Um começo lento
Vou ser honesto: quando instalei o Nintendo Music, minha empolgação inicial se transformou em uma leve decepção ao perceber quão limitado o catálogo era. A seleção de músicas estava restrita a alguns títulos principais da Nintendo, deixando de fora tantas trilhas icônicas que eu esperava revisitar. Claro, eles prometeram expandir o catálogo com atualizações regulares, mas não pude evitar o sentimento de que o lançamento foi um pouco apressado, pela quantidade relativamente pequena de conteúdo.
Apesar disso, é claro que a Nintendo sabe o que está fazendo ao lançar conteúdo aos poucos, criando aquele suspense e vontade de voltar para conferir as novidades. Mas, sinceramente, um catálogo mais robusto desde o início teria causado uma impressão muito mais forte — especialmente para fãs mais ansiosos, como eu.
Contudo, devemos notar ainda que o Nintendo Music, tal qual os jogos aplicativos de jogos dos consoles retrô da empresa no serviço Nintendo Switch Online (NSO), parece seguir o padrão de acrescentar novos jogos — neste caso, novas faixas musicais — de forma lenta, mas ainda assim regular. Desde o lançamento do aplicativo, novas trilhas marcantes na história dos jogos Nintendo têm sido adicionadas semanalmente.
Game music: aproveitando um gênero amado
Uma parte muito importante da experiência no audiovisual em geral é sua trilha sonora, suas músicas, seu design sonoro em geral, que ajudam a dar o clima e evocar emoções. A música é especialmente importante nos videogames, que são uma das formas de mídia mais interativas, e, por consequência, geram um grande envolvimento íntimo e emocional nos jogadores.
O apelo emocional dessas músicas as torna amadas não apenas por jogadores, mas também por entusiastas de música em geral. O Nintendo Music surge como uma forma de resgate e celebração desse gênero, reconhecendo o papel cultural significativo das trilhas sonoras de jogos e colocando-as em destaque de forma acessível, organizada e oficial.
A Nintendo, esperta como sempre, soube capitalizar essa paixão pelos seus temas musicais. O app é uma carta de amor às suas trilhas sonoras, que não só são cativantes, mas também têm o poder de nos transportar para os mundos e sensações que elas representam. Seja ouvindo o tema de The legend of Zelda ou uma faixa nostálgica de Super Mario, entre outras músicas clássicas dos games.
Deveria ser para todos
Agora, vou tocar num ponto que realmente me intrigou: a exclusividade do app para assinantes do Nintendo Switch Online. Eu entendo que eles queiram agregar ainda mais valor ao serviço, mas e os fãs que não têm um console ou não querem assinar o online?
Se fizermos uma pequena comparação entre a faixa de preço de serviços de streaming de música, tirando promoções e versões de valor reduzido, eles ficam em uma faixa próxima à assinatura mensal do NSO regular (sem o pacote adicional). Talvez isso por si só ajudasse a justificar a assinatura do serviço para o uso do aplicativo de música, visto que o usuário teria acesso a mais benefícios caso viesse a eventualmente adquirir o console.
Ainda assim, uma versão paga independente permitiria que um público maior tivesse acesso, incluindo quem realmente não estivesse interessado em nada além das músicas. Afinal, as trilhas sonoras da Nintendo são parte da história dos videogames e merecem ser apreciadas por todos, sem essa barreira de entrada. Imagino que muita gente estaria disposta a pagar para ter uma forma oficial e prática de ouvir essas músicas.
Expandindo além da Nintendo
Outro ponto que senti falta no Nintendo Music foi a inclusão de músicas de jogos de terceiros lançados em plataformas Nintendo. Pensando em clássicos como Chrono Trigger ou Mega Man, são trilhas que marcaram tanto quanto as das franquias próprias da Nintendo e também são amadas pelos fãs dos jogos da empresa.
