Chegamos à terceira e última parte da trajetória dos rivais ao longo das gerações da franquia Pokémon. Até agora, vimos como foi o começo dessa história rica em dificuldade com a Ascensão e Consolidação e como o tempo passou a apresentar Sinais de Declínio.
Na sétima geração, tivemos a primeira grande mudança: o rival principal escolhe o Pokémon com desvantagem, enquanto que uma segunda figura, introduzida conforme a história progride, possui algum tipo de “vantagem”.
Esse modelo não agradou fãs de longa data da franquia com a justificativa de que o jogo passou a ser mais fácil e amigável em vez de difícil e recompensador. Hoje, vencer um rival é mais uma batalha dentre as muitas que precisamos superar para finalizar a história.
A rivalidade deu lugar à amizade: em vez de detonar o protagonista com golpes fortes e níveis acima dos desafios próximos, os rivais atuais estão mais preocupados com a condição dos Pokémon adversários do que com seu próprio time.
A seguir, você confere o desfecho intitulado de Crise e Colapso, pois os rivais perderam completamente o sentido na história e o espírito desafiador que esse título carrega. Boa leitura!
Hau
Sun/Moon
Hau foi o primeiro na era “friendly” a selecionar o Pokémon inicial com desvantagem sobre o protagonista. De fato, Bianca e Shauna já haviam feito isso, porém, não eram rivais diretas, e sim, complementos da história.
Por outro lado, o neto de um dos treinadores mais fortes da região de Alola, o kahuna Hala, acabou escorregando na casca de banana e não aplicou todo o conhecimento obtido na família. Nas versões Sun/Moon, seu time é composto por quatro Pokémon, indo ao encontro do que abordamos até agora.
Alolan Raichu abre os trabalhos, e sua combinação de tipos ELECTRIC/PSYCHIC é poderosa, mas sofre com a baixa diversidade dos colegas. A falta de um usuário da técnica Electric Terrain limita o uso de sua habilidade, Surge Surfer.
Em seguida, uma Eeveelution foi selecionada, e para não haver sobrecarga de tipos, desta vez, enfrentaremos ou Leafeon (GRASS), ou Flareon (FIRE) ou Vaporeon (WATER), a depender do inicial do protagonista.
Komala (NORMAL) é interessante no papel, já que não pode sofrer condições negativas, como BURN, em virtude de sua habilidade Comatose. Porém, a falta de um movimento STAB prejudica a ofensiva.
Ultra Sun/Ultra Moon
No segundo universo da sétima geração, a equipe de Hau recebeu gratas adições, finalizando com seis integrantes. Curiosamente, nossa última batalha é para decidir o título da região de Alola. O timing desse confronto se assemelha muito ao de Red e Green, uma vez que Hau chega logo após o protagonista ter vencido a Elite Four.
O quarteto do primeiro jogo se mantém, com exceção de Komala que dá lugar a Tauros, também do tipo NORMAL. Noivern (FLYING/DRAGON) e Crabominable (FIGHTING/ICE) completam a equipe. O caranguejo de gelo pode ser uma referência a seu avô, especialista no tipo FIGHTING.
Um ponto que me intriga até hoje é que as versões localizadas na região de Alola não são continuações, mas sim, histórias separadas. Arrisco dizer que a Game Freak, ao ver a besteira feita na primeira, decidiu corrigir alguns pontos, e o time de Hau é o exemplo perfeito.
Gladion
Sun/Moon
O irmão mais velho de Lillie é introduzido na história como membro do Team Skull, no entanto, seus interesses não estão 100% com a equipe, diferente dos demais integrantes. Gladion é um profundo conhecedor dos Pokémon, e chega até a criticar Hau por não levar as batalhas com seriedade.
O garoto loiro possui em seu time bons Pokémon e que podem oferecer certo perigo, especialmente nos estágios finais da aventura. Crobat (POISON/FLYING) é o primeiro a entrar em campo, apostando em grandes quantidades de dano com a técnica Acrobatics.
Weavile é o segundo membro, dos tipos DARK/ICE. Assim como o morcegão, a fuinha de gelo é rápida e mais potente, podendo até apostar em golpes de prioridade, como Ice Shard. Lucario é… Lucario. O chacal da região de Sinnoh, dos tipos FIGHTING/STEEL, porta o Steelium Z e geralmente causa problemas.
Seu trunfo é Silvally, criatura desenvolvida em laboratório para conter todas as Ultra Beasts existentes. Isso é possível graças à sua habilidade, RKS System, uma analogia ao Pokémon lendário Arceus, já que a pronúncia da sigla R-K-S em inglês é similar ao nome do Deus Pokémon.
