Análise: No Sleep For Kaname Date - From AI: THE SOMNIUM FILES continua a série de aventura textual de forma morna

Servindo de ponte para os seus antecessores, o terceiro AI não empolga.

em 17/07/2025
No Sleep For Kaname Date - From AI: THE SOMNIUM FILES
é o terceiro jogo da franquia de aventuras textuais criada por Kotaro Uchikoshi, que agora assume um papel mais de supervisão. Funcionando como uma espécie de interquel entre o primeiro AI e nirvanA Initiative, o jogo acaba trazendo uma proposta de narrativa e gameplay menos ousada que seus antecessores.

Sem descanso para o Date

Em No Sleep For Kaname Date, o protagonista do primeiro jogo precisa investigar o misterioso sumiço de Iris Sagan, streamer popular que era uma figura central da história original. Em um dia aparentemente normal, a garota desaparece e começa a participar de um escape game, pedindo a ajuda virtual de Date para solucionar os desafios.
 
A obra então segue em duas frentes: de um lado, Date vaga pela cidade vasculhando pistas do paradeiro de Iris; do outro, Iris precisa encontrar formas de escapar de seu cativeiro. Aos poucos, os detalhes vão se conectando até a resolução completa do caso.
Embora comece de forma interessante, a história se desenrola de uma forma sem graça, fraca e forçada. A sensação é que as coisas só demoram a ser resolvidas porque os personagens estão arbitrariamente atrasando Date e a resposta para o grande mistério é de uma obviedade tão grande que é fácil antever todos os detalhes horas antes deles virem à tona.
 
Da mesma forma, os personagens acabam sendo reduzidos a seus traços mais característicos. Graças a isso, fica a sensação de que eles são apenas caricaturas que assumiram o lugar dos originais. Por outro lado, as atuações vocais, tanto em inglês quanto em japonês, continuam de alto nível, mesmo que dentro das limitações de qualidade do roteiro.

Um novo mergulho

Em termos de gameplay, é possível dividir a experiência em basicamente três momentos: exploração, Somnium e Escape Rooms. As duas primeiras já são conhecidas por quem jogou AI, sendo os momentos de vasculhar o mundo real e a loucura do mundo onírico do subconsciente de personagens relevantes. Já a terceira é uma adição inédita para a franquia, mas que existia em Zero Escape, trilogia de sucesso de Uchikoshi.
 
A exploração segue um formato de point-and-click em que devemos explorar vários mapas, interrogando os personagens e possivelmente interagindo com os ambientes, embora isso seja praticamente irrelevante fora fornecer pequenos comentários jocosos. É possível escolher tópicos para conversar com cada um e, dependendo das nossas escolhas, alcançar alguns finais alternativos com tom de piada ou avançar a trama propriamente até a sua conclusão em uma estrutura totalmente linear.
Em certos momentos, Date terá que mergulhar nos Somnia, que são como mundos de realidade virtual dentro da consciência humana. Esses ambientes são um dos pontos-chave da série, trazendo um aspecto surrealista à exploração que força o jogador a tentar entender a mente de quem está sendo investigado.
 
Nesses trechos, controlamos a parceira IA de Date, Aiba, para realizar interações variadas, que podem ser como um sonho louco, tipo soprar uma bigorna para ela flutuar. Dentro desse mundo, temos apenas seis minutos para nossas ações, mas o tempo fica quase parado enquanto o jogador não se movimenta e na verdade é uma moeda que gastamos na locomoção e na interação.
Cada vez que fazemos uma tarefa específica, recebemos Timies, que são modificadores que podem reduzir ou aumentar o custo das nossas próximas ações. Com isso, existe um aspecto estratégico de entender como tudo funciona e tentar otimizar o gasto de tempo nessa exploração para evitar um game over.
 
Embora o formato por si só seja algo bem atípico e interessante, temos apenas três Somnia e todos eles são relativamente simples. A estrutura é linear e não temos múltiplas resoluções para cada Mental Lock, além de não termos mundos com formas mais ricas de exploração como os de nirvanA Initiative.

Procure uma saída

A grande novidade do jogo fica por conta das sequências de Escape Room. Nesses momentos, precisamos explorar áreas inéditas com elementos bem bizarros, como uma espécie de sala dentro de uma nave espacial ou uma fonte termal gigante.
 
Para poder avançar, é necessário interagir com todo o ambiente e encontrar itens que serão úteis como se fossem chaves para desbloquear as próximas partes. Em alguns casos, pode ser necessário combinar alguns itens e dá para conseguir mais pistas do que fazer com cada um deles ao repetir a interação.
Ao contrário dos Somnia, nosso tempo é livre na maior parte do tempo, exceto pelo final, que envolve sempre um momento de risco em que é necessário correr contra o relógio. Além disso, podemos usar uma espécie de radar de uso limitado para ver todos os pontos interativos do mapa, as cores indicam se há interações que ainda não tentamos e, se repetimos demais as ações, o jogo oferece a redução de dificuldade, dando também uma dica mais direta do próximo objetivo.
 
Um detalhe interessante é que é possível selecionar dificuldades separadas para os diferentes modos de gameplay. Ou seja, se o jogador tiver mais dificuldade nos Somnia ou no momento de escape, dá para deixar essa parte mais fácil e manter as outras em outro padrão.
 
Sem entrar em muito detalhe, diria que os momentos de escape compensam a pouca presença dos Somnia, mas também acabam parecendo óbvios de uma forma geral. Apesar das minhas críticas, a gameplay ainda é divertida e pode agradar fãs de aventuras narrativas e da série de uma forma geral, mas fica a impressão de que ela não tem a ousadia criativa de seus antecessores.

Em desgaste

No Sleep For Kaname Date - From AI: THE SOMNIUM FILES
é uma nova aventura que acaba sendo mais simples e previsível do que seus antecessores. Sem o mesmo peso tanto na história quanto na gameplay, o resultado é morno e pouco empolgante, embora ainda tenha uma base sólida o suficiente para não se perder por completo.

Prós

  • A base da gameplay continua sendo uma forma interessante de aventura textual;
  • Possibilidade de escolher dificuldades diferentes para cada “modo”;
  • Boas atuações vocais dos dubladores dos personagens em ambas as línguas.

Contras

  • História previsível e artificialmente arrastada;
  • Estrutura linear e muito menos ousada do que dos antecessores;
  • Poucos Somnia, todos com exploração muito simples;
  • Personagens são quase uma caricatura de si mesmos.
No Sleep For Kaname Date - From AI: THE SOMNIUM FILES — Switch/Switch 2/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
 
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft
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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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