamento de sua bola é muito frustrante, inclusive no tutorial. 

Não importava o quanto eu calculasse o lançamento: a bola ficava travada no alvo e eu não conseguia pegar mais na cesta. Não apenas isso: como também houve momentos em que eu claramente conseguia bater nos inimigos e outros que não aceitavam meu golpe, causando minha morte de novo e de novo. Isso afeta bastante toda a jogabilidade, seja para enfrentar inimigos ou solucionar puzzles.

O primeiro bug que eu notei, no entanto, foi logo no começo. Em diversos momentos, meu áudio repetia umas duas vezes, como o barulho de esforço em pular ou golpear. Inicialmente, eu achei que estava imaginando isso, mas quando percebi o mesmo erro de novo e de novo, ficava evidente que algo estava errado. Sem contar a voz nas cutscenes, absurdamente baixa comparado ao resto do jogo. 

Destaco ainda mensagens repetidas, inclusive de missões já completadas; itens que não funcionam ao clicar no menu; pontos na progressão que podem ser perdidos facilmente; e outros bugs que deixaram a campanha um tanto desgraçada para acompanhar, mesmo com os personagens carismáticos e a história cativante.

Por fim, em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e Twinsen's Quest falha nesse quesito, não trazendo nenhuma adição além de sua presença na plataforma. Na versão de PC, a edição deluxe conta com o acréscimo de um arquivo para podermos ver artes conceituais e escutar a trilha sonora, além de uma nova roupa para o protagonista. No Switch, apenas a roupa está disponível para comprar.

Verdade seja dita, isso é bastante insultante em termos de preservação. Vender separadamente agrados pequenos aos jogadores, é um ultraje, especialmente para fãs de longa data. Contra-exemplo: Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition não apenas inclui roupas que fazem tributo ao passado (roupas protótipo de Jade) e ao futuro (roupas de BG&E2 para Pey’J), como traz artes e documentários extensos sobre o desenvolvimento. Twinsen's Quest não oferece nada disso.

O Sol é para todos (?)

Little Big Adventure: Twinsen's Quest não arruinou meu dia, comparado a outros jogos que analisei este ano. Ao finalizá-lo, não me senti decepcionado, porque toda a minha expectativa já tinha se esgotado depois de tentar marcar cestas futilmente.

Este é um título perdido da longínqua era dos disquetes, com uma proposta interessante, mas que perdeu boa parte de sua identidade devido a escolhas duvidosas em seu relançamento. É um jogo gentil e bonito, preso em meio a um emaranhado de bugs. Se o propósito do time de desenvolvimento é finalizar a saga de Twinsen em uma trilogia e fazer um remake de LBA2, é melhor pensar no presente e arrumar a bagunça em que o jogo se encontra.

Prós

  • História legal, com adições mínimas, mas interessantes, como a personagem Luna;
  • Personagens carismáticos e gentis de acompanhar;
  • Belíssimo mundo, com gráficos poligonais bem-feitos;
  • Trilha sonora marcante;
  • Legendado em português brasileiro.

Contras

  • Inundado por bugs de colisão e, especialmente, sonoros;
  • Alguns erros bobos na tradução;
  • Falta de bônus especiais de relançamento, exceto por uma pífia roupa (por DLC);
  • Jogabilidade refeita, mas que continua atroz e mal polida.
Little Big Adventure: Twinsen's Quest - Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX - Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Microids
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Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
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