Em vez de placas, Silvally pode receber até 18 memórias, uma para cada tipo e mudando seu tipo base, permitindo que se adapte a qualquer necessidade. Nos jogos, a memória selecionada por Gladion é aquela que supera o inicial do protagonista.
Ultra Sun/Ultra Moon
Novamente, o time de Gladion possui quatro membros, e há uma pequena mudança: Weavile dá lugar a Zoroark, que é do tipo DARK puro. Há um singelo “downgrade” em relação ao time do primeiro jogo, já que o tipo ICE é muito bom ofensivamente.
Infelizmente, não sabemos o porquê de seu time permanecer limitado a quatro Pokémon. Até mesmo Hau ganhou um time completo antes da finalização da história. Após o protagonista se tornar o campeão, Gladion pode desafiar o título, dessa vez com o time contendo seis integrantes.
Porygon-Z (NORMAL) e um dos iniciais de Kanto, Venusaur (GRASS/POISON), Charizard (FIRE/FLYING) ou Blastoise (WATER), são acrescentados ao elenco, arredondando perfeitamente o gráfico de tipos, pois sua escolha também é com base no inicial do protagonista.
Particularmente, gosto muito do universo da região de Alola e de Gladion. Sua música tema é incrível. Sua personalidade forte e inabalável são ótimas qualidades para um rival de respeito. Em minha humilde opinião, ele merecia ter um time completo assim como Hau.
Hop
Seguindo os passos de Hau, o irmão mais novo de Leon é um rival muito, mas muito amigável para o protagonista. A escolha de seu inicial também segue o mesmo padrão, ou seja, Hop sempre seleciona aquele com desvantagem.
O quinteto de Hop é bem simples e facilmente explorado. Nem parece um rival de verdade. Dubwool (NORMAL) é o primeiro Pokémon a ir para campo e tem um papel significativo na história de Hop por ser seu primeiro companheiro.
Corvinight é, talvez, o melhor Pokémon em seu time. Dos tipos FLYING/STEEL, o corvo de aço possui resistências importantes e duas imunidades. Pincurchin (ELECTRIC) é o atacante especial do grupo e pode ser usado como suporte para Corvinight graças à sua habilidade Lightning Rod.
Snorlax (NORMAL) mais uma vez faz parte do time do rival e opera como um tanque ofensivo. Contudo, não possui nenhum golpe de STAB, o que dificulta sua ofensiva. Ainda que tenha Thick Fat como habilidade, a presença de Snorlax no time causa o acúmulo de fraqueza para o tipo FIGHTING, já que possui o mesmo tipo de Dubwool.
Um detalhe interessante sobre o time de Hop é que sempre são os mesmos Pokémon, alternando apenas o inicial. A região de Galar possui uma boa variedade de monstrinhos, ainda mais considerando a Wild Area. Desse modo, é completamente possível montar um time adequado para cada escolha inicial.
Bede/Marnie
Pela primeira vez na franquia, temos dois rivais especialistas em um tipo específico. Marnie é apresentada relativamente cedo na aventura e possui Pokémon do tipo DARK. Bede chega um pouco depois e possui Pokémon do tipo PSYCHIC.
Durante os eventos da história, Opal, líder de ginásio da cidade de Ballonlea, vê um grande potencial no garoto para sucedê-lo como líder e, com isso, Bede troca sua especialidade para o tipo FAIRY, embora 75% de sua equipe mantenha sua especialidade inicial.
O time de Marnie é composto por Liepard (DARK), Toxicroak (POISON/FIGHTING), Scrafty (DARK/FIGHTING) Morpeko (ELECTRIC/DARK), e seu trunfo é Grimmsnarl, dos tipos DARK/FAIRY, sendo este capaz de ativar o fenômeno Gigantamax.
Ser especialista em um tipo é uma faca de dois gumes: o tipo DARK é bem ofensivo e conta com bons golpes. No entanto, defensivamente, todos partilham da mesma fraqueza. Ainda que Toxicroak ajude contra as fadas e lutadores, não é garantido que tenha sucesso.
O mesmo se aplica para Bede: seu time é composto por Mawile (STEEL/FAIRY), Gardevoir, Galarian Rapidash e Hatterene, todos dos tipos PSYCHIC/FAIRY. Em outras palavras, qualquer Pokémon do tipo STEEL é um perigo para o time de Bede. Finalmente um rival sem fraqueza exacerbada para o tipo FIGHTING!
