Análise: Spiritfall é um roguelite ágil, divertido e francamente imperdível no Switch

O título da Gentle Giant surpreende e é uma fácil recomendação para todo fã de platform fighters.

em 25/05/2025
Desenvolvido pela Gentle Giant, Spiritfall é um título que une de forma precisa e bastante divertida mecânicas de luta em plataforma (à la Super Smash Bros.) com sistemas de progressão roguelite. Após uma estreia muito elogiada no PC em 2024, o jogo finalmente chega ao Switch em um port imperdível, que realça as suas principais qualidades e merece ser conferido por fãs do gênero.

A esperança dos espíritos

Spiritfall se passa em um universo que está sob a proteção dos Espíritos Divinos, entidades animais responsáveis por guiá-lo e protegê-lo do mal. Porém, a situação não é das melhores: uma terrível e misteriosa praga tem se alastrado pelo reino, atraindo incontáveis monstros e corrompendo a alma de habilidosos guerreiros no processo.

Para piorar, os poderes dos Espíritos Divinos vêm diminuindo desde que o Grande Portão foi fechado. Como a sua reabertura é crucial para que os Espíritos tenham novamente acesso ao seu poder, eles escolhem você — o jogador — como o Augurário, o portador da máscara mágica que simboliza a última esperança de vitória contra o inimigo.

A sua missão? Chegar ao Limiar e liberar o Portão. Dessa forma, os guardiões terão novamente acesso ao seu poder e a corrupção será de uma vez por todas exaurida, permitindo que a paz reine novamente.

A tarefa, como antecipado, não é fácil. No entanto, como a morte já não é um problema para você sob a forma mágica do escolhido, será somente uma questão de tempo e habilidade para alcançar o destino.

E se Smash Bros. fosse um roguelite?

Spiritfall é um representante legítimo do gênero platform fighter, que tem dentre seus expoentes mais famosos Super Smash Bros., Brawlhalla e também títulos indie consagrados, como Rivals of Aether. Aqui, o objetivo primário é derrotar os inimigos em estágios repletos de plataformas; para isso, é necessário saber usar bem todos os recursos e espaços à disposição, inclusive arremessando os oponentes para longe sempre que possível.

Dito isto, a grande sacada da Gentle Giant com o game foi combinar a jogabilidade clássica dos títulos de luta em plataforma com a progressão roguelite. Isso quer dizer que, na prática, o jogador, no controle do Augurário, deve superar desafios subsequentes em arenas cada vez mais perigosas e lotadas de oponentes, escolhendo e acumulando melhorias no caminho após cada vitória.

Sendo bem sincero, é uma fusão tão interessante (e divertida) que confesso que me peguei pensando por que não temos mais jogos nesse estilo. Como fã de carteirinha de Smash Bros. desde que joguei Brawl no Wii e como apreciador de roguelites em quase todas as suas vertentes, Spiritfall me pareceu desde o início uma combinação perfeita. E é com um sorriso no rosto que escrevo que ela faz jus às expectativas no Switch.

O caminho até a vitória

Para conseguir liberar o Portão e restaurar o poder dos Espíritos Divinos, o jogador precisa embarcar em um Ciclo, que é como o game chama cada partida única. Dentro de um Ciclo, é possível escolher o caminho a seguir — como ao escalar a torre de Slay the Spire —, sendo que cada rota tende a oferecer uma recompensa distinta em seus recintos (as arenas do jogo).

Embora o Augurário comece cada ciclo apenas com seus movimentos básicos, eliminar todos os oponentes de um recinto pode conceder uma bênção atrelada a um dos Espíritos Animais, como o coelho Navolik ou o urso Mishved. Tais bênçãos, além de proverem bônus de dano ou esquiva, também podem modificar os golpes do protagonista, transformando seu tiro em uma rajada elemental ou fazendo com que sua arrancada dê dano de fogo ou de gelo, por exemplo.

Essa abordagem de melhorias é muito interessante porque, ao mesmo tempo em que ela torna o protagonista mais forte de acordo com o seu desempenho em batalha, ela permite a criação de combinações que podem chegar a “quebrar o jogo” (no bom sentido). Em uma das minhas partidas, por exemplo, combinei um golpe especial que me fazia girar igual a um tornado com uma bênção que gerava eletricidade e reduzia o tempo de recarga da primeira ação. Sozinha, essa combinação me carregou por diversos recintos durante o Ciclo, aterrorizando meus inimigos.

Algo curioso é que há uma notável influência de Hades na mecânica das bênçãos: assim como os deuses do Olimpo (cada qual à sua maneira) ajudaram Zagreu na missão de escapar do submundo no roguelite da Supergiant, o mesmo ocorre aqui. Isso porque cada Espírito Guardião de Spiritfall tem a sua própria árvore de bênçãos, com variações para os golpes comuns, especiais e buffs passivos.

