Code Name: S.T.E.A.M.: criativo e engenhoso jogo que a Nintendo esqueceu completa 10 anos

No jogo, heróis dos Estados Unidos se reúnem para defender o mundo de uma invasão extraterrestre.

em 23/06/2025


É difícil existir no meio geek sem entrar em contato com o fascínio norte-americano (ou ocidental, de maneira geral) pela cultura japonesa. Os famosos “weebs” estão muito presentes na internet e nos ambientes de convívio nerd. Muito menos conhecido, contudo, é o fascínio japonês pela cultura norte-americana.

Heróis estadunidenses contra a ameaça alienígena

Uma expressão desse raro fenômeno é Code Name: S.T.E.A.M., jogo de 2015 desenvolvido pela Intelligent Systems e publicado pela Nintendo. O criativo mundo steampunk do jogo é povoado por heróis do imaginário norte-americano, incluindo personagens folclóricos, protagonistas de clássicos literários e coadjuvantes de O Mágico de Oz, além do lendário presidente Abraham Lincoln.

Esse último é o líder do S.T.E.A.M., o Strike Team Eliminating the Alien Menace, ou Equipe de Ataque Eliminando a Ameaça Alien, em tradução livre e acrônimo bem menos bacana. 
A organização defende a Terra de uma invasão alienígena armada com poderes congelantes, e tem seu primeiro cenário de batalha em Londres. Lá, Lincoln recruta Henry Fleming e John Henry, que resgatam a Rainha Vitória com a ajuda do Leão (lembra que citamos O Mágico de Oz?).

Um jogo inteligente para jogadores inteligentes

Logo no tutorial já é possível perceber a inteligência aplicada no game design da obra. Se o jogador optar por ignorar as “sugestões” das mensagens explicativas sobre o uso de features como o modo overwatch, rapidamente entenderá o valor das ferramentas. 
O nível de dificuldade inicial é bastante apropriado ao aprendizado orgânico das estratégias necessárias para obter a vitória nas batalhas, como o uso restrito do recurso limitado que é o vapor (em inglês, steam).

Por falar em estratégias, é nisto que consiste Code Name: S.T.E.A.M. Trata-se de um jogo tático em terceira pessoa e baseado em turnos. Fãs de obras do gênero, como XCOM, Fire Emblem e especialmente a semelhante saga Valkyria Chronicles, não tardarão a identificar afinidades entre os jogos, como a obrigatoriedade da aplicação de artimanhas bem planejadas para flanquear e derrotar os inimigos.

Um desafio único

Há, contudo, uma particularidade ao jogo dentro do seu gênero. Todos os exemplos citados acima possuem uma feature bastante útil ao jogador que deseja planejar vários movimentos à frente: a possibilidade de se observar o campo de batalha por cima, através de uma câmera aérea. Em Code Name: S.T.E.A.M., o único ponto de vista é o da terceira pessoa (dos personagens controlados), colocando o estrategista diretamente nos pés de seus soldados.

A corajosa (e polêmica) limitação adiciona uma interessante camada de dificuldade e de engenhosidade às estratégias elaboradas no jogo. Como não se sabe onde exatamente estão os inimigos fora do campo de visão de cada herói, o cuidado a ser tomado em cada decisão é dobrado. Além disso, torna-se necessário distribuir bem os personagens pela arena, de modo a se obter uma perspectiva mais ampla dos adversários. A única falha aqui é a demora (talvez às vezes bugada) nos turnos dos alienígenas, que torna a espera pela vez do jogador um processo frequentemente tedioso, mesmo com o uso da ferramenta de aceleração.

O charme e o abandono

É impossível falar de Code Name: S.T.E.A.M. sem destacar seu estilo de arte baseado em histórias em quadrinhos. Tal escolha torna todos os designs bastante dinâmicos, e as onomatopeias adicionam uma emoção impossível de ser lograda de outra maneira. 
Falando nos designs, a paixão dos desenvolvedores transborda nos looks dos heróis: dos fantásticos aos humanos, não falta criatividade na confecção dos visuais dos nossos salvadores. Infelizmente, os inimigos não são tão bem elaborados.

Resta comentar o abandono da IP pela Nintendo. Completando dez anos em 2025, Code Name: S.T.E.A.M. termina com um gancho que nunca foi correspondido com uma sequência. 
É simplesmente uma lástima que a Big N tenha ignorado uma criação tão única da Intelligent Systems, em mais um caso de potencial franquia que nunca saiu do papel. Infelizmente, a música-tema do jogo estava errada: o sonho americano ficou sem vapor. 

Revisão: Cristiane Amarante 

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Felipe Jungstedt
Cientista social em formação, apaixonado por todo tipo de joguinho (com um amor especial pelos indies e pelos da Nintendo). Você provavelmente vai me encontrar ouvindo música enquanto jogo Spelunky 2 ou tirando a poeira de algum Zeldinha clássico.
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