Desde que Pokémon é Pokémon, um importante ponto do jogo moldou algumas gerações: a presença de nosso rival na história. Servindo de contraponto ao protagonista, o rival é o personagem que nos impulsiona a sempre atingir o pico de poder de nossos Pokémon.
Tudo começa (ou pelo menos começava) com a escolha do Pokémon inicial. Até a quarta geração, nós selecionamos nosso parceiro primeiro, e sem seguida, o rival escolhia aquele com vantagem direta sobre o nosso.
Isso por si só eleva o nível de dificuldade do jogo, pois sempre teremos no time adversário um Pokémon que responde completamente um dos nossos. Em casos extremos, o inicial do rival pode cobrir metade de uma Pokédex regional, dada a importância dessa escolha.
Todavia, com o passar dos anos, o papel do rival mudou completamente: em vez de selecionar o inicial com vantagem, passou a escolher aquele que perde para o protagonista. Em alguns casos, sua presença na história é mais um incômodo do que um desafio propriamente dito.
Pensando nisso, resolvemos destrinchar os times dos rivais ao longo das nove gerações para apresentar a você, leitor, onde tudo começou e onde está agora. Como temos muitos rivais nas nove gerações, dividiremos as trajetórias deles em três partes:
- Ascensão e Consolidação: os rivais são poderosos, desafiadores e impulsionam o jogador a sempre melhorar;
- Sinais de Declínio: os rivais não são mais os mesmos e há uma leve mudança na definição de seu papel;
- Crise e Colapso: os rivais perderam completamente o sentido na história e o espírito desafiador que esse título carrega.
Começaremos com a Ascensão e Consolidação. Podemos dizer que essa época é a era de ouro dos rivais, e muitos treinadores, assim como eu, abriam um grande sorriso ao vencê-los. Boa leitura!
Blue
O rival dos rivais. A icônica frase “Smell Ya Later” ainda assombra alguns treinadores. A dominância de Blue em relação ao protagonista é clara: assim que chegamos em uma cidade que possui um ginásio, é possível ler seu nome nas estátuas como um dos vencedores antes mesmo do nosso desafio.
Ou seja, ele sempre está à frente. Isso fica ainda mais evidente na segunda batalha, que mesmo sendo opcional, eleva o sarrafo consideravelmente. Nesse ponto do jogo, é bem provável que nosso time esteja entre os níveis cinco e sete. Blue, por outro lado, possui Pokémon nos níveis oito e nove. Onde ele conseguiu toda essa experiência em tão pouco tempo?
Red/Blue
Com um time extremamente balanceado e com monstrinhos símbolos da primeira geração, Blue conquista o título de campeão instantes antes do protagonista, alcançando o pináculo da carreira de um treinador Pokémon.
Três de seus Pokémon são garantidos: Pidgeot (NORMAL/FLYING), Alakazam (PSYCHIC) e Rhydon (GROUND/ROCK). Do trio, apenas Alakazam pode ser um problema devido ao grande poder e velocidade. Rhydon não possui golpes de STAB e Pidgeot pode ser explorado pela programação “bugada” da primeira geração.
Exeggutor (GRASS/PSYCHIC), Arcanine (FIRE) e Gyarados (WATER/FLYING) alternam de acordo com o inicial escolhido pelo rival. É importante mencionar que, mesmo tendo um bom equilíbrio de tipos, quando consideramos Charizard, há três Pokémon do tipo FLYING.
Quando Blastoise faz parte do time, essa situação não ocorre. Desse modo, podemos classificar como o “time perfeito”, sem grandes fraquezas e com muito, mas muito potencial.
Yellow
A versão definitiva da primeira geração muda completamente a equipe de Blue, e para pior. Uma das mudanças é na escolha do inicial: em vez do trio clássico, Eevee surge como opção, e sua evolução depende das vitórias do protagonista nos dois primeiros embates.
