PAC-MAN já faz parte da história dos videogames e é um dos maiores ícones dessa indústria, talvez o mascote mais velho dos jogos, completando seus 45 anos em 2025. E para comemorar esse feito, a Bandai Namco resolveu trazer uma abordagem ousada para a série, transformando seu clássico personagem no protagonista de uma história sci-fi com aspectos sombrios, batalhas intergalácticas e jogabilidade adaptada para o estilo metroidvania. A maioria dessas ideias foram boas para Shadow Labyrinth, mas ainda fica o sentimento de que PAC-MAN merecia muito mais.
PAC-MAN de cara nova
Como comentei, Shadow Labyrinth traz uma história sci-fi em um mundo superavançado tecnologicamente. Por isso, a clássica bolinha amarela tem um design novo, mais metálico, como um robô flutuante, cheio de traçados de energia ao redor de si marcados por uma luz azul. E, nesse universo, seu nome é Puck.
Ao lado de Puck, uma criança vinda de outro mundo, chamada de Espadachim Número 8, é a esperança para que sua misteriosa missão seja realizada.
No entanto, logo nos primeiros momentos da história, o jogo mostra como não estamos diante de um mascote bonzinho. Número 8 está ali para servir à missão, nada mais, e será forçada por Puck a continuar em frente a todo momento.
Não se sabe muito sobre o que Puck deseja. Inicialmente, tudo o que a Número 8 precisa fazer é desbravar esse mundo, explorando seus mapas e ficando mais forte, derrotando e se alimentando de seus inimigos.
Uma excelente adaptação de mecânicas
Essa introdução já mostra como foi a adaptação dos conceitos de PAC-MAN para Shadow Labyrinth. Sinceramente, não vejo uma releitura de um clássico tão criativa e bem feita desde Metroid Prime, que teve a pesada missão de levar Samus para uma jogabilidade 3D em primeira pessoa sem perder a essência da série.
Tudo do clássico de fliperama está aqui. Você absorve pedras amarelas para ter pontos de experiência e trocar por melhorias, alimenta-se de inimigos para absorver seus recursos e trocar por itens equipáveis. Sem contar a presença dos fantasminhas, chamados no jogo de G-HOSTS, uma espécie de praga que infecta criaturas e toma o controle delas.
É interessante ver que não só elementos do mundo têm a ver com PAC-MAN, mas a própria jogabilidade foi pensada em adaptar aspectos do fliperama. Em vários momentos, será possível alternar entre Puck e Número 8, sendo que, quando você controla a bolinha amarela, deve passar por linhas luminosas que lembram as fases originais do personagem.
Ao mesmo tempo, seria impossível evitar que Shadow Labyrinth se inspirasse em metroidvanias mais estabelecidos. Isso se aplica em toda a jogabilidade da Espadachim Número 8. A ajudante de Puck pode fazer alguns combos de espada, esquivar, defender e usar algumas habilidades especiais, tudo bem ao estilo Hollow Knight.
Além do equilíbrio bem feito entre a dupla de protagonistas, existem os momentos nos quais é preciso ir com força total para cima dos inimigos. E para isso existe a armadura G.A.I.A. Foi outra criação que agregou bastante aos combates, especialmente contra chefes.
Quando Puck e Número 8 se fundem, uma criatura robótica enorme surge, e a dupla fica invencível por um curto período. G.A.I.A. pode desferir alguns ataques simples e chegou a me salvar em lutas mais complicadas.
Essa fusão é também como Número 8 consegue se alimentar dos inimigos, invocando G.A.I.A. brevemente para comê-los e recolher seus recursos.
Cada um desses estilos de jogabilidade agrega qualidade ao título e são fáceis de aprender, sem exigir demais do jogador, ao mesmo tempo que não trivializa o combate e a exploração.
Um mundo extenso
Outra inspiração em Hollow Knight é em como o jogo consegue criar um mundo extenso e com muita coisa para explorar. Há mais de uma dezena de mapas diferentes, com muitos itens e segredos que expandem a história do jogo e servem para explicar melhor a situação daquele mundo que já parece ter passado por muitos conflitos.
No entanto, um elemento que acaba mais atrapalhando do que ajudando a conhecer essas áreas é o mapa do jogo. Dá para ver que os desenvolvedores não queriam ficar escondendo nada, já que existem diversos marcadores e o próprio jogador recebe marcadores personalizáveis para deixar no mapa e lembrar de pontos que deseja conhecer ou voltar para explorar mais.
