Desenvolvido pela Crinkle Cut Games e publicado pela PQube, Discounty é um jogo de simulação no qual devemos gerenciar um supermercado. Apesar de possuir algumas limitações, o título consegue oferecer uma experiência divertida, equilibrando a rotina de organização e atendimento com uma narrativa que aborda temas interessantes.
Chegando em Blomkest
Em Discounty, assumimos o papel de um jovem — homem ou mulher, personalizável dentro de algumas opções básicas — que, a pedido de sua tia Tellar, se muda para a pequena cidade portuária de Blomkest. O desejo da moça é que o sobrinho a ajude na administração de um mercado local, que faz parte da rede conhecida como Discounty.
Aos poucos, nosso protagonista começa a perceber que a cidade se encontra em declínio, com muitos comércios fechados e moradores enfrentando diferentes tipos de dificuldades. Além disso, ele entende que precisará da ajuda dessas pessoas para fazer o negócio prosperar, embora nem todos recebam bem a loja e o seu crescimento acelerado.
Discounty apresenta uma história razoavelmente interessante que aborda temas pertinentes, como abuso de poder, poluição e as consequências de quando uma grande corporação passa a ganhar mais relevância em comunidades onde os comércios eram majoritariamente pequenos. Vale destacar também que o título conta com legendas em português, o que torna mais prático acompanhar a narrativa.
O dia a dia no mercado
Durante a maior parte do tempo em Discounty, o jogador estará ocupado gerenciando o mercado, e é justamente aí que se encontra o elemento mais divertido do jogo. A loja funciona de segunda a sábado, nos períodos da manhã e da tarde, mas, como somos o único colaborador, as atividades geralmente começam antes da abertura e frequentemente se estendem além do horário de funcionamento.
O comércio em Discounty segue uma estrutura em grade, exigindo que o jogador organize as estantes de forma estratégica para que os clientes consigam circular pelo local sem dificuldades. Os produtos podem ser posicionados em prateleiras ou freezers, com cada espaço permitindo inicialmente armazenar até cinco unidades de um mesmo item — capacidade que pode ser expandida com ferramentas melhores.
Com o mercado em funcionamento, os clientes entram, escolhem seus itens e se dirigem ao caixa, onde tem início uma espécie de minijogo. Nessa etapa, é preciso consultar a tabela de preços e digitar manualmente os valores na registradora. No começo, o processo é simples, já que há poucos produtos disponíveis e o movimento é reduzido. Entretanto, conforme a loja se expande, a variedade de itens cresce, o número de clientes aumenta e o ritmo se torna mais intenso.
Nesse sentido, precisamos ter certa agilidade para dar conta do caixa ao mesmo tempo em que reabastecemos as prateleiras com o estoque armazenado nos fundos. Se o atendimento demora demais, os clientes ficam irritados e podem até desistir da compra. Para complicar, o chão vai ficando sujo com o fluxo constante de pessoas e precisa ser limpo para não atrapalhar a circulação.
O dia de trabalho em Discounty não chega a ser excessivamente complexo, já que os clientes possuem uma tolerância razoável antes de ficarem bravos com a demora. Além disso, conforme a campanha avança, novas ferramentas vão sendo desbloqueadas para tornar a rotina mais prática, como o leitor de código de barras, que agiliza bastante o processo no caixa.
Apesar de o desafio não ser tão elevado, as mecânicas de gerenciamento do mercado funcionam bem dentro da proposta do jogo e são bastante divertidas. A liberdade significativa para organizar e decorar o ambiente também agrada, convidando o jogador a testar diferentes layouts para armazenar o máximo de produtos ao mesmo tempo em que mantém o espaço de circulação eficiente.
Tudo gira em torno do comércio
Diferentemente de muitos simuladores, nos quais temos liberdade para avançar de diferentes modos, Discounty apresenta uma campanha com narrativa extremamente linear, na qual os objetivos são bem definidos e o sentimento de progresso só é obtido ao cumpri-los. A maior parte dessas tarefas envolve ajudar os moradores da cidade para obter vantagens para a loja, seja para firmar novos contratos de distribuição, ampliar o tamanho do mercado, diversificar a variedade de produtos ou desbloquear novas tecnologias.
Sendo assim, cada morador de Blomkest desempenha um papel central na narrativa e, em algum momento, cruzará o caminho do protagonista, representando uma espécie de obstáculo para o crescimento do comércio. Vale destacar que alguns desses personagens são bastante interessantes, e muitos parecem ter algum tipo de ligação entre si, reforçando a sensação de uma comunidade pequena, na qual todos se conhecem.
O grande problema é que, apesar de existirem indivíduos interessantes, o aprofundamento deles é bastante limitado. Quando não há uma missão ativa relacionada a algum personagem, ele não apresenta qualquer diálogo relevante e, a menos que seja um dos vendedores de ferramentas ou produtos para a loja, praticamente não possui importância fora das quests, o que diminui muito o sentimento de estarmos em uma comunidade viva.
Embora alguns NPCs tenham histórias e mistérios próprios, parece que todo esse mundo gira em torno do mercado, e todos os problemas dos moradores poderiam ser resolvidos a partir dele. Curiosamente, esse enfoque acaba contrastando com a crítica social que o jogo sugere em sua narrativa.
A ausência de sistemas que complementem a estrutura central reforça essa sensação. Sem apresentar qualquer tipo de atividade que não esteja diretamente ligada à administração da loja, o título transmite rapidamente um sentimento de repetição, deixando a impressão de um potencial que não foi totalmente explorado.
Essa dependência quase total da rotina do armazém não seria um problema se as alternativas dentro do mercado fossem suficientes para renovar a experiência constantemente. No entanto, embora se trate de um game divertido, as expansões não são grandes ou variadas o bastante para manter o entusiasmo inicial ao longo das quase 20 horas necessárias para concluir a campanha.
Divertido, apesar das limitações
Por conter uma estrutura rigidamente linear e expansões pouco variadas, Discounty certamente não é um daqueles títulos de simulação nos quais o jogador se mantém engajado indefinidamente ou sente vontade de revisitar de tempos em tempos. Ainda assim, o jogo consegue entregar uma experiência divertida, acompanhada de uma narrativa funcional que aborda temas sociais interessantes.
Prós
- Narrativa interessante que aborda temas sociais relevantes, como abuso de poder, poluição e o impacto de grandes corporações em pequenas comunidades;
- A rotina diária de gerenciamento do mercado funciona bem e é divertida;
- A liberdade de organização e decoração é interessante e incentiva a experimentação;
- Legendado em português.
Contras
- Fora das missões, grande parte dos moradores não possui diálogos relevantes ou qualquer importância, o que limita a sensação de uma comunidade viva;
- A falta de atividades alternativas torna a experiência geral do jogo monótona;
- Embora existam melhorias e novas ferramentas, elas não renovam significativamente a rotina dentro do mercado.
Discounty — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube








