Em 1993, a Enix lançou para o Super Nintendo um curioso RPG denominado Elnard, que, no mesmo ano, chegou ao Ocidente com o nome de The 7th Saga. Além de apresentar mecânicas inovadoras para a época, o jogo se destacou, especialmente em sua versão ocidental, por sua dificuldade elevada.
Sete runas, sete indivíduos
A história de The 7th Saga se passa no planeta Ticondera, que é governado por Lemele, filho de um herói lendário que derrotou um poderoso demônio no passado. Em busca de um sucessor, o monarca reúne sete indivíduos de diferentes partes do mundo e os treina por cinco anos.
Após o período de preparação, os aprendizes são enviados em uma jornada para encontrar sete runas mágicas, que não apenas podem conceder grande poder a quem as possuir, mas também definirão o próximo governante do mundo.
Nesse cenário, o jogador deve escolher um dos sete personagens para embarcar na jornada em busca das runas, sendo que cada um deles possui diferentes pontos fortes e fracos, além de uma motivação própria para aceitar o desafio. As opções são:
- Wilme: um alienígena com grande força física, mas baixíssima proficiência mágica. Seu objetivo é obter ainda mais poder;
- Lux: um tetsujin (uma espécie de robô) extremamente resistente, porém bastante lento. Sua busca consiste em descobrir quem criou sua espécie;
- Olvan: um anão com bons atributos físicos e proficiência mágica mediana. Seu desejo é recuperar a juventude;
- Kamil: um humano equilibrado em todos os atributos e que acredita ser o mais qualificado para cumprir a missão do rei;
- Lejes: um demônio perito em magia negra. Seu objetivo é se tornar mais forte que Lemele;
- Valsu: um humano especializado em magia branca e que deseja expulsar todas as forças malignas de Ticondera;
- Esuna: uma elfa capaz de usar magias brancas e negras. Trata-se de uma das personagens mais enigmáticas, pois apenas afirma ser capaz de cuidar de si mesma.
Embora as linhas de diálogos sejam bastante curtas, a história de The 7th Saga é agradável e conta com algumas reviravoltas bem-construídas, incluindo a utilização de interessantes artifícios temporais.
Cada personagem em sua própria jornada
The 7th Saga apresenta uma estrutura de gameplay semelhante à de outros RPGs clássicos, trazendo um mundo vasto repleto de cidades e masmorras. No entanto, o jogo possui algumas particularidades que o tornam bastante singular, especialmente considerando o período em que foi lançado.
Um dos aspectos mais curiosos do jogo é o sistema de encontros com inimigos. Aqui, em vez dos tradicionais combates aleatórios, o título apresenta uma espécie de bússola no canto da tela, no qual pequenos pontos brancos representam os monstros. Quando esses pontos se aproximam do centro, que indica a posição do jogador, uma batalha é iniciada.
Infelizmente, embora essa mecânica seja muito interessante, na prática, ela apresenta algumas limitações, pois os inimigos se movem de forma extremamente rápida e certas masmorras possuem corredores estreitos, tornando a evasão quase impossível em diversas situações.
Outro elemento interessante é o fato de que os demais personagens selecionáveis também estão em suas próprias jornadas em busca das runas e podem ser encontrados ao longo da aventura. Ao interagir com eles, alguns podem se oferecer para se juntar a nós. Vale destacar que só é possível ter um aliado por vez e que existe a opção de trocá-lo ao longo da campanha.
O curioso é que nem sempre essas interações são amigáveis, pois os indivíduos também podem se mostrar hostis e nos desafiar para um combate. Caso o jogador seja derrotado, eles podem roubar as runas já coletadas, forçando-o a encontrá-los novamente em alguma cidade para desafiá-los e recuperar o que foi perdido.
Por fim, o jogo ainda surpreende ao oferecer certa flexibilidade em determinados eventos da campanha. Dependendo do herói escolhido e do caminho percorrido, alguns momentos da história e certos acontecimentos em cidades específicas podem se desenrolar de maneira diferente.
Graças a essas variações e às particularidades de cada personagem, The 7th Saga acaba possuindo um fator replay bastante atrativo. Aqui, as estratégias adotadas e a jornada em busca das runas variam significativamente de acordo com o indivíduo selecionado e o caminho percorrido, tornando cada nova partida uma experiência diferente.
Um RPG muito difícil
O sistema de combate de The 7th Saga é bastante tradicional para o gênero, oferecendo um menu com ataque padrão, magias, itens, defesa e fuga. A principal particularidade é a efetividade prática das runas, que podem ser ativadas nos combates e concedem vantagens interessantes, como aumento de defesa ou recuperação de vida.
Como mencionado, cada personagem tem atributos e habilidades diferentes, tornando estratégico recrutar um parceiro que compense as fraquezas do protagonista. Para exemplificar, combinar um guerreiro ofensivo com um mago de suporte tende a ser altamente eficaz.
Além da tradução para o inglês, The 7th Saga trouxe algumas alterações nos sprites e colorações originais de alguns monstros. Embora essas diferenças não sejam tão impactantes, também houve uma alteração significativa na evolução dos personagens, o que influencia diretamente na dificuldade geral do jogo.
Assim como em muitos RPGs, em Elnard, os heróis ganham pontos de atributos sempre que sobem de nível. O problema é que, em The 7th Saga, os números dessa evolução foram consideravelmente limitados. Embora esse detalhe não faça tanta diferença no início, nos níveis mais avançados, a mudança se torna brutal, deixando os nossos personagens muito mais fracos do que deveriam ser.
Para piorar a situação, os indivíduos que não controlamos mantêm o crescimento com base na versão japonesa do game. Vale ressaltar que, mesmo que o jogador evite interagir com esses sujeitos, haverá pelo menos dois momentos de combate direto impostos pela campanha, resultando em confrontos extremamente complicados.
É importante destacar que esse aumento de dificuldade não se reflete apenas nos embates contra os seis personagens selecionáveis, mas também contra outros chefes e até mesmo contra monstros comuns que encontramos pelo cenário, pois muitas criaturas tiveram seus atributos aumentados. Neste jogo, durante toda a campanha, é muito comum que os oponentes consigam nos destruir com apenas dois ataques.
Por conta disso, The 7th Saga acaba incentivando a prática de grinding ao longo de toda a sua duração. Aqui, a menos que o jogador tenha sempre os melhores equipamentos disponíveis, que não são baratos, e se esforce para se manter em níveis altos, ele provavelmente não vai conseguir vencer as adversidades mais simples.
A despeito dessa dificuldade elevada e, por vezes, injusta, The 7th Saga oferece uma enorme satisfação a cada desafio superado. Neste jogo, a maioria dos confrontos exige a nossa atenção total e um domínio preciso dos sistemas disponíveis. Além disso, cada runa adquirida abre novas possibilidades estratégicas, preparando-nos para os próximos obstáculos.
Desafiador e interessante
The 7th Saga é um jogo que exige paciência e, acima de tudo, dedicação do jogador. No entanto, graças às suas mecânicas intrigantes e à história interessante, trata-se um RPG que merece ser explorado, relembrado ou conhecido.
Revisão: Davi Sousa
Referências sobre as diferenças entre as versões: StrategyWiki e The Cutting Room Floor