Para fins de avaliação da equipe, consideramos Jolteon por sua agilidade muito acima da média e cobertura super efetiva. Uma das características da primeira geração é calcular a chance crítica através do atributo Speed. Jolteon está no top 5 mais rápidos, ou seja, sua chance crítica é de quase 20% em todos os turnos.
Sandslash lidera o grupo ao substituir Pidgeot e auxilia o time defensivamente. No ataque, o tipo GROUND é muito versátil e Slash sempre causará acertos críticos.
Exeggutor é um dos melhores Pokémon da primeira geração, porém o moveset usado por Blue é medonho. Sem nenhum golpe de STAB, a estratégia é manter os adversários dormindo através de Hypnosis e drenar o HP lentamente com Leech Seed.
Alakazam é… Alakazam. Poucos podem superar o tipo PSYCHIC na primeira geração, e a raposa dourada é certamente um dos, senão o melhor monstrinho do time. Ninetales e Cloyster completam a combinação GRASS/FIRE/WATER com requintes de crueldade.
Na primeira geração, as técnicas de “agarrão” (Wrap, Clamp, Fire Spin e etc) impedem a ação de seus alvos de dois a cinco turnos. Quando combinamos essa característica com Leech Seed/Hypnosis aplicado por Exeggutor, podemos perder um Pokémon sem ter a chance de revidar.
Embora todos esses pontos possam parecer desleais ou até sobrecarregar o protagonista, o time de Blue na versão Yellow é de certa forma mais frágil, seja pelos atributos ou pela ausência de movimentos de apoio, como Reflect.
FireRed/LeafGreen
A equipe dos jogos originais foi mantida nos remakes, entretanto, agora possui movimentos mais agressivos e que vão ao encontro do título de campeão. Outro fator importante é a presença das habilidades: Arcanine e Gyarados possuem Intimidate, reduzindo o Attack dos monstrinhos do protagonista.
Quer paralisar ou adormecer Alakazam para reduzir seu potencial? Synchronize devolve essas condições na mesma moeda. Em suma, há um upgrade interessante comparado ao time das versões base, algo natural do universo da terceira geração em virtude desses novos recursos.
Arrisco dizer que, até os dias atuais, o time de Blue das versões FireRed/LeafGreen é um dos mais equilibrados e bem construídos da franquia. Novamente, Blastoise é o pivô de todo potencial, pois com ele no time, não há o famoso “overlap” (excesso) de tipos.
Silver
Gold/Silver/Crystal
Silver marcou uma geração com sua personalidade explosiva e debochada. Logo no começo do jogo, podemos ver o que o garoto é capaz de fazer para cumprir seus objetivos. De butuca na janela do laboratório, observa todos os passos do protagonista.
Seu inicial sempre possui vantagem sobre o protagonista. Isso fica muito claro na batalha travada na cidade de Azalea, pois quando consideramos Totodile como seu inicial, enfrentamos um Croconaw no Lv.16, sendo que o crocodilo azul atinge sua forma intermediária a partir do Lv.18… Algo de errado não está certo!
Seu time começa com Golbat, dos tipos POISON/FLYING, seguido de um Haunter, dos tipos GHOST/POISON. O morcego ainda não está em sua forma final e, portanto, não apresenta tanto perigo, ainda mais nos jogos base com a escassez de movimentos.
Até a terceira geração, o tipo GHOST usava o Attack para cálculo de dano, e como Haunter não é bom nesse quesito, nosso rival apostou em estratégias peculiares ao usar as técnicas Curse e Mean Look.
Magneton, agora dos tipos ELECTRIC/STEEL, arredonda a cobertura defensiva da equipe, porém, não ter acesso a um movimento ofensivo poderoso de seu tipo secundário dificulta seu uso na ofensiva.
Kadabra é bem forte e oferece todos os benefícios do tipo PSYCHIC, ainda que esteja enfraquecido com a introdução dos tipos DARK e STEEL. Repare que três Pokémon de sua equipe ainda estão em suas formas intermediárias, comprometendo o potencial ofensivo do elenco.
