Voltando lá para 2007, ninguém poderia imaginar que, em uma época de rivalidade entre PSP e Nintendo DS, um dia a Sony permitiria que uma das principais franquias do seu portátil fosse parar em um console da Nintendo. Eis que chega 2025 e não só um, mas logo dois clássicos do PlayStation Portable agora estão disponíveis para o Nintendo Switch. Patapon 1+2 Replay é um retorno às aventuras dos guerreirinhos musicais, porém em uma época onde o ritmo é outro.
Pata, pata, pata, pon!
Patapon 1+2 Replay traz a campanha completa dos dois primeiros jogos da trilogia, agora em alta resolução e com melhorias de acessibilidade, como um botão de ajuda que mostra os comandos na tela, regulador de dificuldade e ajuste de tempo do ritmo.
Nesse mundinho, o jogador é o Deus dos Patapons, que os guiará até Earthend, o “fim do mundo”, onde eles encontrarão algo especial prometido à sua tribo.
A interação com os personagens é sempre divertida. Há uma quebra da quarta parede e eles sempre conversam com você, pedindo que sejam guiados pelos diversos desafios que aparecerão nessa longa jornada: caçadas, guerras contra outros exércitos e combates contra monstros gigantes.
E a forma de guiá-los será através da música do Tambor Sagrado. As batidas do tambor energizam os Patapons e eles ficam mais fortes para conseguir lutar contra criaturas muito maiores que eles.
Mesmo os diálogos sendo curtos, sem que a história seja um fator de peso tão grande, foi frustrante ver que os jogos não vieram localizados em português, especialmente considerando que todos os trailers mostravam cenas com as falas traduzidas. Foi uma decepção.
Ritmo e estratégia
Ambos os jogos possuem uma mesma base de jogabilidade, que usa de maneira criativa somente quatro botões. B, A, Y e X são os únicos botões de ação necessários para jogar, cada um sendo responsável por um dos sons do Tambor Sagrado.
Por exemplo, Y faz o som “Pata” e A o som “Pon”, então YYYA significa “Pata, Pata, Pata, Pon”, o comando para avançar a tropa. As variações de comandos não são extensas e sempre seguem esse compasso de 4/4, mas precisam ser bem pensadas durante a missão, especialmente em batalhas contra chefes. Muitas vezes eu acabava perdendo grande parte do meu exército simplesmente porque insistia em atacar em vez de trocar para o comando de defesa ou recuo, que poderia ter sido a salvação daquela tentativa.
Cada acerto consecutivo do timing do tambor aumenta seu combo, intensificando a música até que os Patapons atinjam o estado fever, que os deixa muito mais fortes e capazes de realizar mais ataques.
Como o fever é essencial para conseguir concluir as missões, a quantidade de combos exigidos pelo jogo não são altos, geralmente quatro ou cinco acertos consecutivos são o suficiente. Não senti que fosse um ponto ruim, até porque o jogo só melhora nesses momentos. A música cresce, te deixando ainda mais vidrado na ação, e cada unidade terá um complemento especial: Yaripons saltam antes de atirarem as lanças, Yumipons atiram mais flechas que o normal, Tatepons passam a andar com os escudos erguidos para aumentar a defesa, por aí vai.
Além desses comandos, são eventualmente liberadas músicas especiais chamadas miracles, que só podem ser tocadas em modo fever, capazes de alterar o clima da fase ao criar tempestades ou mudar o curso do vento.
Todos esses aspectos do jogo são apresentados aos poucos e de maneira que deixa a curva de aprendizado bem fluida. O jogador sai da primeira missão, onde só há um exército e precisa caçar alguns animais para se alimentar, e chega nas missões finais, onde já pode montar três exércitos escolhendo entre diversas unidades com suas próprias forças e fraquezas e pensando em como as complementar com determinada habilidade especial do tambor.
A aventura original merecia mais cuidado
Considerando que jogadores de Switch e PC podem estar entrando em contato com a franquia Patapon pela primeira vez agora, foi estranho ver como o primeiro Patapon foi deixado muito na sombra do segundo jogo nessa coletânea.