Nemona
Assim que a história de Scarlet/Violet começa, é revelado para o jogador que Nemona possui o título de campeã da região de Paldea. Confesso que isso me chocou um pouco no início. Para ajustar o nível de dificuldade geral, a garota energética usa uma equipe completamente diferente para acompanhar o desafio de ginásios do protagonista.
Em virtude disso, não sabemos exatamente qual foi o seu primeiro Pokémon. Para fins de história, Nemona sempre seleciona o inicial que perde para o protagonista. O restante da equipe é idêntica e independe dessa escolha.
Lycanroc (ROCK) é o primeiro que Nemona lança ao campo. É importante mencionar que o moveset usado é bem similar ao competitivo, logo, espere por jogadas inesperadas. Goodra (DRAGON) retorna ao time de um rival e é o tanque especial do grupo.
Dudunsparce (NORMAL) é um atacante físico com HP massivo e capaz de usar a técnica Coil. Orthworm (STEEL) é o oposto de Goodra: extremamente resistente do lado físico. Por ter a habilidade Earth Eater, é imune a golpes do tipo GROUND.
Pawmot (ELECTRIC/FIGHTING) deixou de ser seu trunfo mas ainda é bem importante. Altamente potente, o roedor elétrico pode dar trabalho para treinadores inexperientes.
Assim como outros rivais, metade da equipe possui fraqueza para o tipo FIGHTING, limitando muito suas respostas. Apenas quando Skeledirge está presente é que há uma chance de sobrevivência.
Arven
O arco da história envolvendo Arven é um dos mais bonitos da franquia. Sua busca pelos ingredientes misteriosos para curar seu companheiro me fez chorar de verdade. Há muito amor e carinho de Arven por seu Mabosstiff. Até nos jogos, os cachorros são melhores amigos dos humanos.
No entanto, nosso primeiro contato com o cozinheiro é bem diferente. Apenas um Skwovet no Lv.5 e muita marra. Com o tempo, Arven reconhece o protagonista como um bom amigo ao receber ajuda na procura das ervas místicas da região de Paldea.
Em termos de equipe, seus comandados não são excepcionais, e advinhe: metade é fraca para o tipo FIGHTING, nada de novo por aqui. Greedent (NORMAL) inicia as batalhas e aplica bastante pressão com Body Slam.
Em seguida, temos a famosa combinação GRASS/FIRE/WATER com Cloyster (WATER/ICE) e Scovillain (GRASS/FIRE). Essa dupla é muito boa pelo fato de cobrir os três tipos com apenas duas vagas.
Toedscruel (GROUND/GRASS) acumula o tipo grama e não agrega tanto assim. Talvez, substituí-lo por outra criatura do tipo GROUND, como Clodsire ou Hippowdon, o desempenho do time seria melhor.
Garganacl (ROCK) é um Pokémon bem interessante e que pode apresentar perigo após alguns usos de Salt Cure, seu movimento exclusivo. Seu trunfo é Mabosstiff (DARK), sendo este terastalizado sempre que possível.
Veredito
Nas primeiras gerações, os rivais eram mais desafiadores e ocupavam um lugar de destaque na história. Os embates, muitas vezes, eram os mais difíceis por conta da vantagem clara entre os tipos dos Pokémon iniciais.
Com o tempo, o papel do rival foi mudando, embora ainda faça parte da história principal. Nas gerações mais recentes, esse conceito foi reformulado para se adequar à nova visão imposta pela Game Freak: Pokémon deixou um pouco de lado a dificuldade e passou a ser mais amigável, especialmente com novos jogadores.
Evidentemente, essa mudança refletiu diretamente na fórmula básica aplicada em todas as gerações. Se antes o rival era consideravelmente mais forte e nos convidando para uma batalha surpresa após uma caverna recheada de Zubat, hoje a cada cinco passos, nossos “rivais” curam o time do protagonista completamente.
Encerramos aqui a trajetória dos rivais ao longo das gerações da franquia Pokémon. A partir da região de Alola, a figura do rival foi enfraquecida consideravelmente, e o próprio jogo brinca com isso.Os times que, raramente, possuem seis integrantes chamam atenção no papel, porém a execução é um completo desastre. Não há como argumentar a favor de um Pokémon com apenas dois golpes e fraqueza para o mesmo tipo em três versões seguidas.Esperamos que a décima geração traga de volta o espírito desafiador que as primeiras souberam aplicar tão bem, devolvendo um pouco do brilho e importância que este título merece.
Revisão: Beatriz Castro
















