Análise: Nintendo Switch 2 Welcome Tour ensina muito, mas se esquece de que é um jogo

Jogo que acompanha o lançamento do Nintendo Switch 2 aposta em explicações detalhadas sobre o hardware com pouca gameplay.

em 21/06/2025
Tela do jogo Nintendo Switch 2 Welcome Tour exibindo uma maquete digital do novo console. Ao centro, há um grande modelo do Nintendo Switch 2 com a tela ligada, mostrando o logotipo colorido do sistema. Ao redor, vários acessórios em tamanho aumentado: controles Joy-Con 2, um encaixe de Joy-Con 2, a base de encaixe para TV e parte de um volante para Joy-Con 2. Pequenos avatares andam por trilhos transparentes sobre a cena, como se fosse uma exposição interativa do hardware.

A Nintendo não é estranha em disponibilizar jogos que demonstram as capacidades de seus novos consoles logo no lançamento. Nas últimas gerações, foi o caso de Wii Sports, com o Wii; Nintendo Land, com o Wii U; e 1-2-Switch, com o Nintendo Switch.


Com a chegada do Nintendo Switch 2, cabe a Nintendo Switch 2 Welcome Tour cumprir esse papel. Porém, diferentemente desses outros games citados, o título introdutório à nova plataforma tem como foco educar — literalmente — sobre diversos pormenores do hardware híbrido.

O resultado é uma experiência com conteúdos muito mais aprofundados em relação aos jogos antecessores, mas rasa em termos de gameplay, dando um ar mais de aplicativo interativo do que de videogame ao título.

Hora da lição

A premissa de Welcome Tour é colocar o jogador, representado por um avatar minimalista, em uma visita a uma exposição cujo tema é justamente o Nintendo Switch 2. No lugar de pavilhões, versões gigantescas do console, controles e outros acessórios são o palco por onde os visitantes podem explorar, observando cada detalhe não só do exterior da plataforma e de seus periféricos, como também das placas internas que compõem os hardwares.

Os modelos in-game dos componentes que formam o novo videogame são muito detalhados, lembrando os utilizados em Astro’s Playroom para contar a história dos produtos PlayStation. No entanto, as semelhanças com o título de PS5 param por aqui. Em vez de fazer uma experiência totalmente focada em gameplay para apresentar os recursos do Switch 2, a Nintendo resolveu se dedicar a um conteúdo mais contemplativo, com momentos de jogabilidade simples no meio.

Assim, o game é capaz de se aprofundar sobre os pormenores do console de forma muito mais aprofundada do que qualquer outro título de lançamento de hardware da Big N. Com mais de 170 painéis contendo textos, fotos e vídeos, o jogo explica as novas características da plataforma — como o modo mouse, suporte à resolução 4K, HDR, VRR, áudio 3D, entre outros —, além de apresentar curiosidades sobre a construção do sucessor do Nintendo Switch. Logo após a leitura, o jogador é convidado a participar de curtos testes com perguntas de múltipla escolha, em uma revisão do conteúdo.

Cena interna do Nintendo Switch 2 Welcome Tour mostrando uma área de testes dedicada ao Joy-Con 2 esquerdo. No canto direito, aparece uma caixa de texto com fundo branco e borda vermelha, explicando o funcionamento do encaixe magnético. A imagem detalha o controle com dois ímãs destacados em laranja e amarelo. Abaixo, o texto informa: “A única coisa que os mantém conectados é a força magnética dos ímãs.” À esquerda, personagens simulam usuários interagindo com totens de informação.


Enquanto alguns esclarecimentos são muito básicos e pecam em elucidar questões simples, outros são bem interessantes, entrando nos bastidores do design para o console. Essas explanações mais minuciosas ajudam os usuários a se sentirem mais próximos de seus novos consoles, além de trazer uma apreciação dos profissionais que trabalharam no produto.

Porém, essa dinâmica leitura/teste não é nada gamificada. Não há pontuações, limite de tempo ou ranking ao responder às perguntas. Também não há muitos elementos lúdicos que envelopam a experiência de forma divertida, assim como em outros softwares educativos da Nintendo, como Nintendo Labo ou Game Builder Garage. Interagir com esse material, portanto, torna-se repetitivo e cansativo após algumas horas.