Boa parte das 10 horas de campanha que joguei consistiu em ficar refazendo missões anteriores para melhorar meus exércitos e conseguir progredir no jogo. Não bastasse a repetição exaustiva, entra o fato da aleatoriedade dos itens. Para criar novos soldados mais fortes, uma certa combinação de itens é necessária, mas a geração de recompensas nas missões é aleatória.
Ou seja, você pode simplesmente refazer a missão toda e não receber nenhum item no final, ou receber algum item que não serve para o que você precisa. Assim, essa missão talvez necessite ser refeita múltiplas vezes, a ponto de ser preferível desistir e tentar sobreviver com tropas um pouco mais fracas nas missões mais difíceis.
Claro que nunca foi prometido que essa coletânea seria um remake, e acredito que nem fosse necessário. Patapon 2 resolve muitos desses problemas; no entanto, alguns aspectos de qualidade de vida já seriam o suficiente para deixar o primeiro mais legal. Só um balanceamento melhor na geração de itens ou diminuição de repetição nas fases faria muito bem ao jogo.
Eu poderia simplesmente dizer que é só jogar o Patapon 2 de uma vez, porém a maioria deve acabar jogando os jogos em ordem. Pensando nisso, sinto que há um risco de ficarem com uma má impressão da série pela estrutura datada de missões do primeiro.
E não é como se tivessem faltado oportunidades, pois ambos os jogos já tinham recebido uma remasterização para PlayStation 4 há alguns anos, então lançar pela terceira vez essa duologia sem trazer essas mudanças é, no mínimo, estranho.
Alguns conteúdos são mais interessantes que outros
Tanto em Patapon 1 quanto 2, existem conteúdos extras durante a campanha e após o zeramento. Alguns dos minigames que surgem durante a campanha são interessantes no começo, mas logo perdem a graça por não apresentarem muitas variações ou recompensas. Consistem em pequenos desafios musicais que vão dar algum item ou dinheiro para investir nos exércitos.
Já após o zeramento, são desbloqueadas novas missões com chefes mais desafiadores, que entregam recompensas maiores. Existe até uma mensagem no jogo dizendo que “é aqui onde a aventura começa de verdade”, pois serão batalhas que exigirão todo preparo e conhecimento dos jogadores.
E é nesse conteúdo adicional que um recurso exclusivo de Switch é apresentado. Em Patapon 2, é possível realizar algumas missões em modo cooperativo local. Esses desafios não podem ser feitos por dois jogadores no mesmo console, e sim via conexão Wireless entre dois Nintendo Switch. Não chega a ser o ideal, porém é uma oportunidade de jogar com amigos que somente o Nintendo Switch oferece.
Uma coletânea segura, para o bem e para o mal
Patapon 1+2 Replay parece ser uma coletânea com um objetivo bem específico: ser apresentada para novos jogadores, especialmente no Switch e no PC, onde os jogos chegam pela primeira vez.
Isso é, ao mesmo tempo, bom e ruim. É bom pelo novo público que os games podem atingir, mas é ruim por jogar seguro demais e não tentar trazer ainda mais melhorias, que poderiam até mesmo chamar a atenção de quem já é fã e gostaria de experienciar de novo os jogos com aquele algo a mais. O preciosismo pela experiência original acabou sendo tanto que os games nem sequer têm uma opção de pausar, justamente porque no PSP também não tinha.
Ainda assim, não dá para dizer que a coletânea não cumpre o que promete. São jogos beirando as duas décadas de idade, e agora estão presentes em plataformas modernas para, quem sabe, fazer com que mais jogadores queiram embarcar nessa jornada até Earthend.
Prós
- Comandos de ritmo fáceis de aprender e bem divertidos;
- Os Patapons são muito carismáticos e a quebra da quarta parede nos diálogos deixa a experiência mais imersiva;
- Presença de um modo multiplayer local via Wireless exclusivo para Nintendo Switch;
- Patapon 2 possui maior variedade de Patapons e amplia possibilidades para montar os exércitos.
Contras
- Repetição exagerada de missões no Patapon 1;
- Falta de tradução para português brasileiro, mesmo com todos os trailers mostrando o jogo traduzido;
- Impossibilidade de pausar o jogo durante as missões;
- Poucas melhorias, considerando que é o terceiro lançamento dos mesmos games.
Patapon 1+2 Replay — Switch/PC/PS5 — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela Bandai Namco















