Cyberpunk 2077, inspirado em um RPG de mesa, é um dos projetos mais ambiciosos da CD Projekt RED, o estúdio polonês responsável por The Witcher 3. Em uma cidade futurista, acompanhamos um mercenário que luta pela sobrevivência e glória em uma aventura repleta de sistemas flexíveis e liberdade.
Conhecido principalmente pelo seu lançamento repleto de problemas, o jogo aos poucos se redimiu com várias melhorias e reformulações, que culminaram na elogiada expansão Phantom Liberty. De maneira surpreendente, o RPG chega ao Switch 2 na forma da Ultimate Edition, um pacote completo e bem-acabado que abusa do poder de processamento do novo híbrido. Mesmo com as concessões necessárias, o título entrega uma experiência imersiva e marcante.
Sobrevivendo na “cidade no limite do amanhã”
Ambientado em uma distopia futurista dominada por megacorporações, controlamos V, um mercenário em ascensão na futurista Night City, onde tecnologia e implantes cibernéticos moldam a sociedade. Após um trabalho que dá errado, V se vê ligado mentalmente ao engrama digital de Johnny Silverhand, uma lenda do passado com seus próprios planos. Enquanto tenta se livrar do implante que ameaça sua vida, V mergulha em uma trama complexa de conspirações corporativas, rebeliões tecnológicas e escolhas que moldam o destino da cidade — e o seu próprio.A trama se desenrola em um RPG de ação em primeira pessoa, com foco em escolhas narrativas, customização de habilidades, combate armado e hackeamento. Um dos principais atrativos é a sensação de liberdade: podemos explorar a cidade sem restrições, e a maioria dos conflitos e situações pode ser solucionada de diversas maneiras, muitas vezes sem recorrer à violência. Há uma ampla variedade de sistemas que possibilitam personalizar o estilo de jogo, e a experimentação é fundamental para se dar bem nessa cidade perigosa.
Um ponto notável é a flexibilidade na hora de montar o personagem, uma característica claramente herdada de RPGs de mesa. Além dos atributos básicos, há diferentes árvores de habilidades e implantes que modificam V. A quantidade de opções é um pouco opressiva, mas com um pouco de insistência é possível montar diferentes classes que mudam sensivelmente a jogabilidade. Por exemplo, não sou muito bom em jogos de tiro em primeira pessoa, então me especializei em hackear inimigos para depois finalizá-los com tranquilidade — é bem bacana como há diferentes maneiras de lidar com as situações.
O ciclo de jogo é meio simples, se resumindo a ir a locais, conversar com pessoas e depois enfrentar alguma situação perigosa envolvendo tiroteios, invasões e perseguições. Ainda assim, há muito o que ver em uma cidade imensa e vibrante, repleta de locações exóticas, personagens e missões paralelas. E na maior parte do tempo, podemos explorar livremente, às vezes promovendo o caos por pura diversão. É uma pena que parte do conteúdo seja rasa e repetitiva, mas a jornada e a ação são interessantes o bastante.
O ponto alto é a expansão Phantom Liberty, que corrige muitos dos problemas estruturais do jogo. O DLC se passa em um novo mapa cujas atividades são mais elaboradas e sustentadas por novas mecânicas. Além disso, a trama tem escolhas mais impactantes, com direito a um final inédito para V.
Tornando-se o mercenário V
Não sou muito fã de aventuras em primeira pessoa e muito menos de FPS, mas Cyberpunk 2077 me surpreendeu. Apesar de ter tiroteios e muita ação, o jogo aposta mais na narrativa e nos elementos de RPG para criar uma experiência sem igual.A característica mais notável é a imersão proporcionada pela câmera em primeira pessoa. As inúmeras conversas e cenas são muito bem produzidas, e ver tudo pelo ponto de vista de V traz a sensação de estar ali naqueles lugares e situações. Os personagens impressionam pelas expressões faciais e maneirismos distintos, que os tornam mais convincentes e envolventes. E como é de se esperar em um universo cyberpunk, há todo tipo de gente exótica para conhecer.
Outro ponto que contribui para essa sensação de mergulho profundo é a própria Night City: a metrópole pulsa com prédios futuristas, iluminação neon, tecnologia e sujeira, em uma ótima representação do conceito high tech, low life. Os cenários são extremamente detalhados, com cuidado especial para as pessoas e estabelecimentos — muitas vezes dá vontade de simplesmente pegar o carro e andar sem destino, explorando vielas em busca de lojinhas e restaurantes obscuros.
É uma pena que tamanha ambição não se traduza plenamente em profundidade. Por trás de tudo isso, temos escolhas que impactam pouco o andamento da história e personagens e temas que não recebem a devida profundidade. Mesmo assim, há muito o que aproveitar, basta estar disposto a relevar alguns problemas. Por sorte, o DLC Phantom Liberty oferece melhorias nesses aspectos.