Se o aplicativo incluísse essas faixas, ele poderia se transformar em um verdadeiro tesouro para fãs de jogos em geral, e não apenas para quem ama os exclusivos da Nintendo, assim possivelmente atraindo um público ainda maior ao serviço. Embora questões de licenciamento possam ser um obstáculo, a Nintendo tem uma longa história de parcerias com outras desenvolvedoras, o que pode ser observado no catálogo de jogos disponibilizados no NSO, incluindo jogos do Mega Drive.
A inclusão de músicas de jogos de terceiros seria uma forma poderosa de celebrar a história completa dos consoles Nintendo e agradar a uma audiência ainda maior. Ainda assim, como bem sabemos a Nintendo é uma empresa que é historicamente muito protecionista com relação aos seus serviços e produtos.
Isso faz com que seja muito difícil visualizar como poderiam ocorrer acordos sobre os direitos autorais das trilhas sonoras que não fazem parte do catálogo próprio de jogos da empresa, ainda mais sendo um serviço exclusivo para usuários do NSO.
Aspectos técnicos
Visualmente, o Nintendo Music é um app muito bonito e organizado. É fácil navegar pelas opções e encontrar as músicas que você quer ouvir, e as playlists por franquias e temas são uma ótima ideia. No entanto, o tempo de abertura do app é um pouco lento ou pode apresentar travamentos — e isso pode ser frustrante, especialmente quando você só quer dar um play rápido na sua música favorita.
Quanto à disposição das faixas no aplicativo, a opção de procura permite visualizar as músicas por console, lançamento e novidade, e o app também oferece diversas playlists interessantes pré-configuradas. Algumas delas separam músicas de estágios, pequenas trilhas específicas ou mesmo versões estendidas que podem ser curtidas por mais tempo, bem como por personagens, entre outras opções.
Outro ponto muito importante é a possibilidade de criar playlists e baixar suas músicas preferidas para que possam ser executadas offline. Mesmo sendo recursos primários para streamings de música, pelo que testamos, o Nintendo Music não foi lançado com eles na versão iOS, sendo adicionados pouco tempo depois.
Anti-spoiler e outras funcionalidades
Apesar dos pontos fracos, não posso deixar de elogiar algumas funções muito bem pensadas. Uma delas é a possibilidade de ver detalhes sobre os jogos relacionados às músicas. Para quem é fascinado pela história dos games, poder ter acesso às informações como o ano de lançamento ou curiosidades da produção é um diferencial enorme.
Outra coisa que me surpreendeu positivamente foi a opção de bloqueio de spoilers. Confesso que achei genial a ideia de poder adicionar jogos que ainda não foram jogados e evitar qualquer conteúdo sobre eles, inclusive as músicas e seus títulos que podem carregar referências importantes a momentos-chave dos jogos. Isso mostra um respeito enorme pela experiência do jogador, algo que só uma empresa como a Nintendo pensaria em implementar.
Essa funcionalidade me fez sentir que o app é mais do que um catálogo; é um espaço pensado para preservar a magia de descobrir um jogo pela primeira vez. E, convenhamos, fornecer opções para evitar spoilers em tempos de internet é sempre uma vitória.
Mais do que um streaming de música
O Nintendo Music é um aplicativo com um potencial gigantesco, mas que ainda está se encontrando em meio ao serviço de streaming. Apesar do início tímido e das limitações de acessibilidade, ele entrega um produto que mexe com a nostalgia de qualquer fã da Nintendo. A experiência de redescobrir essas trilhas sonoras e a atenção aos detalhes, como o bloqueio de spoilers, mostram que a empresa está no caminho certo.
Se eles expandirem o catálogo, abrirem o app para mais pessoas e resolverem alguns dos pequenos problemas técnicos, não tenho dúvidas de que o Nintendo Music pode se tornar um dos melhores serviços de música para gamers. Por enquanto, é uma boa adição para quem já é assinante do Switch Online.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com chave cedida pela Nintendo