Ravenswatch é feito sob medida para quem adora uma experiência intensa e complexa. A Passtech Games, conhecida por Curse of the Dead Gods, traz aqui um roguelike que mistura o sombrio com o fantástico ao transformar heróis clássicos de fábulas e lendas em verdadeiros guerreiros contra pesadelos.
Desde que comecei a jogar, ficou claro que o objetivo não é contar uma história profunda, mas criar uma experiência que te prende pela jogabilidade viciante e pela sensação de progresso a cada nova partida. É um jogo que te obriga a pensar rápido, escolher bem e, acima de tudo, se adaptar. Se você gosta de Diablo e aprecia aquela pressão típica de um roguelike, vai se sentir em casa aqui.
Fábulas Distorcidas, a luta contra o pesadelo
A proposta narrativa de Ravenswatch é simples e funcional, mas carrega um charme único. O mundo de Reverie está sendo consumido por uma força sombria conhecida como Pesadelo, e cabe a heróis das fábulas e lendas enfrentar essa ameaça para restaurar o equilíbrio. Porém, aqui esses personagens não são os mesmos que conhecemos das histórias infantis: eles têm um tom mais brutal, carregando traços de corrupção que refletem o próprio estado do mundo.
Essa simplicidade funciona perfeitamente no contexto de um roguelike. A história não tenta ser maior do que precisa e se conecta bem à proposta de gameplay focada em ação e estratégia. O tom sombrio, misturado com o estilo visual inspirado em quadrinhos, dá um toque de personalidade ao jogo, deixando o universo de Ravenswatch intrigante e cativante sem precisar de longas explicações.
O grande destaque do enredo está na releitura criativa dos heróis. Scarlet, por exemplo, é uma versão licântropa da Chapeuzinho Vermelho. Cada personagem traz um pouco de sua história para o campo de batalha, revelada aos poucos conforme você joga. São 9 personagens presentes no jogo com possibilidade de novos personagens em atualizações futuras.
Combate e estratégia, a essência de um roguelike
A jogabilidade de Ravenswatch é, sem dúvida, o coração da experiência. O jogo segue à risca o que se espera de um roguelike: partidas desafiadoras, progresso constante e uma boa dose de imprevisibilidade. Cada campanha começa com a escolha de um dos heróis disponíveis, cada personagem tem um conjunto único de habilidades que exige domínio para ser plenamente explorado, garantindo uma experiência variada entre as partidas.
O ritmo do jogo é frenético e estratégico ao mesmo tempo. Você tem 18 minutos (3 dias e 3 noites in-game) para explorar o mapa, enfrentar hordas de inimigos e se fortalecer antes de enfrentar o chefão. Durante esse tempo, é essencial administrar bem as prioridades: completar atividades no mapa, acumular experiência para subir de nível, encontrar talentos que potencializem suas habilidades e reunir Fragmentos de Sonho – a moeda usada para adquirir melhorias e itens no Homem de Areia.
O design procedural dos mapas adiciona frescor a cada nova partida, mas também cobra dos jogadores uma boa capacidade de adaptação. Além disso, as escolhas de talentos e itens são aleatórias, o que força a criação de builds diferentes a cada partida. É uma dinâmica que lembra bastante jogos como Diablo, especialmente pelo foco em habilidades específicas e progressão de curto prazo, mas com uma diferença crucial: aqui, o erro é definitivo. Se você morrer, é o fim da partida.
No entanto, a experiência solo pode ser mais punitiva do que deveria. O foco no modo cooperativo é evidente, com sinergias entre heróis e mecânicas projetadas para um trabalho em equipe .Scarlet, por exemplo, tem um alto dano corpo a corpo e pode causar estragos com ataques rápidos, mas se beneficia enormemente de um suporte como a Rainha da Neve, que desacelera inimigos e mantém hordas sob controle, Sun Wukong, com sua mobilidade e clones, pode distrair chefes enquanto heróis de longo alcance, como o Flautista Mágico, causam dano seguro à distância.
O encanto visual contra as limitações técnicas
A direção de arte deste game é muito bem-feita, trazendo uma estética que mistura dark fantasy e traços de quadrinhos estilizados. Os personagens, inspirados em figuras de contos e lendas, recebem um design com tons mais sombrios e violentos, refletindo a corrupção que permeia o mundo de Reverie.
No Nintendo Switch, o jogo consegue manter seu charme visual, mas com algumas limitações. Elementos gráficos mais detalhados, como texturas e efeitos de luz, não têm a mesma qualidade encontrada em outras plataformas. Apesar disso, o estilo artístico forte e definido consegue compensar essas limitações técnicas, entregando um mundo imersivo e visualmente atraente para explorar.
