Análise: No Sun To Worship é uma linda pequena carta de amor aos jogos stealth

Uma carta de amor simples aos jogos stealth, com mecânicas bem consolidadas e divertidas que impressionam, mas que poderia ter sido um pouco maior.

em 12/07/2025
Desde o início, a indústria de jogos sempre almejou crescer, com produções cada vez mais ambiciosas em escopo — e, consequentemente, na fidelidade visual e na complexidade de suas mecânicas. No cenário atual, os títulos mais desejados pelo público não podem ser apenas bons, precisam ser excelentes e com centenas de horas de conteúdo.


Mas, surpreendentemente, em contraponto à constante evolução da indústria, No Sun To Worship se autointitula como um jogo stealth de ação minimalista e curto. É um título com pouquíssimas mecânicas, jogabilidade simples e direta, e que pode ser finalizado facilmente em uma única sessão curta. Pela premissa, ele poderia facilmente passar despercebido em meio a tantos lançamentos, mas surpreende ao se destacar justamente pelo seu minimalismo e pela jogabilidade envolvente.

Com fortes inspirações em Metal Gear Solid e Splinter Cell, No Sun To Worship nos relembra que não é preciso investir milhares de dólares ou rechear um jogo com centenas de horas de conteúdo para que ele seja bom. Às vezes, basta a paixão por desenvolver e a vontade de expressar ideias para criar uma experiência divertida e simples — que acolhe o jogador como um abrigo confortável em meio a tantos jogos gigantes que temos atualmente.

Entre as sombras e o silêncio

Apesar de suas inspirações notáveis em jogos stealth clássicos, No Sun To Worship trata sua narrativa de forma diferente. Ao contrário desses jogos, o jogo não possui uma narrativa tradicional com início, meio e fim, e não conta com uma história propriamente dita. Você apenas recebe a missão de “punir” alvos espalhados pelas fases, e cabe a você montar a estratégia ideal para cumprir esse objetivo.

Por corredores sombrios, cavernas escuras e instalações tecnológicas, você estará se esgueirando, eliminando inimigos de forma sorrateira e tomando decisões estratégicas sobre como cumprir sua missão — optando por um caminho caótico e explosivo ou uma abordagem mais cuidadosa e silenciosa.

Definitivamente, uma das coisas de que mais gostei no jogo é a liberdade que você tem para completar as missões. Os mapas amplos, cheios de passagens e atalhos, incentivam a criatividade na hora de resolver os desafios, e o fato de o game não contar com checkpoints durante as fases, os momentos em que seu plano não sai como você imaginava tornam a experiência mais tensa que o normal em jogos do gênero.
No Sun To Worship conta com mecânicas simples e fáceis de entender. Você tem a movimentação básica de um jogo de stealth, como andar em pé ou agachado para evitar fazer barulho, e suas principais preocupações ao se locomover serão sua visibilidade frente aos inimigos — afetada pela iluminação do ambiente — e os sons produzidos pelos seus passos.

Existem vários tipos de superfícies que podem ser mais silenciosas ou barulhentas, exigindo atenção redobrada ao se movimentar. Além disso, você também pode utilizar dois tipos de arma de fogo: uma pistola com silenciador, ideal para eliminar alvos discretamente, e uma metralhadora barulhenta, mas eficaz contra inimigos mais resistentes.

Mas definitivamente, um dos elementos mais marcantes do jogo é como você é incentivado a arriscar sua vida de forma estratégica. Para se mover em completo silêncio e evitar ser detectado, é preciso gastar parte da sua vida, o que adiciona uma camada de estratégia única e inovadora ao gênero stealth.
Em diversos momentos, é preciso agir rápido e se arriscar, sacrificando parte da sua vida para eliminar um inimigo discretamente, sem alertar os demais.
Você pode recuperar vida “consumindo” os inimigos abatidos, mas, para isso ser eficaz, é preciso eliminá-los de forma totalmente discreta, sem que percebam sua presença. Essa mecânica não pode ser usada de forma leviana, pois, se mal administrada, seu personagem ficará com pouca vida para lidar com urgências que possam surgir. Mesmo com vários inimigos espalhados pelos mapas, sem estratégia nas decisões, é fácil acabar ficando vulnerável rapidamente.

O que poderia ser apenas um título genérico e simples se transforma em uma experiência engajante, desafiadora e que instiga a criatividade na hora de montar estratégias e tomar decisões de última hora. A mecânica inovadora que utiliza a sua vida como parte ativa do plano representa um diferencial criativo e eleva significativamente o envolvimento do jogador.