Seu time termina com Sneasel, monstrinho dos tipos DARK/ICE e que praticamente não faz nada. Isso porque seus dois tipos usam o Special Attack para cálculo de dano, e Sneasel basicamente não tem esse atributo.
Heart Gold/Soul Silver
A equipe é a mesma utilizada nas versões originais, porém, agora os Pokémon de Silver podem aproveitar as habilidades introduzidas na terceira geração e a divisão de categoria dos golpes em físico/especial, marca registrada da quarta.
Dessa forma, Sneasel e Haunter passam a ter uma relevância maior em termos de atributos, e Golbat e Magneton com mais técnicas em seus arsenais. Ofensivamente, o time melhora de forma significativa por conta dessas mudanças, dificultando um pouco mais em relação aos jogos base.
Levando em conta todos esses fatores, Silver é consideravelmente mais potente e perigoso nos remakes, por isso, não baixe sua guarda.
May/Brendan
Ruby/Sapphire
Podemos considerar May ou Brendan como um rival? Mesmo escolhendo o inicial com vantagem sobre o nosso, todo o restante é dispensável. Ao longo das quatro batalhas travadas, a mais difícil é a segunda, justamente pelo fator do Pokémon inicial.
No entanto, a última batalha, além de ser opcional, é muito “sem sal”. O inicial ainda não atingiu sua forma final, algo que até os dias de hoje é exclusivo dessas versões.
Os demais membros dependem do inicial do rival para formar a combinação GRASS/FIRE/WATER: Shroomish (GRASS), Numel (FIRE/GROUND) e Wailmer (WATER) completam a equipe. No último embate, Swellow (NORMAL/FLYING) é adicionado, mas nada muito impactante.
Emerald
Na versão Emerald, há uma ligeira mudança no time e na quantidade de batalhas, porém, ainda não temos o inicial em sua forma final. Os Pokémon de apoio também mudaram: agora temos Tropius (GRASS/FLYING), Pelipper (WATER/FLYING), Slugma (FIRE) e Ludicolo (WATER/GRASS) para cobrir o inicial.
A repetição de tipos é prejudicial no aspecto defensivo e explorada facilmente. Sem dúvidas, é o pior time que um rival pode ter em um jogo da linha principal da franquia.
Omega Ruby/Alpha Sapphire
Finalmente uma equipe com inicial em sua forma final! Aliás, todos os membros atingem seus estágios evolutivos definitivos. A grande questão é que, mesmo sendo um remake, ou seja, o jogo foi refeito para se adequar à sexta geração, caso o protagonista escolha Mudkip, o Sceptile do rival não possui um golpe do tipo GRASS.
Isso não acontece com os demais iniciais, provando mais uma vez que ter Swampert na região de Hoenn habilita o modo super fácil.
Wally
Ruby/Sapphire/Emerald
O verdadeiro rival da terceira geração. Wally começa totalmente amador com seu Ralts e torna-se um grande treinador antes de chegarmos ao prédio da Elite Four. Nas versões do GBA, seu trunfo é Gardevoir, poderoso monstrinho do tipo PSYCHIC.
Avaliando sua equipe, temos um conjunto bom no papel, porém fraco na prática. Magneton sofre com falta de cobertura ofensiva, embora seja muito bom na retaguarda protegendo Gardevoir em virtude das múltiplas resistências da combinação ELECTRIC/STEEL.
Roselia ainda não é Roserade, portanto, perde muito de seu potencial. Seus dois tipos, GRASS/POISON, não são muito úteis na região de Hoenn. Ainda, seus atributos estão muito aquém do esperado, e mesmo com estratégias de dano por turno com Toxic + Leech Seed, dificilmente poderá se aproveitar da cura.
Altaria é um dos grandes acertos de seu time graças às resistências do tipo DRAGON e pela técnica Dragon Dance. Depois de alguns acúmulos, fica complicado parar. Na terceira geração, todos os golpes do tipo FLYING usavam o Attack, portanto, Aerial Ace será muito potente e possui precisão perfeita.
