O texto a seguir contém spoilers de Donkey Kong Bananza. Leia por seu próprio risco.
Mas nenhuma trupe de malfeitores estaria completa sem um líder a altura, alguém para impor respeito e medo em qualquer pobre coitado de sangue frio que não seguir seu punho firme e malícia pesada. Venha comigo, marujo, hoje iremos bater continência ao infame e icônico King K. Rool.
Kremlings mortos não contam histórias
Nossa história começa antes de Donkey Kong Country. Inicialmente, o exército Kremlin foi planejado para um jogo da Rare chamado Johnny Blast-Off and the Kremling Armada, com uma proposta de aventura point-and-click com temática de pirata. O projeto não evoluiu muito, no entanto, e os répteis foram movidos para o desenvolvimento de DKC, com o visual deles sendo inspirado por outra joia da Rare, Battletoads. Com Country 1 em desenvolvimento, foi pensado em dar bastante foco na temática militar dos Kremlings, com diversos armamentos pesados como bazookas e granadas. A ideia foi descartada, com os personagens Krush e Klump sendo resquícios da proposta.E como fica K. Rool? Bom, no começo, ele tinha um visual bem mais realista e impositivo que seus capangas, chamado Krudd, logo sendo alterado para o malvadão que conhecemos. Antes de ser batizado como rei, sua ocupação era Kommander, que também aparece nos créditos falsos em sua luta. De acordo com os irmãos Gregg e Steve Mayles, dois designers do jogo original, os vilões têm uma aparência que é tanto intimidadora quanto patética, acentuada pelas animações dos personagens. Tanto que o K em seu nome não significa nada, de acordo com os irmãos, sendo provavelmente apenas uma alteração em seu nome que o malvadão possa ter feito para tentar parecer mais importante do que ele realmente é.
Uma kakofonia krokodiliana
A eterna guerra entre Kongs e Kremlings começa em uma bela noite. Na calada da escuridão, os crocodilianos roubaram todas as bananas dos primatas por objetivos nebulosos (lendas sugerem que K. Rool queria fazer os Kongs morrerem de fome, que ele ama bananas ou até mesmo ambos os motivos). Além disso, os vândalos de sangue frio sequestram Diddy, que estava de vigia da bananada, e o trancaram em um barril. Na manhã seguinte, DK descobre o roubo e parte em busca de vingança e compensação pela transgressão, salvando Diddy e ambos chegando no barco pirata Gang-Plank Galleon, onde K. Rool os aguardava.Após um duelo acirrado, ao ponto de o pilantra fingir derrota e tentar atacar os macacos desprevenidos, os Kongs são vitoriosos e conseguem seu suculento tesouro de volta. Algum tempo depois, em Donkey Kong Land, Cranky duvida que seu neto consiga repetir sua conquista em um hardware mais modesto como o Game Boy, então desafia os jovens heróis a reconquistar o rango mais uma vez, com o velho gagá tendo entregue tudo para os bandidos de bom grado. Obviamente, a dupla prova que Cranky estava errado e derrotam K. Rool mais uma vez.
Dias depois, o escamoso, agora assumindo uma persona pirata, rapta DK em seu momento de lazer e somente o liberta com a condição de os Kongs liberarem a bananada. Diddy, obviamente recusando a ameaça, parte com sua namorada Dixie em busca de seu ídolo, confrontando o capitão na máquina voadora Flying Krock em uma luta clássica com balas de canhão e espinhos, enfim libertando DK, que dá um socão bem merecido na cara do valentão.
A ira de K. Rool
K. Rool ficou vingativo e furioso com os heróis que o humilharam três vezes consecutivas. Enquanto DK e Diddy exploravam a ilha, K. Rool, agora se fantasiando de cientista louco como Baron K. Roolenstein, sequestra a dupla e força os primatas a serem baterias vivas para sua mais nova arma, o robô insano KAOS. Tendo percebido a falta de seu amado e DK, Dixie vai atrás deles com seu primo bebê incrivelmente forte, Kiddy, passando por aventuras e desventuras até chegar ao castelo do Kremling, frustrando seus planos mais uma vez.Depois disso, vieram DK Land II e 3, ports das sequências da série Country que não desviavam do roteiro original como o primeiro título e, mais uma vez, derrotas e mais derrotas em cima do escamoso, sem contar mais um port de DKC 1 para Game Boy Color. Humilhação e mais humilhação fizeram com que K. Rool largasse a pompa e teatralidade para seguir um velho ditado: “Se quer que algo seja bem feito, faça você mesmo”.
