Análise: RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army: resolvendo crimes e se relacionando com o oculto

O retorno do icônico detetive paranormal é sólido e divertido.

Megami Tensei, se fosse um dos seus inúmeros deuses, poderia ser descrita como Vishnu por causa de seus inúmeros braços, estendendo-se para diversas séries secundárias. Temos a principal Shin Megami Tensei, a segunda mais icônica com Persona, o intrigante jogo de Virtual Boy Jack Bros., a minissérie infantil Last Bible e, no tópico de hoje, Devil Summoner.


Focada na família Kuzonoha e associados, os jogos envolvem as tramas investigativas dessas pessoas paranormais com o oculto, sendo a duologia focada em Raidou XIV um dos títulos mais famosos em Megami Tensei. E, com o lançamento de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army, o jovem detetive está de volta nos olhos do público. Mas será que vale a pena reviver essa aventura? Venha comigo desvendar o mistério.

Segredos passados de geração em geração

Estamos em 1931, no auge da era Taisho em um universo paralelo ao nosso. Em uma vila oculta, um jovem recebe a graça de sua família para assumir o manto e nome do lendário Raidou Kuzonoha, impressionando a todos com seu alto potencial evolutivo e sendo o 14º membro a honrar o cargo. Logo em seguida, ele se muda para a capital com o gato falante Gotou para agir como guardião da cidade, seja como aprendiz de detetive, seja como protetor da linha tênue entre os mundos mundano e paranormal a mando do grupo Yatagarasu.

Em um não tão belo dia, Raidou e Gotou encontram a jovem misteriosa Kaya, que implora que ele a mate e, antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, a garota é raptada por estranhos homens trajando uniformes vermelhos. Investigando a fundo, o rapaz cai em uma trama conspiratória envolvendo diversos assassinatos realizados por demônios e o misterioso Dark World, onde os monstros podem andar livremente.

Who you gonna call? Raidou Kuzonoha!

Como um bom SMT, a história e personagens de Raidou são extremamente carismáticos e cheios de personalidades, envolvendo o jogador em suas tramas e o mistério que envolve a todos na capital, além da excelente trilha sonora. Porém, diferente de seu irmão Persona, Raidou tem suas particularidades. Em vez do tradicional combate de turnos, vínculos sociais com personagens coloridos e clima mais morno, Raidou tem um combate mais similar de hack ‘n slash, no qual ele pode cortar inimigos com sua espada, utilizar de magias ou atirar com sua arma livremente, apenas se atentando com a barra de magia, que é carregada com ataques de espada. 

No combate, Raidou também tem à disponibilidade os icônicos demônios da franquia, mais 120 criaturas para escolher (no lançamento original, o número total era 70), tendo até duas ao mesmo tempo na luta para auxiliá-lo, seja curando as feridas e atacando livremente ou com os comandos do jovem investigador, tudo respondendo muito bem e sem empecilhos. Quando não está lutando, Raidou pode explorar a capital como bem entender, conversar com os habitantes e até influenciar levemente suas ações e emoções com seus demônios (como deixar uma pessoa animada ao botar fogo nela. Não se preocupe, só esquenta a alma do cidadão). 

Em questão de visuais, o relançamento chega as expectativas e vai além, trazendo voz para as cenas (em inglês e japonês) e gráficos muito bem feitos. Em comparação, o ambiente do jogo original era bastante simples e estático e agora, tudo está materializado em 3D, trazendo vida à capital mas sem perder a ambientação retrô (no sentido de ser um jogo antigo nos tempos atuais e também no sentido de se passar no passado). Porém, o fator investigativo é pouco utilizado, efetivamente fazendo essa parte da gameplay o sistema básico de ir de lugar A para lugar B, sem muita variedade ou experimentação.

Demônio de roupa nova

As adições de gameplay são bem-vindas, como a possibilidade de travar mira no combate, a viagem rápida dentro da capital, o autosave (que era ausente no lançamento original), a progressão mútua de todos os demônios no arsenal, gráficos melhorados, a habilidade de correr e o Detective’s Journal, um compendium para não perder os objetivos, missões extras e também dicas de gameplay. Com as críticas das poucas adições no remaster de SMT III Nocturne, talvez a Atlus tenha escutado os fãs pela primeira vez, mesmo com a estranha ausência da localização em português brasileiro, visto que SMT V: Vengeance foi muito bem traduzido.

Contudo, Raidou comete dois erros cruciais em relação ao relançamento. Em análises passadas, eu disse que todo relançamento que se preze deve incluir rascunhos e desenvolvimento de seus jogos para fins de preservação e curiosidade. Esse meu pensamento se estende inclusive para ports de remakes, e RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army fracassa nesse conceito. Não tem absolutamente um único bônus especial como trailers, artes conceituais ou imagens promocionais, o que é bastante estranho considerando o quão icônico Raidou é para fãs de SMT e RPG. O outro erro é trazer pequenos conteúdos cosméticos por DLC e inclusive alguns demônios por preços pouco interessante. Quem em sã consciência pagaria para colocar óculos no Raidou ou por que Zeus não está já incluso no jogo?

RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army não deveria nem ser considerado um remaster, dadas tantas adições que colocou, devendo então ser considerado um remake. Pequenos detalhes não tiram sua qualidade enorme de relançamento.

Talvez com o sucesso deste jogo possamos ver a continuação — e igualmente icônica — King Abbadon de volta com um novo visual e melhorias tão boas quanto Souless Army. Até lá, Raidou nunca esteve tão bem diante do exército das trevas.

Prós

  • História envolvente, com mistérios intrigantes e personagens carismáticos;
  • Excelente trilha sonora, em par com o resto da franquia;
  • Combate muito bem feito, com enorme variação de demônios e habilidades;
  • Adições de remaster que melhoram infinitamente um jogo já muito bem feito, como mais demônios e autosave.

Contras

  • Ausência de tradução português brasileiro;
  • Sem adições de relançamento, como artes conceituais e trailers;
  • DLCs inúteis a preços ridículos;
  • Sistema de investigação limitado e sem muitos atrativos.
RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério 
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
Siga o Blast nas Redes Sociais
Fábio Castanho Emídio (StarWritter)
Formado em Publicidade e Propaganda na USC e especializado em Marketing Digital, sou Editor de Vídeos também, meu TCC foi sobre a Guerra dos Consoles e evolução da publicidade nos games. Jogo um pouco de tudo e também escrevo. Me descrevo como um artista.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 4.0).