Mais uma vez, iremos dar uma olhada em mais alguns rostos que fazem parte deste arco-íris e como se identificam. Venha comigo, vamos dar uma volta por esse vale.
Poison (Final Fight/Street Fighter Alpha 2, SNES)
Em Final Fight, a cidade de Metro City está tomada por gangues e valentões, espalhando violência e caos pelas ruas, com a terrível gangue Mad Gear na frente do mal. Entre as lutadoras, está Poison, uma sensual femme-fatalle de juba rosa, chapéu de policial e tendências BDSM, ao lado de sua irmã Roxy.
Sendo uma das personagens do Orgulho mais icônicas dos games, Poison é transsexual. Lenda urbana conta que a adição foi feita por medo da repressão em bater em mulheres em um beat’n up. Contudo, nos próprios rascunhos de Final Fight está escrito Poison e Roxy como “ニューハーフ” , significando “newhalf”, um termo ultrapassado e pejorativo para transsexuais.
Independente de como for, Poison é lembrada por sua sensualidade e, acima de tudo, sua independência. Ela é dona de si, forte, confiante e, tendo deixado o seu passado na Mad Gears de lado para se ficar em luta livre com seu amigo Hugo, estrela de seu próprio espetáculo.
(Fato curioso: Poison é nomeada a partir da banda dos anos 80 de mesmo nome, reconhecida pelos trejeitos afeminados e uso de maquiagem).
A franquia Metal Gear é conhecida por muitas coisas: sua história complexa, aperfeiçoamento do gênero stealth, temas poderosos e personagens bombásticos. Entre eles, está o assassino Vamp, um maluco com pinta de vampiro parte do grupo terrorista Dead Cell.
Nascido na Romênia e tendo uma sede por sangue desde um evento traumático, Vamp tem características notáveis de vampiro como reflexos rápidos, uma provável imortalidade e, nos mitos atuais, uma grande sensualidade, ao passo de rumores dizerem que ele era amante de um importante comandante da Marinha (Vamp é uma gíria para homens sedutores que usam sua beleza para ganho próprio, principalmente com outros homens).
Vamp foi um personagem polêmico quando surgiu, seja pelo espírito conservador da época ou por não trazer o mesmo espírito que outros personagens em Metal Gear emanavam. No entanto, ele ganhou mais fãs com o tempo, especialmente pela dublagem fenomenal de Phil LaMarr, e com sua crescente rivalidade com Raiden, culminando em sequências memoráveis em Guns of Patriots.
Sendo um dos melhores jogos da história, é surpreendente como Chrono Trigger conseguiu ser tão atemporal mesmo tendo sido lançado há mais de 30 anos, seja por seus temas, mecânicas ou personagens. E nele temos a presença de Ayla, a líder de uma tribo pré histórica, testemunha de camarote da chegada do parasita intergaláctico Lavos.
Logo quando aparece, Ayla diz que gosta de força, deixando bem explícito que não importa se a força vir de um homem ou uma mulher, deixando Lucca envergonhada. Essa fala foi alterada no lançamento de SNES, mas consertada quando o jogo foi portado em sua melhor forma, para o DS, além de deixar explícito que Flea, uma presença antagônica, é genderqueer. Ayla se destaca por sua força, irreverência, carisma e humor, compensando a falta de magia com um poder de ataque extraordinário, com sua bissexualidade apenas um fator de seu personagem, mas sem ser sua personalidade.
Eis um exemplo cuja aparição é bem tímida, mas interessante por ser mais um exemplo sútil de representatividade em uma época mais conservadora. Na cidade gelada de Winters, temos o colégio Snow Wood, no qual um dos protagonistas, Jeff Andonuts, é um dos melhores alunos. E lá está seu melhor amigo e colega de quarto, o garoto tímido Tony, ajudando-o a coletar alguns itens antes de partir para sua jornada.
Shigesato Itoi revelou, mais tarde, que Tony é gay, tendo uma quedinha por Jeff. Existem certas dicas sobre sua paixonite pelo garoto como o item “Carta de Tony”, adquirida ao final do jogo, que é endereçada a Jeff, dizendo que sente falta do garoto, que mal pode esperar para ver seu rosto de novo e ainda que poderia limpar os óculos.
Uma pequena curiosidade sobre a Mitologia Grega: efetivamente, eles levavam o lema “Ninguém é de ninguém” ao pé da letra. Deuses e heróis tinham diversos amantes, traições, desejos amorosos e sexuais que dão histórias e interpretações até hoje.