É importante destacar o meticuloso trabalho de localização, tanto no texto quanto na dublagem. Houve um cuidado especial no uso de termos, gírias e maneirismos que se encaixam perfeitamente neste mundo cyberpunk.
Uma boa amostra do poder do novo híbrido
Cyberpunk 2077 é lembrado especialmente por ser um título graficamente belo e tecnicamente pesado. Nesse aspecto, a versão para Switch 2 impressiona em uma adaptação muito competente — levando em conta as limitações do console e as diversas concessões, naturalmente. Não só isso, essa edição está praticamente sem bugs e comportamentos.O visual característico de Night City está mantido, com ótimo nível de detalhes e boa iluminação, tanto nas áreas fechadas como abertas. Já os personagens conservam os modelos repletos de aparatos tecnológicos no corpo, roupas elaboradas e cabelos bem montados. Obviamente não está no mesmo nível de um PC ou console de mesa poderoso, mas o trabalho aqui foi primoroso, resultando em um universo belíssimo.
Para alcançar esse feito, alguns aspectos precisaram ser alterados: a quantidade de pessoas e elementos nos cenários foi diminuída, e algumas texturas tiveram que ser simplificadas. Além disso, o jogo utiliza resolução dinâmica, atingindo 1080p no modo dock e 720p no portátil, com auxílio de DLSS para o upscaling da imagem, trazendo visual consistente tanto na TV quanto na telinha do Switch 2. No entanto, há impacto no consumo de energia: a bateria aguenta aproximadamente duas horas de jogo.
A fluidez é satisfatória, com 30 fps no modo qualidade e 40 fps no desempenho, ao custo de um pouco da fidelidade gráfica. A taxa de quadros é consistente, mas cai um pouco em situações mais intensas, como confrontos com muitos elementos ou ao explorar certas locações externas — é algo que incomoda pouco e não tem tanto impacto no geral.
Por fim, o título oferece suporte aos diferentes esquemas de controle do console. No modo portátil, a tela sensível ao toque pode ser utilizada para navegar pelos menus. Os Joy-Con 2 separados usam gestos para executar certas ações (como curar ou golpear) e permitem ajuste fino da mira com os sensores de movimento. Já o controle no modo mouse traz precisão aumentada, mas a ergonomia ruim do Joy-Con 2 dificulta o uso por longos períodos: os botões são difíceis de apertar e o ponteiro só funciona bem em superfícies planas.
Apesar de todas as concessões, Cyberpunk 2077 é uma ótima experiência no Switch 2. A performance se mantém estável na maior parte do tempo e os visuais são belos tanto no modo portátil quanto na dock. É também um exemplo do potencial técnico do novo console, mostrando que títulos exigentes podem funcionar bem com boas adaptações.
Mergulhando em um universo futurista imperdível
Cyberpunk 2077: Ultimate Edition no Switch 2 entrega uma adaptação surpreendentemente sólida de um RPG complexo e tecnicamente exigente. A ambientação detalhada, o sistema de customização extenso e a narrativa envolvente estão presentes, mesmo com as concessões gráficas e estruturais feitas para funcionar no novo console. A inclusão da expansão Phantom Liberty reforça ainda mais o valor do pacote, com melhorias notáveis na construção de mundo, nas escolhas narrativas e no ritmo geral da campanha.Apesar de certos conteúdos repetitivos e limitações herdadas do projeto original, o jogo oferece uma experiência imersiva e consistente, principalmente para quem aprecia histórias densas e liberdade de abordagem. O bom desempenho técnico, a versatilidade dos controles e a manutenção da identidade visual de Night City mostram que o Switch 2 é capaz de sustentar títulos ambiciosos quando há esforço de adaptação. Trata-se, portanto, de uma versão que respeita as qualidades do original e entrega algo completo e bem executado.
Prós
- Mecânicas de RPG flexíveis permitem diferentes abordagens;
- Narrativa interessante e com muitas cenas imersivas;
- Universo cyberpunk bem construído;
- Visual impressionante para os padrões do console;
- Inclui a expansão Phantom Liberty, cujo conteúdo é mais elaborado em relação à campanha original;
- Controles variados e bem implementados.
Contras
- Certos conteúdos são rasos e repetitivos;
- As escolhas na narrativa têm impacto reduzido;
- A ergonomia dos Joy-Con prejudica o modo mouse.
Cyberpunk 2077: Ultimate Edition — Switch 2 — Nota: 9.0
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela CD PROJEKT RED
Análise produzida com cópia digital cedida pela CD PROJEKT RED