Com a arma suprema Blast-o-Matic, King K. Rool zarpou com os Kremlings para, finalmente, destruir os Kongs de uma vez por todas… até que seus capangas inúteis danificam a arma. Para conseguir tempo e reconstruir o canhão, K. Rool ordenou aos seus lacaios que roubassem as bananas douradas de DK e alguns membros da família para, assim, poder varrer os primatas da face da Terra. Mesmo assim, Donkey Kong consegue resgatar seus amigos e desafiar K. Rool para um duelo de boxe, triunfando mais uma vez e salvando o dia.
Lágrimas de Krokodilo
Após Donkey Kong 64, todos nós sabemos como se desenrolou a história da franquia nos bastidores: Rare foi comprada pela Microsoft e todos se perguntaram o que houve com as criações originais da série. Obviamente, K. Rool e todos os conteúdos estavam seguros na Nintendo (exceto por Conker e Banjo-Kazooie, perdas sentidas até hoje pelos fãs da Big N), e demorou um pouquinho para os Kremlings e seu tirano reaparecerem nos jogos. Claro, K. Rool aparece dançando de vez em quando em Donkey Konga, mas isso é apenas uma pequena aparição.Não seria até em DK: King of Swing para GBA que o balofo iria reaparecer, com um design novo. Agora com uma pança à mostra sem armadura, sem cauda e coroa pequena, K. Rool não está mais interessado em causar danos morais nos Kongs, apenas em ser uma ameaça aqui e ali. Fato mostrado com ele simplesmente roubando as medalhas para ser o melhor alpinista no Jungle Jam e, na sequência, Jungle Climber, roubando alguns artefatos de uma banana alienígena (não pergunte) para ganhar poder. Pequenas aparições que não são relevantes e em par com a decadência da franquia Donkey Kong, respirando com dificuldades para ter relevância.
Suas próximas incursões seriam no peculiar jogo de corrida Barrel Blast, para Wii, sendo um dos melhores personagens do jogo e trazendo alguns membros da Korja Kremling, caras novas e velhas, para deixar a corrida mais suja e dificultar a vida dos primatas. Por fim, K. Rool mostraria seus talentos de jogador em Mario Super Sluggers, sua estreia na franquia principal da Nintendo, portando um interessante traje egípcio nas partidas de baseball. Curiosamente, os Kremlings (especificamente os inimigos padrões, Kritters) estavam presentes no primeiro Mario Strikers, mas nenhum sinal de K. Rool à vista, como se ele estivesse ilhado à distância.
Kremling-do-papo-amarelo
Nesse meio tempo, K. Rool e sua Korja foram substituídos como antagonistas para a série Donkey Kong. Em Jungle Beat, os Evil Kings eram os malvadōes da vez. Em Returns, era a tribo de máscaras tribais mágicas Tik-Tak. E, por fim, em Tropical Freeze eram os vikings Snowmad. Todos eram antagonistas legais até certo ponto, com Lord Fredrik dos Snowmads um ótimo vilão, mas era óbvio que nenhum deles tinha a presença charmosa dos Kremlings.Onde eles estavam? Bom, ninguém sabe. Enquanto estava sendo substituído, K. Rool fazia umas pontas na epopeia franquia que Super Smash Bros. se tornava, primeiro como um Trophy em Melee (baseado em seu design de DK 64), depois como Trophy e Sticker em Brawl (inclusive com erro de escrita, dizendo que Kaptain K. Rool era seu irmão) e, por fim, em Smash 4 como um Trophy. Lentamente, o maníaco se tornava um dos personagens mais pedidos para entrar no elenco de estrelas, seja por seus carisma ou pela ânsia dos jogadores em verem os Kremlings de volta.