Ainda a respeito da plataforma utilizada para esta análise, o desempenho gráfico sofre de alguns problemas, como perdas de quadros e texturas, mas isso não tirou nem um pouco o charme do jogo. Acredito que a direção de arte desse jogo foi genial nesse quesito e preservou uma ótima experiência que atendesse ao console.
Os tempos de carregamento são um pouco demorados, mas não atrapalham o fluxo das partidas de no mínimo 18 minutos até o primeiro boss e até uma hora com times completos. No entanto, há quedas de taxa de quadros ocasionais em momentos de grande movimentação, especialmente enfrentando múltiplos inimigos em áreas maiores.
Essas quedas, embora não sejam frequentes, podem prejudicar a precisão em combates que exigem reflexos rápidos – algo crucial em todo roguelike. Outro ponto que merece destaque é a falta de crossplay funcional até o momento que escrevo.
Para um jogo que claramente prioriza a experiência cooperativa, essa limitação restringe as possibilidades de encontrar parceiros de jogo, especialmente em uma plataforma como o Switch, onde a base de jogadores pode ser menor devido ao lançamento recente. Por outro lado, a estabilidade geral do jogo é sólida: não tive problemas grandes com travamentos ou bugs críticos durante a análise, o que me mostrou o cuidado da Passtech Games com a base técnica do jogo.
Controle Preciso, Informação Nem Tanto
A minha experiência como usuário em Ravenswatch foi um reflexo direto das escolhas de design, que buscam equilibrar simplicidade e complexidade para agradar tanto a jogadores casuais quanto a fãs mais experientes do gênero roguelike. No entanto, essa abordagem tem seus altos e baixos, especialmente quando olhamos para aspectos como interface, acessibilidade a informações e controles.
Um dos principais pontos de frustração para novos jogadores é a falta de informações claras e acessíveis. Estatísticas como ataque, defesa e escudo são representadas de forma superficial, com números que não dão uma noção real de progresso e comparação. Isso pode tornar a evolução do personagem menos satisfatória, principalmente para quem ainda está aprendendo as nuances do jogo.
Além disso, a ausência de um tutorial detalhado ou explicações claras sobre itens, talentos e estruturas do mapa pode tornar as primeiras horas confusas. Essa barreira inicial só é superada com tentativa e erro, o que pode afastar os menos pacientes. Durante minha experiência, precisei recorrer ao Discord da comunidade para entender algumas mecânicas e obter dicas que o jogo não fornece diretamente (se você arrisca no inglês eu recomendo que você faça o mesmo, o pessoal é muito gente boa!).
Com relação aos controles, estes são simples e responsivos, funcionando bem tanto nos Joy-Con quanto no Pro Controller do Nintendo Switch. Cada personagem possui habilidades únicas, e alternar entre ataques básicos e habilidades especiais é intuitivo, contribuindo para um combate fluido e bonito de ver. A performance nos controles, mesmo em momentos de combate frenético, é consistente e raramente tive problemas relacionados a delays ou falta de precisão.
Além disso, eu acredito que o jogo não tem um modo fácil. Mesmo na menor seleção de dificuldade a curva de aprendizado do jogo é alta, e o foco no modo cooperativo online se reflete diretamente na dificuldade das partidas solo.
Jogar sozinho é possível, definitivamente, mas a experiência foi punitiva e frustrante no começo, já que o jogo foi projetado para sinergias entre heróis e colaboração em grupo.
Entre acertos e deslizes, um roguelike que vale a pena explorar
Ravenswatch combina ação frenética, heróis marcantes e um mundo sombrio envolvente. Apesar da dificuldade punitiva no solo e da falta de informações claras, sua jogabilidade estratégica e o multiplayer cooperativo garantem uma experiência viciante para nós, fãs do gênero.
Prós
- São nove heróis inspirados em lendas e fábulas que oferecem uma diversidade de estilos de jogo que mantêm a experiência fresca a cada nova campanha.
- A mistura de combate frenético e estratégia em tempo real faz com que cada minuto conta, principalmente com o limite de 18 minutos por partida, trazendo uma sensação de progressão e vontade de jogar de novo;
- O estilo artístico inspirado em quadrinhos sombrios e o design dos mapas garantem uma ambientação imersiva e diferenciada;
- A possibilidade de jogar com até quatro amigos online amplia as possibilidades estratégicas, criando momentos de cooperação intensa e divertida
Contras
- A ausência de um tutorial adequado e a falta de clareza nas informações de status dos personagens podem tornar a experiência inicial confusa e frustrante.
- No Nintendo Switch, o jogo apresenta algumas quedas de desempenho e texturas menos detalhadas.
Ravenswatch — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Nacon