Por fim, Delcatty é um modesto suporte com o movimento Assist, permitindo que a gata do tipo NORMAL use qualquer uma das técnicas de seus colegas. Em geral, o time de Wally é bem equilibrado no quesito tipos, contudo, é muito penalizado pela falta de cobertura ofensiva.
Omega Ruby/Alpha Sapphire
A equipe de Wally é praticamente a mesma, só que agora está devidamente equipada com habilidades e movimentos que vão ao encontro do status de rival. Os avanços da terceira para a sexta geração foram inúmeros, sendo os mais importantes a divisão de categoria dos golpes e o aumento das possibilidades com técnicas novas.
Adicionalmente, houve uma “pequena” mudança: em vez de Gardevoir, Gallade passa a ser seu trunfo, e em sua forma Mega. Essa alteração transforma completamente a identidade do personagem, mostrando que Wally é bem forte, indo ao encontro do tipo FIGHTING de seu principal aliado.
Isso pode ter sido feito de maneira intencional, já que Diantha, campeã da região de Kalos e integrante do universo da sexta geração, possui uma Gardevoir como trunfo, e que também atinge sua mega forma. Logo, não faz sentido repetir o Pokémon mais forte por dois jogos seguidos.
Em sua mega evolução, Gallade recebe um incremento massivo de Attack e Speed, remediando um dos problemas de sua forma base, que mesmo sendo forte ofensivamente, sofre contra adversários mais rápidos, inclusive sua contra parte, Gardevoir.
Barry
Diamond/Pearl/Platinum
Barry manteve a estratégia empregada por Blue em manter metade do elenco fixo e a outra de acordo com seu Pokémon inicial. Essa prática estabelece um padrão no time do rival e o mantém competitivo durante toda a jornada.
Staraptor (NORMAL/FLYING) é um dos melhores Pokémon da quarta geração. A técnica Close Combat não é exclusiva, mas é um de seus principais diferenciais. Heracross (BUG/FIGHT) é poderoso e mesmo sem Megahorn, atinge cobertura neutra e super efetiva em diversos Pokémon da região de Sinnoh.
Snorlax (NORMAL) fecha o trio fixo como um tanque ofensivo. Além de causar muito dano, pode se recuperar por meio da técnica Rest. Com esses três Pokémon em seu time, Barry pode dar trabalho para treinadores que não são familiares com o jogo, e certamente punirá as escolhas duvidosas do jogador.
O trio rotativo consiste em Roserade (GRASS/POISON), Rapidash (FIRE) e Floatzel (WATER). Todos são excelentes ofensivamente, pois a cobertura de tipos atingida com STAB e técnicas complementares é ampla.
Um fato curioso sobre a equipe de Barry é que dois de seus membros são obtidos nas Honey Trees, e a coisa fica ainda mais intrigante quando as chances de capturar Heracross são maiores em árvores de Munchlax.
Em Brilliant Diamond/Shining Pearl, o time é o mesmo das versões base, com algumas alterações de moveset. Como a estrutura dos remakes é praticamente a mesma dos jogos originais, seja em termos de mecânicas ou movimentos, não teremos um tópico dedicado exclusivamente para essa finalidade.
Finalizada a primeira parte de análise da trajetória dos rivais na franquia Pokémon, podemos concluir que ao longo das quatro primeiras gerações, o perfil dos “antagonistas” , por assim dizer, se manteve próximo ao proposto na primeira geração.As equipes são bem equilibradas do ponto de vista de construção, considerando múltiplos tipos e golpes, embora algumas sejam sobrecarregadas nesse aspecto. A seguir, na segunda parte, falaremos sobre os sinais de declínio dos rivais e como isso acabou moldando as gerações mais recentes.
Revisão: Beatriz Castro






















