Urban Myth Dissociation Center, originalmente planejado para sair em 2024, é um jogo de mistério que combina diferentes estilos de jogabilidade para contar uma história que tem como tema central a dissolução de lendas urbanas e acontecimentos paranormais originários do imaginário das pessoas. Será que o oculto é mesmo tão oculto assim?
Há males que vêm para o bem (será mesmo?)
Em Urban Myth Dissociation Center, assumimos o papel de Azami Fukurai, uma estudante universitária com habilidades de psicometria, o que lhe permite ver sombras de pessoas — às quais, em um primeiro momento, a garota se referiu como fantasmas. Certo dia, ela vê um panfleto sobre o Centro de Dissolução de Mitos Urbanos e, crente de que ela conseguirá se livrar de seu poder indesejado, vai até o local.
Lá, ela conhece o excêntrico diretor do Centro, o clarividente Ayumu Meguriya, que insiste para que a garota use seus poderes psicométricos para ajudá-lo a resolver os problemas solicitados pelas pessoas, muitas vezes relacionados a lendas urbanas. Conversa vai, conversa vem e Azami, que não está nada animada com a proposta — acima de tudo, ela não é fã de histórias de fantasmas ou do oculto —, acaba quebrando uma cadeira valiosa.
Desse modo, para pagar a dívida, nossa protagonista é coagida a trabalhar como investigadora do Centro e até ganha de Ayumu um par de óculos especiais, que potencializa a psicometria da garota. Agora como investigadora do centro, Azami não apenas precisa desvendar os segredos por trás de lendas urbanas, como também se vê enredada em um mistério muito maior do que poderia imaginar.
A cada caso solucionado, novas perguntas emergem: até que ponto as lendas são apenas fruto da imaginação popular? O que realmente está por trás da inexplicável conexão entre esses mitos e o próprio Centro de Dissolução de Mitos Urbanos?
Praticamente três-em-um
A jogabilidade adota um formato de investigação que mistura a coleta de evidências com uma abordagem moderna de interação digital — isto é, redes sociais e postagens online tornam-se ferramentas tão essenciais quanto a dedução lógica. Desse modo, temos basicamente três gêneros em um único jogo: aventura textual, point-and-click e quebra-cabeças (no sentido de dedução).
Explicando brevemente, a investigação obedece a três etapas: deslocamento até os locais, tempo em que Azami confere as postagens online para coletar mais pistas; interação com pessoas e objetos para entender o que está acontecendo; e dedução, quando a protagonista reúne todas as informações obtidas até então para poder prosseguir na trama.
A história de cada capítulo, cada qual com um caso diferente, também segue uma ordem específica: coleta inicial, identificação da lenda urbana ou evento sobrenatural e dissolução. Esta última fase, como o próprio nome sugere, coloca um ponto final no caso e, desse modo, encerra o capítulo atual.
Obviamente, nenhum caso é solucionado da noite para o dia, então uma investigação pode durar dois ou três dias (in-game, claro), dependendo da complexidade do caso. Como o ciclo investigativo não muda, logo a jogabilidade se torna um pouco repetitiva — mas isso é algo compensado pela excelente narrativa do jogo e pelas reações dos personagens diante dos acontecimentos.
Outro ponto negativo que quero destacar a respeito da jogabilidade é que não existe nenhum tipo de penalidade caso cometamos erros durante as deduções, fazendo com que elas sejam reduzidas à mera tentativa e erro. Por um lado, essa falta de dificuldade é convidativa para pessoas que não estão acostumadas com o gênero, permitindo que elas aproveitem a história sem frustrações; por outro, existe uma quebra de imersão, no sentido de urgência, que o próprio jogo tenta construir.
Para concluir este tópico, lembra que mencionei os óculos que potencializam os poderes psicométricos de Azami? Pois bem, eles também são importantes na busca por palavras-chave nas postagens online, o que quebra um pouco do marasmo de só “rolar a tela” para ler os comentários.
Um audiovisual comumente explorado, mas muito bem-feito
Urban Myth Dissociation Center aposta em uma pixel art de qualidade tanto para as investigações quanto para as cutscenes e os sprites dos personagens, com cores cuidadosamente escolhidas para reforçar a atmosfera densa que o jogo cria. Aliado a esse fator, está uma trilha sonora que contribui para a ambientação, com direito a melodias que nos fazem sentir a tensão dos perrengues pelos quais Azami precisa passar.
Também é digna de elogio a localização para o português brasileiro, que conta com expressões contemporâneas e amplamente utilizadas no cotidiano, tornando o jogo bastante atual. Esse cuidado é visto, sobretudo, nas postagens online — e não estou falando apenas de gírias: há abreviações, “internetês” e até risadas “kkkkk” no meio dos textos.
Claro, existem alguns deslizes aqui e ali, como conjugações erradas de verbos e falta de acento em algumas palavras, mas não é nada que prejudique o entendimento da história como um todo. Os menus também estão localizados para o nosso idioma, e a cereja do bolo é a existência de um fluxograma que explica a relação de cada pessoa com o caso explorado no capítulo; caso isso não baste, há ainda um “glossário de lendas urbanas”, no qual são compiladas (de modo bem-humorado) todas essas histórias sobrenaturais, e um log para rever diálogos já vistos.
O jogo traz um sistema de salvamento automático, mas, no Switch, esses momentos sempre estavam acompanhados de “engasgos” pontuais. Ao menos, a vantagem de jogar no console híbrido é que existe a possibilidade de usar a tela de toque.
Um confronto entre oculto e real
Reforçando a sensação de que, muitas vezes, os mitos urbanos nascem e se perpetuam através do compartilhamento de informações, Urban Myth Dissociation Center não se contenta em apenas oferecer um conjunto de casos intrigantes; ele vai além e os utiliza como peças de um quebra-cabeça maior, em que as próprias bases da realidade são questionadas.
Prós
- Ótima narrativa que confronta lendas urbanas e ocultismo com evidências reais, sem abrir mão do mistério que compõe a base do jogo;
- Excelente apresentação audiovisual, sobretudo as artes animadas em pixel art;
- Ótima localização para o português brasileiro, com destaque para gírias e expressões atuais;
- Jogabilidade interessante que mescla ideias de point-and-click, busca por pistas em redes sociais e junção de evidências;
- Presença de log para reler as conversas, bem como de fluxograma para explicar a relação de cada pessoa envolvida com o caso e também um compêndio no qual as lendas urbanas são explicadas;
- Compatível com a tela de toque do Switch;
- O uso dos óculos especiais de Azami traz novas perspectivas à investigação, especialmente durante a busca de pistas nas redes sociais.
Contras
- Alguns deslizes de digitação e conjugação verbal no português, mas nada altamente prejudicial;
- Eventuais “engasgos” durante transição de cenas, devido ao salvamento automático;
- A jogabilidade pode se tornar um pouco repetitiva com o tempo;
- Não existe nenhum tipo de punição para os erros, fazendo com que algumas soluções sejam obtidas por meio de tentativa e erro e quebrando o senso de urgência que o jogo tenta construir.
Urban Myth Dissolution Center — PC/PS5/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida por Shueisha Games