Caos em família
A trama começa com o jogador tomando controle de Pippit, um coelho azul que se autoproclama como mestre do ioiô, enquanto retorna em um táxi para sua cidade de infância, Nova Voltânia. Brevemente antes, é esclarecido que o município enfrenta um grave problema energético devido à empresa responsável por gerir a energia local adotar práticas lamentáveis, como a detenção de monopólio e cobrança elevada do consumo dos habitantes.
A empresa é chamada de Indústrias Pipistrello e é controlada pela tia de Pippit, também conhecida como Madame Pipistrello ou Pepper. Logo após o coelho se reunir com ela em sua mansão, quatro empresários aparecem e atacam a senhora com o auxílio de quatro dispositivos estranhos.
Pippit tenta impedir o ataque com seu ioiô, mas aparentemente sem sucesso, já que sua tia simplesmente desaparece com o ataque. Em seguida, o protagonista é empurrado por um dos empresários para um buraco que surgiu no cômodo após a explosão, com a intenção de eliminar todas as provas do crime.
Ao cair e sobreviver nos subterrâneos da mansão, Pippit então descobre que a Madame Pipistrello, graças à sua tentativa de salvá-la, abduziu parcialmente seu ioiô com sua alma e se transformou numa criatura “ioiô morcego”. Então, o protagonista e sua tia aprisionada no objeto terão que embarcar em uma jornada com o objetivo de resgatar os quatro dispositivos, também conhecidos como Mega Baterias, que podem prover energia infinita ao custo da alma de uma pessoa, a fim de tentar salvar o corpo da senhora.
Vai e volta do ioiô
É pelas ruas de Nova Voltânia que as aventuras de Pipistrello se desenvolvem, uma cidade com visuais simpáticos e uma alta semelhança à São Paulo. A premissa é simples e envolve procurar pela cidade por quatro “dungeons” controladas pelos empresários, a fim de resgatar as baterias.
O jogo é composto por uma série de quebra-cabeças e cenas de combate que bebem da gameplay dos jogos Zelda com vista top-down, ou seja, que envolvem salas pequenas com chaves, fechaduras e inimigos que precisam ser derrotados com o uso da arma principal. A diferença fica por conta que Pippit usa seu ioiô como ferramenta para superar estes desafios, de muitas maneiras diferentes e criativas.
No combate, há desde movimentos simples, como lançar seu ioiô como um chicote, a golpes especiais, como lançar seu ioiô de uma longa distância ou utilizá-lo como um golpe circular que enfraquece inimigos. As opções aumentam conforme a história progride e novos movimentos são liberados, embora haja o limite de até dois ataques especiais equipáveis por vez, o que demanda experimentação do jogador e uma análise do que melhor cabe em cada situação.
O ioiô é também fundamental para a movimentação de Pippit, até porque muitos puzzles envolvem atravessar locais que demandam de alguma habilidade do objeto. Uma das minhas habilidades favoritas é a que adapta o truque clássico “Walk the Dog” de ioiô na vida real e que funciona tanto como uma maneira de se movimentar mais rápido no cenário, como também uma forma de atravessar áreas aquáticas. Outro destaque é o movimento de se agarrar com ioiô pelas paredes e pular de uma parede a outra, quase como um “wall jump”.
A exploração de todo o arsenal com este brinquedo é essencial em Pipistrello, afinal vários quebra-cabeças, principalmente ao fim do jogo, requerem que o jogador combine duas, três e até quatro habilidades de movimentação por vez para conseguir atravessar uma “dungeon”. O combate, a outra metade principal da jogabilidade, também requer uma estratégia quanto a golpes equipáveis e melhorias, afinal vários inimigos podem demorar a morrer e há frequentemente salas em que muitos deles devem ser derrotados de uma vez como parte do desafio.
Esse, inclusive, é um detalhe que poderia ter sido melhor balanceado em Pipistrello. Por vezes, é aparente que a maior parte da dificuldade vem de colocar muitos adversários simultâneos contra o jogador, o que não é necessariamente a forma mais criativa de se explorar um desafio. Há também a presença de dano de queda, elemento que pode se revelar frustrante nos desafios finais em que longas seções de abismo são colocadas e o jogador precisa combinar muitos movimentos de uma vez para atravessar, o que normalmente envolve várias tentativas e erros até chegar na solução mais ideal.