Teoria na prática

A alternativa a esse lado acadêmico de Welcome Tour são as 14 demonstrações técnicas e 20 minijogos que colocam as novidades do Switch 2 na prática. Ambos cumprem a missão de mostrar o que o novo console é capaz em diferentes medidas.

As tech demos são direto ao ponto. Elas não são jogos, mas aplicações que exibem diferentes tecnologias da plataforma em termos de imagem, som e controle. São coisas simples, como sentir diferentes vibrações nos Joy-Con 2, experimentar o áudio 3D controlando um helicóptero, ativar e desativar o HDR em um show de fogos de artifício ou compreender a resolução 4K jogando o Mundo 1-1 de Super Mario Bros. de NES em uma tela única.

As demonstrações são propositalmente rápidas e, tirando alguns fáceis objetivos, não há motivos para ficar muito tempo nelas. Isso não é necessariamente ruim. As experiências duram exatamente o período necessário e são capazes de ensinar. Foi a partir de uma delas que consegui entender, de fato, a utilidade do VRR na tela do console, por exemplo.

Tela do Nintendo Switch 2 Welcome Tour que apresenta o nível 1-1 de Super Mario Bros. renderizado em resolução 4K. O nível é mostrado de forma panorâmica e comprimida em uma linha horizontal com 3376 pixels de largura, exibindo todos os elementos da fase de uma só vez. No canto superior direito há uma lista de objetivos com caixas de seleção, incluindo: completar o nível, terminar com Mario de fogo, explorar tudo, entrar em um cano e pegar um cogumelo extra. O fundo tem visual escuro com formas triangulares em preto e cinza.


Por outro lado, é nos minijogos que está toda a jogabilidade principal dessa exposição virtual. Além de também mostrar o que o sistema é capaz de fazer, a maioria deles entretêm mais do que os outros conteúdos do título devido a um game design focado em experiências arcade.

Jogadores são desafiados a controlar uma nave espacial, desviando-a de bolas espinhosas com o mouse; reconhecer diferentes tipos de vibração em um jogo da memória; encontrar pequenos pixels em uma tela 4K; entre outras atividades que possuem até três metas de pontuação e diferentes níveis de dificuldade.

Dependendo da performance no joguinho, usuários recebem medalhas como recompensa. Como algumas delas exigem precisão quase milimétrica para obter a melhor pontuação possível, a gameplay tem aquele fluxo prazeroso de tentativa, erro, melhoria e conquista. Muitas vezes me peguei pensando “mais uma partida” após perder uma medalha por muito pouco.

No entanto, para um software que pretende mostrar todos os aspectos do console, há uma excessiva implementação do mouse nos minijogos. A maioria das atividades usa esse recurso, com múltiplas delas demonstrando como ele pode ser utilizado com os giroscópios dos Joy-Con 2.

Cena jogável do minigame “Pé na tábua”, presente no Nintendo Switch 2 Welcome Tour. O jogador controla um carrinho vermelho com propulsão a jato que corre em uma pista suspensa no céu azul, cheia de obstáculos marrons e ícones de boost dourados. O visual é limpo e futurista. No topo direito da tela, um contador mostra 14,94 segundos restantes. O minigame simula testes de precisão e resposta dos controles de movimento e de mouse.


O que, no início, é uma novidade interessante, passa a deixar de surpreender à medida que se avança pelo título. Focar em outros aspectos da plataforma, como é o caso do minigame de reconhecer quadros por segundo ou do que calcula a inclinação do console em modo semiportátil, traria mais variedade.

Sem barreiras

Felizmente, os jogadores não são obrigados a participar de atividades que não querem devido a um sistema de progressão bastante flexível.

Enquanto participar de novos minijogos e demonstrações técnicas exige um número mínimo de medalhas conquistadas, a quantidade requerida é muito pequena, principalmente nos níveis mais fáceis dos minigames. Assim, não há necessidade de ficar se moendo em uma atividade repetitiva só para colecionar muitas medalhas.

Além disso, para visitar outras áreas da exposição, basta encontrar carimbos escondidos. Normalmente eles estão localizados em pontos importantes dos hardwares, como botões, conectores, telas e outros componentes. Dessa forma, o game não limita a experiência caso o usuário queira simplesmente pular uma seção inteira.

