Nintendo: o futuro da empresa é intermidiático

Com jogos, filmes, parques, aplicativos e inúmeros produtos, a Nintendo se faz cada vez mais presente na vida do público.

em 31/07/2025

Durante décadas, a Nintendo foi sinônimo de videogames. A empresa japonesa construiu alguns dos universos mais icônicos e influentes da história do entretenimento digital, com personagens como Mario, Link, Samus, Donkey Kong e Pikachu atravessando gerações. No entanto, nos últimos anos, a Big N tem sinalizado que quer mais. Muito mais.

Com investimentos crescentes em outras áreas — como parques temáticos, filmes e animações —, a Nintendo parece estar traçando um caminho no qual suas franquias se tornam experiências que ultrapassam os limites da tela e do controle.

Inspirada por cases de sucesso (inclusive internos), como o de Pokémon, e impulsionada por parcerias com gigantes como com a Illumination e com a Universal Studios, a Nintendo mostra que não quer apenas participar do jogo transmídia — ela quer liderá-lo.

Parques, filmes e mais: o novo império da Nintendo


O lançamento do Super Nintendo World foi um março. Pela primeira vez, fãs puderam literalmente entrar no Reino do Cogumelo e interagir com os elementos do universo de Mario de forma física. A experiência vai além de montanhas-russas temáticas: há mecânicas gamificadas, colecionáveis interativos e integração com aplicativos móveis. Isso não é apenas fan service — é uma estratégia de expansão de marca pensada para criar novas portas de entrada para o público.

Logo depois veio o sucesso de bilheteria com o filme Super Mario Bros. (2023), que consolidou de vez a ideia de que os personagens da Nintendo podem brilhar nas telonas. Com planos quase certos para uma sequência e o live action de The Legend of Zelda, o leque de possibilidades só cresce. A empresa, que antes via outras mídias com cautela, agora parece entendê-las como peças de um tabuleiro muito maior.

Essas apostas se alinham ao conceito de convergência midiática, que o pesquisador Henry Jenkins descreve como um processo em que conteúdos fluem através de múltiplas plataformas e os consumidores assumem papéis ativos nessa jornada. Para a Nintendo, isso parece significar transformar seus mundos em universos compartilhados e multiplataforma — e ao que tudo indica, esse plano está só no começo.

A estética também muda: os novos visuais de Mario e DK


Com a expansão das franquias para o cinema e parques, também veio uma mudança visual. Personagens como Mario, Luigi, Peach e Donkey Kong passaram por pequenas, mas significativas alterações em jogos como Mario Kart World e Donkey Kong: Bananza. As expressões faciais mais refinadas, o acabamento mais “cinematográfico” e a aproximação estética com os filmes são reflexo direto da tentativa de criar consistência entre mídias.

Essa prática é comum em estratégias transmídia: manter a identidade visual coesa ajuda a reforçar a presença dos personagens em diversas plataformas. Jenkins argumenta que, para que uma franquia funcione bem em múltiplos meios, é necessário um forte "núcleo narrativo e estético" — e é nisso que a Nintendo parece estar trabalhando. Não se trata apenas de “deixar os personagens mais bonitos”, mas de adaptá-los para funcionar em diversos contextos sem perder a coesão.

Essa evolução visual também indica um novo tipo de público-alvo: crianças e famílias que podem conhecer os personagens primeiro no cinema ou nos parques, e só depois nos jogos. Manter a familiaridade visual entre essas experiências é crucial para criar um vínculo mais forte com esse novo público — algo que a Nintendo está tratando com atenção estratégica.

Pokémon: o case definitivo da intermidialidade


Se existe uma franquia da Nintendo (ou ao menos fortemente associada à empresa) que já entendeu e aplicou o conceito de intermidialidade com maestria, é Pokémon. Nascido como um jogo de Game Boy em 1996, o universo dos monstrinhos de bolso se expandiu rapidamente para o anime, os mangás, o cinema (animações e live actions como Detetive Pikachu), brinquedos, aplicativos móveis como Pokémon GO, Sleep e HOME, e até experiências ao vivo em eventos e exposições.

Pokémon é talvez o melhor exemplo de como uma franquia pode sobreviver — e até crescer — mesmo quando parte do público se afasta dos jogos principais. Com narrativas que se cruzam entre o anime e os jogos, personagens que migram entre mídias e uma estética fortemente unificada, a série mostra como é possível criar uma “experiência Pokémon” que vai além de qualquer jogo ou produto isolado.

O resultado? Pokémon é hoje uma das marcas mais valiosas do mundo do entretenimento, superando gigantes como Star Wars e Marvel em receita acumulada. E parte disso se deve exatamente à sua capacidade de se adaptar e se expandir para onde o público está — seja em uma tela de cinema, no celular ou em um cardápio de fast food. Se a Nintendo quiser repetir esse sucesso com Mario, Zelda e outras IPs, o modelo já está na casa: é só olhar para Pikachu.

Vantagens e riscos de um futuro intermidiático


Expandir franquias para outras mídias traz diversos benefícios: aumenta a exposição, atinge novos públicos, prolonga a vida útil das IPs e diversifica as fontes de receita. Para os fãs, isso significa poder viver esses universos de diferentes formas — jogar, assistir, visitar, colecionar. Para a Nintendo, é a chance de se tornar mais que uma empresa de games: uma potência global do entretenimento.

Mas nem tudo são flores. Existe o risco da saturação, com excesso de produtos diluindo o valor original das franquias. Além disso, a adaptação para outras mídias pode gerar conflitos de tom, estilo ou até narrativa, especialmente se mal coordenada. O desafio está em manter a identidade das IPs sem engessar a criatividade ou descaracterizar os personagens.

Outra preocupação é o foco: ao abraçar muitas frentes, a Nintendo precisa garantir que os jogos — seu núcleo criativo e financeiro — não sejam deixados de lado. Até agora, a empresa tem equilibrado bem essa balança, mas conforme o número de projetos externos aumenta, esse controle se torna cada vez mais complexo.

A Nintendo está consolidando seu próprio multiverso


O que estamos vendo é uma Nintendo em transformação. A empresa que, durante muito tempo, hesitou em licenciar seus personagens para além dos consoles agora abraça com entusiasmo um futuro no qual jogos, filmes, parques, apps, produtos e animações coexistem em um ecossistema integrado. É uma mudança ousada, mas que parece alinhada com os desejos de um público cada vez mais multiplataforma e ávido por experiências imersivas.

Se seguir o modelo de Pokémon e mantiver o cuidado com a qualidade e coerência dos projetos, a Nintendo tem tudo para construir um império ainda mais duradouro — um verdadeiro multiverso em que cada mídia reforça a outra. E mais importante: algo em que os fãs podem se sentir parte desse universo, seja jogando, assistindo, explorando ou até vivendo nele.

No fim das contas, a Nintendo está fazendo o que sempre fez: reinventando a forma como nos conectamos com seus mundos. Só que agora, ela não está mais limitada ao controle. Ela quer estar em todo lugar — e parece estar conseguindo.

Revisão: Vitor Tibério
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Fernando Lorde
Fernando Paixão Rosa, normalmente referenciado por Lorde, está escrevendo pela internet afora há mais de dez anos e com alguns livros publicados. Escutando música 24h/dia, fã de cultura pop em suas muitas manifestações e mais fã ainda das IP's da Nintendo. Registrando as aventuras nos games no Instagram (@lordeverse) e Twitch (@lordeverso).
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