Equipamentos e acessibilidade
Por sorte, o título possui várias formas de contornar isso, como a ajuda de bótons equipáveis e melhorias. Os bótons funcionam como auxílios diversos, mas devem ser equipados e possuem um custo de espaço para serem habilitados. É possível aumentar tanto a quantidade de espaços totais que Pippit carrega, quanto até os efeitos dos próprios bótons, que envolvem ajudas como mostrar o HP de inimigos ou aumentar a duração da vulnerabilidade após um dano tomado.
Já as melhorias não possuem um custo de equipamento, porém precisam ser desbloqueadas por meio de empréstimo. Basicamente, você precisa firmar um contrato com a Prima Pepita, também funcionária das Indústrias Pipistrello, em que ela ativa de imediato a melhoria, mas aplica um efeito negativo até que seu pagamento seja concluído.
O pagamento se dá de forma contínua em que metade de todo o dinheiro resgatado por Pippit irá para o empréstimo, até que a conta seja paga. É uma forma criativa de reverter o que comumente é aplicado em jogos, em que você paga a habilidade na totalidade para então desbloqueá-la. As melhorias variam de aumentar um espaço de vida a aumentar o poder de golpes carregados, enquanto que seus efeitos negativos antes do término do empréstimo incluem diminuir sua vida total, diminuir seu poder de ataque e outros.
Caso ainda haja dificuldade por parte do jogador, há também opções de acessibilidade embutidas nas configurações, em que podemos ajustar a quantidade de vida, dano causado, desativar dano de queda e outros. Pipistrello continua com esta customização até mesmo quanto aos seus visuais, já que há opções de ajuste de pixels e até mesmo um efeito 3D para a jogatina.
Charme na apresentação
Tais ajustes funcionam como forma de adequar os visuais para diferentes telas, afinal eles são certamente um dos pontos fortes do título. A premissa de replicar os visuais do GBA é bem aplicada, com cores muito vibrantes e animações divertidas para personagens e elementos do cenário. A performance estável ajuda a manter os gráficos limpos e a jogabilidade fluida, embora seja importante notar que houveram alguns momentos de queda brusca da taxa de quadros durante minha jogatina, ambos em seções específicas do subterrâneo.
A trilha sonora também é um destaque, com vários efeitos sonoros remanescentes de outros títulos do console, e conta com a participação da lendária Yoko Shimomura, compositora responsável pela trilha de clássicos como a série Mario & Luigi e Kingdom Hearts. Há até algumas composições com elementos brasileiros, como o bairro dos Galinheiros que utiliza batidas de funk no estilo do GBA.
Claro que, considerando que Pipistrello é um jogo brasileiro, os desenvolvedores vão a fundo com a influência tupiniquim. Há muitos trocadilhos e referências nos diálogos, todas aplicadas de uma maneira engraçada que me mantinha um sorriso largo no rosto.
Até mesmo críticas à sociedade atual entram de uma forma descontraída, como, por exemplo, um dos empresários vilanescos se aproveitar do vício em apostas de esporte para se enriquecer, ou outro que aplica suas vilanias a partir de uma grande rede de fast food. A tia de Pippit e sua companheira de jornada é, inclusive, moralmente dúbia, graças às práticas de sua empresa e suas preocupações quanto ao dinheiro, e isso torna as várias interações entre ela e o protagonista ainda mais hilárias.
Carisma de sobra
Pipistrello and the Cursed Yoyo é uma aventura divertida e bem-humorada, que é obrigatória aos fãs do estilo mais clássico de Zelda e de títulos do Game Boy Advance em geral. Não só isso, como seus diálogos e mundo, deixam um sorriso no rosto o tempo todo e até impedem que problemas que possam vir, como momentos de dificuldade pouco equilibrada, impactem a diversão geral com o jogo.
Prós
- Múltiplas formas de utilizar o ioiô, tanto para combate quanto movimentação;
- Visuais bem realizados;
- Opções de acessibilidade;
- Música simpática;
- Diálogos cheios de carisma e humor.
Contras
- Ocasionalmente a dificuldade pode parecer mal balanceada;
- Algumas quedas bruscas na taxa de quadros por segundo.
Pipistrello and the Cursed Yoyo — Switch/PC/PS4/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela PM Studios