Com o anúncio da votação Smash Ballot, a campanha para o retorno do rei havia começado e deu frutos, trazendo uma roupa tematizada com o personagem. Era algo, pelo menos. Mas a vontade de ver o pirata de novo era alta para os fãs e uma roupa não era o bastante. Então, no fantástico Nintendo Direct de 8 de agosto de 2018, centrado no anunciado Smash Ultimate, lá estava ele descendo a mão no Dedede por ter se fantasiado com sua aparência e desafiando DK e Diddy para uma tão aguardada revanche. As trombetas ressoaram: o rei retornou.
KRUSH!
A inclusão de K. Rool foi extremamente bem recebida pelos jogadores, com o pirata portando algumas das animações mais expressivas do jogo, um moveset recheado de referências e trazendo ainda dois remixes gloriosos de confrontos icônicos na série. Sakurai confirmou que a adição de K. Rool resultou da enorme demanda pelo rei no Ballot e, com isso, fãs se juntaram mais uma vez para entregar uma carta de agradecimento ao desenvolvedor pela inclusão, chegando até à Nintendo, que respondeu pelo carinho com o personagem. A parte mais engraçada de tudo isso, no entanto, foi a adição ter sido referenciada no desenho da Netflix Inside Job!A pergunta jaz: por que tantas pessoas gostam de King K. Rool? Em comparação com outros vilões da Nintendo, ele não é complexo. Ele não tem família como Bowser, desenvolvimento como Dedede, motivações como Ganondorf, sadismo como Ridley, vilania como Porky e natureza insidiosa como Crazy Redd. O motivo é bem simples: design de personagem. Como dito mais cedo, a intenção na criação dos Kremlings era fazer antagonistas que fossem intimidadores mas, ao mesmo tempo, patéticos.
K. Rool é um imenso crocodilo com planos mirabolantes e praticamente insano, mas ao mesmo tempo com uma barriga enorme, caretas engraçadas e um nível igual de eficiência com incompetência. Alie isso a uma presença impagável na infame série animada de Donkey Kong Country, em que ele é um vilão bufão mas extremamente engraçado e temos um personagem eterno na mente dos fãs.
Mas, apesar do retorno triunfal de K. Rool, a franquia Donkey Kong continuava dormente, sem nenhum lançamento novo além dos ports de Tropical Freeze e Returns… isto é, até o lançamento do Switch 2 e o anúncio de sua primeira leva de jogos, com Bananza sendo a cereja (ou melhor dizer, banana) do bolo, trazendo DK de volta para o ambiente 3D, Pauline como sua parceira e, claro, novos vilões com a VoidCo. Mesmo assim, a esperança que K. Rool reaparecesse continuava forte, que sua ponta em Smash não fosse apenas um deleite.
Podre até o núcleo
Após cavar mais que qualquer outro primata, DK e Pauline chegaram na Camada Proibida, tendo derrotado Grumpy e Poppy algumas vezes antes, além de outros inimigos coloridos. No fim do abismo, só restava o gremlin chamado Void e sua cobiça sem limites. Quando ele acreditava estar na frente da raiz de Bananza, o lendário artefato que concederia qualquer desejo, ele sofre uma bofetada sem dó na fuça, sendo lançado para longe. Quando a poeira baixou, lá estava ele. O Korsário Kremling, o Rei da Dor, o Boxeador da Tortura: King K. Rool!Trajando um design que misturava seus dois designs mais icônicos (cauda longa e barriga de ouro da Rare com uma coroa pequena da Paon), K. Rool faz uma sucinta explicação de onde esteve todos esses anos: preso no subterrâneo! Uma explicação rápida e ao mesmo tempo patética, em par com seu personagem. Apesar disso, o caminho até o rei é tortuoso. Ao invés de serem os novos inimigos até o núcleo, a Korja Kremling aterroriza o caminho como Kritters, Klaptraps e Zingers para impedir a jornada final.
Após uma luta acirrada, parecia que tudo estaria indo bem, com o final do jogo à vista e K. Rool estirado no chão. Mas, se conhecemos K. Rool, é que vaso ruim não quebra tão fácil. Com créditos falsos como em sua primeira aparição, o maníaco vai atrás da dupla, ao som de um novo remix de Gang-Plank Galleon, chegando até a superfície e, lá, corrompe a cidade de New Donk City a sua imagem, poluindo-a com podridão e cartazes enaltecendo seu ego, culminando em uma batalha final que com certeza ficará na história da Nintendo como uma das mais épicas.