Logo, durante uma partida, o jogador pode olhar para as rotas disponíveis no mapa e priorizar os benefícios dos Espíritos que se adequam mais ao seu modo de jogar. Para finalizar, a geração aleatória desses elementos garante que nenhuma partida será 100% igual à anterior, então até mesmo as eventuais derrotas são facilmente esquecidas enquanto se inicia um novo ciclo em busca da combinação ideal para, enfim, liberar o Portão e salvar o Reino.

A arte da guerra que se repete

Spiritfall é um jogo bastante ágil. Os recintos podem ser concluídos em poucos minutos ou até mesmo em meros segundos, visto que a grande maioria dos inimigos não têm muita vida e caem com poucos golpes. Porém, a quantidade de oponentes atacando simultaneamente nas arenas pode facilmente comprometer uma partida se o jogador não estiver atento e com a esquiva (aqui chamada de arrancada) em dia.

Dito isso, no geral, eu diria que o game pode alcançar sequências verdadeiramente frenéticas, mas também é bastante justo. Uma vez que entendi a proposta e identifiquei os padrões dos inimigos mais comuns e também dos chefes, ficou bem mais fácil progredir; poucos foram os momentos em que perdi por conta de azar — a habilidade é o que manda aqui. 

Sendo Spiritfall um roguelite, também há uma certa progressão conquistada entre as partidas, facilitando em parte as tentativas futuras. Cada um dos sete espíritos, por exemplo, possui uma árvore de habilidades, com bônus passivos para o Augurário que podem ser adquiridos de forma definitiva. Outra influência de Hades é que, ao encontrar pergaminhos esotéricos durante os Ciclos, se torna possível construir salas que recuperam vida ou estruturas que dão benefícios ao jogador; todas essas passam a ter uma chance de aparecer nas partidas seguintes.

Também há uma série de itens cosméticos e cinco armas distintas (mais suas variantes) para desbloquear e dominar entre as tentativas (particularmente, gostei muito de jogar com as Manoplas da Irmandade e as recomendo para novatos). Assim, embora o título da Gentle Giant não seja 100% imune à sensação de repetição que mais cedo ou mais tarde acomete todos os roguelites, a quantidade de recursos desbloqueáveis é suficiente para garantir várias horas de jogatina e motivar o jogador a continuar tentando fechar o Ciclo.

Francamente? Imperdível no Switch

Spiritfall tem suporte a PT-BR e performa muito bem no Switch. Apesar da velocidade da ação e da quantidade rapidamente escalável de elementos simultâneos na tela, a performance se mantém estável e fluida, garantindo partidas responsivas tanto no modo TV quanto no modo portátil sem prejuízo à qualidade da imagem.

Inclusive, dada a agilidade das partidas, o console da Nintendo se prova uma ótima forma de experimentar o título, na minha opinião. A praticidade do Switch combina bastante com os recintos que podem ser concluídos em poucos minutos, fazendo deste um ótimo jogo para ser vivenciado em pequenas doses, como no intervalo do almoço ou naqueles minutinhos que sobram antes de dormir.

Só há algo que preciso destacar: dependendo da quantidade de efeitos que o Augurário acumula e da quantidade de inimigos ao mesmo tempo na tela, não é incomum testemunhar momentos de caos visual, em que fica um pouco difícil entender tudo o que está acontecendo no jogo. Essa já era uma crítica levantada pelo meu colega de redação Farley Santos na análise da versão de PC, mas que infelizmente é amplificada quando se está jogando no modo portátil, dada a tela pequena do Switch.

Assim como a trilha sonora genérica e facilmente esquecível, esse deslize não é algo que chega a comprometer a experiência como um todo, mas ainda assim seria interessante ao menos ter a opção de contornar ou realçar o protagonista e/ou os oponentes para facilitar a visibilidade em cenas caóticas, assim como em Super Smash Bros. Quem sabe em um update futuro?

Ascenda como o Augurário

Spiritfall me surpreendeu muito positivamente, logo se tornando um dos meus títulos favoritos do ano no Switch. Acertando em todos os quesitos fundamentais, como performance e jogabilidade, esta aventura da Gentle Giant é imperdível para quem aprecia jogos de luta em plataforma e sistemas de progressão roguelite. No fim, a espera de mais de um ano pela versão nintendista valeu a pena e o resultado merece ser conferido.

Prós

  • Une com maestria a pegada clássica dos platform fighters com a aleatoriedade esperada dos roguelites para entregar uma experiência única, divertida e com bastante fator replay;
  • A jogabilidade ágil e envolvente é capaz de proporcionar sequências verdadeiramente frenéticas;
  • A possibilidade de progressão entre as partidas garante que há motivos para continuar jogando, mesmo com as eventuais derrotas;
  • Boa quantidade de itens desbloqueáveis;
  • Localização em português;
  • Boa performance e qualidade de imagem no Switch, tanto no modo TV quanto no modo portátil.

Contras

  • Instâncias de caos visual não são incomuns e podem se tornar especialmente confusas no modo portátil;
  • A trilha sonora é genérica e facilmente esquecível.
Spiritfall — PC/Switch/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gentle Giant
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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