Acessórios e acessibilidade

Parte dessa progressão descomplicada também se dá à mecânica de “medalhas express”, em que jogadores podem pular minijogos, um recurso que soa como algo que desmerece as atividades em si, mas é, na verdade, uma solução não muito elegante a um problema criado pelo próprio jogo.

Na ânsia de mostrar tudo que o novo console é capaz de fazer, Nintendo Switch 2 Welcome Tour inclui atividades que exigem acessórios que não estão presentes no pacote do Nintendo Switch 2. Sem uma câmera USB, um controle que possua os botões GL e GR, ou até mesmo uma TV compatível com 4K/120 fps, certos minijogos são totalmente inacessíveis.

Nesse caso, é inevitável levantar o debate do preço. Ter que gastar com periféricos para aproveitar completamente um título introdutório em um dos consoles mais caros na história da Nintendo é, minimamente, controverso. Isso passa a mensagem de que o consumidor que adquiriu apenas o console, com seus acessórios base, não está tendo a experiência total dessa nova geração, gerando uma problemática divisão na base de jogadores.

Mensagem de instrução do Nintendo Switch 2 Welcome Tour que orienta o jogador a conectar um controle compatível. Ao centro, a tela exibe ilustrações de um Pro Controller e do encaixe para Joy-Con 2, com destaque nos botões superiores GL e GR. Abaixo, lê-se: “Conecte a um controle que disponha dos botões GL/GR.” O fundo está desfocado, revelando que a mensagem faz parte da navegação por um espaço expositivo do jogo.


As “medalhas express” chegam para tentar mitigar essa situação. Em qualquer minigame, o usuário pode inserir um código para receber as recompensas sem se submeter aos desafios. Assim, todas as atividades podem ser completadas artificialmente. Esse recurso é útil não só para passar por jogos que exigem dispositivos complementares, como também por aqueles que são simplesmente difíceis demais para determinado jogador.

No meu caso, a opção tornou o título mais acessível, já que certos joguinhos — como os que necessitam usar dois mouses, tocar em múltiplas áreas da tela do console ou apertar vários botões ao mesmo tempo — são praticamente impossíveis de completar devido à minha deficiência física. O game podia, sim, ter mais opções de acessibilidade, mas essa é capaz de auxiliar em momentos de frustração.

No entanto, usar as “medalhas express” resulta em premiações de prata no lugar das tradicionais douradas, uma distinção que pode incomodar pessoas que pretendem completar o game 100%.

Mais aula, menos jogo

Antes de seu lançamento, muitas pessoas ficaram chocadas com o fato de Nintendo Switch 2 Welcome Tour ser um título pago. Analisando o jogo isoladamente, é possível dizer que o software até vale os R$ 59,90 cobrados. O problema é que outros games introdutórios de consoles já foram disponibilizados gratuitamente para diferentes plataformas e eles são mais divertidos que Welcome Tour.

Por mais que seja louvável a Nintendo ser tão aberta sobre os mais minuciosos detalhes do Switch 2, o jogo peca justamente ao não trazer muitos elementos de gameplay à experiência. O que há de jogabilidade engajante nos minijogos é soterrado por propostas de controle repetitivas nessas atividades e testes que parecem provas escolares.

Não se engane: essa é uma interessante turnê de boas-vindas. Porém, ela nos faz lembrar como nossas chegadas a outros consoles do passado foram mais especiais.

Prós

  • Conteúdo aprofundado sobre o console Nintendo Switch 2 faz com que novos usuários ganhem um apreço diferente pela plataforma;
  • Demonstrações técnicas simples e curtas, mas que apresentam recursos do console de maneira eficaz;
  • Minijogos com estrutura arcade e objetivos desafiadores podem entreter por muito tempo;
  • Sistema de progressão que elimina barreiras na continuidade da experiência para o usuário.

Contras

  • Dinâmica de leitura/teste sem elementos gamificados torna-se maçante depois de algum tempo;
  • Excesso de minigames que utilizam o mouse, demonstrando a mesma possibilidade de controle múltiplas vezes;
  • Exigência de acessórios vendidos separadamente para aproveitar o título completamente é frustrante.
Nintendo Switch 2 Welcome Tour – Switch 2 – Nota: 7.5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
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Daniel Morbi
Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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