Conheça os calicórnios
A história começa com um protagonista sem nome. Um garoto de rua dormindo em uma viela qualquer da cidade, até que percebe movimentações estranhas em um estacionamento próximo.
O jogo não enrola para mostrar quem realmente será o personagem com nome próprio na aventura. Uma criatura bovídea grande, com chifres protuberantes e curvos, chamada pelo jogo de calicórnio.
Não há diálogo nenhum durante a história, mas as ações do protagonista deixam bem claro para o jogador qual será seu papel. Dê um nome para seu novo amigo (você pode escrever ou deixar que o jogo gere um nome aleatório para a criatura) e guie-o de volta para casa.
Ainda nesses minutos iniciais, mais calicórnios, que talvez sejam filhotes do maior que foi resgatado, também se juntam a você, e logo seu rebanho já começa a ganhar forma.
Os controles do jogo são simples, mas cumprem bem o papel. Com um galho em mãos, o protagonista pode conduzir o rebanho, e eles sempre caminham para o lado oposto de onde o garoto está. Ou seja, para fazer o rebanho ir à direita, o protagonista precisa ficar do lado esquerdo dos calicórnios. Além disso, será possível controlar a velocidade de corrida das criaturas e assobiar para que elas fiquem paradas. Após treinar um pouco no estacionamento, o jogo começa de verdade.
Vá para as montanhas
Mesmo que o jogo não tenha um mapa complexo com caminhos variados, é interessante ver como ele integra ao próprio design do mundo as indicações, sem uso de minimapa ou menus apontando o objetivo.
Existem grandes montanhas nevadas que cercam a região e podem ser vistas de longe desde o começo do jogo, e fica bem claro que lá é o lugar onde essas criaturas pertencem. Isso fica nítido não apenas pelo próprio visual dos calicórnios, que são peludos e parecem criaturas feitas para aguentar frio extremo, mas pelas placas que ocasionalmente são vistas indicando como chegar nas montanhas.
Ainda assim, o jogo impressiona pela variedade de lugares por onde é preciso passar antes que seja possível chegar no objetivo principal. Os calicórnios estão realmente muito longe de casa e isso cria um sentimento de responsabilidade no jogador, pois não seria possível que qualquer uma dessas criaturas pudesse retornar sem um pastor que as guiasse pelos campos, florestas, desfiladeiros e demais ambientes.
Os calicórnios te ajudarão a superar obstáculos
Os calicórnios são criaturas de comportamento bem simples. Eles não lutam, não têm poderes e não representam ameaça a ninguém. Porém, ainda serão uma peça fundamental na travessia dos cenários. O protagonista, assim como seu rebanho, também é inofensivo e frágil, apenas uma criança.
Por conta disso, o jogo não quer te colocar para combater criaturas ou derrubar paredes com movimentos mirabolantes como em um épico de ação, você apenas tem que chegar ao seu destino. E nisso, os calicórnios podem ajudar.
Eles servem como plataforma para subir em locais um pouco mais altos e podem te ajudar a mover objetos no caminho. E quando não há nenhuma restrição, chega a hora em que basta aproveitar a jornada e correr.
Nesses momentos é quando a trilha sonora se destaca. Em locais abertos, os calicórnios podem ganhar mais força para correr cada vez que passam em um campinho de flores. Basta um comando para as criaturas começarem a debandada e o protagonista correr com elas. A sensação de liberdade desses momentos, junto do crescimento da música quando todos estão em alta velocidade, é bem emocionante.
Apegue-se ao seu rebanho
Claro, nem tudo são flores na vida de pastoreio. Seu rebanho está em um lugar desconhecido para eles, e logo os perigos da vida selvagem começam a se apresentar. Não só fugir de predadores, mas ter que lidar com as próprias dificuldades do ambiente podem atrapalhar a jornada. Porém, esses perigos são uma tensão para esse tipo de jogo que achei bem interessante, porque, ao mesmo tempo que não complica demais a aventura, também não a deixa ser trivial.
