O N64 e o (meu) choque com a transição do 2d para o 3d

O fim dos anos 90 na foram essenciais na minha jornada gamer e o choque causado pela transição do SNES para o N64 abriu muitas portas na minha mente.

em 09/05/2025

Quando o Nintendo 64 surgiu no meu horizonte, no final dos anos 90, tudo o que eu entendia sobre videogames passou por uma torção. A transição brusca dos gráficos de 16 para 64 bits mudou completamente minha visão sobre os mundos que os jogos poderiam criar. Esta é a história da minha experiência com essa mudança de geração.

Quando os 16 bits reinavam


Minha primeira experiência com videogames, ainda bem pequeno, foi com um NES (ou um de seus famosos famiclones). O primeiro jogo da minha vida foi o clássico absoluto Super Mario Bros., que deu início à minha trajetória — e à minha preferência pelo gênero de plataforma, que mais tarde seria coroada com os grandes títulos do Super Nintendo. Verdade seja dita: eu era péssimo em Super Mario Bros., mas algo naquele jogo sempre me fazia voltar.

Por obra do acaso, aquele console parou de funcionar em pouco tempo. Mas, assim como o prematuro fim do Wii U nos trouxe o Switch, a perda do NES foi compensada por seu sucessor — e meu console favorito: o Super Nintendo. E, claro, ele chegou acompanhado de Super Mario World. Mais tarde ganhamos também o impecável cartucho preto de Killer Instinct, completo, na caixa, com o CD da trilha sonora Killer Cuts — infelizmente, todos hoje perdidos no tempo.

Super Mario World, Yoshi’s Island (meu plataforma 2D favorito), Super Mario All-Stars, Mega Man X, Super Metroid e, claro, Donkey Kong Country 2, entre outros, consolidaram meu amor pelo gênero de plataforma 2D, que carrego até hoje. Outro gênero que me fisgou de vez — e cuja paixão começou no SNES — foram os RPGs. Aventuras como Breath of Fire, Fire Emblem, Super Mario RPG e A Link to the Past — e não, Final Fantasy não fez parte da minha formação — pavimentaram meus primeiros passos nesse gênero que até hoje me acompanha quase diariamente.

Estava completamente imerso e satisfeito com o universo dos jogos 2D. Mesmo tendo vislumbrado o futuro com o impressionante Star Fox e seu chip Super FX, nada me prepararia para o impacto do Nintendo 64.

A chegada do Nintendo 64 e as locadoras


O Nintendo 64 “sabor uva” — aquele modelo roxo translúcido — chegou até mim como presente em alguma data especial da qual não me lembro bem. Mas da experiência de abrir a caixa, ah, disso eu nunca esqueci: o formato futurista do console, o controle que mais parecia um tridente de nave espacial, sua cor, sua transparência e, claro, o cartucho de Super Mario 64 brilhando pela primeira vez. Inesquecível.

Mais inesquecível ainda foi ver, logo na abertura do jogo, a face 3D animada de Mario — um momento mágico. Foram dias de total fascínio por aquela nova aventura em um ambiente completamente tridimensional. Cada estrela conquistada, cada chefe derrotado e, enfim, os confrontos com Bowser foram experiências marcantes — ainda que, à época, eu achasse o jogo relativamente difícil, principalmente por causa da câmera.

Mas Super Mario 64 está longe de ter sido o jogo que mais me surpreendeu e divertiu no console. E se pude conhecer tantos outros títulos — e perceber quais realmente queria ter — foi graças às locadoras de jogos. Os cartuchos do N64 não eram baratos na época (e ainda não são), e foi nas locadoras que descobri verdadeiras joias como Star Fox 64, Ocarina of Time, a velocidade alucinante de F-Zero X, e meus vícios: Super Smash Bros. e Pokémon Stadium.

Os mesmos mundos em nova perspectiva


Muitos mundos foram transformados entre suas versões do SNES e do N64, mas nenhum deles me impactou tanto quanto Hyrule. Já era bastante familiar com A Link to the Past, graças às constantes locações. Leituras de revistas e traduções com dicionário ajudavam a montar um panorama da história, que eu completava com a imaginação. E então chegou o grande momento: Ocarina of Time finalmente pousou no meu console uva.

Jogar Ocarina of Time naqueles primeiros dias era como mergulhar de fato em Hyrule. A sensação era a de ter saltado direto para dentro de A Link to the Past, como eu o imaginava no mundo real: com árvores, florestas místicas e caminhos soturnos. Aquela era a minha Hyrule — a imaginação transformada em realidade. Não era incomum alternar entre os dois jogos só para observar como certos elementos, itens e ambientações conversavam entre si. A sensação de continuidade sempre me acompanhou.

Contudo, Zelda e Mario não foram as únicas franquias que ganharam nova vida no N64. Vi os “carrinhos” de F-Zero se tornarem, de fato, naves em uma corrida quase incontrolável de tão rápida e difícil. Vi os Pokémon ganharem modelos 3D, tão vivos quanto os do anime. E, curiosamente, ver Samus e Luigi em Super Smash Bros. me fez acreditar durante anos na existência de um Metroid 64 escondido em algum lugar — assim como o Luigi em Super Mario 64.

O choque


Apesar de todo o encanto que o Nintendo 64 trouxe, ele também representou um choque. Eu vinha de um mundo completamente 2D, com efeitos de profundidade graças a chips especiais. Com exceção de Star Fox no SNES — que, para mim, era o auge do realismo na época —, eu não tinha muita familiaridade com jogos 3D.

O fato de o N64 praticamente não ter jogos em 2D me parecia estranho — embora eu nem estivesse procurando por isso ativamente. Mesmo encantado com os novos visuais e com jogabilidades mais complexas e envolventes, os primeiros contatos causaram estranhamento. Os visuais pixelados e desenhados à mão deram lugar a figuras poligonais que nem sempre me agradavam, mas que acabavam me conquistando pela jogabilidade.

A mudança nos controles também exigiu adaptação. Trocar os saltos precisos dos jogos 2D por manobras de câmera e movimentação livre em 3D não foi imediato. O próprio controle do N64 era confuso à primeira vista. Por sorte (ou não), muitos jogos que usavam o analógico praticamente dispensavam o D-pad — e vice-versa.

O analógico, em especial, foi um obstáculo. Eu sempre tentava usar o D-pad para controlar os personagens, sem sucesso. Em compensação, o botão Z, posicionado como um gatilho, me parece até hoje uma das melhores ideias daquele controle.

O fim de uma era


Compartilhar tardes com o SNES e o N64 me proporcionou inúmeras experiências e aprendizados. Eventualmente, por mau uso, o Super Nintendo parou de funcionar — e o N64 se tornou meu único console, aprofundando ainda mais meu mergulho no universo dos 64 bits.

Enquanto amigos e vizinhos mergulhavam nos 32 bits do PlayStation, com jogos de futebol e Medal of Honor, eu me dedicava intensamente aos títulos do N64 — inclusive, há alguns um pouco obscuros conhecidos entre meu círculo, como Hybrid Heaven, Forsaken 64, Turok e tantos outros. Com o tempo, o Nintendo 64 acabou se tornando, muito provavelmente, o console que mais joguei em toda a vida.

Revisão: Andressa Abreu
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Fernando Lorde
Fernando Paixão Rosa, normalmente referenciado por Lorde, está escrevendo pela internet afora há mais de dez anos e com alguns livros publicados. Escutando música 24h/dia, fã de cultura pop em suas muitas manifestações e mais fã ainda das IP's da Nintendo. Registrando as aventuras nos games no Instagram (@lordeverse) e Twitch (@lordeverso).
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