O problema é que o design das áreas é muito confuso. Não dá para entender onde acontecem as transições de cenário, e em certos lugares nem mesmo dá para saber se um determinado ponto é uma área alcançável ou só está ali para completar o desenho.
Quanto ao design dos ambientes, não é nada tão original, mas não incomoda. Certas áreas parecem ter tido uma dedicação maior ao serem criadas, mas ainda assim você acredita que aquele mundo está todo conectado, como um bom metroidvania tem que fazer.
Boas-vindas ao “Namcoverso”
Criar um universo tão grande para PAC-MAN logo na primeira tentativa pareceria arriscado, ainda mais imaginando que não haja tanta história pregressa do personagem para encaixar ali. E para isso a Bandai fez o seu próprio “Namcoverso”.
Outros jogos de fliperama da Namco também passaram a fazer parte do universo de PAC-MAN nesse título. Jogos como Galaga, Xevious e Bosconian servem como base não só para trazer mais personagens e civilizações, mas para conectá-los em uma grande história de guerra espacial.
A ideia foi boa, já que traz referências para jogadores das antigas e instiga novatos a conhecerem mais sobre o que seria a Força Espacial Unida da Galáxia, por exemplo. No entanto, além de boa parte desses universos só terem sido desenvolvidos no próprio Shadow Labyrinth, o jogo acaba deixando a desejar durante a progressão da campanha.
São tantos personagens e ideias para apresentar, em diálogos que variam entre parar para explicar ao jogador ou simplesmente largar um monte de informações na tela como se todos já soubessem o assunto que os personagens discutem. Mais de uma vez percebi como esse descuido me deixou a ponto de querer pular a conversa e só voltar a explorar e lutar.
Um personagem tão emblemático merecia ainda mais cuidado
Mesmo tendo gostado do que Shadow Labyrinth fez, não tem como esquecer que é de PAC-MAN que estamos falando. Um personagem gigante que já existia antes de Donkey Kong e Mario darem as caras, antes mesmo de o Nintendinho sequer existir.
Por conta disso, o jogo parece amador em aspectos que não poderia, ou pelo menos não deveria aparentar. Elementos como o mapa um tanto estranho e a história convoluta passam, porque nada disso atrapalha a experiência no geral, mas o design de inimigos é genérico a ponto de causar a impressão para quem vê de fora que Shadow Labyrinth é um teste de um cursinho online de jogos.
Enquanto Puck, a criança espadachim, alguns chefes e personagens secundários são bem feitos, a maioria dos inimigos, especialmente os mais comuns, estão entre cópias ruins de inimigos de Metroid ou apenas animais e robôs genéricos feitos minimamente para encaixar na temática das regiões do jogo. O inimigo leão genérico, o urso genérico, flor genérica, por aí vai.
Acaba decepcionando não só pelo design fora de mão com a qualidade dedicada aos protagonistas, mas também pela animação travada que dá a impressão de algo feito às pressas ou de que é um momento quando o orçamento do jogo acabou. E como durante a maior parte do tempo do jogo serão esses inimigos que irão preencher o mapa, fica uma má impressão.
Há espaço para Puck evoluir
Estrear um bom metroidvania não é fácil, e Shadow Labyrinth conseguiu fazer isso. No geral, considero que minha experiência com o jogo foi boa, e vejo que existe espaço para melhorar ainda mais várias ideias. Além disso, existe essa identidade única do seu protagonista que pode evitar que o título caia no esquecimento.
Puck é tão interessante quanto o universo onde essa história acontece. Correr por labirintos atrás de fantasmas ficou ainda mais perigoso em Shadow Labyrinth, que não entregou todo o seu potencial, mas pode ser a chegada de uma nova série que agregará muito aos metroidvanias.
Prós
- Ótima adaptação de aspectos do PAC-MAN original para um novo estilo de jogo;
- Universo que traz referências de outros clássicos da Namco;
- Desafios contra G-HOSTS ao estilo dos jogos de fliperama;
- Muitas áreas para explorar, com ambientes variados;
- Boa variação de gameplay entre Número 8 e Puck;
- Tradução para português brasileiro e atualização gratuita para versão de Nintendo Switch 2.
Contras
- Mapa difícil de ler;
- A história fica confusa em certos pontos durante a campanha;
- Alguns trechos de plataforma são muito longos e tornam-se cansativos;
- A maioria dos inimigos possui um design genérico e esquecível.
Shadow Labyrinth — Switch/Switch 2/PC/PS5/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise feita com cópia digital cedida pela Bandai Namco



