Zagreus, o filho de Hades, foi criado ao lado da líder das Fúrias, Meg, e o Deus da Morte, Thanatos. Ambos personagens tiveram um passado com Zag como amigos íntimos e questionando a ideia do jovem deus em sair do submundo. Lentamente, eles vão percebendo a determinação no rapaz e reconectando os sentimentos com ele, reacendendo a chama da amizade… Ou quem sabe algo a mais?
Como uma boa história grega, é possível romancear qualquer um dos dois e até mesmo ambos ao mesmo tempo, sem qualquer penalidade por tudo ser consensual. Além disso, é possível romancear a cabeça de medusa voadora Dusa e essa é sempre a melhor escolha.
Hallownest está morrendo. O que antes era um reino glorioso, agora é só uma casca vazia devido a hubris do Rei Branco contra a Radiância. Quase ninguém está vivo e os que sobraram, perderam esperança e propósito.
Entre eles, está Sheo, um lendário lutador que se aposentou para ter uma vida pacífica como artista. Do outro lado das ruínas, está Nailmaster, um ferreiro que procura um propósito de vida após ver o fim do Reino. Ao forjar o ferrão de Knight até seu ápice, ele pede que o pequeno inseto corte-o para que ele possa provar o sabor de uma lâmina perfeita.
Caso o jogador poupe o velho, ele poderá ser encontrado na cabana de Sheo e a conquista “Casal Feliz” será desbloqueada. Ao conversar com ambos, descobrimos como os dois insetos estão extremamente felizes, tendo encontrado alguém que possa apreciar arte e criação, além de um pequeno significado em meio a tanta morte e miséria.
Para finalizar a lista, vamos falar de Testament. Quando criança, virou uma Gear contra sua vontade e causou morte e destruição por onde passava, conhecendo apenas dor e cultivando um ódio enorme contra a humanidade. Protegendo Dizzy, uma Gear que, apesar de tudo, conseguiu encontrar a felicidade e amor nos humanos, Testament decidiu que era melhor deixar o passado de lado e procurar sua própria paz.
Quando apareceu lá no primeiro jogo, Testament era um personagem masculino com traços andróginos, além de ser completamente voraz contra o jogador, sendo um chefão final impiedoso e extremamente difícil, reflexos da visão de personagem estabelecida. Agora, em -Strive-, quando sua visão de mundo está completamente diferente desde o começo de sua jornada, seu design é bem mais ambíguo, deixando a linha de percepção de masculino e feminino bastante vaga, em par com sua identificação como não-binarie.
Essa identificação vai além das camadas de como Testament evoluiu como personagem, indo para a escolha de sua voz, com Kayleigh McKee dublando, uma veterana da dublagem e mulher trans.
Menções honrosas
- Sir Hammerlock (Borderlands 2, Switch. Gay)
- Edelgard (Fire Emblem: Three Houses, Switch. Bi)
- Flea (Chrono Trigger, SNES. Genderqueer)
- Frisk e Kris (Undertale e DeltaRune, Switch.Não-binarie)
- Usvestia (Phantasy Star II, Wii. Gay)
- NiGHTS (NiGHTS, Wii. Agênero)
- Leo (Tekken Tag Tournamente 2, Wii U. Genderqueer)
- Bolson (The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Wii U/Switch. Queer-coded)
- Corrin (Fire Emblem: Fates, 3DS. Bi)
- Undyne (Undertale, Switch. Sáfica)
- Monika (Doki Doki Literature Club!, Switch. Bi/Pan)
- Jolly Roger (Banjo-Tooie, N64. Gay)
- Lil Gator (Lil Gator Game, Switch). Não-binárie)
- Tin Lizzy (Later Alligator, Switch. Sáfica)
- Sylvando (Dragon Quest XI, Switch. Gay)
Somewhere over the Rainbow…
Essa lista foi mais curta que o ano passado, mas porque eu quis dar foco para personagens que achei que pudessem ser mais relevantes nesse momento. Independente do tamanho, espero que tenham gostado dos holofotes em alguns personagens especiais. Tem algum personagem que faltou na lista, seja no texto ou na recomendação? Deixa a gente saber no comentário.
Desejo a todos, todas e todes um excelente ano e fiquem orgulhosos e felizes como são!
Revisão: Beatriz Castro
