A franquia Fire Emblem e suas inspirações mitológicas

Descubra as origens por trás de nomes de personagens, armas, feitiços e até mesmo conflitos abordados nos jogos da série.

em 24/01/2025

Se tem uma coisa que me fascina é conhecer as histórias que moldaram nossa sociedade. Em especial, gosto muito das mitologias egípcia, mesopotâmica, celta e nórdica — mas você deve estar se perguntando o que isso tudo tem a ver com Fire Emblem, acertei?


Por incrível que pareça, a longeva franquia de RPG tático da Intelligent Systems muito bebe da fonte dessas histórias fantásticas para criar os mundos que compõem os jogos da série. Você sabia que nomes como Ishtar, Ereshkigal e até Raijinto e Fujin Yumi, bem como conflitos e continentes, têm base nas mais diversas mitologias do nosso mundo real?

Claro, talvez o jogo que mais deixa transparecer as inspirações mitológicas seja o spin-off Fire Emblem Heroes, que se apoia totalmente na mitologia nórdica para compor os capítulos da história principal, mas, nas entrelinhas, há diversas referências para caçar aqui e ali. Claro, não sou louca de listar todas elas — imagina só o trabalho todo que seria! —, então elenquei algumas principais, separadas por mitologias. 

Vamos lá?

Mitologia nórdica

Depois de Heroes, temos mais um representante na lista das histórias da Era Viking: Genealogy of the Holy War. O exemplo mais óbvio que posso dar aqui é a relação entre Sigurd e seu filho, Seliph, que traçam um paralelo direto com Siegfried, protagonista da saga dos Nibelungos.

Na primeira parte do jogo, Sigurd enfrenta traições e perde sua vida em um esquema político, tal qual o que acontece com Siegfried. Além disso, em Genealogy of the Holy War, temos nomes recorrentes da mitologia nórdica, como a espada Tyrfing.

Agora, embora não façam referências diretas à mitologia nórdica em si, Path of Radiance e Radiant Dawn trazem um paralelo interessante: Ashera, deusa da ordem, e Yune, deusa do caos, espelham o conflito entre Odin (ordem) e Loki (caos), um dualismo que reflete o Ragnarök.

Mitologia greco-romana

Para falar do imaginário grego, nada melhor que voltar às raízes de Fire Emblem. Em Shadow Dragon and the Blade of Light, o vilão Medeus pode ser visto como uma releitura da Medusa: ambos são figuras inicialmente pacíficas, porém acabam se transformando em monstros injustiçados que se rebelam contra os humanos.

Curiosamente, o nome Marth pode ter sido inspirado em Marte (Mars), o deus romano da guerra. A Falchion, que também fez sua estreia com a franquia, não fica para trás: lendo nas entrelinhas, reflete espadas lendárias gregas, como a de Perseu, abençoada por Atena para matar Medusa.

Agora, se formos pensar nos jogos mais atuais, a Thyrsus, presente em Three Houses, leva o mesmo nome do bastão sagrado de Dionísio, usado tanto como arma quanto como símbolo de fertilidade e abundância, enquanto a lança de Dimitri, a Areadbhar, é inspirada nas armas usadas por guerreiros como Aquiles e Pátroclo.

Mitologia celta

Os mitos e lendas da Idade do Ferro na Europa também serviram de inspiração para Fire Emblem, sendo mais vistos em Genealogy of the Holy War e Thracia 776. Acredito que o nome mais comum seja a lança Gáe Bolg, de Quan, que é baseada na arma de Cú Chulainn; já o arco Failnaught, de Three Houses, simboliza a precisão e a ligação à natureza das armas celtas.

No entanto, na minha opinião, o paralelo mais interessante é a dualidade entre Mila e Duma, de Gaiden/Shadows of Valentia. Esses dois deuses incorporam o embate entre os Tuatha Dé Danann (deuses da luz) e os Fomorians (forças do caos) — os opostos abundância e fertilidade x disciplina e guerra, motivos pelos quais Zofia e Rigel, respectivamente, entram em guerra.

Mitologia mesopotâmica

Algumas pessoas nunca ouviram falar dela, mas são histórias bastante curiosas para quem tem curiosidade de conhecer mais sobre a cultura da Ásia Oriental. Lembra que, na abertura deste texto, eu comentei sobre Ishtar e Ereshkigal?

Pois bem, Ishtar (inicialmente conhecida por Inana) e Ereshkigal eram deusas, respectivamente, do Céu e do Submundo, que foram retratadas no mito da catábase de Inana. Em Fire Emblem, Ishtar aparece como personagem em Genealogy of the Holy War, enquanto Ereshkigal é o tomo de Nargal em The Blazing Blade. 

Neste tópico, cabem mais leituras nas entrelinhas que comparações explícitas propriamente ditas, mas que, mesmo assim, são interessantes apontar. Já é sabido que a trama de Awakening gira em torno do conflito entre Naga e Grima, mas essa guerra pode ser lida como o conflito entre Marduk, que representa a humanidade, e Tiamat, divindade primordial que representa o caos; em outras palavras, Naga está para Marduk assim como Grima está para Tiamat.


Porém, os paralelos com a mitologia mesopotâmica não acabam por aqui. Em The Blazing Blade, Nergal, que usa energia vital para criar seres artificiais chamados Morphs, é uma adaptação das divindades mesopotâmicas que tinham poder sobre a vida e a morte, como a supracitada Ereshkigal.

No jogo, Nergal age como um pseudo-deus que desafia o ciclo natural da vida, evocando temas mesopotâmicos sobre a arrogância das divindades. 

Mitologia egípcia

Além da arquitetura do continente de Elibe (The Binding Blade e The Blazing Blade), que muito se parece com a egípcia, temos ainda a relação entre humanos e dragões, que dialogam com a dos faraós e as divindades. Porém, aqui quero citar novamente Three Houses, especialmente a deusa Sothis.

Ela é inspirada na estrela Sirius (daí o nome de seu golpe especial em Heroes), associada à deusa Ísis. Para os egípcios, essa estrela (que também é tida como a mais brilhante de todas a olho nu) era vista como um símbolo de renascimento, fertilidade e orientação divina, características atribuídas a Sothis no 16º Fire Emblem. 

E não é apenas isso

Para fechar o que eu disse na introdução, Raijinto e Fujin Yumi, as armas divinas de, respectivamente, Ryoma e Takumi em Fates, estão diretamente ligadas aos deuses japoneses Raijin e Fujin. 

Agora, falando sério, se eu fosse analisar todos os pormenores da relação entre Fire Emblem e as inspirações mitológicas, minha ideia viraria uma verdadeira aula de literatura — em outras palavras, o que quis mostrar aqui é como essa franquia que tanto amo não está presa apenas aos universos que criou.

Agora, conte-me: o que você achou dessas curiosidades? Já as conhecia? Sobre quais outras você quer discutir?

Arte original usada para a capa, por Kitano Ririo

Revisão: Cristiane Amarante
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
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Juliana Paiva Zapparoli
Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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