Ambiente hostil, estilo sutil

Visualmente, o jogo utiliza várias técnicas e estilos inspirados especialmente em Metal Gear Solid, como texturas pixeladas semelhantes e modelos low-poly. No entanto, combina isso com uma iluminação moderna, sombras detalhadas e ambientes com luzes complexas que dão vida às áreas escuras — criando cantos e espaços que funcionam como esconderijos naturais para o jogador.

O design e estilo retrô, misturados à iluminação moderna, formam uma combinação impressionante e se encaixam perfeitamente para tornar a experiência visualmente marcante, especialmente pelas cores fortes. Essa escolha estética ganha ainda mais importância ao ser implementada como uma mecânica fundamental do jogo, exigindo que o jogador leve o ambiente em conta ao traçar sua trajetória pelo mapa.
Ainda assim, há pequenos problemas na forma como a barra de iluminação funciona. Em alguns momentos, mesmo em áreas visivelmente escuras, a barra indicava alta visibilidade, sugerindo que o jogador poderia ser facilmente detectado. Em outros, o oposto acontecia: eu tinha certeza de que seria visto, mas os inimigos simplesmente não me percebiam. Mas esses casos foram raros e quase não afetaram minha imersão.

Uma missão relativamente fácil

Mesmo com suas mecânicas engajantes e inimigos que, em alguns momentos, podem ser mais fortes que você, No Sun To Worship não é um jogo extremamente desafiador. Apesar de ter falhado em certas missões, suas mecânicas são fáceis de entender e dominar. Depois que você aprende alguns truques para lidar com os NPCs, o jogo se torna bem mais acessível — e as chances de morrer diminuem drasticamente.

Curiosamente, no momento em que você está começando a dominar as mecânicas do jogo, ele chega ao fim. Isso porque No Sun To Worship tem apenas entre duas a três horas de duração — o que, para alguns, pode ser visto como um ponto positivo, e para outros, negativo.
Com sua proposta de ser um jogo minimalista sobre a importância da arte, pode-se dizer que ele entrega uma gameplay divertida, consistente e com mecânicas inovadoras. Ainda assim, como produto, é um jogo bastante curto — e é difícil não sentir uma leve frustração com a brevidade da experiência.

De certa forma, esse jogo e sua curta duração me remetem à época em que os jogos eram mais simples, focados puramente em divertir, e muitas vezes jogávamos sem entender bem a história — teorizando com base apenas em cutscenes e elementos de cenário que nem sempre conseguíamos interpretar com precisão.

Último relatório de campo: missão bem-sucedida

De modo geral, No Sun To Worship não foi o maior nem o mais ambicioso título que experimentei recentemente. Ele não tem grande escopo e é bastante curto. Ainda assim, foi uma das experiências mais marcantes e divertidas que tive nos últimos tempos.

Com uma jogabilidade orgânica e rica, cenários belamente iluminados e, de modo geral, uma experiência bastante divertida, No Sun To Worship é o tipo de jogo que posso recomendar para qualquer pessoa. Porque, mesmo sendo simples e minimalista, ele ainda reserva momentos desafiadores e surpreendentes — e é o tipo de jogo que você pode abrir a qualquer momento, com a certeza de que vai se divertir.

Este é o fim do relatório, soldado. Agora, certifique-se de que ninguém descubra esta mensagem, e cumpra a sua missão. Câmbio, desligo.

Prós

  • Mecânicas inovadoras para o gênero e jogabilidade engajante, que incentiva o jogador a ser estratégico e criativo;
  • Visual que mistura perfeitamente o retrô ao moderno, servindo também como mecânica para a gameplay;
  • Mapas grandes e repletos de detalhes e caminhos diferentes para você seguir e explorar.

Contras

  • Jogo extremamente curto, podendo até mesmo ser menor que um filme;
  • Em alguns momentos, há uma certa discrepância entre o ambiente que você está e o seu nível de visibilidade;
  • Jogo sem narrativa, focado apenas em gameplay.

No Sun To Worship — PC/PS5/Xbox X|S/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério
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Samuel Expeditto
é um jovem que gosta de catalogar e documentar as histórias dos jogos. Sua planilha de jogos zerados cresce semanalmente, e você pode acompanhar seus vídeos e análises no YouTube e Instagram.
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