Análise: Undivine - um metroidvania brasileiro simples até demais

Um metroidvania simples, com uma exploração marcante, mas repleto de falhas e pequenos problemas.

em 23/05/2025
Normalmente, analisar um jogo se torna mais fácil quando a experiência está em um dos extremos: o jogo é muito bom ou muito ruim. No fim das contas, é mais prazeroso escrever sobre algo cheio de acertos, ou então ter clareza sobre as diversas falhas que ele apresenta. Por isso, as experiências genéricas e medianas são as mais difíceis de analisar — justamente porque, muitas vezes, não há o que desenvolver sobre elas.


Undivine, um metroidvania feito por um desenvolvedor brasileiro, facilmente se encaixa nesse tipo de experiência. Ao mesmo tempo em que muitos de seus elementos são interessantes e funcionam bem, outros acabam prejudicando consideravelmente a jornada, te fazendo questionar se realmente vale a pena jogá-lo do começo ao fim — e já adianto: não é uma experiência para qualquer um.

Uma jornada misteriosa pelo Reino

Tanto pelo lado positivo quanto negativo, Undivine possui uma história simples e não intrusiva. Controlamos um herói sem nome, e, no melhor estilo dos jogos retrô, o game incentiva muito mais a criatividade do jogador para interpretar os elementos do mundo e montar a narrativa do que oferecer um enredo complexo ou uma lore extensa. Isso pode ser percebido pelos diálogos e personagens apresentados ao longo do jogo, que sequer recebem nomes, e são descritos apenas pelas suas características físicas. 

Undivine é apresentado como um reino assolado, com um abismo misterioso construído como um quebra-cabeças — confuso de se navegar, porém interessante de explorar. No entanto, assim como a narrativa, o mundo em si não dá muitas explicações sobre por que as coisas são como são. Tudo parece existir simplesmente por existir. No geral, Undivine acaba soando como mais um cenário genérico de fantasia medieval e mágica, daqueles que qualquer pessoa consegue imaginar.

Por outro lado, dependendo do ponto de vista, isso pode ser um ponto positivo. A história simples, somada ao design do mapa, torna uma ótima distração para se jogar a qualquer momento e em qualquer lugar. Graças à portabilidade do Switch, foi fácil acumular várias horas de jogo em momentos de tédio ou quando eu não tinha nada para fazer.

A satisfatória exploração do subterrâneo

Se eu tivesse que escolher o ponto mais positivo, com certeza seria sua exploração orgânica e o design do mapa como um todo.

Perdido e sem uma direção certa, o game já te apresenta, logo de cara, vários lugares inacessíveis por conta da falta de habilidades necessárias para atravessar essas áreas — o que desperta o lado curioso e explorador de qualquer jogador. Diversas habilidades podem ser desbloqueadas ao longo da partida e, na maioria das vezes, assim que eu conseguia uma nova habilidade, já sabia exatamente onde poderia utilizá-la.

E como todo bom metroidvania, paredes secretas e cantinhos escondidos guardam melhorias nos atributos do personagem ou itens poderosos, incentivando o jogador a parar e analisar o ambiente ao redor em busca dessas passagens ocultas. Somado a isso, as habilidades e a progressão do jogo se tornam cada vez mais perceptíveis com o tempo, reduzindo drasticamente a quantidade de mortes e incentivando o jogador a explorar ao máximo e liberar todo o mapa do game.

Um copo meio cheio, mas também meio vazio

Infelizmente, os pontos positivos acabam aí. Mesmo com salas de formatos variados e diferentes entre si, todas as salas dentro de uma mesma área são praticamente idênticas — com as mesmas cores, texturas e até alguns elementos repetidos. Isso, somado a um mapa simplificado e pouco informativo, faz com que o jogador se perca facilmente e, em certos momentos, não saiba para onde ir. Além disso, em algumas áreas do jogo, cheguei a ficar completamente preso, sem conseguir avançar, sendo forçado a recorrer a bugs de colisão com projéteis ou esgotar toda a minha vida para retornar ao último ponto de salvamento.

Por ser um jogo naturalmente repetitivo, em que você explora várias áreas por horas a fio, a música tem um papel importante. Apesar de inicialmente épicas e com uma intensidade crescente, as trilhas não combinam muito com o ritmo da gameplay e não soam como loops condizentes com a ação na tela. Em muitos momentos, isso fez com que eu preferisse jogar no mudo com algum outro som tocando ao fundo do que escutando as músicas repetitivas.

E o pior de tudo: o combate de Undivine é simples e raso, com pouquíssimas mecânicas que realmente agregam à jogabilidade. Você conta apenas com um ataque padrão, tanto corpo a corpo quanto à distância, além de habilidades especiais que consomem a Mácula — uma espécie de energia mágica desse reino. Somado ao movimento e comportamento de ataque praticamente idênticos entre a maioria dos inimigos, o combate acaba se resumindo a andar de um lado para o outro, evitando ser encostado.

Definitivamente, um dos metroidvanias mais genéricos já feitos

Jogar Undivine não foi uma experiência horrível — longe disso. O jogo tem diversos pontos positivos e, por ser um metroidvania, acerta em cheio em um dos aspectos mais importantes do gênero: a exploração. No entanto, com uma jogabilidade repetitiva, combate raso, trilha sonora pouco marcante e escassa variação visual, vejo como uma experiência que talvez agrade fãs do gênero que não possuem nenhum outro game para jogar nos momentos de tédio.

Prós

  • História simples e não intrusiva, que dá mais espaço para a criatividade no maior estilo de jogos retrô;
  • Mapa que incentiva a exploração, com um level-design que instiga o jogador a se aventurar em cada canto em busca de segredos;
  • Um bom jogo casual para passar o tempo.

Contras

  • Mesmo com salas em formatos variados, os aspectos visuais são repetitivos e tornam a navegação confusa e insatisfatória em alguns momentos;
  • Combate exageradamente simplificado e raso, sem nenhuma complexidade mecânica e jogabilidade repetitiva;
  • Músicas cíclicas que não condizem com o ritmo do jogo e, pela natureza do game, torna a experiência irritante com o tempo.
Undivine — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia cedida pela Brainium Games
Siga o Blast nas Redes Sociais
Samuel Expeditto
é um jovem que gosta de catalogar e documentar as histórias dos jogos. Sua planilha de jogos zerados cresce semanalmente, e você pode acompanhar seus vídeos e análises no YouTube e Instagram.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 4.0).