Sem contar que você se apega a cada calicórnio que entra no rebanho. O processo de domar as criaturas é simples, mas a interação com elas não fica apenas presa a isso. Além de poder nomeá-las, é possível jogar bola com elas, acariciar e limpar os pelos e alimentá-las para tratar suas feridas.
Cada membro daquele grupo importa para você, e volta naquele sentimento de responsabilidade que mencionei. Os calicórnios são frágeis, então será seu dever mantê-los seguros para o rebanho todo ficar vivo.
Não demora muito para que você esteja com o nome de cada calicórnio na cabeça, mesmo que todos sejam bem parecidos. Para isso, também existe uma mecânica para decorar os chifres dos calicórnios com adornos floridos. Uma ideia provavelmente inspirada no festival Alpabzug, um evento cultural importante na Suíça no qual o gado desce das pastagens alpinas e desfila nas cidades com decorações feitas pelos pecuaristas.
Mas, caso você queira ter apenas uma caminhada tranquila com os calicórnios pelo jogo, existe uma opção no menu de acessibilidade que faz com que seu rebanho seja imortal.
Aprecie a subida, mesmo com os percalços
Herdling ainda apresenta bem a ideia principal desses jogos de aventura, sendo o valor da jornada. Aproveitar o tempo com o rebanho e se atentar aos sentimentos que essa travessia desperta. Por outro lado, pode ser que certos aspectos quebrem o ritmo do seu pastoreio.
O controle de câmera do jogo é livre, mas como é preciso estar atento na direção onde o rebanho está indo, seria melhor deixar a câmera se posicionar sozinha. Entretanto, mais de uma vez aconteceu durante meu gameplay momentos nos quais a câmera entrava debaixo do chão, ou ficava presa atrás de uma pedra, bloqueando minha visão.
Sempre foi fácil de corrigir, era só usar o analógico direito para ajustar, mas ainda incomoda um pouco pela quebra de ritmo, porque você vai precisar fazer o rebanho parar primeiro e depois ajustar a câmera de volta em um ângulo bom. Nada desastroso, mas em certas partes do jogo onde a travessia exige sua atenção, torna-se uma complicação a mais.
Agora, com relação ao desempenho do jogo em si, existe uma notícia boa e uma ruim. O lado ruim, é que o jogo não roda bem ao jogar com o Switch na dock, não chegando nem sequer aos 30 fps. É possível perceber que a Okomotive teve que fazer várias concessões para o jogo rodar no Switch, especialmente em termos gráficos, e ainda assim não ficou bom ao jogar na TV.
Porém, o lado bom é que não há esse problema de desempenho jogando no modo portátil. Os frames ficam estáveis e é possível jogar do início ao fim sem travamentos. É possível que no Switch 2 o jogo esteja melhor, mas não pudemos testá-lo no novo console para esta análise.
Herdling cativa e emociona
Herdling coloca o jogador como guia de seres misteriosos, que beiram a fantasia e despertam curiosidade de saber até que ponto o protagonista está diante de algo real, e se ele entende o peso de sua função. Porém, no fim, os desenvolvedores souberam fazer com que quem está jogando queira ir até o fim pelo bem-estar dos calicórnios.
O desenrolar da aventura emociona e traz reflexões sobre a dimensão desse compromisso com criaturas tão frágeis, que mesmo sem se comunicar mostram que precisam de outros com a coragem e dedicação para guiá-las.
Prós
- Gameplay criativa que coloca o jogador como guia dos calicórnios;
- História cativante que faz você se apegar a cada um dos calicórnios do seu rebanho;
- Atividades extras para fazer com o rebanho além do pastoreio;
- Boa trilha sonora que se destaca em momentos-chave da aventura;
- Recursos de acessibilidade para quem deseja uma jogatina bem simplificada.
Contras
- A câmera do jogo às vezes se posiciona em ângulos ruins e o jogador precisa parar para reajustar;
- Desempenho ruim no Nintendo Switch 1 quando o console está na dock.
Herdling — Switch/PC/PS5/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise feita com cópia digital cedida pela Panic










